1982 - Cores, Nomes - Caetano Veloso


Cores, Nomes foi lançado em março de 1982 e confirma o sucesso de Outras Palavras com A Outra Banda da Terra. Sina (Djavan) e Sonhos (Peninha) foram os hits do disco; e Queixa tocou na novela das seis, mas o cantor pediu pra tirar. Para Caetano, foi seu melhor disco até então, elegendo Ele Me Deu Um Beijo Na Boca a sua preferida, um diálogo imaginário composto a partir da lembrança de uma música de Gil, Abra O Olho (1974). Um verdadeiro "manifesto neotropicalista". Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Costa participam com seus doces e bárbaros gritos de "yeah" em Gênesis. O segundo disco de ouro de Caetano traz belíssimo arranjo de cordas e metais de João Donato em Surpresa. Meu Bem, Meu Mal e Sete Mil Vezes foram gravadas por Gal em "Fantasia" e Maria Bethânia em "Alteza", respectivamente, ambas em 1981. Na capa, referências a Cavaleiro de Jorge. O nome do disco remete à Alegria, Alegria: "Cores" por causa de Trem das Cores, música feita para Sônia Braga; e "Nomes", título de uma canção que citava Arrigo Barnabé, mas que acabou não vingando. Tem Moreno Veloso estreando como compositor em Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê. Aqui, a carne se fez verbo e foi conjugado entre nós: caetanear o que há de bom. 

Caetano: "É o mais parecido com o Outras Palavras. A que mais gosto é Ele Me Deu Um Beijo Na Boca. Tem Trem das Cores, tão bonitinha, delicadinha. Queixa é lindo. Sina é inesquecível. Sonhos, do Peninha, que todo mundo adora e eu também adoro. Queixa e Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê entraram na coletânea do David Byrne, Beleza Tropical." (Caetano Veloso para o Jornal do Brasil, 1991).

"Cores, Nomes, assim como Outras Palavras e finalmente Uns, tudo isso é um conjunto de discos que fiz com A Outra Banda da Terra, tudo foi feito sem produtor. A gente queria oposto daquele 'buriladinho' do final dos anos 70 que entrou pelos anos 80, que é justamente o período d'A Outra Banda da Terra. Era meio rebelde demais, era uma farra ir pro estúdio. Iam pessoas só pra ficar lá bebendo e conversando. Não tinha produtor pra se meter nem dizer como era. Eu dizia que eu era produtor mas não fazia nada. Só ficava lá com os outros músicos tocando, apresentava as canções e decidia em que ordem elas iriam depois no disco. Ele Me Deu Um Beijo Na Boca é uma grande canção e tem aquela foto do meu pai me dando um beijo na boca, era meu aniversário aqui no Rio ele tinha vindo. Na hora de me cumprimentar ele me deu um beijo na boca e a Lita Cerqueira fotografou na hora que ele estava me dando o beijo. Djavan fez pra mim a música Sina e foi gravar comigo e claro, ele com aquela musicalidade dele comanda tudo o que faz, cuida até o finalzinho. Foi trabalhar com A Outra Banda da Terra, orientou como tocar, produziu a faixa. Não tá creditado mas foi o que ele fez. E é incrível porque ele me fez uma homenagem." (Caetano Veloso em documentário dos seus 70 anos, 2012). 

Foto: Antônio Carlos Miguel.

Cores, nomes no Jornal do Brasil

Para ler: clique na imagem.


Lista de Músicas

Lado 1

1 - Queixa
(Caetano Veloso)
Ovation: Caetano Veloso / Piano Fender: Tomás Improta / Guitarra: Perinho Santana / Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Bateria: Vinicius Cantuária / Tumbadoras e triângulo: Edu Gonçalves (Bolão) / Gazá: Marcelo Costa (Gordo) / Arranjo: A Outra Banda da Terra. 

2 - Ele Me Deu Um Beijo Na Boca
(Caetano Veloso)
Ovation: Caetano Veloso / Piano Fender: Tomás Improta / Guitarra: Perinho Santana / Bateria: Vinicius Cantuária / Tumbadoras: Edu Gonçalves (Bolão) / Coro: Sônia Burnier, Jane Duboc, Viviane, Marizinha, Regininha, Kika e Míriam / Solo: Jane Duboc. 

