2000 - Noites do Norte - Caetano Veloso


Noites do Norte, lançado em dezembro de 2000, surgiu da ideia de Caetano Veloso de experimentar sua voz com a percussão baiana, prestando mais atenção aos sons e menos nas canções, tudo sob os comentários das orquestrações de Jaques Morelenbaum. Zera a Reza inaugura o disco e, em aliterações, critica esse negócio de ter que ter religião. Durante a composição, Caetano foi muito influenciado pela leitura de Minha Formação (Joaquim Nabuco), tanto que resolveu musicar um trecho do livro de memórias do abolicionista pernambucano. Seguindo o tema da questão racial no Brasil, o cantor compôs 13 de Maio e regravou Zumbi, de Jorge Ben. Michelangelo Antonioni e Raul Seixas são homenageados. Cobra Coral é poema de Waly Salomão cantado também por Lulu Santos e Zélia Duncan. Meu Rio recorda os gostos, imagens e lugares do ano em que Caetano viveu no Rio de Janeiro, ainda na adolescência, enquanto Cantiga de Boi é resultado da aparição de um bloco de carnaval. Ia conversa com Tempestades Solares e Sou Seu Sabiá ganha a versão do compositor. Ao invés das longas coletivas de imprensa, Caetano preferiu lançar o novo disco através de seu site com uma longa entrevista concedida exclusivamente ao também pernambucano Geneton Moraes Neto (leia-a na seção "entrevistas" neste blog).

Caetano: "Quando eu ia começar a fazer esse novo disco, eu só pensava nos sons: queria fazer experimentações com o modo de gravar a voz com percussão. Eu nem sabia que canções eu iria cantar ou compor. Mas, assim que recebi de presente o livro Minha Formação, fiquei maravilhado com Joaquim Nabuco. Desde o início, fiquei impressionado com a amplidão da visão e o estilo de Joaquim Nabuco. O que me impressionou também foi o modo de Joaquim Nabuco ver a política internacional no século 19, a situação na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. O comentário que ele faz dos Estados Unidos dá uma impressão de uma lucidez total, uma total ausência de provincianismo. É uma voz de uma verdadeira elite brasileira assim como a gente gostaria de poder sonhar. E, no entanto, a gente tem! Fiquei maravilhado com Joaquim Nabuco antes de chegar a essa questão da raça. Quando Joaquim Nabuco entra nas lembranças do abolicionismo - ele que foi um dos líderes mais notáveis da campanha da abolição -, faz uma reflexão sobre uma lembrança de infância, quando o assunto da escravidão apareceu para ele como um problema a ser resolvido. Fiquei apaixonado por um texto magnífico que começa dizendo. "A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil". A frase entra com grande impacto. O que vem depois vai aprofundando o problema para um lado que a gente não espera. Eu achei que ali estava um texto de densidade e beleza, uma expressão profunda do Brasil. Eu disse assim: "Vou imprimir este texto de Joaquim Nabuco na primeira página do libreto do meu novo disco". Não pensei, num primeiro momento, em musicar aquelas palavras de Joaquim Nabuco. Terminei musicando, coisa que me parecia muito difícil, porque era um texto em prosa, reflexivo, mas com um certo tom lírico. O assunto entrou no meu disco com mais peso do que eu imaginara. Além do Joaquim Nabuco, tenho no disco três personagens explicitamente homenageados: Raul Seixas, Michelangelo Antonioni e Jorge Ben. Raul Seixas é homenageado numa canção que se chama Rock in Raul." (Entrevista de lançamento do disco Noites do Norte, 2000). 

"Foi planejado para continuar trabalhando com os meninos da percussão de Salvador, mas sem aquela onda de metais tipo Gil Evans que a gente fez no Livro. É muito bonito. Na verdade, tudo me veio por causa de um texto de Joaquim Nabuco do livro dele, Minha Formação, e que me pareceu extremamente bonito em que diz: "a escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil". É um texto em prosa, mas pus música e achei que ficou bonito aquele negócio estranho. Daí eu fiz uma música para o 13 de Maio e tudo isso com o Jaquinho e os meninos da percussão. Dessa vez, Pedro Sá e Moreno me ajudaram muito porque Jaquinho precisou ir para Europa; Pedro Sá e Moreno concluíram a produção do disco comigo e editamos as faixas, inclusive arranjos de Jaquinho no Sou Seu Sabiá. Sobretudo, Pedro e Moreno fizeram uma edição do arranjo na mixagem e foi muito bacana." (Caetano Veloso em entrevista para os seus 70 anos, 2012). 

