1986 - Melhores Momentos de Chico & Caetano - Caetano Veloso e Chico Buarque
Melhores Momentos de Chico & Caetano foi lançado em 1986 e reúne faixas retiradas de Chico & Caetano, programa transmitido pela TV Globo mensalmente entre abril e dezembro daquele ano. O musical em nove episódios reuniu as duas estrelas da MPB e diversos convidados, como Tom Jobim, Cazuza, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Evandro Mesquita, Gilberto Gil, João Bosco, Jorge Ben Jor, Legião Urbana, Luiz Caldas, Maria Bethânia, Os Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Rita Lee e os estrangeiros Astor Piazzolla, Mercedes Sosa, Pablo Milanés e Silvio Rodriguez. Com roteiro de Nelson Motta, o programa agradava também pela cumplicidade e descontração entre Chico e Caetano. Merda (Caetano Veloso), canção que fecha o disco, foi censurada da TV pela Divisão de Censura da Polícia Federal por conter 'linguagem imprópria' e também por citar drogas: "Nem a loucura do amor / Da maconha, do pó / Do tabaco e do álcool / Vale a loucura do ator". O programa merece ser disponibilizado na íntegra e o disco merecia maior qualidade de som.
Caetano: "Fazer estes programas foi o máximo, uma coisa mágica, carinhosíssima e ótima: veja só a audiência conseguida. Um prazer com todas as recompensas. Aqui dentro, um relax delicioso, a gente se encontrando para ensaiar como se tudo houvesse sido combinado antes, as cabeças muito afinadas. Porque na verdade eu e o Chico só nos encontramos mesmo nas ocasiões de ensaio e gravação. Então, a qualidade do programa foi pintando mais pelo acaso, mais pelo clima bom e tranquilo, sem imposições, sem pressões, em que a gente pode trabalhar. O programa foi se fazendo, e nós acompanhando a mágica. Para mim, muito particularmente, a série serviu como pretexto para que eu me encontrasse mais com o Chico. Houve momentos lindos, aconteceram coisas lindas neste palco, que virou uma festa. O Tim Maia - que ensaiou e acabou não podendo gravar - foi genial. O "Bancarrota Blues", com Chico, foi genial. Superlegal Bethânia com Rita Lee. Maravilha Paulinho da Viola, Chico, eu. Tudo. Adoro tudo. Olhando para trás, lembrando de cada programa, adorei a série. Se eu fosse espectador adoraria. Não perderia um programa. Tenho certeza de que "Chico e Caetano" cumpriu seu propósito. Agora, que a televisão aproveite a experiência de sucesso e faça sair disso uma coisa genial. Está provado que dá certo, que o espectador gosta. Então, mãos à obra. É só querer, que pode." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1986).
“É engraçado, uma coisa bem brasileira. No Brasil, a TV tem aquela coisa de contar tudo de importante que está acontecendo. O Brasil fez a primeira televisão baseada em música, a TV Record, mas é difícil imaginar um programa assim fora do Brasil. Este é mais um estágio do namoro da TV com a música popular brasileira”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1986).
Chico: "No momento de gravação do último programa da série, chego à conclusão de que valeu. Gostei de ter feito o "Chico e Caetano". Foi um programa que começamos experimentando, tateando, sem saber direito no que ia dar, o que ia ser; lá pelo terceiro da série chegou-se a uma forma, e não perdemos tanto com isto: nossa proposta se realizou. É verdade que muita coisa ficou de fora. O lance da música instrumental, por exemplo, acabou prejudicado, não foi mostrado. A janela que pretendíamos abrir para o pessoal novo também foi precária. Uma questão de tempo, de formato de programa. Apesar disto, acho que o "Chico e Caetano" teve a duração certa. Porque, por outro lado, conseguimos formar um bom painel de músicos e cantores latino-americanos, que jamais tiveram espaço na televisão. E há ainda que considerar o êxito do programa no que diz respeito à audiência: subiu, foi lá em cima. Não vai haver uma sequência de "Chico e Caetano". Informalmente, falou-se no assunto, nos bastidores. Mas nem eu, nem o Caetano (e nem sei se a Globo) temos intenção de continuar. Porque havia a ideia de que seria uma coisa simples, um ensaio, a gravação e pronto. Na verdade não foi bem assim, e, verificamos, nem poderia ser. A produção é desgastante. Mas deu o que podia, talvez mais do que podia. Abriu um espaço, que pode e deve ser aproveitado. Uma semente plantada. A expectativa é de que renda bons frutos." (Chico Buarque para o Jornal O Globo, 1986).
