Coluna
Entre 2010 e 2014, Caetano Veloso escreveu aos domingos no jornal O Globo. Todas as suas colunas foram pesquisadas no importante acervo do periódico, que pode ser acessado aqui.
Foto: O Globo.
Política: o Largo da Ordem (09/05/2010) Quando disse a Leminski, no começo dos anos 70, que me encantava a recuperação do Largo da Ordem, no centro de Curitiba, ele riu: "Você adora enganações feitas para a classe média."
Avatares da revolução (16/05/2010) Marina Silva e Gilberto Gil se comoveram com a política de "Avatar". Slavoj Zizek escreveu um artigo para desacreditar essa suposta política, Mas, tanto quanto Gil ou Marina, ele reconhece que o filme é um libelo anti-imperialista feito do ponto de vista de uma esquerda ecológica.
Gerações (23/05/2010) Os dois primeiros artigos que Felipe Hirsch escreveu aqui neste novo espaço (axé, Xexéo) me tocaram. Um sobre Malcolm McLaren, o outro sobre Morrissey.
Ou Não? (30/05/2010) Mesmo que tenha sido uma confusão nascida da ignorância de alguns humoristas, é uma honra para mim ter herdado o bordão "ou não" de Walter Franco.
Tortura e sociedade (06/06/2010) Eu estava sob o impacto do artigo de José Miguel Wisnik, publicado aqui faz uma semana, quando o texto de Fernando de Barros e Silva, da "Folha de S. Paulo", me chamou a atenção para a revista virtual "Fevereiro", acessível em www.revistafevereiro.com.
Onda nova (13/06/2010) Lendo o livro de Patti Smith sobre seu caso amoroso com Robert Mapplethorpe, encontrei-a perguntando-se por que não tinha gostado muito de "Trash", famoso filme de Andy Warhol: "Talvez", diz ela, "porque o filme não fosse suficientemente francês".
Paranoia (20/06/2010) Li um artigo muito elucidativo de Marcos Nobre sobre "aparelhamento de Estado", um bordão da crítica oposicionista ao governo do PT.
À flor do Chico (27/06/2010) Atravessando a ponte de volta a Juazeiro, vimos a lua refletida nas milhões de marolas que fazem o Rio São Francisco parecer que corre no sentido contrário àquele em que de fato o faz.
Os famosos e os livros (04/07/2010) O caminho entre o aeroporto Charles De Gaulle e o hotel estava cheio de anúncios do iPad. Tive vontade de ter um: poder viajar com um número grande de livros sem carregar o peso.
'Oropa', França e Brasília (11/07/2010) Sempre achei o aeroporto Charles de Gaulle com pinta de "Barbarella": ficção científica com parede de chapisco não dá. La Défense faz a gente voltar a pensar em sci-fi não americana, portanto não convincente.
Loura burra (18/07/2010) Luiz Felipe de Alencastro respondeu aos que se opõem às cotas para negros nas universidades com um retrato duro do Brasil. É o Brasil que no seu livro "O trato dos viventes" aparece como a mais rapace das nações escravistas das Américas.
Azeitona (01/08/2010) Ouço sempre dizer que Atenas não é bonita. Mas quando estive lá pela primeira vez, escrevi a amigos: "Atenas está na minha cabeça o tempo todo. É uma cidade muito especial.
Alegria, alegria (08/08/2010) Helsinque. Aqui anoitece à meia-noite e amanhece às três e meia. No verão. No inverno quase não tem dia. O pôr do sol na Bahia dura poucos minutos. Li no YahooNews que a Finlândia foi considerada a segunda nação mais feliz do mundo.
Showmício (15/08/2010) Perguntar não ofende: por que foi mesmo que se proibiram os showmícios? Concordo com quem diz que, seja qual for a razão, é melhor assim: que as manifestações públicas de candidatos se restrinjam cada vez mais à exposição de ideias e programas.
Reclame (22/08/2010) Achei que Serra ia perder quando o vi com a Sabrina Sato. A esta altura da campanha, isso parece ter sido há muito tempo. Ele dava uma de cafajeste: tentava parecer informal, igual a todo mundo, "popular".
Política é o fim (29/08/2010) Fiquei danado da vida com a Dilma foi quando ela disse que ser contra o Estado grande era coisa "de tupiniquim". Isso parece ter se dado há séculos, tal é a velocidade com que corre o tempo na campanha eleitoral.
Declaração de voto (05/09/2010) Meu voto para deputado estadual vai para Marcelo Freixo. Declarei na televisão que estou sempre com Gabeira porque ele é sempre fiel aos princípios que adotou ao longo do tempo.
Dragão (12/09/2010) O artigo do ministro Juca sobre a nova Lei de Direito Autoral me fez vestir a carapuça. Quando ele fala de queixas marotas contra aspectos do projeto de lei, acho que se refere a mim.
Raul Seixas e ACM (19/09/2010) "Retenção em direção a Raul Seixas e ACM." É uma frase e tanto para marcar a entrada na cidade de Salvador. A voz da moça no rádio do carro não deixa transparecer nem uma gota de ironia ou ansiedade.
Minha ignorância (26/09/2010) Moreno achou o CD na Mídia Louca do Pelourinho. Há uma filial da Mídia Louca no Pelourinho. A matriz é no Rio Vermelho: uma loja que não parece poder ter uma filial. Adorável.
O meu português ruim (03/10/2010) É inacreditável que Barbara Heliodora tenha escrito que o autor teatral não pode usar o tratamento na segunda pessoa. E muito significativo que ela tenha lançado esse anátema como condição para que uma peça se considere brasileira.
Começando a pensar (10/10/2010) Terríveis as coisas que a gente pode encontrar na internet. Alguns exemplos dados por Aldir Blanc de agressões a Dilma Roussef postadas por apoiadores do seu opositor são de meter medo.
Aborto e casamento gay (17/10/2010) Será mesmo impensável um candidato que não superdramatize os tópicos aborto e casamento gay? Marina, notoriamente religiosa, não se embaraçou com as questões que abalam padres e pastores.
Anulação (24/10/2010) Nunca engoli a intepretação do primeiro "Tropa de Elite" como sendo um filme fascista, com o Capitão Nascimento representando a canonização do reacionário truculento.
Evo e Adana? (31/10/2010) O presidente da gravadora com que tenho contrato desde que o mundo é mundo, a Universal, traz a público uma reclamação que Gil Lopes repetia de forma obsessiva no blog Obra em Progresso: por que a Apple não abre uma loja do iTunes no Brasil?
Condição 'sine qua non' (07/11/2010) A cena (que pode ser vista no YouTube) de Lula usando, em meio a um discurso, a expressão "condição sine qua non", e comentando "isso é pro Caetano ver como o Lula está" é uma cena adorável. Era sua reação a eu ter dito que ele era analfabeto.