“Eu gosto muito, porque quando comecei eu tava lendo o livro do Joaquim Nabuco e fiquei tão apaixonado por aquele texto, que resolvi musicar aquele trecho em prosa. E aí eu quis pegar aquela música do Jorge Ben que eu adoro, Zumbi, pra dar aquela descrição inicial - de um lado o cafezal, do outro a cana de açúcar e no centro os senhores sentados. É uma descrição do Brasil colonial. Aquilo que o Jorge leu no livro de história, mas que vira poesia, é muito lindo. Esse tema quase que predomina no disco, tanto do Brasil colonial quanto a escravidão." (Depoimento para a Coleção Caetano Veloso 70 anos, 2012).

"Na época da Outra Banda da Terra não tinha produtor. Para Noites do Norte foi igual, só que eu produzo mais do que produzia naquela época. Decidi mais como queria que as coisas fossem. É um disco mais meu, feito mais por mim. Pedi ajuda ao Jaquinho Morelenbaum, enquanto ele estava no Brasil - ele se preparava para sair em turnê - em algumas faixas, não só nos arranjos, mas no estúdio e também na produção. Ele está lá como co-produtor nessas faixas. Meu filho Moreno me ajudou no 13 de Maio. O Luiz Brasil me ajudou muito, com os arranjos, com a escolha dos tons: foi o consultor musical para a finalização do disco após a saída do Jaquinho para a turnê. Contei muito com a ajuda do Moreno e do Pedro Sá, pois eles entendem muito da parte técnica da engenharia de som. Eles realmente entenderam o que eu queria alcançar e deram sugestões para me aproximar disso, o que me faz sentir cada vez mais conectado a isso, como autor de todos os sons deste disco." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001).

"O disco tem muita coisa a ver com Moreno. Ele está muito presente, e Pedro Sá também. Eu estava interessado em coisas técnicas em que eles, por serem jovens, estão mais inteirados que eu. Sempre trabalhei sem a menor ambição de controle do resultado sonoro. É uma pena, porque hoje há tanto interesse por meu trabalho em vários lugares do mundo e eu não tenho uma obra bem acabada para mostrar. Era uma anarquia total, era até um modo de resistir ao 'producismo' e ao 'losangelismo' que estavam na moda. Para nós era assim: vamos todos para o estúdio, a turma, e lá a gente toca. Eu não esperava perenidade para os discos nem reconhecimento internacional. Mas os anos foram passando, e em Velô resolvi mudar, quis fazer um disco produzido. Daí em diante foi assim. Mas queria fazer um 'negocim' mais meu e então encontrei Jaques Morelenbaum." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 2001). 


Fotos: Leonardo Aversa

Lista de Músicas

1 - Zera a Reza
(Caetano Veloso)

2 - Noites do Norte
(Joaquim Nabuco, Caetano Veloso)

3 - 13 de Maio
(Caetano Veloso)

4 - Zumbi
(Jorge Ben)

5 - Rock'n'Raul
(Caetano Veloso)

6 - Michelangelo Antonioni
(Caetano Veloso)

7 - Cantiga de Boi
dedicada a Guile, Vadim e Zé Miguel.
(Caetano Veloso)

8 - Cobra Coral
Participações Especiais: Lulu Santos, Zélia Duncan
(Caetano Veloso, Waly Salomão)

9 - Ia
(Caetano Veloso)

10 - Meu Rio
Participação Especial: Dudu Nobre
(Caetano Veloso)

11 - Sou Seu Sabiá
(Caetano Veloso)

12 - Tempestades Solares
(Caetano Veloso)

Vamos às Letras. 

