1999 - Omaggio a Federico e Giulietta - Caetano Veloso
Omaggio a Federico e Giulietta é um disco ao vivo gravado na Itália em tributo ao diretor de cinema italiano Federico Fellini e à sua esposa e atriz, Giulietta Masina. A ideia do espetáculo veio da irmã de Fellini que, sabendo da admiração de Caetano pela obra do diretor, o convidou para um concerto exclusivo em favor da Fondazione Fellini. O cinema italiano contribuiu para o crescimento intelectual de Caetano Veloso, sendo Federico e Giulietta influências no despertar de sua visão de mundo. Além das canções relacionadas ao cinema e algumas autorais, Caetano imergiu em seu passado e sintetizou as experiências musicais que teve ainda em Santo Amaro da Purificação nos anos 50, resgatando Chora Tua Tristeza e o deslumbramento de Chega de Saudade. Coração Materno atualiza a versão tropicalista ao adaptar o arranjo feito por Rogério Duprat. Na capa, o retrato de uma cena do Cinema Falado, filme de Caetano lançado em 1986. Por causa de problemas na voz, Caetano pensou em refazer o show no Brasil para gravar novamente o CD, mas percebeu que não conseguiria repetir a atmosfera criada durante os shows na cidade natal do diretor (Rimini), no dia do seu aniversário de casamento com Giulietta. Foi por isso que o disco saiu com algum tempo de atraso. Omaggio, primo de Fina Estampa, é a retribuição de Caetano para Fellini ao que tanto Fellini despertou em Caetano na adolescência, entre uma sessão e outra aos domingos no Cine Subaé.
Caetano: "Os filmes franceses e italianos eram exibidos regularmente em Santo Amaro. Os mexicanos também. E, se - apesar da extraordinária beleza de Maria Felix - percebíamos como que uma inferioridade do olimpo da Pelmex, não fazíamos - nem nos parecia concebível que em parte alguma se fizesse - nenhuma diferença de qualidade ou de importância entre as estrelas americanas e as européias. No início da nossa adolescência, era a exposição de intimidades eróticas o que nos atraía nos filmes franceses: um seio de mulher, um casal deitado numa mesma cama de ferro, a indicação indubitável de que os personagens tinham vida sexual - tudo o que não podia ser visto num filme americano, os filmes franceses ofereciam com naturalidade. (E nós tínhamos a sorte de não ter de enfrentar, àquela altura, nenhum tipo de fiscalização da idade dos espectadores, não havendo representantes do juizado de menores em Santo Amaro). Mas o cinema italiano, à medida que o tempo passava e nós crescíamos, nos interessava cada vez mais pelo que considerávamos ser sua "seriedade": o neo-realismo e seus desdobramentos nos foram oferecidos comercialmente e nós reagimos com a emoção de quem reconhece os traços do cotidiano nas imagens gigantescas e brilhantes das salas de projeção. Um dos acontecimentos mais marcantes de toda a minha formação pessoal foi a exibição de La strada de Fellini num domingo de manhã no Cine Subaé (havia sessões matinais aos domingos nesse que era o melhor - o único que chegou a ter cinemascope - dos três cinemas de Santo Amaro). Chorei o resto do dia e não consegui almoçar - e nós passamos a chamar Minha Daia de Giulietta Masina." (Caetano Veloso. Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997).
"Certo dia, assistindo a um filme de Fellini, em Santo Amaro, um músico de lá comentou que aquela era a nossa vida. No meu livro Verdade Tropical, eu me detenho muito sobre esta identificação do cotidiano de Santo Amaro com os filmes italianos neo-realistas, e os de Fellini em particular. Eu me lembro de um amigo de Santo Amaro, o Chico Motta, que viveu uma história parecida com a do hipnotizador e dos marinheiros de "Noite de Cabíria". Quando eu vi os filmes de Fellini pela primeira vez, não tinha a sensação de estar ouvindo, mas sim de estar lembrando daquelas melodias. O músico de cinema que eu mais gosto é o Nino Rota. Ele fez uma espécie de depuração da música popular. Este CD tem um parentesco com o Fina Estampa, em que mostro canções que marcaram a minha infância e que foi o mais curtido por meus amigos de Santo Amaro." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1999).