Mauá e Fox (14/11/2010) Depois de receber os comentários de Ronaldo Lemos em reposta à minha pergunta sobre a não entrada do iTunes no Brasil - e sugerir que Éboli, o presidente da Universal Brasil, polemizasse com ele - recebi os seguintes comentários deste último...
América (21/11/2010) As calçadas de Nova Iorque (não acho bonito escrever Nova York, o "JB" sempre punha Nova Iorque, como eu: Nova York é como se a gente escrevesse Nova England em vez de New England ou Nova Inglaterra) não são de se lamber).
Trilha (28/11/2010) Estou excursionando com Maria Gadú (não sei por que o acento agudo no nome dela, mas sei que ela é um talento autêntico), de modo que, desatento aos rumores do momento, tomei susto ao ouvir que eu estaria entre os assinantes covardes da petição que rola na internet com o título - em tom de ridículo brado - "Chico, devolve o Jabuti!".
Mangabeira (05/12/2010) Foi José Almino quem me falou de Mangabeira. Achei Unger na "Folha", num artigo longo sobre o PT ser um partido que representava o operariado industrial paulista, uma parte organizada (e minoritária) da mão de obra brasileira: a grande massa desorganizada não estaria representada por um partido assim.
Analfabeto (12/12/2010) Quando eu era menino, mais da metade da população brasileira era analfabeta. Santo Amaro era rodeada de áreas rurais onde quase ninguém sabia ler. Os vendedores da feira, os serviçais das casas, os varredores de rua rarissimamente eram (mal) alfabetizados.
Rock (19/12/2010) Em 1956 eu tinha 13 anos e morava no Rio. Nunca tinha visto televisão. Foi o ano em que Elvis apareceu. Ouvi Nora Ney cantar "Rock around the clock". Eu gostava de rádio e conhecia muitas canções de vários tipos. Não tinha nem um esboço de critério crítico.
Errática (26/12/2010) O melhor artigo publicado por uma colunista de jornal em 2010 no Brasil foi o de Drauzio Varella sobre a violência contra homossexuais. Quem não leu procure na internet. É fácil de achar. E de entender.
Narciso acha feio (02/01/2011) Doce ilusão crer que eu leria tudo o que escrevi nesta coluna desde que, por receber o convite via Antonia Pellegrino e ser aconselhado por Paula Lavigne (além do gosto teimoso de aparecer em publicação carioca), aceitei fazer o que evitava havia anos: escrever regularmente em jornal.
Dinheiro não (09/01/2011) Bethânia estourou no Opinião em 64. Guilherme Araújo logo me procurou para convidá-la a gravar na Elenco. Vianinha aconselhou-nos a preferir a proposta da RCA: apesar do prestígio, a Elenco era um selo tateante. O jovem comunista nos convenceu a optar por uma sólida multinacional.
Fevereiro outra vez (16/11/2011) Vi Mart'nália na noite do réveillon em Fortaleza e a revi em Salvador na Concha Acústica. É uma força do Espírito essa pessoa.
Volta (23/01/2011) Cheguei ao Rio. Só tive voz para gravar uma mensagem de orientação aos que querem ajudar as vítimas das chuvas na serra. Vim direto do aeroporto para a Zona Sul, e a sensação é a de ter chegado a uma cidade bem mais cuidada do que Salvador. Não senti isso quando cheguei do Recife. Nem de Fortaleza.
Dois lados? (30/01/2011) Deixei para escrever depois de ler o artigo de Hermano Vianna hoje (sexta-feira). Ele tinha me mandado e-mail sumário, dizendo apenas que ia agradecer na coluna pelo que escrevi no domingo passado sobre direitos e internet.
Pontos teimosos (06/02/2011) Minha posição pessoal referente à questão dos direitos autorais é idêntica à que atribuí a Jorge Mautner no domingo passado: ninguém toca em nem um centavo dos meus direitos.
O Egito é a Bahia (13/02/2011) Carlinhos Brown cantando “… e o Egito é a Bahia” em frente à catedral de Guadalajara, com a multidão mexicana na mão, lançou uma luz inesperada sobre as imagens do Cairo que passáramos a tarde vendo na TV.
Nerds refinados (20/02/2011) Quando eu escrevia posts para o blog Obra em Progresso (essa tradução-piada para “trabalho em andamento” ou simplesmente “homens trabalhando”), sentia a intensidade da reação dos internautas que o visitavam e as repercussões de ira ou interesse em outros blogs e sites, mas pouca ou nenhuma reação das pessoas nas ruas.
Kassin, Gil, Lessig (27/02/2011) As primeiras palavras que Kassin me disse quando começamos a falar (por e-mail) em direitos autorais foram: “A ideia de a sociedade arrecadadora ser vilã é errada.”
Alain? (06/03/2011) Alguém me disse que DVDs piratas de filmes indicados ao Oscar estão por R$ 20 em pontos de venda nas áreas nobres da Zona Sul do Rio. Há pouco tempo o preço era R$ 5. Neguinho compra hoje um DVD ilegal por um preço que faz pouco era o que se pagava na Modern Sound.
Marcos zero (13/03/2011) Conheci o carnaval do Rio antes do de Salvador. Passei todos os carnavais em Santo Amaro até o de 1956, quando vim para o Rio e fiquei um ano. Só vi o carnaval de Salvador em 1960. Foi uma iluminação.
Músicas (20/03/2011) Ouvi na Rádio Roquette Pinto uma gravação de “Ladeira da preguiça” que me arrebatou. Era Rosa Passos. Nunca eu tinha achado essa canção tão bonita. E tenho sempre admirado Rosa grandemente mas talvez nunca a tenha amado tanto.
Bethânia (27/03/2011) Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal?
Pessoas (03/04/2011) Se eu tivesse lido a coluna de Fernando de Barros e Silva, na “Folha” de 19 de março, eu talvez nem tivesse sentido tanta necessidade de escrever meu artigo de domingo passado.
Angústia (10/04/2011) Foi a primeira vez que vi um espetáculo de Pina Bausch depois que ela morreu. Senti grandemente sua ausência na plateia, durante a apresentação, e no palco, para os agradecimentos.
Alegria (17/04/2011) O fato de Carlos Saldanha ser carioca contribuiu decisivamente para que, em "Rio", o Rio fosse abordado sempre de ângulos reveladores da experiência real de se estar na cidade.
Arte participante (24/04/2011) A entrevista que Juliano Mer-Khamis deu à “Folha de S. Paulo” poucos meses antes de morrer provoca emoções fortes em alguém que, como eu, cresceu em plena maré montante do teatro de participação — que tanta influência teve sobre o cinema e a música brasileira a partir dos anos 1960.
Caymmis (01/05/2011) Nana dizendo, numa cena do filme de Gachot, “Eu me adoro cantando!”, com toda a despudorada delícia de quem emite uma opinião insuspeita, nos dá certeza absoluta de que se trata de fato de uma opinião insuspeita.