1 - Zera a Reza (Caetano Veloso)

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Não quero ter religião
Seja católica
Seja evangélica
Seja Hare Krishna ou candomblé
Ou seja umbanda
Moço bacana, sacana na TV de paletó
O eco repeteco vem da lama
E eu me sinto só
Minha reza é barulho
Minha reza é silêncio
Minha reza é movimento
Não venha torrar a minha paciência
E com eloquência engabelar a minha inteligência

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Coementário do autor: "Eu ia fazer esse disco e só pensei nos sons, não pensei nas músicas. Fui ao estúdio em busca de sons e queria começar pela voz. Mas como eu estava com uma leve gripe, decidi começar com Zera a Reza, que eu já queria fazer com vozes sobrepostas. Decidi gravar primeiro a bateria e colocar a guitarra por cima. Liguei para o Cleber, que é baterista da banda Afro Reggae, da favela Vigário Geral, que toca hip-hop. Na época, ele tinha 16 anos. Eu queria colocar um violão de bossa nova / samba em cima do hip-hop. Zera a Reza é uma música meio contra a religião, com gosto pela festa. Fui influenciado por ouvir um disco de D'Angelo, que se sobrepõe a várias vozes. Não sou musical o suficiente para fazer nada perto do que ele faz, mas existe a presença disso. Tive vontade de misturar vozes sobrepostas, uma bateria de hip-hop e um samba-violão tipo João Gilberto." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

"O principal aqui era criar uma canção repetitiva que pudesse ser cantada a quatro vozes e se sobrepusesse a uma bateria dura, tipo hip-hop moderno, a qual deveria acompanhar um violão bossa nova tocando samba. As palavras da letra são uma brincadeira nada rigorosa com inversões e espelhamentos São também um retrato sem retoque da complicada e irresponsável ansiedade com que encaro a questão da religião. Sou irreligioso e mesmo anti-religioso, mas tenho um temperamento místico." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

2 - Noites do Norte (Joaquim Nabuco, Caetano Veloso)

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.

Comentário de Caetano: "Eu compus no violão, lendo o livro. Quando vi que tinha conseguido criar uma peça musicalmente coerente, contendo o texto sem cortes, fiquei muito satisfeito, e já pensei que queria que a orquestra entrasse, mas submetida a um diálogo com alguma percussão pesada, que cria uma tensão, contrastando com a orquestra. Queria também que a música tivesse um pouco da seresta brasileira, além da música erudita do século 19, um pouco ligada à ópera. Senti um pouco do mundo de Joaquim Nabuco, um estudioso brasileiro do século 19, e um pouco da música erudita brasileira tida como nacionalista." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

3 - 13 de Maio (Caetano Veloso)

Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão

Tanta pindoba
Lembro do aluá
Lembro da maniçoba
Foguetes no ar

Pra saudar Isabel
Ô Isabé
Pra saudar Isabé

Comentário do autor: "A princesa Isabel tem sido esquecida como uma figura histórica, nos desdobramentos da abolição. Há muito tempo ela era uma figura cujo nome logo trazia à mente uma ideia forte, tanto que os racistas, quando queriam humilhar um negro, diziam, comentando qualquer ato do negro: “Isso é culpa do negro. Princesa Isabel; a parte culpada é a princesa Isabel”. Era uma forma de falar muito usada no Brasil. Os negros de Santo Amaro festejam a abolição ainda hoje, no dia 13 de maio, mas desde os anos 1970, isso vem mudando: muito influenciados pelo movimento negro norte-americano, outros negros colocaram Zumbi no lugar da figura a ser venerada pelos negros brasileiros. A vela da princesa Isabel foi apagada. Concordo totalmente com a elevação de Zumbi a este lugar, mas sempre gostei da Princesa Isabel, e esse sentimento cresceu muito quando li Joaquim Nabuco, a partir do qual quis escrever uma canção sobre as festas dos negros de Santo Amaro em 13 de maio. Antes de começar a fazer este disco, meu filho Moreno tinha acabado de fazer o seu. Eu achei tão lindo; as músicas, bem como a engenharia de som. Fiquei impressionado com o quanto ele sabia sobre isso - eu não sabia que ele sabia tanto - então pedi sua ajuda. 13 de Maio é uma música em 5/4. Moreno fez de tudo: o arranjo, tocou toda a percussão, tocou violão, pediu a Davi Moraes para tocar um solo de violão e ainda colocou um surdo em 2 sobre 5." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

"A letra diz tudo. Santo Amaro é o único lugar do Brasil onde a abolição da escravatura é celebrada desde 1888." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

4 - Zumbi (Jorge Ben)