Release
Eu estava em Nova Iorque mixando Circuladô quando recebi a carta de Maddalena Fellini me sugerindo, em nome da Fondazione Fellini, que eu fizesse uma apresentação em Rimini em homenagem a Federico e Giulietta. A irmã de Federico me contava que Giulietta chegara a conhecer a canção que eu escrevera sobre ela e que ficara tocada. Maddalena deplorava (quase tanto quanto eu) que o casal tivesse morrido sem que um encontro pessoal nos tivesse sido concedido pelo acaso, o destino, Deus, os deuses. Ela tinha lido minhas declarações à imprensa italiana de amor à poesia do cinema de Masina - Fellini. Amor que se destacava como algo especial dentro da minha admiração pelo cinema italiano dos anos 40, 50 e 60. O fato de isso encontrar resposta no misterioso amor de alguns italianos famosos e anônimos pela minha música levou-a a considerar a oportunidade de um tal concerto. A carta me arrebatou.
No dia em que finalmente cheguei a Rimini para cantar, minha voz apresentou um tipo de problema que eu até então desconhecia: bem no fundo da laringe, algo quase me impedia de emitir qualquer som, embora os sons que, com um incômodo sem dor, eu conseguia produzir saíssem consideravelmente límpidos. De modo que o controle da afinação e sobretudo das intensidades me limitava exasperadamente. Estava frio e úmido em Rimini, mas havia também uma emoção grande demais em mim. Essa emoção envolvia tristeza, orgulho exaltado e vagos medos ligados ao sentido da minha vida.
O show que tínhamos preparado já me aproximava de uma atmosfera mágica e, tanto nos ensaios quanto na hora de nos apresentarmos, o grau de inspiração dos músicos me enternecia e me assombrava. Eles me pareciam beatificados.
Eu sabia que ia cantar Giulietta Masina e, portanto, Cajuína e Lua, Lua, Lua Lua. Estava certo de cantar Trilhos Urbanos também, pois era preciso pôr tudo na perspectiva de minha meninice em Santo Amaro, onde eu vi os filmes de Fellini pela primeira vez e de onde me vem esse sentimento de recuperação metafísica do tempo perdido que é semelhante ao sentimento que percebo nesses filmes.
Pensei em cantar o tema do palhaço de "La Dolce Vita" e, obviamente, Gelsomina, sem letra. Alguém me conseguiu o disco de Katina Ranieri cantando os temas fellinianos de Nino Rota com letras adicionadas a eles por autores italianos. Mas eu queria manter o clima metafísico do palhaço na noite de Marcello com o pai e decidi ater-me apenas à melodia. Mesmo assim, o desejo de combinar os sons do meu português santamerense com as notas de Rota me levou a escrever uma letra da qual terminei gostando muito. O difícil título ficou Que Não Se Vê, embora eu cante uma estrofe do Come Tu Mi Vuoi de Amurri e outra da Gelsomina de Galdieri.
Em "Noites de Cabíria", Rota aproximou-se mais do que nunca da canção napolitana dos sons do Sul na quase-canção Li Arì Li Irà. Então eu aproximei "Cabíria" da Luna Rossa, a canção napolitana que mais me comoveu na adolescência. E é sempre a mesma lua-luna, a faculdade de Coimbra, a voz da lua.
Eu não poderia deixar de cantar Chega de Saudade, que foi tão fundamental na formação da minha sensibilidade quanto "La Strada". E que é a canção-emblema da música popular brasileira moderna. No show, nós a apresentamos de forma talvez demasiado ligeira (nos dois ou três sentidos), como que confirmando a irônica ternura com que olhamos aqueles que procuram os brasileiros em busca de alegria.
O ouvinte do disco é poupado, com este texto, das longas falações a que me entreguei durante a apresentação. Eu estava tão emocionado e tão imbuído do senso de importância do evento que não tive vergonha de às vezes falar por nove minutos entre uma canção e outra. Em mau italiano e com a garganta ameaçada.