Terra em transe (08/05/2011) Será que o Brasil começa a deixar de parodiar “Terra em transe”? Ou de imitar o filme, como acho que foi a forma que Cacá Diegues escolheu para descrever o fenômeno do país que não cansa de parodiar uma obra que o parodia.
Nova idade. (15/05/2011) Glauber Guimarães (que é roqueiro e ganhou esse prenome por seu pai, também baiano, ser admirador do outro Glauber, aquele que apareceu aqui no domingo passado) me conta por e-mail que o professor de cinema André Setaro escreveu na net...
Por uma vida melhor (22/05/2011) Quero ler o livro de Heloisa Ramos por inteiro. Estou na Bahia gravando a voz de Gal com Moreno no estúdio Ilha dos Sapos, de Carlinhos Brown...
De segunda mão (29/05/2011) Sou um internauta de segunda mão. Só vejo e leio coisas que me chegam copiadas em e-mails — ou que surgem do clique que dou nos links azuis que os salpicam.
João Gilberto (05/06/2011) Era dele mesmo que Bob Dylan falava na contracapa do “Bringing it all back home”, como eu supus desde o início. Era ele que tinha feito surgir na frase seguinte a palavra “perfection”.
Xuxa e Todorov (12/06/2011) Numa cena de “12 homens e uma sentença”, de Sidney Lumet, cuja ação se resume às discussões dos jurados no julgamento de um garoto acusado de matar o pai (o que o pode levar à cadeira elétrica), um personagem fascistoide quer desqualificar moralmente o réu (mesmo levá-lo à condenação) com o argumento de que ele “não fala inglês correto”.
Coisas importantes (19/06/2011) A influência recíproca entre Chico Buarque e Guinga é um traço auspicioso da música brasileira contemporânea. É algo que chegou a tempo (tarde na carreira de Chico, cedo na de Guinga), em mágica sincronia.
HD (26/06/2011) Às vezes me parece que quando a gente vai ficando velho deve deixar de ler livros novos: a memória e a capacidade de concentração já não são as mesmas - e os romances, poemas ou ensaios não calam tão fundo na alma de um sexagenário como na de um adolescente.
FH (03/07/2011) Aos 80, o Fernando Henrique que foi chamado de maconheiro pelos partidários de Jânio Quadros (um hilário populista de direita que falava como se os gramáticos que só existem na cabeça de Possenti tivessem ganho a guerra) faz campanha para a descriminalização da maconha.
Woody Allen (10/07/2011) Uma amiga inteligente me disse que achou “Meia noite em Paris” legal mas muito parecido com “A rosa púrpura do Cairo”. Fiquei me perguntando por quê.
Esboço de resposta (17/07/2011) Juan Arias, do “El País”, pergunta por que os brasileiros não demonstram indignação pública contra a corrupção, já que o governo Dilma, em seis meses, teve que expulsar dois ministros fortes por evidência de práticas ilícitas.
Clarice (24/07/2011) Benjamin Moser, o caçula dos apaixonados por Clarice Lispector, escreveu um livro arrebatador sobre essa nossa poeta e musa. Tomo a liberdade de chamá-la de poeta baseado em Georg Lukács, que usava a palavra para se referir aos grandes ficcionistas dos séculos XIX e XX, já que ele os considerava os legítimos herdeiros da poesia épica.
Amálgama (31/07/2011) Aders Breivik destaca o Brasil como prova de que a mistura de raças gera nações improdutivas. É a velha hipótese que tinha vigência dentro do próprio Brasil (e, claro, nunca foi descartada de todo — nem por todos), só sendo realmente abalada pela virada que representou “Casa grande e senzala”, digam o que disserem os neorracialistas.
Alternativa nacional (07/08/2011) Minha amiga Heloisa Chaves me pergunta, brincando, se quero que os brasileiros se orientem pelas falas de Mangabeira no YouTube (http://bit.ly/robertounger) se nem todos os brasileiros entendem inglês.
Momentos de glória (14/08/2011) Quem poderá lembrar com nitidez? Eu, sim. Ao menos algumas imagens. Mas certas informações que orientariam o leitor só poderiam surgir como resultado de pesquisa - coisa que não fiz nem para escrever "Verdade tropical".
Entretenimento (21/08/2011) Parece que não sei ver filmes. Sempre temo estar desatento para os detalhes cruciais que definem a trama. E isso acontece com frequência considerável. Mesmo assim fui crítico de cinema aos 18 anos.
Papo furado (28/08/2011) O mundo acabou. Kadafi (que o “New York Times” e a “Folha de S. Paulo” chamam de Gaddafi) caiu mas não saiu. Dilma explica que a faxina é acabar com a fome. Sarkozy faz o que os americanos nem podem admitir que se diga. No entanto, nada é tão fácil.
Auto-Tune (04/09/2011) Auto-Tune é um processador, um plug-in, que você usa para afinar uma voz ou um instrumento numa gravação. É um manipulador de pitch, altura (não no sentido popular de “volume” mas no propriamente musical de subida ou descida entre sons graves e agudos).
Lurdinha (11/09/2011) Paulinha Lavigne, que foi minha mulher e é minha empresária (portanto tem de me conhecer um bocado), riu muito ao me ler aqui contando que quase colaborei com a luta armada.
Amelia e Telluride (18/09/2011) Gosto especialmente de Amelia Rabello. Senti muito ter perdido, na véspera de minha vinda para a Bahia agora, a apresentação dela no Teatro Rival.
Rock in Rio no Rio (25/09/2011) Fui com Lulu Santos até a nascente Cidade do Rock. Naquele ano em que o Paralamas arrasou. Fiquei irado porque o corredor para onde dava a porta do camarim de Lulu foi tomado com agressividade por roadies ingleses grosseiros...
Stevie e Zé (02/10/2011) Eu não sei. As notas que parecem derreter-se no ar da minha memória estão relacionadas a outras que surgem ao mesmo tempo que elas, ou tinham aparecido antes, ou despontam depois, todas se dissolvendo nas brisas da lembrança...
Dinheiro, não (09/10/2011) Nunca fiz um anúncio de produto comercial. Acho que comecei essa restrição justamente por causa do tropicalismo.
Vera Cruz (16/10/2011) No filme "A pele que habito", Pedro Almodóvar faz curiosas referências ao Brasil. Embora muita gente tenha dito (e ele próprio tenha, de certa forma, anunciado antes de o rodar) que este filme seria diferente daqueles que o fizeram mundialmente famoso, Pedro aqui volta às fábulas sobre identidade e gênero...
Amor em SP (23/10/2011) Vejo a cara de Criolo que olha para mim antes de andar até o microfone. Estamos no escuro esperando a deixa para começarmos nosso número. MV Bill é quem nos anuncia no VMB. Essa festa de premiação é o B do VMA?
Poulenc (30/10/2011) A ladeira do cemitério de Santo Amaro era um lugar bom para conversar de tarde. Carlinhos de Edite sentia sempre muito calor, por isso liderava a ida de uma pequena turma para deitar no cimento da ladeira, em suas pedras, no meio da tarde.