Angola, Congo, Benguela
Monjolo, Cabinda, Mina
Quiloa, Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola, Congo, Benguela
Monjolo, Cabinda, Mina
Quiloa, Rebolo
Aqui onde estão os homens
De um lado cana-de-açúcar
Do outro lado, cafezal
Ao centro, senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhido por mãos negras

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer

Zumbi é senhor das guerras
Senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola
Congo
Benguela
Monjolo
Cabinda
Mina
Quiloa
Rebolo

Comentário de Caetano: "No disco, Zumbi vem logo depois da música sobre a princesa Isabel. Esta é a única música do álbum que não é uma composição minha. É do Jorge Ben. Felizmente, ele é o compositor brasileiro mais regravado, por todos no Brasil. Zumbi foi uma música importante para mim desde que apareceu pela primeira vez. Foi apresentado no espetáculo "Phono 73". Era novo; não tínhamos ideia de que essa música existia. Foi a primeira vez que ele cantou. Eu estava na platéia e não conseguia acreditar. “Aqui onde estão os homens” - essa era uma forma de colocar as coisas! Há também frases que parecem ter sido tiradas de livros de história, nomes de países, de onde os africanos foram importados para serem escravizados. E aí vem aquela cena: “De um lado cana de açúcar / Do outro, cafezal / Ao centro, senhores sentados / Vendo a colheita do algodão branco sendo colhido por mãos negras”, dando nomes às monoculturas brasileiras, tudo dentro de um panorama. E dizendo “aqui onde estão os homens”. Nestes momentos considero Jorge Ben um grande poeta. Depois repetiu: “Eu quero ver, eu quero ver, eu quero ver, quando Zumbi chegar”. Quando ele disse isso, que coisa maravilhosa. Subi no palco e coloquei minha cabeça aos pés do Jorge Ben. Essa colocação da possibilidade da chegada do Zumbi no futuro... Isso é uma coisa bonita, porque o Zumbi ainda não chegou, a escravidão ainda não foi embora, a abolição não acabou." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

Festival Phono 73.

5 - Rock'n'Raul (Caetano Veloso)

Quando eu passei por aqui
A minha luta foi exibir
Uma vontade fela da puta
De ser americano

(E hoje olha os mano)

De ficar só no Arkansas
Esbórnia na Califórnia
Dias ruins em New Orleans
O grande mago em Chicago

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul

Hoje qualquer zé mané
Qualquer caetano
Pode dizer
Que na Bahia
Meu Krig-Ha Bandolo
É puro ouro de tolo

(E o lobo bolo)

Mas minha alegria
Minha ironia
É bem maior do que essa porcaria

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul

Comentário do autor: "É uma homenagem crítica e autocrítica a Raul Seixas e à paixão brasileira pela cultura de massa norte-americana." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).