“Este é um programa alternativo, vai estar fora dos circuitos do que é tocado nas rádios. Vamos fazer uma coisa meio terceiro-mundista, trazer um convidado internacional que tenha ligações com a música afro, latina, e dar espaço para um valor novo daqui”. (Chico Buarque para o Jornal O Globo, 1986).
Lista de Músicas
Lado A
1 - Festa Imodesta - Caetano Veloso e Chico Buarque
(Caetano Veloso)
2 - Medley: - Caetano Veloso
Nega Maluca
(Fernando Lobo, Ewaldo Ruy)
+
Billie Jean
(Michael Jackson)
+
Eleanor Rigby
(Lennon, McCartney)
3 - Roberto Corta Essa - Jorge Ben
(Jorge Ben)
4 - Adíos Nonino - Astor Piazzola
(Astor Piazzola)
5 - Tiro de Misericórdia - Elza Soares
(Aldir Blanc, João Bosco)
Lado B
1 - Não Quero Saber Mais Dela - Beth Carvalho, Chico Buarque, Caetano Veloso e Fundo de Quintal
(Almir Guineto, Sombrinha)
2 - London, London - Paulo Ricardo e Caetano Veloso
(Caetano Veloso)
3 - Águas de Março - Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso
(Tom Jobim)
4 - Sentimental - Chico Buarque
(Chico Buarque)
5 - Luz Negra - Cazuza
(Irani Barros, Nelson Cavaquinho)
6 - Merda - Caetano Veloso, Chico Buarque, Rita Lee e Luiz Caldas
(Caetano Veloso)
Lista de Músicas
1 - Festa Imodesta (Caetano Veloso)
Minha gente
Era triste amargurada
Inventou a batucada
Pra deixar de padecer
Salve o prazer
Salve o prazer
Uma festa imodesta como esta
Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua festa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E o otário silencia
Tudo aquilo que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida
Acima do coração
Que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular.
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
E o otário silencia
Tudo aquilo que se dá ou não se dá
Passa pela fresta da cesta e resta a vida
Acima do coração
Que sofre com razão
A razão que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção
Bemol natural sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação
Salve o compositor popular
Salve o compositor popular
2 - Medley: Nega Maluca (Fernando Lobo, Ewaldo Ruy)
Billie Jean (Michael Jackson)
Eleanor Rigby (Lennon, McCartney)
Tava jogando sinuca
Uma nega maluca
Me apareceu
Vinha com um filho no colo
Dizendo pro povo
Que o filho era meu
She was more like a beauty queen
From a movie scene
I said don't mind
But what do you mean
I am the one
Who will dance on the floor in the round
She said I am the one
Who will dance on the floor in the round
She told me her name was Billie Jean
As she caused a scene
Then every head turned
With eyes that dreamed of being the one
Who will dance on the floor in the round
People always told me:
- Be careful what you do
- And don't go around breaking young girl's hearts
And mother always told me
- Be careful of who you love
- Be careful of what you do
- Cause the lie becomes the truth
Billie Jean is not my lover
She's just a girl
Who claims that I am the one
But the kid is not my son
She says I am the one
But the kid is not my son
For forty days and for forty nights
The law was on her side
But who can stand
When she's in demand her schemes and plans
On the floor in the round
So take my strong advice
Just remember to always think twice
(Do think twice)
She told
- My baby that's a threat
And she looked at me
And showed a photo
My baby cries
His eyes would like mine
Dance it on the floor in the round
(Yes) People always told me:
- Be careful of what you do
- Don't go around breaking young girl's hearts
She came and stood right by me
Then the smell of sweet perfume
Then happened much too soon
As she called me to her room
Billie Jean is not my lover
She's just a girl
Who claims that I am the one
But the kid is not my son
Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people
Ah, look at all the lonely people
3 - Roberto Corta Essa (Jorge Ben)
Roberto corta essa
Pois lugar de dragão
É na caverna
Você trocou uma princesa
Uma princesinha por um dragão
Me desculpe meu amigo
Você merece um beliscão
Deixou a princesa esperando
Toda bonita e cheia de vida
Vai ver que isso é coisa feita
Ou você está precisando de um oculista, Roberto
Pois você é meu amigo
E como está, assim não pode ficar
Vou levar você numa rezadeira
Pra sua cabeça endireitar
Se você passar por aqui
Novamente com esse dragão
Eu vou telefonar para São Jorge
Para ele espantar essa assombração, Roberto
Papo vai, papo vem
Nem vem que não tem
Isso não é uma bonequinha, Roberto
Isso é um espanta neném
Se você está afim de fazer hora
Leva esse dragão pra dentro
Que eu levo a princesinha
Pra comer fora, Roberto
Roberto corta essa
Roberto corta essa
Lugar de dragão é na caverna
Bubi, babuba, babuba, bubabuba
4 - Adíos Nonino (Piazzola)
Desde una estrella al titilar...