Lei seca (06/11/2011) Os americanos só se referem ao período em que as bebidas alcoólicas foram para a ilegalidade como “prohibition”. Aqui em Portugal, como aí no Brasil, dizemos “lei seca”, não sei se graças à criatividade dos lusófonos ou se o traduzimos de algum outro idioma falado por gente mais imaginativa.
Tigre (13/11/2011) Acho que não conheço Flora Thompson DeVeaux pessoalmente. Digo “acho” porque estava certo de nunca ter encontrado Benjamin Moser (embora o achasse familiar nas fotografias), mas afinal ele me disse que nos conhecemos em Nova York...
Dia da Consciência Negra (20/11/2011) Na Praça do Mercado, em Santo Amaro, festejávamos o 13 de maio. Foi no ano passado. O bembé do mercado é festa tradicional de minha cidade. Começou em 1889, um ano depois da Abolição.
A ponte (27/11/2011) Faz uns dias, participei da gravação de um DVD de Seu Jorge na Quinta da Boa Vista, em frente ao Palácio Imperial. O lugar é lindo, e o espetáculo foi exuberante.
Ponte aérea (04/12/2011) Aeroportos são o que existe de mais abominável neste mundo. Ou pelo menos é o que eu achava há 14 anos, antes de perder o medo de avião. Não que 14 anos signifiquem tanta coisa assim para um homem da minha idade.
Memória (11/12/2011) Estou em Buenos Aires, aonde vim para fazer algo (não está muito claro para mim o quê) no Parque de la Memoria. Sei que trataremos, num pequeno filme feito pela instituição e numa entrevista fechada que darei a um interlocutor escolhido por eles...
Ilha (18/12/2011) Leio e ouço muita gente falando sobre o disco de Gal. O que me faz muito feliz, sobretudo quando prevejo que, depois de passar um tempo ouvindo "Neguinho", geral vai passar a ouvir "Miami Maculelê" (amo ver a imagem de São Dimas numa versão que rola no YouTube).
Curva do Calombo (25/12/2011) Todo fim de ano é fim de mundo, e todo fim de mundo é tudo o que já está no ar. Ou pelo menos é assim que lembro que começa a canção que fiz sobre Brasília para o disco “Cantar”, que produzi para Gal no final dos anos 1970.
Ano bom (01/01/2012) Faz tempo que não esperamos uma entrada de ano com tão poucos bons prognósticos. 2011 foi um ano rápido e cheio de turbulência. Foi o ano em que o mundo viu que a crise de 2008 é a crise que nunca terminou.
Ainda cá (08/01/2012) “A Bahia está viva ainda lá”, mandava dizer a Adalgisa do samba de Caymmi. Estou em Salvador desde a véspera de Natal e tenho a irresponsável sensação de que a Bahia ainda está viva aqui.
Gente (15/01/2012) Ouvi Elis pela primeira vez vendo-a na televisão. Foi em Salvador — e nós, os baianos que chegaram ao eixão na esteira da estreia de Bethânia no Opinião, já tínhamos um esboço de visão da música popular numa perspectiva brasileira.
Nara Tropicália (22/01/2012) É muito por causa de Nara que eu desejo dissuadir os dirigentes da Odebrecht de manter o nome Tropicália no projeto de condomínio que eles estão construindo em Salvador.
André Lara Resende (29/01/2012) André Lara Resende escreveu artigo extraordinário na revista “Valor Econômico”. A matéria me foi enviada por André Nassif, um economista keynesiano e desenvolvimentista que tem a paciência de dialogar com minha enorme ignorância na matéria.
Desocupa (05/02/2012) Quando cheguei à Bahia, na véspera do Natal, fui logo para Santo Amaro ver minha mãe e meus irmãos. Voltei para Salvador para ver meus netos e meu filho mais velho. Meus filhos menores chegaram logo em seguida. Não atentei muito para a cidade de Salvador, seus aspectos atuais e seus clamores.
Mentira (12/02/2012) Tarde demais para lamentar a imperdoável desatenção do governador Jacques Wagner aos problemas que levaram à greve da Polícia Militar da Bahia. Jânio de Freitas estava certo ao escrever que ao governador cabe a maior parte da responsabilidade pela situação.
Reis e ratos (19/02/2012) A função que exerceria a ditadura militar brasileira no quadro da Guerra Fria é retratada no filme com um humor feroz ancorado na paródia de diálogos do cinema americano dos anos 1940. Os atores dizem esses diálogos como se fossem dubladores lendo traduções de um suposto original em inglês.
Associação (26/02/2012) Carnaval para mim sempre foi coisa importante. Claro que eu me sentia às vezes inautêntico, tendo de querer pular, me perguntando se a vontade vinha de dentro de mim mesmo. Por que dançar agora? Só porque todo mundo combinou que esse é o momento de querer dançar?
Picnic (04/03/2012) Ao ouvir a conversa que surgiu, durante o ensaio do show de Gal, sobre a nomeação de Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca (e a história de que o senador evangélico teria respondido à pergunta de um repórter sobre seus conhecimentos a respeito do assunto com a frase “Não sei nem colocar uma isca no anzol”)...
Filmes (11/03/2012) Adorei a festa do Oscar quando a vi de dentro: o orgulho sincero (e justificado) que aquele pessoal de Hollywood tem por suas conquistas de excelência fez Los Angeles parecer real.
Crioulo (15/04/2012) Estava de férias (só do GLOBO). Um dia vinha ouvindo rádio no carro e Jorge Ben cantou “Cadê Teresa?”. Adoro essas músicas de Jorge para Teresa, Domingas, Teresinha, Domenica, Tetê-Teteretê, todas essas mulheres que são a mesma loura paulistana com quem ele se casou.
Nomes (22/04/2012) Muito bonito o filme “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca. Quem vê Canal Brasil se lembra de que já sentimos que cenas de sexo serviam para produtores e diretores pensarem que assim imprimiriam força em obras que de outro modo não teriam força nenhuma.
Sobrevivendo no inferno (29/04/2012) Por que a Nike lançou uma linha de tênis e camisetas com o nome de Mano Brown sem tomar a precaução de fazer um contrato com ele? Os produtos WFC Mano Brown estiveram, até faz pouco tempo, à venda em lojas da marca por todo o mundo e também na internet.
Sonhos (06/05/2012) Não me senti bem ao ver a foto de um policial armado no corredor de uma escola do Rio, na frente de um grupo de adolescentes. Parece-me que trazer o conflito entre a violência (legítima) do Estado e a violência marginal para dentro do ambiente da educação não pode prometer boa coisa.
Nanda e Freixo (13/05/2012) Fernanda Torres, um fenômeno de talento cênico, impressiona também pela lucidez com que pensa, fala e escreve. Eu, que aqui exponho tão repetidas vezes os males de uma tradição retórica fincada no barroco do Padre Antônio Vieira, invejo a clareza dela.