“Sabe o que é Rock in Raul? É o embrião da banda Cê, é fruto de conversas que eu vinha tendo com Pedro Sá. Eu conversava com ele sobre fazer algo com rock, e esse foi o primeiro que fiz pra tocar no tema diretamente... porque Raul é a grande figura individual na história do rock no Brasil, ele é ao mesmo tempo um cara que se ligou no rock desde os anos 50, e também quem mais afirmou isso no momento em que - depois dos Beatles e do Tropicalismo – o rock se tornou uma coisa prestigiosa. Ele é um grande personagem histórico, ele era muito autêntico. Ele era do rock mesmo, produzia discos de coisas pop, meio comum e tal; depois fez aquele disco coletivo, muito interessante; e aí finalmente fez aqueles discos solo dele. Eu o acho espetacular, então quis me aproximar do assunto rock, indo diretamente ao ponto máximo dele no Brasil, que era o Raul. E é uma homenagem histórica, mas tem gente que encrenca. Uma vez, um cara na Bahia, um rapaz jovem, me chamou e quase me agrediu fisicamente. Ele me puxou, meio agressivo: 'Pô, por que você foi falar de Raul? Quem é você pra esculhambar com Raul na letra da música?' Eu respondi: 'Mas eu nunca esculhambei com Raul, eu adoro Raul!' E ele ficou lá, brigando pra burro por causa dessa música. Agora saiu algo no Jornal do Brasil - que não existe mais no mundo real, só no mundo virtual. Mas alguém escreveu defendendo o Raul contra a suposta 'condenação da figura cultural’ dele, feita por mim nessa canção, quando na verdade é uma ode à grande figura da história do rock no Brasil! O problema é porque eu falo da 'vontade feladaputa de ser americano', como se isso fosse irreal ou pejorativo, ou se eu estivesse acusando Raul de algo ruim. É 100% real e bem na linguagem dele.. E muito baiano também. É uma constatação feita por quem não tem nenhum problema com os americanos, porque ele defendeu a influência da cultura de massa americana nos anos 60. Por que sou suspeito de ser anti-americanista e de estar acusando o Raul? Não! A vontade enorme de ser americano é algo que nós temos, e possivelmente quem mais se entregou a isso conseguiu resultado. Ele foi direto; eu não fui, eu resistia. Quando eu era jovem aquilo não me interessava, eu gostava da tradição brasileira e da tradição americana de música bonita. O rock no princípio eu achava banal, vulgar e grosseiro. Mas quase todo mundo achava isso, mesmo quem fazia – pois fazia por não saber de outras coisas. É a história real de nossas vidas! Nos anos 60, eu não o conhecia – embora ouvisse falar de Raulzito e os Panteras, porque Gil conhecia.. Gil andava pela cidade e conhecia todo mundo. Depois do Tropicalismo, quando eu voltei de Londres, ele era produtor e tinha feito aquele disco coletivo. Ele me chamou na casa dele, era casado com uma americana. Eu fui lá numa boa, almoçamos e tal. Ele gostava muito de mim porque a gente tinha muita identificação, afinal a gente era careta. Nem ele, nem eu tomávamos droga, nem bebíamos, nem fumávamos, nem fazíamos nada. A gente fumava cigarro careta, mas ninguém tomava nenhuma droga. E também porque a gente tinha 48 quilos, éramos os dois muito magros. Raul era muito amigo, muito amigável, sempre. Depois foi pirando, mas continuou meu amigo". (Depoimento para a Coleção Caetano Veloso 70 anos, 2012).

Caetano e Raul Seixas nos anos 80.

6 - Michelangelo Antonioni (Caetano Veloso)

Visione del silenzio
Angolo vuoto
Pagina senza parole
Una lettera scritta
Sopra un viso
Di pietra e vapore
Amore
Inutile finestra

Comentário do autor: "Compus a música imaginando todos os elementos do arranjo que dei ao Jaquinho Morelenbaum. Queria que fosse aquela orquestra quase minimalista, mas dinâmica, como fizemos com Cucurucucu Paloma e outras coisas em Fina Estampa; mas em determinado momento, naquele momento específico como está no disco, entrava um baixo e um vibrafone. Como nos grupos de jazz moderno do início dos anos 60 e final dos anos 50, exatamente no período em que vi os primeiros filmes de Antonioni. Acho que soa como esses filmes: meio jazz, quarteto de jazz moderno. Escrevi as letras em italiano, que é uma língua que mal falo. Escrevi alguns versos para que tudo ficasse bem. Mandei para Antonioni, para ele saber se aprovava. Fiquei muito feliz ao receber uma resposta dizendo que ele aprovou com entusiasmo, e achou fino o italiano." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

"Adorei "L'avventura" quando o filme saiu. Depois reagi ao esnobismo dos meus amigos e conhecidos que, nos anos 60, queriam desmerecer Fellini e para isso exaltavam Antonioni. Reencontrei muito da beleza de "L'avventura" em "A Noite" e "O Eclipse". Não estive entre os mais entusiásticos fãs de "Blow up". Mas defendi "Zabriskie point" dos que queriam negá-lo totalmente. Depois vi (tardiamente) "O Deserto Vermelho" e, finalmente, "Passageiro: Profissão Repórter", de que gostei tanto quanto de "L'avventura". Eu já tinha feito uma canção chamada Giulietta Masina e, por causa de minha notória admiração por Fellini, um show para a fundação que leva seu nome. Mas Federico e Giulietta morreram sem que eu pudesse chegar a conhecê-los. Antonioni veio ao Brasil e eu, cinéfilo e cineasta excêntrico, fui o único convidado para os dois jantares que dois cineastas divergentes (Cacá Diegues e Júlio Bressane) lhe ofereceram. O velho e eu gostamos um do outro desde o primeiro jantar. Ele riu ao me rever no segundo. Antonioni não fala há anos, sequela de um derrame (Fellini morreu depois de um), mas se comunica com grande vivacidade. É um homem adorável e um artista original e verdadeiro. Fiz essa canção em italiano, uma língua que não "domino", para, com pouquíssimas palavras, reproduzir o clima que as imagens de Antonioni despertam em mim. Mesmo os italianos acham que as palavras estão justas." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

Antonioni em cena do documentário "Coração Vagabundo" (Fernando Grostein Andrade, 2008).