Me hará señales de acudir,
Por una luz de eternidad
Cuando me llame, voy a ir.
A preguntarle, por ese niño
Que con su muerte lo perdí,
Que con "nonino" se me fué ...
Cuando me diga, ven aquí ...
Renaceré ... porque...
Soy...! la raíz, del país que amasó con su arcilla,
Soy...! sangre y piel, del "tano" aquel, que me dió su semilla...
Adiós "nonino" ... que largo sin vos, será el camino.
Dolor, tristeza, la mesa y el pan...!
Y mi adiós... ay...! mi adiós, a tu amor, tu tabaco, tu vino.
Quién...? sin piedad, me robó la mitad, al llevarte "nonino"...
Tal vez un día, yo también mirando atrás...
Como vos, diga adiós... no vá más...!
Y hoy mi viejo "nonino" es una planta.
Es la luz, es el viento y es el río...
Este torrente mío lo suplanta,
Prolongando en mi ser, su desafío.
Me sucedo en su sangre, lo adivino.
Y presiento en mi voz, su proprio eco.
Esta voz que una vez, me sonó a hueco
Cuando le dije adiós... adiós "nonino".
Soy...! la raíz, del país que amasó con su arcilla,
Soy...! sangre y piel, del "tano" aquel, que me dió su semilla...
Adiós "nonino" ...! dejaste tu sol, em mi destino.
Tu ardor sin miedo, tu credo de amor.
Y ese afán... ay...! tu afán, por sembrar de esperanza el camino.
Soy tu panal y esta gota de sal, que hoy te llora "nonino".
Tal vez el día que se corte mi piolín,
Te veré y sabré ... que no hay fín.
5 - Tiro de Misericórdia (Aldir Blanc, João Bosco)
O menino cresceu entre a ronda e a cana
Correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha
Subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, juramento, urubu, catacumba,
Nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, querosene, salgueiro, turano,
Mangueira, são carlos, menino mandando,
Ídolo de poeira, marafo e farelo,
Um Deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô,
O corpo fechado por babalaôs.
Baixou oxolufã com as espadas de prata,
Com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou cão-xangô com o machado de asa,
Com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas
Com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos
E suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira
Em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar
E um batalhão de mil afogados.
Iansã trouxe as almas e os vendavais,
Adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão.
Soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos
Lançando a doença pra seus inimigos.
E nana-buruquê trouxe a chuva e a vassoura
Pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.
Exus na capa da noite soltara a gargalhada
E avisaram a cilada pros orixás.
Exus, orixás, menino, lutaram como puderam
Mas era muita matraca e pouco berro.
E lá no horto maldito, no chão do pendura-saia,
Zumbi menino lumumba tomba da raia
Mandando bala pra baixo contra as falanges do mal,
Arcanjos velhos, coveiros do carnaval.
- irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Por que me abandonaram?
Por que nos abandonamos
Em cada cruz?
- irmãos, irmãs, irmãozinhos,
Nem tudo está consumado.
A minha morte é só uma:
Ganga, lumumba, lorca, Jesus
Grampearam o menino do corpo fechado
E barbarizaram com mais de cem tiros.
Treze anos de vida sem misericórdia
E a misericórdia no último tiro.
Morreu como um cachorro e gritou feito um porco
Depois de pular igual a macaco.
Vou jogar nesses três que nem ele morreu:
Num jogo cercado pelos sete lados.
Foto: Rosane Medeiros.