Antes de cantar Nada, eu contei a história do "faquir Eli". Esse "faquir" apareceu em Santo Amaro para jejuar em espetáculo por 25, trinta ou quarenta dias, não lembro mais, e instalou-se numa loja desocupada no Beco do Lactário, o qual saía da Rua do Amparo em frente à minha casa. O faquir Eli tinha apenas um companheiro que parecia servir-lhe de empresário, assistente e mestre-de-cerimônias. Esse companheiro falava por um microfone renovando os anúncios do jejum e tocava sua seleção de discos. Era fascinante e melancólico ouvir nas tardes quentes e letárgicas de Santo Amaro as vozes de Chico Alves e Dalva de Oliveira cantando Tristeza Marinha. Havia uma gravação que também se repetia muito, era o tango Nada vertido para o português por Ademar Muharran e transformado em samba por Waldemar Reis. Enquanto o faquir jazia dentro da urna de vidro sem tampa, a palavra "nada" ecoava pelas ruas. Foi também do alto-falante do faquir Eli que me vieram as notas meio exóticas, meio nostálgicas do Num Mercado Persa, de Ketelbey. Isso foi no início dos anos 50. Quando "La Strada" passou, eu encontrei não-sei-quê de parecença entre o tema de Gelsomina e o Mercado Persa. E lembrei do faquir e da atmosfera de espetáculo popular ingênuo e das músicas na tarde. O Nada, de Waldemar Reis, ficou fundamente ligado a "La Strada" de Fellini dentro de mim. Quando, alguns anos depois, vi "Noites de Cabíria", estremeci ao ouvir o Mercado Persa na cena de Giulietta com o hipnotizador. Por isso é que o Mercado introduz Coimbra - que vai fechar o espetáculo com a palavra saudade, que é a palavra-emblema da língua portuguesa e é o nome do que eu sentia (e sinto) em relação a Federico e Giulietta, uma saudade infinita por nunca tê-los visto em pessoa, por ter conversado com eles (muitas vezes) apenas em sonhos. Coimbra que, por sua vez, sempre ouvi por trás dos temas cromáticos de Rota e que afinal apareceu numa cena de "Il Bidone".
A parecença entre o tema de "Amarcord" e a segunda parte do Coração Materno talvez se deva ao mesmo gesto de fazer pastiches de árias de ópera que o melodramático Vicente Celestino compartilha com Rota (ou com o músico popular que aparece tocando acordeom no filme). Quando, no show, expliquei as razões para cantar o Coração Materno, Tonino Guerra, o roteirista dos últimos filmes de Fellini (e de quase todos os de Antonioni), exultou com minha afirmação de que Coração Materno (reaproveitamento de um velho conto popular no qual um jovem enamorado arranca o coração da mãe para trazer como prova de amor à sua amada) era, como Fellini, sentimental e popular, e que Fellini, sendo sentimental e popular, era um grande artista. Uma combinação muito difícil. Guerra me disse que ficou particularmente interessado na minha observação de que é fácil ser-se sentimental, talvez menos fácil ser-se popular, mas não é difícil ser-se popular quando se é sentimental; agora, é dificílimo ser-se sentimental, popular e um grande artista. Isso só é dado aos muito grandes.
Ave-Maria, que a gente ouvia todos os dias às seis da tarde pelo serviço de alto-falante, ou pelo rádio, na voz de Augusto Calheiros, foi e é, para muitos brasileiros da minha geração, a expressão da tristeza sem nome que avassala as ruas, as praças e os corações das pequenas cidades de países católicos na hora do anjo. Essa mesmíssima tristeza que Fellini desvelou como ninguém.
