1995 - Fina Estampa Ao Vivo - Caetano Veloso


Fina Estampa Ao Vivo foi gravado no Metropolitan, no Rio de Janeiro, em setembro de 1995 durante a curta temporada que estreou em São Paulo, semanas antes. Mais de 30 músicos foram regidos pelo maestro Jaques Morelenbaum em orquestra montada para acompanhar o 'caballero de fina estampa' nas canções hispanoamericanas, além de autorais, como Haiti e Itapuã. A música O Samba e o Tango (cantada por Carmen Miranda nos anos 30) foi escolhida para iniciar o espetáculo por revelar a sua síntese: "A hora é boa e o samba começou / E fez convite ao tango pra parceiro". De volta à sua infância e juventude numa digressão evolutiva, Caetano interpretou também Lábios Que Beijei, sucesso na voz de Orlando Silva e Você Esteve Com Meu Bem?, primeira composição de João Gilberto. Tudo isso para chegar até Chega de Saudade, incluída apenas no DVD, cuja gravação foi ideia de Paula Lavigne. Para o cenário, Hélio Eichbauer escolheu um fragmento do painel Unidade Panamericana (1939/1940), do muralista Diego Rivera, marido de Frida Kahlo. Um detalhe da obra foi utilizado para a capa do disco.

Caetano: "É uma responsabilidade muito grande, maior do que o meu pequeno talento. Me orientei pelo prazer de cantar cada palavra de cada canção. Não diria que é um disco romântico, mas sentimental." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 1995). 

Fina Estampa tem uma intenção didática que eu gosto, pois começa com as canções em espanhol e depois reafirma a tradição brasileira”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1996).

"Minha intenção foi mostrar à plateia a tradição que produzia o filtro através do qual aquelas músicas estavam sendo apresentadas. La Barca é uma música que ouço desde criança. Na hora do show, eu errei a letra. Tenho vontade de um dia gravar La Barca certo." (Caetano Veloso em entrevista para o Jornal do Brasil, 1995).

"É realmente meio autobiográfico, tanto que começa com canções de minha infância e adolescência. Mas o show tem um dado a mais, que é a colocação desse repertório latino numa perspectiva da música brasileira. É uma espécie de aula resumida minha visão da MPB." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1996). 

“Não creio que a repercussão tenha sido maior do que esperávamos, mas eu achava que este disco tinha potencial de fazer mais sucesso no Brasil do que lá fora. Eu tinha uma ideia e aconteceu mais do que eu imaginava, porque eu achava que as pessoas identificadas com a língua espanhola iriam ter um interesse. Pessoas mais velhas, dos países latino-americanos, que não ligavam pra minha música. Eu faço show nesses países há muitos anos, mas é predominantemente jovem. Quando fiz este disco e fui tocar em Buenos Aires, estava cheio de gente mais velha e pouco jovem. Na verdade, a plateia era menos animada, porque eles já conheciam essas canções e estavam reticentes diante de minhas versões tropicalistas ou bossanovistas". (Depoimento para a Coleção Caetano Veloso 70 anos, 2012).