3 - Trem das Cores
(Caetano Veloso)
Piano: Tomás Improta / Craviola: Perinho Santana /    Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Violão: Vinicius Cantuária / Bateria: Marcelo Costa (Gordo) / Bongô: Edu Gonçalves (Bolão) / Arranjo: A Outra Banda da Terra. 

4 - Sete Mil Vezes
(Caetano Veloso)
Alaúde: Dudu.

5 - Coqueiro de Itapoan
(Dorival Caymmi)
Voz e violão: Caetano Veloso. 

6 - Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê
(Caetano Veloso, Moreno Veloso)
Vocal: Cobra Coral / Participação: Moreno Veloso / Arranjo Vocal: Marcos Leite. 

Lado 2

1 - Cavaleiro de Jorge
(Caetano Veloso)
Ovation: Caetano Veloso / Piano fender e acústico: Tomás Improta / Minimoog: Tomás Improta / Guitarra: Perinho Santana / Guitarra com sintetizador: Perinho Santana / Bateria: Vinicius Cantuária / Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Congas: Edu Gonçalves (Bolão) / Cowbell: Perinho Santana / Trompetes: Márcio Montarroyos e Irapoan Índio do Brasil / Sax: Zé Luiz / Arranjo de base: A Outra Banda da Terra / Arranjo de metais: Caetano Veloso. 

2 - Sina - Participação especial: Djavan
(Djavan)
Ovation: Caetano Veloso / Guitarras: Perinho Santana / Piano acústico: Tomás Improta / Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Bateria: Vinicius Cantuária / Tumbadoras: Edu Gonçalves (Bolão) / Coro: Sônia Burnier, Jane Duboc, Viviane, Marizinha, Regininha, Kika e Míriam / Arranjo: Djavan.

3 - Meu Bem, Meu Mal
(Caetano Veloso)
Piano acústico: Tomás Improta

4 - Gênesis
(Caetano Veloso)
Ovation: Caetano Veloso / Participação: Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia / Piano fender e acústico: Tomás Improta / Guitarra: Perinho Santana / Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Cowbell: Edu Gonçalves (Bolão) / Arranjo: A Outra Banda da Terra. 

5 - Sonhos
(Peninha)
Voz e violão: Caetano Veloso. 

6 - Surpresa
(João Donato, Caetano Veloso)
Piano acústico: João Donato / Piano fender: Tomás Improta / Guitarra: Perinho Santana / Contrabaixo: Arnaldo Brandão / Violão: Vinicius Cantuária / Bateria: Marcelo Costa (Gordo) / Tumbadoras: Edu Gonçalves (Bolão) / Cordas e Metais / Arranjo: João Donato. 

Vamos às Letras.

1 - Queixa (Caetano Veloso)

Um amor assim delicado
Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza

Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água

Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Senhora, serpente, princesa

Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria

Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa

Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Amiga, me diga

Comentário do autor: "Gosto muito. Fiz para Dedé. É uma canção sentimental. Fica bonita na página." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

"Eu estava me separando, estava separado de Dedé pela primeira vez, vivendo com grande sofrimento e alguma ansiedade essa situação, e não queria deixar isso fora da minha produção." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1982). 

Caetano e Dedé em 1977. Foto: Thereza Eugênia

2 - Ele Me Deu Um Beijo Na Boca (Caetano Veloso)

Ele me deu um beijo na boca e me disse
A vida é oca como a touca
De um bebê sem cabeça
E eu ri à beça

E ele: como uma toca de raposa bêbada
E eu disse: chega da sua conversa
De poça sem fundo
Eu sei que o mundo
É um fluxo sem leito
E e só no oco do seu peito
Que corre um rio

Mas ele concordou que a vida é boa
Embora seja apenas a coroa
A cara, é o vazio
E ele riu, e riu, e riu e ria
Disse: Basta de filosofia!