Há uma canção que, não tendo nenhuma ligação direta com os filmes de Fellini, nem sendo um marco equivalente a ou contemporâneo do meu encontro com tais filmes, se impôs desde que a proposta para o show me foi feita: Chora Tua Tristeza. Trata-se de um samba bossa-nova composto por Oscar Castro Neves quando ele tinha dezessete anos. Obra menor do movimento, essa canção, na singeleza da letra de Luvercy Fiorini, traz um conselho de purificação pelo pranto indulgente que a transforma num comentário involuntário e redentor de toda sentimentalidade. Canto-a, ouço-a, como se fosse uma reza. Só uma oportunidade como essa do show para Fellini me levaria a cantá-la em público.
É mais ou menos no mesmo espírito que Come Prima se inclui no repertório. Ela, por ser italiana e possuir a graça inocente com que o kitsch urbano é abordado em Fellini, está mais perto de seus filmes do que Chora Tua Tristeza.
Let's Face the Music and Dance é a canção de Irving Berlin que Fellini escolheu para "Ginger e Fred". Pusemos o tema de "La Dolce Vita" como introdução e frisamos o parentesco dos temas de Rota com as composições americanas dos anos 20 e 30. Nós a tocamos como se fôssemos uma banda fuleira que toca na rua para esmolas. Meu problema de voz aparece muito aqui, mas a atmosfera geral (e a dinâmica em particular) faz do número um momento encantador para mim.
Patricia está em "La Dolce Vita" e estava em todos os bailes do Ginásio Estadual Teodoro Sampaio, em Santo Amaro. Na letra da hilariante versão brasileira (que teve grande êxito por aqui na época) a frase que termina com a palavra "malícia" tinha sílabas demais e impedia a gostosa paradinha do original de Peres Prado.
Um tema de "Amarcord" serve de introdução à velha marcha carnavalesca Dama das Camélias, que entra aqui como uma referência remota a "E la Nave Va" e uma homenagem a Pina Bausch. Como Fellini, sou apaixonado por Pina. E aconteceu de, em sua peça "Cravos (Nelken)", ela usar uma gravação dessa marchinha cantada pelo coro do corpo de bombeiros do Rio. Era curioso que toda a companhia dançasse por entre cravos enquanto o coral cantava, na velha gravação, sobre a vida se resumir a flores em perfume. Perguntei a Pina se ela sabia o que dizia a letra da música. Ela me contou que comprara o disco no Rio muitos anos antes, sem saber do que se tratava. Ao preparar "Nelken", achou que aquela era a música certa para aquela coreografia. Devo confessar que, ao fazer essa homenagem velada a Pina Bausch (e a ela em "E la Nave Va"), pensei que era significativo que a marchinha brasileira fosse sobre a Dama das Camélias, a personagem de "La Traviata", talvez a mais famosa das óperas, e que "E la Nave Va" é um filme que gira em torno da ópera.
Dama das Camélias para Pina Bausch, Patricia para Anita Ekberg, Que Não Se Vê para Marcello Mastroianni, Coração Materno para Tonino Guerra, tudo para Fellini e Giulietta, minha Daia, Nossa Senhora da Purificação e Lambretta. (Release do CD Omaggio a Federico e Giulietta - 1999).
Foto: Roberto Ugolini.
Banda
Voz e violão: Caetano Veloso
Arranjos, regência e violoncelo: Jaques Morelenbaum
Violões: Luiz Brasil
Contrabaixos: Jorge Helder
Bateria: Carlos Balla
Lista de Músicas
1 - Que Não Se Vê
(Nino Rota, T. Amurri, Letra em português: Caetano Veloso)
2 - Trilhos Urbanos
(Caetano Veloso)
3 - Giulietta Masina
(Caetano Veloso)
4 - Lua Lua Lua Lua
(Caetano Veloso)
5 - Luna Rossa
(V. de Crescenzo, A. Vian)
Música Incidental: Le Notti Di Cabiria
(Nino Rota)
6 - Chega de Saudade
(Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)
7 - Nada
(Dames, Sanguinette. Versão: Ademar Muharran)
8 - Come Prima
(M. Panzeri, S. di Paola, S. Taccani)
9 - Ave Maria
(Erothides de Campos)
10 - Chora Tua Tristeza
(Oscar Castro Neves, Luvercy Fiorini)
11 - Coração Vagabundo
(Caetano Veloso)
12 - Cajuína
(Caetano Veloso)
13 - Gelsomina
(Nino Rota, M. Galdieri)
14 - Let's Face the Music and Dance
(Irving Berlin)
15 - Coração Materno
(Vicente Celestino)
16 - Patricia
(Damaso Peres Prado. Versão: A. Bourges)
17 - Dama das Camélias
(João de Barro, Alcyr Pires Vermelho)
18 - Coimbra
(Raul Ferrão, José Galhardo)
Música Incidental: Mercado Persa - Instrumental
(Alberty William Ketelbey)
19 - Gelsomina
(Nino Rota, M. Galdieri)
Vamos às Letras.