"Começamos a fazer a partir do disco, um show. E esse show, em geral, com muitos dos temas que foram gravados no disco feitos ao vivo, mas também com temas que não estavam no disco, que eram de outras épocas, revisitados para aquele show. Esses discos ao vivo passaram a ser tão importantes quanto esses discos gravados no estúdio [...]. O cd ao vivo de Fina Estampa fez com que o Pedro Almodóvar se encantasse com a gravação de Cucurrucucú Paloma, que não estava no cd gravado no estúdio. Foi um desafio que o Neville d'Almeida me tinha feito desde Londres. Ele disse assim: "é, você canta Tu Me Acostumbraste, você cantou não sei o que... mas quero ver ter coragem de cantar Cucurrucucú Paloma. Eu falei: "aposto! Você vai ver". E quando eu gravei Fina Estampa ele me disse: "ué? Covarde! Não gravou Cucurrucucú Paloma!". Aí no 'ao vivo' eu gravei Cucurrucucú Paloma. Isso encantou o Pedro Almodóvar que terminou botando essa gravação num filme dele que se chamava "A flor do meu segredo", mas o Wong Kar-Wai também usou a mesma gravação sem me pedir permissão no filme "Happy Together", na mesma época. Aí o Pedro retirou do filme dele, botou a minha gravação de Tonada de Luna Llena, que é do Fina Estampa de estúdio, e deixou para anos mais tarde botar o Cucurrucucú Paloma em "Fale com ela", mas ele pediu para que eu fizesse aparecendo no filme cantando mesmo. Isso teve uma presença internacional bastante considerável porque o filme fez sucesso e o Pedro é muito louvado, justamente. Muita gente se ligou em mim por causa de eu ter cantado esse Cucurrucucú Paloma no filme de Pedro." (Caetano Veloso em entrevista para os seus 70 anos, 2012). 

O cenário do show

"Em 1939 e 1940 um grande mural foi pintado pelo artista mexicano DIEGO RIVERA, por ocasião da exposição internacional Golden Gate, em São Francisco, Califórnia. Nessa ocasião, o arquiteto norte-americano Timothy Plueger idealizou a exposição "Art in Action", para que o público pudesse observar os artistas em seu processo de criação, unindo a expressão artística do norte e do sul do continente. Hoje, o mural (plaster fresco) pertence e está exposto no teatro do CITY COLLEGE OD SAN FRANCISCO. Um fragmento desse enorme mural serviu de inspiração para o cenário de "FINA ESTAMPA", ilustrando grande parte das músicas apresentadas: uma viagem pan-americana: ameríndia, latina e africana - nossa trama cultural, cor de terra. 
A pintura revela as mãos do povo, dos camponeses, dos artesãos índios, dos operários, escultores, músicos e dançarinos, unidos pelos movimentos da serpente emplumada, entidade civilizadora (tradição asteca) que teria ensinado agricultura, matemática e astronomia aos primeiros homens.
É uma obra figurativa, descritiva como as histórias em quadrinhos ou os desenhos animados, pintura afresco de tradição pré-colombiana, revolucionária e pop, de popular e de "Popol-Vuh" [Livro sagrado pré-colombiano]." (Hélio Eichbauer).

Fragmento do painel "Pan American Unity" (1939/1940) de Diego Rivera.

Descrição: No alto, à esquerda, os templos astecas Nahuatl e Quetzalcoatl. À frente deles, religiosos; ao lado, a dança do Iaque; em primeiro plano, artesãos esculpindo uma coluna e o deus Jaguar; o escultor Mardonio Megaña, trabalhando na cabeça da serpente emplumada Quetzalcoatl; a campeã olímpica de saltos ornamentais Helen Crienkovich; a ponte Golden Gate e a cidade de São Francisco. À direita, a mão da Deusa da Terra e o escultor americano Dudley Carter.

Show Fina Estampa.

Artigo: "Laços misteriosos unem seu trabalho ao meu"

"Hélio Eichbauer é a figura central oculta do Tropicalismo. O rei da Vela não seria sem ele. Não por acaso o cenário do segundo daquela montagem histórica voltou como capa do disco (e cenário do show) Estrangeiro, onde eu retomava conscientemente temas e procedimentos da Tropicália em tom de exportação atualizada. Este é apenas um dos laços misteriosos que unem seu trabalho ao meu.
Na verdade, há muito que tudo indicava uma colaboração efetiva entre nós. Mas - inclusive confirmando a mensagem do Rei da Vela - eu fiz de minhas apresentações, por muitos anos, acontecimentos espontâneos, sem desenho ou controle. À medida que uma considerável formalização dos espetáculos foi-se mostrando necessária, Hélio ia naturalmente tomando posição determinante na feitura deles. O resultado é que meus shows têm sido, por causa dele - por causa da natureza especial de nossa parceria -, dos mais bonitos que se podem ver no mundo.
Hélio é um profissional exigente que torna fácil o trabalho para quem esteja disposto a fazer as coisas certas, e impossível para quem não esteja. Tem um genuíno horror à vulgaridade, o que é qualidade essencial para se produzir shows de música popular esteticamente válidos neste período pós-pop. Para mim é um luxo poder contar em meus espetáculos de divertimento com o refinamento de grande artista que faz de Hélio Eichbauer o melhor cenógrafo do teatro brasileiro." (Caetano Veloso em artigo publicado no Jornal do Brasil, 1995).