7 - Cantiga de Boi (Caetano Veloso)

Meça a cabeça do boi
Um CD colado à testa
Adornaram-no pra a festa
Do que foi desça à metade
Do que eternamente nasce
Na face que é iridescente
Ó gente, dá-se a cidade

Abra a cabeça do boi
Por trás do CD um moço
Nesse cabra uma serpente
Cobra lá dentro do osso
Posso não crer na verdade
Mas ela dobra comigo
Abrigo em mim a cidade

Cantiga de boi é densa
Não se dança nem se entende
Doença, cura e repente
E desafio ao destino
Menino já tem saudade
Do que mal surgiu à frente
Alma, CD, boi, cidade

Purificação do adro
O quadro produz-se ali
Luz o paralelepípedo
Límpido cristal de olhar
Grécia, Roma e Cristandade
O CD refrata o tempo
Templo-espaço da cidade

Comentário do autor: "Eu tinha me prometido escrever apenas canções cujas letras fossem diretas e muito inteligíveis, que eu mesmo soubesse o que se dizia. Nada como o Qualquer Coisa, que tem um monte de jogos de linguagem, e não sei bem o que está sendo falado ali. Eu conheço todo o significado, mas o texto não é explícito, não é lógico. Cantiga do Boi apareceu-me de forma irresistível. Fui a um show da Margareth Menezes em Salvador durante o verão. Antes de ela cantar, saiu o grupo Malê Debalê. Todos chegaram, nesta apresentação, com um CD amarrado na testa. O lado brilhante foi virado para fora, aquele que é iridescente, onde você vê o espectro de luz. Fiquei impressionado e saí de lá pensando que era uma espécie de ornamentação folclórica. Lembrei-me de um bumba-meu-boi que tinha espelhos em forma de círculo entre os chifres. Lembrei-me de José Miguel Wisnik, seu filho Guile, e de Vadim que escreveu um artigo sobre a cidade e o boi nas minhas canções. Tem boi em Aboio, música do Tropicália 2Eu disse: “Meu Deus, esta coisa voltando por causa dessa visão do Malê Debalê!” Mas eu deixei passar. Quando chegou o carnaval, eu estava assistindo ao desfile dos blocos afro no Campo Grande, e lá veio o Malê Debalê, o bloco inteiro, milhares de pessoas, todas com CD na testa. Isso me emocionou muito, aquele CD e a música começaram a sair assim. São algumas imagens, algumas rimas que eu não queria fazer, rimas internas, algo que esteticamente eu queria rejeitar mas não resisti, não consegui controlar. Fiz tudo com rimas internas. Perde o significado, mas mantém a sensação. Acabei fazendo na gravação as mais belas experimentações sonoras, com Tamima tocando uma trompa australiana de PVC. Usei também uma amostra da trilha sonora do filme "Vidas Secas", o som do carro de boi passando. Dediquei a música ao Zé Miguel, Guile e Vadim." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

8 - Cobra Coral (Caetano Veloso, Waly Salomão)

Para de ondular agora
Cobra coral
A fim de que eu copie as cores
Com que te adornas
A fim de que eu faça um colar pra dar
À minha amada
A fim de que tua beleza
Teu langor
Tua elegância
Reinem sobre as cobras não corais

Comentário de Caetano: "Cobra Coral é um poema de Waly Salomão, que se encontra no seu livro de poemas "Tarifa de Embarque". Eu amei esse poema. Quando eu vi, tive vontade de colocá-lo em música. Liguei para Lulu Santos e Zélia Duncan para cantarem comigo. Eu também tinha ligado para a Marisa Monte, mas no último momento ela cancelou. De certa forma foi melhor, porque as três vozes - a minha, a de Lulu e a de Zélia - parecem de três homens. A Zélia consegue cantar muito profundamente. É muito interessante que Lulu, Zélia e eu juntos parecemos um coro masculino. Eu escrevi o arranjo para trombetas. Eu não escrevi, porque não posso escrever música: ditei todas as notas para Luiz Brasil." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

Foto: Revista Caras.

