Os Argonautas (Caetano Veloso)
O barco, meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco, noite no céu tão bonito
Sorriso solto perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco, da madrugada
O porto, nada
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco, o automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Viver...
© 1969 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Caetano Veloso - Caetano Veloso.
Comentário do autor: "Tem uma música que Bethânia me pediu para fazer em 1968, com as frases "Navegar é Preciso/ Viver não é Preciso", que ela tinha encontrado num texto de Fernando Pessoa. A frase remonta à Grécia Antiga... O Fernando Pessoa atribui aos argonautas e eu botei o título "Os Argonautas" por causa de Fernando Pessoa. Eu fiz para ela, ela gravou e a canção tem um pouco de fado e uma frase de "Ai, Mouraria", uma citação ao fado "Ai, Mouraria". [Começa a cantar]: "Navegar é preciso, Viver não é preciso." Esse é bem direto, mas há muitas coisas [na minha obra] indiretamente ligadas a Portugal." (Caetano Veloso, depoimento citado em postagem na rede social de Maria Bethânia, 2023).
Nota: "Navegar é preciso, viver não é preciso": a frase original, em latim, é de Pompeu (106 - 48 a. C.), general romano: "Navigare necesse; vivere non est necesse", proferida aos tripulantes da embarcação militar que estavam a caminho de abafar a revolta de Spartacus durante a Roma Antiga. A frase virou lema entre os navegantes. Os argonautas eram os tripulantes de Argo que, na mitologia grega, foi a embarcação construída com a ajuda da deusa Athena para que Jasão e os argonautas navegassem de Iolcos até Cólquida para recuperar o Velocino de Ouro.