Verdade (20/05/2012) Tinha tido a impressão de que este jornal quis tirar onda com a minha cara. No domingo passado, ao anunciar, na primeira página, o que o leitor encontraria aqui na coluna, os editores disseram que eu teria “adoração” por Marcelo Freixo. Achei estranho.
Recanto (27/05/2012) O que mais surpreende no show “Recanto” é a adequação de Gal ao novo repertório. Surpreende os outros, digo. Não a mim. Ouvindo o disco, não faltou quem achasse que Gal simplesmente cantava as canções que fiz para sua voz sem se comprometer muito com elas.
Marco (03/06/2012) Meu filho de 20 anos estava me perguntando sobre coisas dos anos 60. Queria entender o que significava eu ter dito a ele que os Beatles, quando surgiram, não nos pareciam algo muito diferente daquilo que Justin Bieber parece a ele e a seus amigos hoje.
Detalhes rítmicos (10/06/2012) Eu disse aqui que nunca tinha lido nenhuma coletânea de textos de Paulo Francis. Pois bem, fui à Livraria da Travessa de Ipanema (um dos lugares a que mais gosto de ir na vida) comprar "A esquerda que não teme dizer seu nome", de Vladimir Safatle, e dei de cara com o "Diário da corte".
Francis (17/06/2012) Incrível. Como é que o Paulo Francis escreveu que Mick Jagger tinha me respondido que era tolerante com latino-americanos — e ainda pôs um “sic”? Perguntei a Mick de sua tolerância com jovens. Ele fez uma cara safada e respondeu que era tolerante, “especialmente na Colômbia”.
Idades (24/06/2012) Suponho que eu não gostava da infância. Lembro-me de muita impaciência e de uma quase permanente irritação contida. Havia alegrias — como desenhar caminhos de ferro com carvão no cimento imenso do quintal...
Grave (01/07/2012) No domingo passado chamei de “agudo” o acento que indica a crase. E isso em meio a uma animada reafirmação de minha exigência e minha vaidade quando se trata do bom manejo da língua portuguesa. Ou foi falha de memória senil ou autossabotagem neurótica.
Concórdia e discórdia (08/07/2012) “A não concordância de número nos verbos e adjetivos relacionados também me faziam mal.” Essa foi demais. A não concordância de número me “faziam” mal? Não tinha relido aquele artigo em que chamei o acento grave de agudo. Não vi é que um erro maior tinha passado.
Dívida (15/07/2012) Vim a uma Bahia chuvosa só para cantar num evento fechado, esse tipo de compromisso que ajuda a pagar as contas de quem não crê mais em viver de direitos autorais. Mas nem a chuva desbotou o encanto da cidade nem o evento deixou de oferecer alegrias.
Graeber beat (22/07/2012) Pensei que ia poder ouvir o “lixo lógico’ de Tom Zé essa semana para poder comentar aqui, mas ainda não tive acesso ao material. Em compensação, li muito mais páginas do “Debt” , de David Graeber, e, embora não seja fácil, vou dar alguma notícia sobre isso.
Salvação (29/07/2012) Uma das maiores emoções da minha vida foi causada pelas palavras de Mia Couto, o escritor moçambicano, sobre a importância de Jorge Amado na formação da literatura africana de língua portuguesa.
'Lixo lógico' (05/08/2012) Talvez Bethânia, Gal e eu sejamos os menos medievais dos tropicalistas. Isso se, contra a própria vontade dela (mas em acordo com o fato de que a canção "Baby" foi por ela sugerida, além de ela ter sido quem me levou a atentar para Roberto Carlos), considerarmos Bethânia uma tropicalista.
'Roda viva' (12/08/2012) Me (desculpe-me, Heloisa, mas eu gosto de começar frase com “me”) chamaram para participar da entrevista a Mangabeira no “Roda viva”. Era-me impossível sair do Rio e o programa é em São Paulo. Daí sugeriram que eu gravasse perguntas pelo Skype. Gravei duas.
Descarrego (19/08/2012) Quando cheguei ao Rio com Bethânia, no final de 1964, começo de 1965, eu vinha do Méier para a Siqueira Campos, onde ficava o Teatro de Arena, que passou a se chamar Opinião por causa do espetáculo do qual minha irmã tinha sido convidada para participar...
Moral da história (26/08/2012) Possivelmente por causa de Adorno, somos sempre relembrados de que nossas alegrias são suspeitas, nossa possível felicidade, criminosa. Grande parte das excitações tropicalistas tem origem no movimento íntimo para confrontar esse mandato.
Frio no Rio (02/09/2012) O arco-íris foi lindo, mas o desconforto que representa para mim ter que usar muitas camadas de roupa atrapalhou. Meu quarto fica de frente para o Oceano Atlântico, e as invisíveis frestas das janelas deixam entrar um incessante ar gelado.
Blog? (09/09/2012) Não entendo nada mesmo de internet. Quer dizer, li e ouvi histórias sobre sua invenção, recebo e escrevo e-mails e dou umas olhadas no Google e no YouTube. Mas para onde vai tudo o que escrevemos, gravamos e desenhamos on-line?
Eleições (16/09/2012) Estou correndo para conseguir terminar a gravação de voz para meu novo disco e viajar para a Bahia sem mais preocupações quanto a isso. Vou para o aniversário de minha mãe. Ela faz 105 anos, e eu não deixaria de ir mesmo que fossem 53.
Zonas (23/09/2012) Recebo e-mails de amigos, de conhecidos, de colegas de trabalho e também de desconhecidos. Respondo tudo o que posso. Felizmente, embora eu use e-mail há muitos anos, nunca recebo mensagens em número grande demais.
Quinto (30/09/2012) Eu vinha do Jardim Botânico com meu filho na madrugada vazia. Ele no assento do carona e o rádio do carro ligado. Tocou “Pra que mentir” com Paulinho da Viola acompanhado de César Faria, seu pai, no violão.
Responsabilidades (07/10/2012) Julio Vellame me relembrou que ouvi dele a frase “a missão do Brasil é salvar a África”. Ele conta a história da conversão de sua mãe à Igreja Messiânica.
Ah! Há a à (14/10/2012) Marcos Bagno propõe, no curto trecho que dedica, em seu livro de mil páginas, à crase do artigo “a” com a preposição “a”, que simplesmente passemos a pôr um acento grave na preposição. Pronto.
Arcos (21/10/2012) Passei tantas noites em estúdio gravando que nem pude ver os filmes que entraram e saíram de cartaz. Não gosto de passar muito tempo sem ir ao cinema. Sinto saudade. O único aspecto negativo é o ar-condicionado em 17°.
Jeito (28/10/2012) A Bahia tem um jeito. Há anos escrevi, na letra de outra música, que bastaria que um prefeito desse um jeito na Cidade da Bahia. Infelizmente tenho me achado cada vez mais longe de ver isso acontecer. Mesmo assim, continuo esperando.