A mim me bastava que o prefeito desse um jeito
Na cidade da Bahia
Esse feito afetaria toda a gente da terra
E nós veríamos nascer uma paz quente
Os filhos da guerra fria

Seria um antiacidente
Como uma rima
Desativando a trama daquela profecia
Que o Vicente me contou
Segundo a astronomia

Que em novembro do ano que inicia
Sete astros se alinharão em escorpião
Como só no dia da bomba de Hiroshima
E ele me olhou
De cima e disse assim, pra mim
Delfim, Margaret Thatcher, Menahem Begin
Política é o fim

E a crítica que não toque na poesia
O Time Magazine quer dizer que os Rolling Stones
Já não cabem no mundo do Time Magazine
Mas eu digo (Ele disse)
Que o que já não cabe é o Time Magazine
No mundo dos Rolling Stones, Forever Rockin' And Rolling

Por que forjar desprezo pelo vivos?
E fomentar desejos reativos?
Apaches, punks, existencialistas, hippies, beatniks
De todos os tempos, uni-vos

E eu disse sim, mas sim, mas não, nem isso
Apenas alguns santos, se tantos, nos seus cantos
E sozinhos

Mas ele me falou
Você tá triste
Porque a tua dama te abandona
E você não resiste, quando ela surge
Ela vem e instaura o seu cosmético caótico
Você começa a olhar com olho gótico
De cristão legítimo

Mas eu sou preto, meu nego
E sei que isso não nega e até ativa
O velho ritmo mulato
E o leão ruge

O fato é que há um istmo
Entre meu Deus
E seus deuses
Eu sou do clã do Djavan
Você é fã do Donato
E não nos interessa a tripe cristã
De Dylan Zimmerman

Ele ainda diria mais
Mas a canção tem que acabar
E eu respondi
O Deus que você sente é o Deus dos santos
A superfície iridescente da bola oca

Meus deuses são cabeças de bebês sem touca
Era um momento sem medo e sem desejo
Ele me deu um beijo na boca
E eu correspondi àquele beijo

Comentário do autor: "As canções mais longas, que são assim como que uma falação mais ou menos musicada, aparecem sempre. Sempre tive uma vontade de fazer assim. Como eu falo muito, gosto de fazer canções falando muito, canções prolixas. Isto ficou bem explicitado em "Ele me Deu um Beijo na Boca" que é a simulação de uma conversa mesmo, eu contando uma conversa que poderia ter havido entre mim e Gil, ou entre mim e uma outra pessoa que fosse mais ou menos como Gil. "Ele me Deu um Beijo na Boca", que é uma canção como "Eu sou Neguinha", "O Estrangeiro" e "Fora da Ordem" são canções dessa linhagem, mas eu não sei, por exemplo, se "Ele me Deu um Beijo na Boca" é uma canção assim. Embora seja longa e muito explícita, ela é uma canção com umas reflexões meio metafísicas e meio filosóficas. Uma discussão que envolve um pouco de filosofia e um pouco de como olhar as coisas da vida. E um pouco de brincadeira com relação às ondas culturais das minorias de massa." (Caetano Veloso para a Folha de S.Paulo, 1992).

Caetano e seu pai, Zeca. Foto: Lita Cerqueira.

3 - Trem das Cores (Caetano Veloso)

A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá
O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem
A Lua e a estrela, anel de turquesa

Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando, pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios
Ou pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos: Tocar na central
O céu de um azul, celeste celestial

Comentário do autor: “Às vezes, fico atraído por uma palavra e tenho vontade de cantar, acho que ela deve ser ouvida, declamada, e aí ela puxa uma canção. Às vezes, não só uma palavra, mas um arranjo de palavras. Outro dia, eu estava voltando de São Paulo, de trem, estava olhando o céu, era de manhãzinha, estava tão bonito, límpido, que pensei: “o céu está azul celeste, celestial”. Fiquei pensando nisso e me veio uma música que termina exatamente como essa frase”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1981).

"Há muitas canções minhas que eu fiz para determinadas pessoas e disse de público. Às vezes, botei na própria contracapa do disco uma dedicatória, como “Trem das cores”, que fiz para Sônia Braga." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2009). 


4 - Sete Mil Vezes (Caetano Veloso)

Sete mil vezes eu tornaria a viver assim
Sempre contigo transando sob as estrelas
Sempre cantando a música doce
Que o amor pedir pra eu cantar

Noite feliz, todas as coisas são belas
Sete mil vezes, e em cada uma outra vez querer
Sete mil outras em progressão infinita
Quando uma hora é grande e bonita
Assim quer se multiplicar
Quer habitar todos os cantos do ser
Quarto crescente pra sempre um constante quando
Eternamente o presente você me dando

Sete mil vidas, sete milhões e ainda um pouco mais
É o que eu desejo e o que deseja esta noite
Noite de calma e vento, momento
De preces e de carnavais
Noite de amor
Noite de fogo e de paz

Comentário do autor: ""Eternamente o presente você me dando" é muito sugestivo." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

Foto: Antônio Carlos Miguel.