Caetano Veloso por Guido Harari, 1996.

Texto do Encarte

"Quis regravar a canção Fina Estampa somente por causa dos erros de letra do disco de estúdio. No show em que o número saiu tecnicamente bem e musicalmente razoável - e em que corrigi todos os outros erros - eu insisti em cantar "justes" em vez de "fustes". Talvez um dia tenha que gravar essa canção de novo no estúdio. Por agora, apenas peço perdão. Ampliar o mercado? - Onde quer que eu vá, levo comigo minha versão pessoal do desenvolvimento da música popular brasileira (uma tradição de que devemos mesmo nos orgulhar): a paixão que o canto de Orlando Silva despertou em João Gilberto, levando-o a criar um estilo de música popular moderno que influenciou todo o mundo e revolucionou o Brasil. Você Esteve com Meu Bem? pode ser um pedaço do elo perdido entre o canto de Orlando e a invenção de João. Essa invenção nada seria não fosse pela luz que Antonio Carlos Jobim lançou sobre ela." (Caetano). 

Lista de Músicas

1 - O Samba e o Tango
(Amado Reis)

2 - Lamento Borincano
(Canchola Rafael Hernandez)

3 - Fina Estampa
(Chabuca Granda)

4 - Cucurrucucú Paloma
(Tomás Méndez)

5 - Haiti
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

6 - Canção de Amor
(Chocolate, Elano De Paula)

7 - Suas Mãos
(Pernambuco, Antônio Maria)

8 - Lábios Que Beijei
(Alvaro Nunes, Leonel Azevedo)

9 - Você Esteve Com Meu Bem?
(João Gilberto, Antonio C. Martins)

10 - Vete De Mi
(Homero Exposito, Virgilio Expocito)

11 - La Barca
(Roberto Cantoral)

12 - ¡Ay, Amor!
(Ignacio Villa)

13 - Pulsar
(Caetano Veloso, Augusto de Campos)

14 - Contigo en la Distancia
(Cesar Portillo de la Luz)

15 - Itapuã
(Caetano Veloso)

16 - Soy Loco Por Ti, América
(Gilberto Gil, Capinam)

17 - Tonada De Luna Llena
(Simón Díaz)

Faixas do DVD

1 - O Samba e o Tango / 2 - Pecado / 3 - Lamento Borincano / 4 - Capullito de Alelí / 5 - Un Vestido Y Un Amor / 6 - Fina Estampa / 7 - Cucurrucucu Paloma / 8 - Vuelvo Al Sur / 9 - Haiti / 10 - ¡Ay, Amor! / 11 - Canção de Amor / 12 - Luna Rossa / 13 - Lábios Que beijei / 14 - Você Esteve Com Meu Bem? / 15 - Chega de Saudade / 16 - O Leãozinho / 17 - Pulsar / 18 - Recuerdos de Yparai - 19 - Itapuã - 20 - Soy Loco Por Ti, América / 21 - Tonada de Luna Llena - 22 - Rumba Azul

Vamos às Letras.