Heavy Metal (04/11/2012) Acho que foi nos anos 80 que escrevi uma música chamada “Purificar o Subaé”, deplorando o estado em que a Cobrac (Companhia Brasileira de Chumbo) e a Peñarroya (empresa francesa) deixaram Santo Amaro.
MPB (11/11/2012) Eu nunca tinha visto neve em Nova York. Desta vez as enormes planícies do aeroporto estavam brancas. Pequenos tratores empurravam montes altos de gelo para longe do caminho do avião. Já era de manhã mas ainda era noite.
Nenhum Elvis (18/11/2012) Las Vegas é bem mais cidade do que Los Angeles. Isso eu não imaginava. Bem, tudo o que você vê parece ter sido produzido num Projac (Projeto Jacarepaguá, que é o que significa esse apelido) hipertrofiado, mas os volumes arquitetônicos e suas disposições urbanísticas sugerem o que reconheço como cidade.
O petróleo é nosso (25/11/2012) Com a cabeça mais perto do lugar onde vivo. Amanhã, segunda-feira, pessoas do Rio se manifestarão publicamente para protestar contra a chamada lei Vital do Rêgo.
Retroflexo (02/12/2012) Quase todos os erres que ouvi dos jovens que formavam a plateia do “Altas horas” eram retroflexos. Não me lembro de onde eram todos os grupos de estudantes que estavam ali: quando Serginho Groissman os enumerou eu estava menos atento do que devia e terminei ouvindo os nomes das cidades sem registrá-los.
Geral (09/12/2012) Tenho muito orgulho de ter brigado publicamente com Décio Pignatari e de tê-lo amado antes, durante e depois desse episódio. Ele foi — ele é — uma figura tão imensa que qualquer um pode se orgulhar para sempre de ter tido qualquer tipo de contato com ele.
Nomes (16/12/2012) Hoje ouvi um locutor da FM O Dia dizer que um ouvinte com quem dialogava iria dar um “alozaço” para todos os outros ouvintes que seguiam o programa. Esse “alô” ampliado ecoava o “Abraçaço” do título de meu disco novo aos meus ouvidos.
'Let's go' (23/12/2012) Por algum motivo, estranhei os autdoors de Salvador. Vindo do aeroporto, já me habituei a ver dezenas desses cartazes gigantes (que no Brasil ficaram com o nome de “outdoor”, embora os de língua inglesa não os chamem assim).
Pi (30/12/2012) O homem e o menino são muito bons. Mas o adolescente me arrebata. Ang Lee tem também a virtude de dirigir com sensibilidade seus atores. “As aventuras de Pi” ganhou apenas duas estrelas aqui na “Tarde”, da Bahia (“O Hobbit” ganhou três, hum...).
Brisa (06/01/2013) Paquito, duplamente colega meu (já que compõe canções e mantém uma coluna semanal), a propósito da aprovação do novo PDDU pela câmara dos vereadores de Salvador...
Luto (13/01/2013) Acho que Ang Lee foi levado a fazer o filme de Pi por causa do desafio de pôr em cena a experiência de um menino sozinho com um tigre no meio do oceano.
Lutas (20/01/2013) Enquanto escrevo (às pressas para não perder o voo para a Bahia), meus amigos do Rio estão guardando a Aldeia Maracanã, que recebeu, com a permissão finalmente dada por Eduardo Paes, o que parece ser um golpe fatal.
Belo é o Recife (27/01/2013) Nesta Bahia maltratada, vi, sozinho, o filme de Kleber Mendonça Filho e fiquei estarrecido. Raramente um diretor encontra com tanta precisão o tom do filme que deve e quer fazer.
O redemoinho (03/02/2013) Nunca recebi tantos comentários de leitores desta coluna (pelo visto são mais do que 17) como quando saiu o artigo em que falei do “Redemoinho”, o vídeo doméstico que me pareceu maravilhoso no YouTube.
Salomão e cascadura (10/02/2013) Faz duas semanas, comentando aqui o “Gonzaga” de Breno Silveira, escrevi que o show “Luiz Gonzaga volta pra curtir” talvez tivesse sido dirigido por Waly Salomão. Não foi. O diretor foi Jorge Salomão.
Corda e cor (17/02/2013) Li com interesse e carinho a entrevista de João Jorge, o fundador e presidente do Olodum e meu amigo, à “Folha de S.Paulo”. A chamada de primeira página dava um gosto tipicamente “Folha” à matéria: Ivete Sangalo seria a única artista do carnaval baiano.
Yoani e a 'Senhor' (24/02/2013) É difícil aceitar como progressista a atitude dos que agrediram Yoani Sanchez em sua chegada ao Brasil. E logo em minhas duas terras, Bahia e Pernambuco (ganhei cidadania da Assembleia Legislativa Pernambucana, a Casa de Joaquim Nabuco).
Alguns filmes no ar (03/03/2013) É a Maria Amélia Mello que devo agradecimentos pela publicação da antologia da revista “Senhor”, não a Ana Maria. Peço desculpas pelo erro. Escrevi entre voos e voltas e terminei errando um nome que conhecia.
Dois mulatos (10/03/2013) Lendo a biografia de Dolores Duran, escrita por Rodrigo Faour, revivi toda a minha frustração por não ter podido encontrar essa cantora e compositora excepcional quando de minha vinda para o Rio com Bethânia.
Um pouco de sensatez (17/03/2013) Felizmente a ministra Marta Suplicy recuou da decisão de incluir as TVs a cabo no rol dos produtores de cultura beneficiados por mecanismos do ministério. O artigo de Cacá Diegues na semana passada deixava claro o absurdo que seria a aplicação da nova norma.
Dolores e Eric (24/03/2013) Fiquei surpreso com o artigo de Angela de Almeida publicado aqui ao lado na quarta-feira. O título era “Em defesa de Dolores Duran” mas, apesar da redação sóbria, não se entende de que a articulista está defendendo a cantora.
O grande mito (31/03/2013) A pauta da primeira reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias sob a presidência de Marco Feliciano foi o grave caso da contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação, no estado da Bahia.
Sonho meu (07/04/2013) Escrevi: “Dolores Duran era uma glória da língua portuguesa, sem a qual o samba não existiria”. É no que dá escrever com pressa.
Ainda Feliciano? (14/04/2013) Nem estou acreditando que volto ao assunto do pastor/deputado/presidente da CDHM. Mas, como muitos devem ter visto, ele mentiu reiterada e estridentemente sobre mim.
Bessa-Luís, Ecad etc (21/04/2013) Sou grato ao colunista da “Folha de S.Paulo” João Pereira Coutinho por ter sugerido que atentássemos para Agustina Bessa-Luís.
Leminski! (28/04/2013) Vim de Petrolina para Porto Alegre com uma escala prolongada em Salvador e outra relâmpago no Rio. Daqui sigo para Belo Horizonte. Estou em aeroportos e hotéis, além de palcos, quase o tempo todo.