5 - Coqueiro de Itapoã (Dorival Caymmi)

Coqueiro de Itapoã, coqueiro
Areia de Itapoã, areia
Morena de Itapoã, morena
Saudade de Itapoã, me deixa

Oh vento que faz cantiga nas folhas
No alto do coqueiral
Oh vento que ondula as águas
Eu nunca tive saudade igual
Me traga boas notícias
Daquela terra toda manhã
E joga uma flor no colo
De uma morena de Itapoã

Coqueiro de Itapoã, coqueiro
Areia de Itapoã, areia
Morena de Itapoã, morena
Saudade de Itapoã, me deixa
Me deixa, me deixa

Caetano recebe o disco de Ouro por "Cores, Nomes". Foto: Thereza Eugênia.

6 - Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê (Caetano Veloso, Moreno Veloso)

Ilê aiê, como você é bonito de se ver
Ilê aiê, que beleza mais bonita de se ter
Ilê aiê, sua beleza se transforma em você
Ilê aiê, que maneira mais feliz de viver

Comentário de Caetano: "Ele tem apenas nove anos. Pode ser um talento que surge. Escreveu a letra em alguns minutos, logo depois de ter escutado a música. Eu a tocava no violão e cantarolava o estribilho quando Moreno perguntou se a música já tinha letra. Respondi que não e ele, então, começou a escrever o poema. Achei incrível." (Caetano Veloso para a Folha de São Paulo, 1982). 

"Moreno sempre foi um menino extraordinariamente luminoso. Quando eu quis fazer a música em homenagem ao Ilê, ele, que vinha passar os fins de semana comigo no apart-hotel onde morei por um tempo (três andares abaixo do apartamento de João Gilberto), me ouvia cantar, ao violão, essa melodia que começava apenas com as palavras ‘Ilê Aiyê’ e, sem que eu esperasse, escreveu as palavras que vieram a ser a primeira estrofe. ‘Como você é bonito de se ver’ e ‘Que beleza mais bonita de se ter’ – e a repetição do nome do bloco. Fiquei impressionado com a adequação das palavras às frases musicais. Eu disse, rindo, que ele era um formalista. E encomendei o resto da letra. O que ele fez já em casa. Quando, depois, gravei a canção, chamei-o para cantar a repetição final do nome do bloco. E ele o fez tanto na gravação quanto em muitos dos shows a que pôde assistir. Hoje, para minha felicidade, Tom canta, com o agudo de sua voz de novinho, esse nome sagrado. Moreno e eu alternando o canto desse afoxé, tendo Zeca no baixo e Tom, além do violão, cantando o doce grito final, é o carinho mais profundo que posso imaginar fazer ao carnaval da Bahia, essa entidade que tem tanto valor para nós. E a regravação de nosso ‘Canto de afoxé para o bloco do Ilê’, feita numa apresentação ao vivo de Ofertório, é a melhor maneira de expressar tudo isso." (Caetano Veloso nas redes sociais em 2018). 


7 - Cavaleiro de Jorge (Caetano Veloso)

Cavaleiro de Jorge
Seu chapéu azul
Cruzeiro do Sul no peito

Cavaleiro de Jorge
Sem medo nenhum
O número um direito

Sempre firme sobre o cavalo
Impávido-turquesa
Estrada ou mesa de bar

Sempre mil pavões-força
De beleza pura e simples
Como uma onda do mar

Cavaleiro de Jorge
Potência de amar
Senhor do lugar inteiro

Cavaleiro de Jorge
Potência de amar
Primeiro lugar inteiro

Foto: Antônio Carlos Miguel.

8 - Sina (Djavan)

Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome prá poder falar de amor
Minha princesa, art-noveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz
A luz de um grande prazer é irremediável neon
Quando o grito do prazer açoitar o ar, réveillon

O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear
O que há de bom

O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer djavanear
O que há de bom

Comentário de Caetano: "Foi um presente que Djavan me deu e terminou sendo a canção que mais gostei, depois do disco pronto. É a que mais torço pra virar sucesso, tocar nas rádios." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 1982).