1 - O Samba e o Tango (Amado Reis)

Chegou a hora, chegou chegou
Meu corpo treme e ginga qual pandeiro
A hora é boa e o samba começou
E fez convite ao tango pra parceiro

Chegou a hora, chegou chegou
Meu corpo treme e ginga qual pandeiro
A hora é boa e o samba começou
E fez convite ao tango pra parceiro

Hombre, yo no sé porque te quiero
Yo te tengo amor sincero
Diz a muchacha do prata
Pero, no Brasil é diferente
Yo te quiero simplesmente
Teu amor me desacata
Habla castellano num fandango
Argentino canta tango
Ora lento, ora ligeiro

E eu canto e danço, sempre que possa
Um sambinha cheio de bossa
Sou do Rio de Janeiro


2 - Lamento Borincano (Rafael Hernandez)

Sale loco de contento con su cargamento
    Para la ciudad, ¡ay!, para la ciudad
Lleva en su pensamiento todo un mundo lleno
De felicidad, sí, de felicidad
Piensa remediar la situación
Del hogar que és toda su ilusión

Y alegre el jibarito va pensando así, diciendo así
Cntando así por el camino
Si yo vendo la carga mi Díos querido
Un traje a mi viejita le voy a comprar

Y alegre también su yegua va al presentir
Que su cantar es como un himno de alegria.
En esto le sorprende la luz del día
Y llegan al mercado de la ciudad

Pasa la mañana entera sin que nadie quiera
Su carga comprar, ¡ay!, su carga comprar
Todo, todo está desierto, el pueblo está muerto
De necesidad, ¡ay!, de necesidad

Se oye este lamento por doquier
En mi desdichada Borinquen, sí
Y triste el jibarito va pensando así, diciendo así
Llorando así por el camino
¿Que será de Borinquen, mi Dios querido? ¿Que será de mis hijos y de mi hogar"

Borinquen, la tierra del Edén
Y que al cantar el gran Gautier
Llamó la perla de los mares
Ahora que te mueres com tus pesares
Déjame que te cante yo también


3 - Fina Estampa (Chabuca Granda)

Una veredita alegre
Con luz de luna o de sol
Tendida como una cinta
Con sus lados de arrebol

Arreból de los geranios
Y sonrisas con rubor
Arrebol de los claveles
Y las mejillas en flor

Perfumada de magnolia
Rociada de mañanita
La veredita sonrie
Cuando tu piel acaricia

Y la populi se ríe
Y la ventana se agita
Cuándo por esa vereda
Tu fina estampa paseas

Fina estampa, caballero
Caballero de fina estampa
Un lucero que sonriera
Bajo um sombrero
No sonriera, más hermoso
Ni más luciera
Caballero, en tu andar, andar
Reluce la acera al andar, andar

Te lleva hacia los zaguanes
Y los pátios encantados
Te lleva hacia las plazuelas
Y a los amores soñados

Veredita que se arrulla
Con tafetanes bordados
Tacón de chapín de seda
Y justes almidonados
Es un caminito alegre
Con luz de luna o de sol
Que he de recorrer cantando
Por si te puede alcanzar

Fina estampa caballero
Quien te pudiera guardar

Fina estampa, caballero
Caballero de fina estampa
Un lucero, que sonriera
Bajo um sombrero
No sonriera,
Más hermoso
Ni más luciera
Caballero, en tu andar,
Andar
Reluce la acera al andar,
Andar


4 - Cucurrucucú Paloma (Tomás Méndez)

Dicen que por las noches
No más se le iba en puro llorar
Dicen que no comía
No más se le iba en puro tomar

Juran que el mismo cielo
Se extremecía al oír su llanto
Cómo sufría por ella
Que hasta en su muerte la fue llamando

Ay, ay, ay, ay, ay
Cantaba
Ay, ay, ay, ay, ay
Gemía
Ay, ay, ay, ay, ay
Cantaba
De pasión mortal
Moría

Que una paloma triste
Muy de mañana le va a cantar
A la casita sola
Con sus puertitas de par en par

Juran que esa paloma
No es otra cosa mas que su alma
Que todavía la espera
A que regrese la desdichada

Cucurrucucu
Paloma
Cucurrucucu
No llores
Las piedras jamás
Paloma
Qué van a saber
De amores