Percebes? (05/05/2013) É o contrário do que senti ao ler Agustina Bessa-Luís. Toda a densidade da vida luso-brasileira se vê negada. Diante da TV, assistindo a um filme português no Canal Brasil, me deparei com uma experiência que já conhecia de antes mas que pensei que tivesse esquecido.
O passado (12/05/2013) No domingo passado escrevi aqui de modo tão confuso que peço desculpas a quem me leu; peço a quem não leu que não leia; e resumo: eu queria somente dizer que me fez mal ter visto um filme português legendado em português brasileiro no Canal Brasil...
Quase nada (19/05/2013) As palavras de Marina Silva sobre o caso Feliciano são sensatas e dizem o que deve ser dito. A imprensa deu um tom suspeito nas manchetes e os malucos das redes sociais (segundo me contam) entraram em surto.
No rádio do carro (25/05/2013) No rádio do carro ouço o que pinta, dentro do que, em parte, procuro. Acabo de ouvir Fernanda Abreu cantando “Baile da pesada” com o Monobloco.
O centro (02/06/2013) De repente me vi no centro do Brasil. Vim fazer uma apresentação em Uberlândia e, misteriosamente, entre cidades brilhando na noite de céu claro, apenas Uberlândia estava sob neblina tão densa que o aeroporto estava fechado.
NSA e IMS (09/06/2013) Obama foi conversar com o premier chinês sobre a presença do Estado na internet justo quando o jornal “The Guardian” noticiou que o governo americano pode entrar nos e-mails, chats e redes sociais da Google, da Apple, da Yahoo.
Carminho e o nosso passarinho (16/06/2013) Sempre gostei de ver a festa do Prêmio da Música. Desde que ela levava um nome de empresa e eu a defendia das investidas de Xexéo.
Bonito (23/06/2013) Acabo de chegar a Natal e, ao abrir o Yahoo para ler e-mails, fico sabendo que Dilma não vai ao Japão agora porque as movimentações das ruas brasileiras demandam sua presença. Um amigo me escreve que ela vai reunir-se com os ministros.
Gás (30/06/2013) É quinta-feira. Sentei-me aqui para escrever e, antes que eu abrisse o computador, Neide, minha empregada, veio até a porta do meu quarto e me perguntou se eu sabia que ia haver uma greve geral na segunda-feira.
Ritmo (07/07/2013) Os compositores e cantores que vieram a Brasília para apoiar o PLS 129 estavam muito cheios de vida. De Roberto Carlos a Emicida, de Nando Reis a Gaby Amarantos, de Rogério Flausino a Carlinhos Brown, todos pareciam dotados de uma grande energia, o que para mim era surpreendente.
Escapismo (14/07/2013) Quando eu escrevia crítica de cinema em Salvador — e só andava com cinéfilos — a gente ouvia sempre que, durante a depressão dos anos 1930, Hollywood se voltou para as comédias: era um modo de fugir da realidade sombria.
Slogans (21/07/2013) Arto Lindsay veio aqui em casa. Fazia um tempo que a gente não se via. Gozado é que vi, da sacada, a primeira parte dos efeitos colaterais da manifestação no Leblon ao lado de outro americano que vive no Brasil...
2 de julho (28/07/2013) Zé Miguel Wisnik me deu o volume das obras completas de Oswald de Andrade em que estão os textos teóricos e filosóficos do poeta.
Lendo (04/08/2013) Em “Billie Holiday e a biografia de uma canção” — livro que ganhei de presente em João Pessoa —, David Margolick observa que “Depois de um ciclo inicial de popularidade, “Strange fruit” caiu em desuso por muitos anos...
Pai (11/08/2013) O desaparecimento de Amarildo Dias de Souza, depois de ter sido levado à UPP da Rocinha, é o acontecimento mais impactante nesse período de eventos marcantes na cidade.
Rónai (18/08/2013) Ganhei de Hélio Eichbauer, como presente de aniversário, um livrinho precioso (entre outros cheios de interesse, ofertados por outros amigos, a que talvez venha a me referir aqui um dia): “Como aprendi o português e outras aventuras”, de Paulo Rónai.
7 de setembro (25/08/2013) No 2 de Julho Salvador esteve bonita como às vezes a gente pensa que ela não vai nunca mais voltar a ser. Ou pelo menos foi a impressão que me deram as fotos que Regina Casé me mandou de lá, tiradas de uma janela no Carmo.
Canto de fonte (01/09/2013) A moça do Black Bloc que aparece num vídeo da Mídia Ninja e na capa de “Veja”, que diz chamar-se Emma, é deslumbrantemente bonita com a máscara que só deixa à mostra os olhos.
Um dia aventuroso (08/09/2013) Nossa carta pedia a atenção do secretário para a necessidade de um protocolo de ação da polícia durante as manifestações. Na conversa com ele, reiteramos a necessidade do esclarecimento do que ocorreu com Amarildo...
Interessante (15/09/2013) Gostaria de ter tido tempo para refletir antes de escrever. Mas aconteceu o contrário. Trabalhos dobrados se sobrepõem à montanha de assuntos de que eu queria poder tratar aqui hoje.
O maluco sou eu (22/09/2013) Uma moça me escreveu que dizer “eu sou velho” é alimentar preconceito contra a velhice. E falar nos doidos das cartas à redação, reforçar discriminação da loucura.
Marina, ônibus e professores (29/09/2013) A greve dos professores do Rio é um assunto que deveria estar sendo acompanhado com mais atenção. Educação é o tema mais importante dentre todos os que a sociedade brasileira fez questão de mostrar que a afligem e impacientam.
Milton: a música (06/10/2013) Recebi um livro que me arrebatou. Trata-se de “A música de Milton Nascimento”, escrito por Chico Amaral. Muitas das ideias a que, ao longo dos anos, esse artista excepcional tem me levado aparecem de modo articulado pelo autor, coisa que a mim mesmo não seria possível.
Cordial (13/10/2013) Tenho um coração libertário. Sou o típico coroa que foi jovem nos anos 60. Recebi anteontem o e-mail de um cara de quem gosto muito — e que é jornalista — com proposta de entrevista por escrito sobre a questão das biografias.
Chico, Paula e eu (20/10/2013) Não fiquei nada chocado com o vídeo em que Chico fala de Roberto Carlos a Paulo Cesar de Araújo. Era uma fala breve e neutra, em meio a uma entrevista longa, feita há 20 anos, da qual é natural que Chico não se lembrasse.
Em Fortaleza (27/10/2013) O ministro Marco Aurélio Mello me chamou de jurista. Jurista, eu? Ele teve a argúcia de acrescentar imediatamente “baiano” ao título que me concedeu. Percebi em tudo um tom carinhoso, mas agora só se quer ver ironias ferinas e desavenças.