6 - Não Quero Saber Mais Dela (Almir Guinéto, Sombrinha)
Eu não quero saber mais dela
Foi embora da Portela
Dizendo que o samba
Lá em Mangueira é que é bom
Ah! meu Deus do céu
Minha doce companheira
Se mandou de Madureira
Seja o que Deus quiser
Foi morar no chalé
Ah! meu Deus do céu
Minha doce companheira
Se mandou de Madureira
Seja o que Deus quiser
Foi embora porque quis
Com uma atitude leviana
Mudou da água pro vinho
Pensando em conquistar a fama
Mas fique certa que jamais terá perdão
Quando a cabeça não pensa
Quem paga caro é o coração
Eu, não quero saber mais dela
Foi embora da Portela
Dizendo que o samba
Lá em Mangueira é que é bom
Ah! meu Deus do céu
Minha doce companheira
Se mandou de Madureira
Seja o que Deus quiser
Foi morar no chalé
Ah! meu Deus do céu
Minha doce companheira
Se mandou de Madureira
Seja o que Deus quiser
Vou cair no samba
Esquecer o que passou
Qualquer dia ela passa lá em casa
Querendo explicar porque me abandonou
Mas não adianta se ela voltar, não quero mais
É como diz o ditado
Palavra de rei não volta atrás
7 - London, London (Caetano Veloso)
I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know, I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round here, nowhere to go
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good at least, to live and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
I choose no face to look at, choose no way
I just happened to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say
But my eyes go looking for flying saucers in the sky
Yes, my eyes go looking for flying saucers in the sky
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
Oh, my eyes go looking for flying saucers in the sky
Yes, my eyes go looking for flying saucers in the sky
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
Oh, my eyes go looking for flying saucers in the sky
While my eyes go looking for flying saucers in the sky
Yes, my eyes go looking for flying saucers in the sky
8 - Águas de Março (Tom Jobim)
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o Sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Au, edra, im, minho
Esto, oco, ouco, inho
Aco, idro, ida, ol, oite, orte, aço, zol
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
9 - Sentimental (Chico Buarque)
Sentimental, sentimental
Um coração saliente
Bate e bate muito mais que sente
Fica doente mas é natural, natural
Que num cochilo de agosto
Surja um outro alguém do sexo oposto
Do sexo oposto outro outro alguém
Ontem vi tudo acabado
Meu céu desastrado
Medo, solidão, ciúme
Hoje contei as estrelas
E a vida parece um filme
Gemini, gemini, geminiano
Este ano vai ser o seu ano
Ou se não, o destino não quis
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei feliz
Serei feliz, feliz
Façam muitas manhãs
Que se o mundo acabar
Eu ainda não fui feliz
Atrapalhem os pés
Dos exércitos, dos pelotões
Eu não fui feliz
Desmantelem no cais
Os navios de guerra
Eu ainda não fui feliz
Paralisem no céu
Todos os aviões
É urgente, eu não fui feliz
Tenho dezesseis anos
Sou morena clara, atraente
10 - Luz Negra (Irani Barros, Nelson Cavaquinho)
Sempre só
eu vivo procurando alguém
que sofra como eu também
mas não consigo achar ninguém
Sempre só
E a vida vai seguindo assim
Não tenho quem tem dó de Mim
Tô chegando ao fim
A luz negra de um destino Cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde eu tô representando o Papel
Do palhaço do amor
Sempre só
E a vida vai seguindo... vai Seguindo assim
Não tenho quem tem dó de Mim
Tô chegando ao fim
A luz negra de um destino Cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde eu tô representando o Papel
Do palhaço do amor
Sempre só
E a vida vai seguindo assim
Não tenho quem tem dó de Mim
Eu tô chegando ao fim
Eu tô chegando ao fim
Eu tô chegando ao fim
Eu tô chegando ao fim
11 - Merda (Caetano Veloso)
Nem a loucura do amor
Da maconha, do pó
Do tabaco e do álcool
Vale a loucura do ator
Quando abre-se em flor
Sob as luzes no palco
Bastidores, camarins
Coxias e cortinas
São outras tantas pupilas
Pálpebras e retinas
Nem uma doce oração
Nem sermão, nem comício
A direita ou à esquerda
Fala mais ao coração
Do que a voz de um colega
Que sussurra "merda"
Noite de estreia, tensão
Medo, deslumbramento
Feitiço e magia
Tudo é uma grande explosão
Mas parece que não
Quando é o segundo dia
Já se disse não foi uma vez
Nem três, nem quatro
Não há gente, como a gente
Gente de teatro
Gente que sabe fazer
A beleza vencer
Pra além de toda perda
Gente que pôde inverter
Para sempre o sentido
Da palavra "merda"
Merda!
Merda pra você!
Desejo merda!
Merda pra você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre, amém
Ficha Técnica
Direção de Produção e gravação: Max Pierre
Produção: Sergio Carvalho
Planejamento de gravação e sonorização: Carlos Ronconi
Gravado ao vivo no Teatro Fenix (RJ) em Maio e Julho de 86
Mixado nos estúdios Som Livre
Capa e fotos: Carlos Horcades
Arte final: Eduardo Borges
Chico & Caetano "O Programa":
Direção Geral: Roberto Talma