5 - Haiti (Caetano Veloso, Gilberto Gil)

Quando você for convidado pra subir no adro da fundação
Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui - o Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção
Da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo
Do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui - o Haiti não é aqui


6 - Canção de Amor (Chocolate, Elano De Paula)

Saudade, torrente de paixão
Emoção diferente
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que eu não sei de onde vem

Deixaste o meu coração vazio
Deixaste a saudade
Ao desprezares aquela amizade
Que nasceu ao chamar-te meu bem

Nas cinzas do meu sonho
Um hino então componho
Sofrendo a desilusão
Que me invade
Canção de amor, saudade


7 - Suas Mãos (Pernambuco, Antônio Maria)

As suas mãos
Onde estão?
Onde está o seu carinho?
Onde está você?

Se eu pudesse buscar
Se eu soubesse aonde está seu amor
Você um dia há de chegar

Quando eu não sei
Você vai procurar
Onde eu estiver
Sem amor
Sem você

As suas mãos
Onde estão?
Onde está seu carinho?
Onde está você?


8 - Lábios Que Beijei (Alvaro Nunes, Leonel Azevedo)

Lábios que beijei
Mãos que eu afaguei
Numa noite de luar assim
O mar na solidão bramia
E o vento a soluçar pedia
Que fosses sincera para mim
Nada tu ouviste e logo partiste
Para os braços de outro amor
Eu fiquei chorando
Minha mágoa cantando
Sou a estátua perenal da dor
Passo os dias a soluçar com meu pinho
Carpindo a minha dor sozinho
Sem esperança de vê-la jamais
Deus tem compaixão deste infeliz
Por que sofrer assim?
Compadecei-vos dos meus "ais"
Tua imagem permanece imaculada
Em minha retina cansada
De chorar por teu amor
Lábios que beijei
Mãos que eu afaguei
Volta, dá lenitivo a minha dor


9 - Você Esteve Com Meu Bem? (João Gilberto, Antonio C. Martins)

Você esteve com meu bem?
O que foi que ela falou?
Diga a verdade, sim
Falou em mim?
Ainda gosta de mim?
Ou será que esqueceu tanto amor que jurou?
E a saudade morreu, quando mal começou
Se existe alguém e esse alguém
É agora o que fui eu
É bem cruel, mas mesmo assim
Diga a verdade, sim


10 - Vete De Mi (Homero Exposito, Virgilio Expocito)

Tú, que llenas todo de alegría y juventud
Que ves fantasmas en la noche de trasluz
Y oyes el canto perfumado del azul
Vete de mí

No te detengas a mirar
Las ramas muertas del rosal
Que se marchitan sin dar flor
Mira el paisaje del amor
Que es la razón para soñar
Y amar

Yo, que ya he luchado contra toda la maldad
Tengo las manos tan desechas de apretar
Que ni te puedo sujetar
Vete de mí

Seré en tu vida lo mejor
De la neblina del ayer
Cuando me llegues a olvidar
Como es mejor el verso aquél
Que no podemos recordar


11 - La Barca (Roberto Cantoral)

Dicen que la distancia es el olvido
Pero yo no concibo esa razón
Porque yo seguiré siendo el cautivo
De los caprichos de tu corazón

Supiste esclarecer mis pensamientos
Me diste la verdad que yo soñé
Ahuyentaste de mí los sufrimientos
En la primera noche que te amé

Hoy mi playa se viste de amargura
Porque tu barca tiene que partir
A buscar otros mares de locura
Cuida que no naufrague tu vivir

Cuando la luz del sol se esté apagando
Y te sientas cansada de vagar
Piensa que yo por ti estaré esperando
Hasta que tú decidas regresar

Comentário de Caetano: "Cantar essa música seria tão óbvio, e eu queria tanto fugir das obviedades, que ela não estava programada. Mas uma noite me vi cantando La Barca, e gostei tanto que ela foi para o disco." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 1995). 