Código (03/11/2013) É incrível que se queira dar agora a impressão de que os artistas reunidos na associação Procure Saber tenham mudado de posição quanto à questão das biografias.
Os caras (10/11/2013) Só entrei em contato com a música do Velvet Underground em Londres. Talvez já em 1970. Embora seja possível que Artur e Maria Helena Guimarães já me tivessem mostrado o disco com Nico, de 1967, que depois Ezequiel Neves vivia pondo pra tocar em nossas vitrolas.
Negra (17/11/2013) Natal estava sob chuva quando cheguei tarde da noite mas amanheceu ensolarada. Da janela do hotel dava para ver a Ponta Negra, que uma vez já escalei com muita vertigem (invejo Zuenir e Mary, capazes de subir dunas verticais sem se sentirem numa cena de “Gravidade”).
Tijolinhos (24/11/2013) Bogotá é quase tão cheia de tijolos aparentes quanto Londres. Na verdade há trechos de ruas que parecem exemplos de arquitetura inglesa. Mas mesmo os prédios modernos e retilíneos são majoritariamente de tijolinhos visíveis.
Esquemas (01/12/2013) O filme de Woody Allen com Cate Blanchett DuBois é bom, como tantos dizem, mas tem uma dramaturgia meio engraçada. Nem Walcyr Carrasco escreveria a cena do encontro entre a Wall Street Blanche e o ex-marido da exageradamente contrastante irmã...
Chorar (08/12/2013) Justo quando estou mais propenso a chorar do que a sorrir, reaparece a piada de Verissimo sobre a guerra entre comunistas e homossexuais. Adoro o poder de síntese desse autor e seu modo desencanado de chegar a frases conclusivas realmente engraçadas.
Quente e frio (15/12/2013) Não posso deixar de registrar aqui meu mal-estar ao ler o minieditorial do GLOBO festejando a condenação de Rafael Braga Vieira. É no mínimo motivo para perguntas óbvias o fato de ser um preto sem-teto o primeiro condenado...
Remorso (22/12/2013) Uma vez, em Hamburgo, durante uma excursão europeia, perdi o controle dos meus nervos. Pode ter sido o show do “Circuladô” ou o do “Livro”, o certo é que Jaquinho Morelenbaum estava comigo.
Prata (29/12/2013) Minha irmã Clara me telefonou de Santo Amaro e terminamos falando sobre a inexistência da árvore de Natal na nossa infância. Clara é 10 anos mais velha do que eu, de modo que escrever “nossa infância” é esticar demais o sentido da expressão.
Cidade (05/01/2014) A Cidade do Salvador fala de modo enfático sobre as coisas do Brasil. Desde o arraial de Caramuru ao status de capital da colônia, passando pelos poemas de Gregório de Matos e pelas lutas da independência, ela grita sobre nossa condição.
Feliz (12/01/2014) Kennedy cogitando invadir o Brasil de Jango é “Reis e ratos” puro. Quem não viu ou não atentou para esse filme não tem a excitação de ler as novidades da futura edição do livro de Elio Gaspari sobre a ditadura.
Sem num nem numa (19/01/2014) Dê um rolê: você não vai encontrar a contração da preposição “em” com o artigo indefinido em nenhum texto impresso no Brasil em tempos recentes.
Superstição (26/01/2014) Vi “A grande beleza” numa “sala de arte” da Universidade Federal da Bahia e fiquei quase o tempo todo emocionado com as imagens de Roma e a língua italiana ecoando no cinema. Era como retomar a minha vida.
Parafuso (02/02/2014) Edward Snowden é uma figura forte. Sua presença pública tem o sabor das entradas individuais que desencadeiam coisas grandes na cena do mundo. Jovem, ele parece um pouco o garoto que, em “E la nave va”, deflagra, com um único gesto, a Primeira Guerra Mundial.
Power (09/02/2014) No 2 de fevereiro vi as duas festas importantes do dia: o presente de Iemanjá no Rio Vermelho e o encerramento da festa da Purificação em Santo Amaro. A de Iemanjá vi em sua inteireza, mas de longe.
Freixo outra vez (16/02/2014) Gosto de Freixo não porque ele é do PSOL. Acho que gosto um tanto do PSOL por ele abrigar Freixo. Sou independente, conforme se vê. Ser estrela é bem fácil.
O cu do mundo (23/02/2014) “A mais triste nação/ Na época mais podre/ Compõe-se de possíveis/ Grupos de linchadores” — escrevi numa canção dos anos 1990, creio que do álbum “Circuladô”. Eu estava assustado com uma notícia de linchamento vinda da Bahia.
Vertentes (02/03/2014) Li muito Olavo de Carvalho, tanto no GLOBO quanto em livros. Foi por intermédio de Stellinha Caymmi que entrei em contato com esse autor, bem antes de ele escrever neste jornal.
Saudades (09/03/2014) Muito estimulante a experiência de entrar num bloco na Cinelândia. Isso é coisa que não me acontece desde 1956. Fiquei meio resfriado e tinha desistido de brincar carnaval. Vi blocos passarem na praia do Leblon e nas ruas de Ipanema.
Radical (16/03/2014) Acabei de ler o segundo volume do “Getúlio” de Lira Neto. Muitas vezes me lembrei de meu pai na casa da Rua Direita.
Diapasão (23/03/2014) Na noite de 31 de março para primeiro de abril de 1964 eu estava numa reunião para preparar os cursos do método de alfabetização Paulo Freire, num salão da faculdade de Economia da UFBA.
Animal (30/03/2014) Nunca fui dos automóveis. Aprendi a dirigir aos 35 anos. Até hoje não reconheço marcas nem modelos. Quando me dizem “atrás do Palio prata” ou “do lado do Fiesta”, fico com cara de imbecil, sem ter ideia de como se possam traduzir visualmente tais nomes.
Cidades e canções (06/04/2014) Será que Dilma confundiu o “Samba do avião” com o “Samba de Orly”? João Santana é que não pode ter sido. Quanta confusão! A Bahia tá viva ainda lá. Fui fazer uma palestra musicada em Salvador, para o pessoal do Projeto Axé.
Irrecalcavelmente (13/04/2014) Na semana passada, quis dizer que a canção “O império da lei” se impôs como uma inspiração impossível de recalcar, escolhendo, em vez de “irreprimivelmente”, armar o advérbio de modo a partir de “irrecalcável”.
Só e sozinho (20/04/2014) Vivo cantando “Chora tua tristeza”, desde que aprendi no primeiro disco de Carlos Lyra. Gil é quem destacava Lyra e procurava tocar todas as suas composições. Esse samba do qual nunca me afastei não era composição de Lyra mas de Oscar Castro Neves.
Sob o jugo de sua calma (27/04/2014) Salvador é hoje uma das cidades mais violentas do Brasil. A greve da PM amplificou ainda mais a sensação de desassossego e insegurança dos baianos e a imagem desfigurada que hoje os brasileiros fazem da Boa Terra.
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