"Eu vi o Djavan a primeira vez naquele festival "Abertura", de 75, e fiquei impressionadíssimo com ele. Com a força, a beleza dele. Fui atrás dele no teatro e disse: "você é o meu namorado neste festival". Depois disso ele foi para meu quarto de hotel e ficou toda a madrugada tocando pra mim e Dedé. A gente se viu sempre depois disso, e eu fui ouvindo os discos dele, e nesse meu disco, agora, ele ficava vindo no estúdio e conversando até o dia em que ele apareceu com essa música, dizendo - "tem aí uma palavra que você vai adorar", e a palavra era caetanear. Eu gosto de tudo no Djavan. Ele tem um talento genuíno, um talento musical íntegro, completo, de texto, de música, de tudo, que não é muito comum na sua geração." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1982). 


9 - Meu Bem, Meu Mal (Caetano Veloso)

Você é meu caminho
Meu vinho, meu vício
Desde o início estava você

Meu bálsamo benigno
Meu signo, meu guru
Porto seguro onde eu vou ter

Meu mar e minha mãe
Meu medo e meu champanhe
Visão do espaço sideral

Onde o que eu sou se afoga
Meu fumo e minha ioga
Você é minha droga
Paixão e carnaval

Meu zen, meu bem, meu mal

Comentário do autor: "Fiz para Gal gravar. Tem um pouco uma ideia do Cole Porter em "You're the top". É uma pequena list song". (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

Fotos: Museu dos Eventos Anhembi Parque.

10 - Gênesis (Caetano Veloso)

Primeiro não havia nada
Nem gente, nem parafuso
O céu era então confuso
E não havia nada
Mas o espírito de tudo
Quando ainda não havia
Tomou forma de uma jia
Espírito de tudo

E dando o primeiro pulo
Tornou-se o verso e reverso
De tudo que é universo
Dando o primeiro pulo
Assim que passou a haver
Tudo quanto não havia
Tempo pedra peixe dia
Assim passou a haver

Dizem que existe uma tribo
De gente que sabe o modo
De ver esse fato todo
Diz que existe essa tribo
De gente que toma um vinho
Num determinado dia
E vê a cara da jia
Gente que toma um vinho

Dizem que existe essa gente
Dispersa entre os automóveis
Que torna os tempos imóveis
Diz que existe essa gente
Dizem que tudo é sagrado
Devem se adorar as jias
E as coisas que não são jias
Diz que tudo é sagrado

E não havia nada
Espírito de tudo
Dando o primeiro pulo
Assim passou a haver
Diz que existe essa tribo
Gente que toma um vinho
Diz que existe essa gente
Diz que tudo é sagrado

Foto: Antônio Carlos Miguel.

11 - Sonhos (Peninha)

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não há caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia

Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar

Quando a canção se fez mais clara e mais sentida
Quando a poesia realmente fez folia em minha vida
Você veio me falar dessa paixão inesperada
Por outra pessoa

Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim, eu tenho sim

Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz

Comentário de Caetano: "Desta eu sempre gostei e vinha cantando nos shows, então foi para o LP." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 1982). 

Foto: Museu dos Eventos Anhembi Parque.

12 - Surpresa (João Donato, Caetano Veloso)

Que surpresa
Beleza

Luz acesa
Certeza

Que saudade
Verdade

Já chegou
Então
Vem cá

Foto: Antônio Carlos Miguel.

Foto: Antônio Carlos Miguel.

Foto: Antônio Carlos Miguel.

Foto: Antônio Carlos Miguel.




Ficha Técnica

Produzido por: Caetano Veloso
Coordenação da Produção: Marcia Alvarez
Técnico de Gravação: Luiz Claudio Coutinho
Auxiliar de Estúdio: Carlinhos
Mixagem e Montagem: Perinho Albuquerque e Jairo Gualberto
Corte: Ivan Lisnik
Arregimentação e Cópias: Clovis Mello
Capa: Luciano Figueiredo e Oscar Ramos
Foto da Capa: Maria Samapio
Foto da Contracapa: Lita Cerqueira
Foto do Encarte: Lita Cerqueira e Aninha Arantes
Produção Gráfica: Edson Araújo
Gravado nos Estúdios da Polygram, em dezembro/81. 

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