12 - ¡Ay, Amor! (Ignacio Villa)

Amor, yo sé que quieres
Llevarte mi ilusión
Amor, yo sé que puedes también
Llevarte mi alma
Pero, ¡ay amor!, Si te llevas mi alma
Llévate de mí también el dolor
Lleva en tí todo mi desconsuelo
Y también mi canción de sufrir

¡Ay amor!, Si me dejas la vida
Déjame también el alma sin ti
Si sólo queda en mi dolor y vida
¡Ay amor!, No me dejes vivir


13 - Pulsar (Caetano Veloso, Augusto de Campos)

Onde quer que você esteja
Em Marte ou Eldorado
Abra a janela e veja
O pulsar quase mudo
Abraço de anos-luz
Que nenhum sol aquece
E o oco escuro esquece


14 - Contigo en la Distancia (Cesar Portillo de la Luz)

No existe un momento del día
En que pueda apartarme de ti
El mundo parece distinto
Cuando no estás junto a mi

No existe melodía
En que no surjas tú
Ni yo quiero escucharla
Si no la escuchas tú

Es que te has convertido
En parte de mi alma
Ya nada me conforma
Si no estás tú también

Más allá de tus labios
Del sol y las estrellas
Contigo en la distancia
Amada mía estoy


15 - Itapuã (Caetano Veloso)

Nosso amor resplandecia sobre as águas que se movem
Ela foi a minha guia quando eu era alegre e jovem
Nosso ritmo, nosso brilho, nosso fruto do futuro
Tudo estava de manhã
Nosso sexo, nosso estilo, nosso reflexo do mundo
Tudo esteve Itapuã

Itapuã,
Tuas luas cheias, tuas casas feias
Viram tudo, tudo
O inteiro de nós
Itapuã
Tuas lamas algas
Almas que amalgamas
Guardam todo todo
O cheiro de nós
Abaeté
Essa areia branca ninguém nos arranca
É o que em Deus nos fiz.
Nada estanca Itapuã,
Ainda sou feliz.

Itapuã
Quando tu me faltas, tuas palmas altas
Mandam um vento a mim
Assim: Caymmi

Itapuã
O teu sol me queima e o meu verso teima
Em cantar teu nome
Teu nome sem fim

Abaeté
Tudo meu e dela
A lagoa bela
Sabe, cala e diz
Eu cantar-te nos constela em ti
Eu sou feliz.

Ela foi a minha guia quando eu era alegre e jovem


16 - Soy Loco Por Ti, América (Gilberto Gil, Capinam)

Soy loco por ti, América, yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti, que su nombre sea Marti
Soy loco por ti de amores tenga como colores la espuma blanca de Latinoamérica
Y el cielo como bandera, y el cielo como bandera
Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Sorriso de quase nuvem, os rios, canções, o medo
O corpo cheio de estrelas, o corpo cheio de estrelas
Como se chama a amante desse país sem nome, esse tango, esse rancho,
Esse povo, dizei-me, arde o fogo de conhecê-la, o fogo de conhecê-la

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
El nombre del hombre muerto ya no se puede decirlo, quién sabe?
Antes que o dia arrebente, antes que o dia arrebente
El nombre del hombre muerto antes que a definitiva noite se espalhe em Latinoamérica
El nombre del hombre es pueblo, el nombre del hombre es pueblo

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Espero a manhã que cante, el nombre del hombre muerto
Não sejam palavras tristes, soy loco por ti de amores
Um poema ainda existe com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra
Quem sabe canções do mar, ai, hasta te comover, ai, hasta te comover

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores
Estou aqui de passagem, sei que adiante um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício, de susto, de bala ou vício
Num precipício de luzes entre saudades, soluços, eu vou morrer de bruços
Nos braços, nos olhos, nos braços de uma mulher, nos braços de uma mulher
Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa, guerrilheira
Manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira, nos braços de quem me queira

Soy loco por ti, América, soy loco por ti de amores


17 - Tonada De Luna Llena (Simón Díaz)

Yo vide una garza mora
Dándole combate a un rio
Así es como se enamora
Tú corazón con el mio

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante

Anda muchacho a la casa
Y me traes la carabina
Pa' mata' este gavilán
Que no me deja gallina

La luna me está mirando
Yo no sé lo que me ve
Yo tengo la ropa limpia
Ayer tarde la lavé

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante

¡Pongate!