1 - Que Não Se Vê (Nino Rota, T. Amurri, Letra em português: Caetano Veloso)
Uma intensa luz
Que não se vê
Passa pela voz
Ao se calar
É a vez de uma estrela
Guarda o nome dela
Nosso coração é o seu lugar
Somos sempre sós
E ainda assim
Ela brilha em nós
Em ti, em mim
Nem bruta nem bela
O silêncio é tê-la
A voz dessa luz, sem fim, sem fim
Come tu mi vuoi. Sarò, sarò
Quello che tu vuoi. Farò, farò
Non ti lascierò mai
Ma non ti amerò mai
Questo tu lo sai, sì lo sai
Uma intensa luz que não se vê
Passa pela voz ao se calar
2 - Trilhos Urbanos (Caetano Veloso)
O melhor o tempo esconde
Longe muito longe
Mas bem dentro aqui
Quando o bonde dava a volta ali
No cais de Araújo Pinho
Tamarindeirinho
Nunca me esqueci
Onde o imperador fez xixi
Cana doce Santo Amaro
Gosto muito raro
Trago em mim por ti
E uma estrela sempre a luzir
Bonde da Trilhos Urbanos
Vão passando os anos
E eu não te perdi
Meu trabalho é te traduzir
Rua da Matriz ao Conde
No trole ou no bonde
Tudo é bom de ver
São Popó do Maculelê
Mas aquela curva aberta
Aquela coisa certa
Não dá pra entender
O Apolo e o Rio Subaé
Pena de pavão de Krishna
Maravilha vixe Maria mãe de Deus
Será que esses olhos são meus?
Cinema transcendental
Trilhos Urbanos, Gal
Cantando o Balancê
Como eu sei lembrar de você
3 - Giulietta Masina (Caetano Veloso)
Pálpebras de neblina, pele d'alma
Lágrima negra tinta
Lua, Lua, Lua
Giuletta Masina
Ah, puta de uma outra esquina
Ah, minha vida sozinha
Ah, tela de luz puríssima
(Existirmos a que será que se destina)
Ah, Giuletta Masina
Ah, vídeo de uma outra luz
Pálpebras de neblina, pele d'alma
Giuletta Masina
Aquela cara é o coração de Jesus
4 - Lua Lua Lua Lua (Caetano Veloso)
Lua, lua, lua, lua
Por um momento meu canto
contigo compactua
E mesmo o vento canta-se
Compacto no tempo
Estanca
Branca, branca, branca, branca
A minha, nossa voz atua sendo silêncio
Meu canto não tem nada a ver com a lua
5 - Luna Rossa (V. de Crescenzo, A. Vian)
Música Incidental: Le Notti Di Cabiria (Nino Rota)
"Li arì il irà..."
Vaco distrattamente abbandunato
L'uocchie sotto 'o cappiello annascunnute
Mane int' 'a sacca a bavero ajzato
Vaco fiscann'a 'e stelle ca so'asciute
E 'a luna rossa me parla 'e te...
lo le domando si aspiette a me
E me risponne: "Si 'o vvuò sapé...
Cca'nun ce sta nisciuna!"
Luna rossa...
Chi me sarrà sìncera?
Luna rossa,
Se n'è ghiuta l'ata sera
Senza me vedé!
E io dico ancora ca "aspietta a me
Fore 'o balcone stanotte 'e ttre
E prega 'e sante pe'me vedè
... ma nun ce sta nisciuna!"
Mille e cchiù appuntamente aggiu tenuto
Tante e cchiù sigarette aggio appicciato
Mille tazze 'e cafè me so'bevutto
Mille vucchelle amare aggiu vasato
E io dico ancora ca "aspietta a me
Fore 'o balcone stanotte 'e ttre
E prega 'e sante pe'me vedè
...Ma nun ce sta nisciuna!"
6 - Chega de Saudade (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)
Vai, minha tristeza
E diz a ela
Que sem a ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há mais paz, não há beleza
É só tristeza e melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar
Que coisa linda
Que coisa louca
Pois há menos peixinhos
A nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser
Milhões de abraços
Apertado assim
Colado assim
Calado assim
Abraços e beijinhos
E carinhos sem ter fim
Que é pra acabar
Com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você tão longe assim
Vamos deixar desse negócio
De viver longe de mim.
7 - Nada (Dames, Sanguinette. Versão: Ademar Muharran)
Cheguei juntinho a tua porta
Nem sei como consegui
Me disseram que não estavas
E que nunca voltarias
Que tu já tinhas partido
Uma dor senti no peito
Tua casa está em silêncio
Ao fechar de novo a porta
Uma lágrima de dor invadiu meu coração
Nada, nada, nada restou desse amor
Só teias de aranha que tece na dor
O roseiral também murchou e hoje caído
pelo chão
Também arrasta sua cruz
Nada, nada, mais que tristeza e silêncio
Nada o que me diga que vives ainda
Onde estás? Quero dizer-te que hoje
volto arrependido
Implorando teu amor
8 - Come Prima (M. Panzeri, S. di Paola, S. Taccani)
Come prima più di prima t'amerò
Per la vita la mia vita ti darò
Sembra un sogno
Rivederti e accarezzarti
Le tue mani
Fra le mani stringere ancor
Il mio mondo tutto il mondo sei per me
A nessuno voglio bene come a te
Ogni giorno ogni istante
Dolcemente ti dirò
Como prima più di prima t'amerò
9 - Ave-Maria (Erothides de Campos)
Cai a tarde tristonha e serena
Em macio e suave langor
Despertando no meu coração
A saudade do primeiro amor
Um gemido se esvai lá no espaço
Nessa hora de lenta agonia
Quando o sino saudoso murmura
Badaladas da Ave-Maria
Sino que tange com mágoa dolorida
Recordando o tempo da aurora da vida
Dai ao coração paz e harmonia
Na prece da Ave-Maria
10 - Chora Tua Tristeza (Oscar Castro Neves, Luvercy Fiorini)
Chora que a tristeza
Foge do teu olhar
Brincando de esquecer
Saudade vai passar
E amor já vai chegar
Então
Canta que a beleza
Volta pra te encantar
Num sonho tão pequeno
Que o dia escondeu
Guardando pra te dar
Como é bonito gostar e querer ficar
Com alguém pra quem possa dizer
Olha quantas estrelas
Nascem pra te encontrar
Depois do céu azul
A noite vai chegar
E eu pra te amar
11 - Coração Vagabundo (Caetano Veloso)
Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
12 - Cajuína (Caetano Veloso)
Existirmos - a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina:
A cajuína cristalina em Teresina
13 - Gelsomina (Nino Rota, M. Galdieri)
Tu che amar non sai
Tu che amar non puoi
Sei stregata dall'amor
14 - Let's Face the Music and Dance (Irving Berlin)
There may be trouble ahead
So while there's moonlight and music
And love and romance
Let's face the music and dance
Before the fiddlers have fled
Before they ask us to pay the bill
And while we still have the chance
Let's face the music and dance
Soon, we'll be without the moon
Humming a different tune, and then
There may be teardrops to shed
So while there's moonlight and music
And love and romance
Let's face the music and dance, dance
Let's face music and dance
15 - Coração Materno (Vicente Celestino)
Disse um campônio a sua amada:
"Minha idolatrada, diga o que quer
Por ti, vou matar, vou roubar
Embora tristezas me causes, mulher
Provar quero que te quero
Venero teus olhos, teu porte, teu ser
Mas diga, tua ordem espero
Por ti não importa matar ou morrer!"