Ficha Técnica

O DISCO - Direção artística MAX PIERRE/ Direção de produção JAQUES MORELENBAUM/ Supervisão de gravação e mixagem LUIZ CARLOS MALULY/ Arranjos e regência JAQUES MORELENBAUM/ Gravado ao vivo no Metropolitan, Rio (setembro 95)/ Engenheiro de gravação e mixagem BENNY FACCONE/ Mixagem IMPRESSÃO DIGITAL/ Assistente de gravação ZORRO/ Assistentes de mixagem MARCO HOFFER, MARCELO HOFFER, MARCOS VICENTE e GERALD0 TAVARES/ Técnico de manutenção AUGUSTO/ Arregimentação BARNEY/ Pesquisa de repertório MÁRCIA RODRIGUES. O SHOW - Técnico de P.A. VAVÁ FURQUIM/ Técnico de monitor BETO SANTANA/ Contra-regras WELLINGTON SOARES e JORGE RIBEIRO/ Cenografia HÉLIO EICHBAUER/ Iluminação IVAN MARQUES/ Pintura e ampliação sobre tecido CLÉCIO RÉGIS, P. MAURÍCIO, CLEBER RÉGIS, TADEU e EDESON/ Cenotécnico (supervisor do telão) PEDRO GIRÃO/ Arregimentação e coordenação da orquestra PASCOAL PERROTA/ Banda: Contrabaixo ZECA ASSUMPÇÃO/ Bateria e percussão MARCELO COSTA/ Violão, guitarra e voz LUIZ BRASIL/ Cello JAQUES MORELENBAUM/ Percussão MINGO ARAÚJO/ Piano JOTA MORAES/ Orquestra: Violino Spalla GIANCARLO PARESCHI/ Violinos JOSÉ ALVES, MICHEL BESSLER, BERNARDO BESSLER, ALFREDO VIDAL, JOÃO DALTRO, RICARDO AMADO, WALTER HACK, CARLOS EDUARDO HACK e PASCOAL PERROTTA/ Violas MARIE CHRISTINE BESSLER, JESUÍNA PASSAROTO e JAIRO DINIZ/ Cellos ALCEU DE ALMEIDA REIS, MÁRCIO MALARD e FLÁVIA ROSA/ Contrabaixo DENNER CAMPOLINA/ Flauta, picollo e flauta em sol ANDREA ERNEST DIAS/ Flautas MARCELO MARTINS e RAUL MASCARENHAS/ Clarineta LÚCIA MORELENBAUM GJORUP/ Clarone e clarineta CRISTIANO ALVES/ Trompa PHILIP DOYLE/ Trompetes PAULO SILVA e NELSON OLIVEIRA/ Trombone VITOR SANTOS/ Marimba RODOLFO CARDOSO. A CAPA - Detalhe do mural de DIEGO RIVERA escolhido por CAETANO VELOSO/ Projeto Gráfico GE ALVES PINTO e HÉLIO EICHBAUER/ Realização Gráfica GEYSA ADNET. FOTOS - Reproduções do painel ROBERT FEINBERG/ Show LÍVIO CAMPOS/ Fundo de estojo e cenário (show) ARTHUR NOBRE/ "Abraço" ADRIANA LINS. AGRADECIMENTOS PAULA LAVIGNE/ IVONE SALGAD0/ VIRGÍNIA CASÉI GILDA MATOSO/ BETH ARAUJO e ao CITY COLLEGE OF SAN FRANCISCO.






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