E ela disse ao campônio a brincar:
"Se é verdade tua louca paixão
Parte já, e pra mim vai buscar
De tua mãe inteiro o coração"
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou
A chorar na estrada tombou
Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sangrando
Da velha mãezinha o pobre coração
E corre a gritar proclamando
"Vitória! Vitória! Tem minha paixão!"
Mas em meio a estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E à distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou:
"Magoou-se pobre filho meu?
Vem buscar-me, filho, aqui estou
Vem buscar-me, que ainda sou teu!"
16 - Patricia (Damaso Peres Prado. Versão: A. Bourges)
Quero, quero ser chamada de querida
Quero, quero esquecer o dissabor
Sonho, sonho com as venturas dessa vida
Sonho, sonho com as delícias do amor
Falam que eu sou bela Patrícia
Sempre a despertar loucas paixões
Dizem que meus olhos quando olham têm também malícia
(E) que com meu sorriso provocante eu machuco
(conquisto) os corações
Mas bem sei que sou triste Patrícia
Com a alma cheia de amargor
Pois ainda estou (vivo) a esperar de alguém sincero amor
17 - Dama das Camélias (João de Barro, Alcyr Pires Vermelho)
A sorrir você me apareceu
E as flores que você me deu
Guardei no cofre da recordação
Porém, depois você partiu
Pra muito longe
Me deixou
E a saudade que ficou
Ficou pra magoar meu coração
A minha vida se resume
Ó, Dama das Camélias
Em duas flores sem perfume
Ó, Dama das Camélias
18 - Coimbra (Raul Ferrão, José Galhardo)
Música Incidental: Mercado Persa (Alberty William Ketelbey) - Instrumental
Coimbra do Choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal
Ainda
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tão linda
Coimbra das canções tão meigas
Que nos põe
Os nossos corações a nu
Coimbra dos doutores
Para nós os teus cantores
A fonte dos amores és tu
Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a lua a faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade
19 - Gelsomina (Nino Rota, M. Galdieri)
Foto: Jornal O Globo.
Ficha Técnica
Uma produção Universal Music
Dirigida por Caetano Veloso
Mixada por Antonio "Moogie" Canázio
VP de A&R: Max Pierre
Gerência Artística: Ricardo Moreira
Gravado ao vivo no Teatro Nuovo, Dogana na
República de San Marino, nos dias 28, 29 e 30 de outubro de 1997
Gravado por Lorenzo Santi, Marcello Amore, Federico Bartolozzo e Marcio Benelli
na unidade portátil do estúdio Emme / Firenze
Mixado no Castle Oaks Studios
Assistente de mixagem: Patricia Abdelnour
Masterizado no Bernie Grundman Mastering
por Bernie Grundman
Ficha técnica do show
“Per Federico e Giulietta”
Concerto exclusivo em favor da “Fondazione Fellini”
Produção: Uns Produções Artísticas
Direção geral: Caetano Veloso
Direção musical: Jaques Morelenbaum
Assessoria internacional: Gilda Mattoso
Figurino: Romeo Gigli
Arranjo de “Coração Materno”: Rogério Duprat
Adaptado por Jaques Morelenbaum
Capa: imagem extraída do filme “Cinema Falado” de Caetano Veloso
Direção de fotografia: Pedro Farkas
Concepção: Caetano Veloso
Direção de arte: Gê Alves Pinto
Projeto gráfico: Luciane Ribeiro / Leitão
Coordenação gráfica: Patrícia Fernandes
Fotos internas: Riccardo Gallini
Agradecimentos: Braguinha, Cinemateca Brasileira, Ettore Caretta, Fondazione Fellini, Hélio Eichbauer, Jairo Severiano, Lea Millon, Maddalena Fellini, Ricardo Cravo Albim e Sabrina Damassa.
Encarte via "Encartes Pop".