9 - Ia (Caetano Veloso)

Ia
Te chamar mas não vou mais
O dia
Já vem vindo lá de trás
Da barra do mar da baía do Rio
Tão só
Vejo a curva de Copa
Cabana da melancolia
Ia
Te chamar mas meu peito está frio

Ah
Os braços de Iemanjá
O mar
Quem há
De procurar seu lugar
Em Iá
Seu dia?

Num som
Surdo o mundo quebra em mim
Sem fim
Esse instante seria
Ia
Desistir mas agora eu te espero aqui.

Comentário do autor: "Ia é uma canção totalmente bossa nova: lenta, estranha, uma canção de depressão, de tristeza. Eu ia tocar só no violão, mas depois do Rock 'n' Raul, tive a ideia de convidar também o Pedro Sá, com os sons e timbres do violão rock and roll, e Domênico, que às vezes dobra o andamento da bateria. Parece que você está ouvindo drum and bass à distância." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

10 - Meu Rio (Caetano Veloso)

Meu Rio
Perto da favela do Muquiço
Eu menino já entendia isso
Um gosto de Susticau
Balé no Municipal
Quintino
Um coreto
Entrevisto do passar do trem
Nós nos lembramos bem
Baianos, paraenses e pernambucanos
Ar morno pardo parado
Mar pérola
Verde onda de cetim frio
Meu Rio
Longe da favela do Muquiço
Tudo no meu coração
Esperava o bom do som: João
Tom Jobim
Traçou por fim
Por sobre mim
Teu monte-céu
Teu próprio deus
Cidade
Vista do outro lado da baía
De ouro e fogo no findar do dia
Nas tardes daquele então
Te amei no meu coração
Te amo
Em silêncio
Daqui do Saco de São Francisco
Eu cobiçava o risco
Da vida
Nesses prédios todos, nessas ruas
Rapazes maus, moças nuas
O teu carnaval
É um vapor luzidio
E eu rio
Dentro da favela do Muquiço
Mangueira no coração
Guadalupe em mim é Fundação
Solidão
Maracanã
Samba-canção
Sem pai nem mãe
Sem nada meu
Meu Rio

Comentário do autor: "Meu Rio é uma música sobre minhas lembranças do Rio de Janeiro, quando vim morar aqui pela primeira vez quando tinha 13 anos. Morei um ano, 1956, em Guadalupe. Esse bairro passou a se chamar Fundação. A casa onde eu morava ainda está lá, para onde vou de vez em quando para ver meus parentes, meus primos. Nesse período ia à Rádio Nacional ver os cantores. Ia para a cidade com a Minha Inha, ia muitas vezes a Niterói para nadar no Saco de São Francisco, que era meu lugar preferido para ir à praia. Adoro Niterói ainda hoje. Então, essa é uma música sobre o Rio, "meu Rio" no sentido de que é o Rio como eu vi. Chamei o Dudu Nobre para tocar cavaquinho, um cavaquinho totalmente carioca para caber na música." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

11 - Sou Seu Sabiá (Caetano Veloso)

Se o mundo for desabar sobre a sua cama
E o medo se aconchegar sob o seu lençol
E se você sem dormir
Tremer ao nascer do sol
Escute a voz de quem ama
Ela chega aí

Você pode estar tristíssimo no seu quarto
Que eu sempre terei meu jeito de consolar
É só ter alma de ouvir
E coração de escutar
Eu nunca me canso do uníssono com a vida

Eu sou
Sou seu sabiá
Não importa onde for
Vou te catar
Te vou cantar
Te vou, te vou, te vou, te dar

Eu sou
Sou seu sabiá
O que eu tenho eu te dou
Que tenho a dar?
Só tenho a voz
Cantar, cantar, cantar, cantar

Comentário do autor: "Sou Seu Sabiá é uma música que escrevi para a Marisa Monte. Ela gravou muito lindamente, mas eu queria cantá-la no meu disco, para expor mais a melodia. No lugar de Sou Seu Sabiá, quase cantei Você Não Gosta de Mim, que Gal gravou. Já existia Ia e Tempestades Solares, muita música que parece ser feita por um cara sofrendo por causa do amor, e seria mais uma, muito triste. Preferi gravar Sou Seu Sabiá." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

12 - Tempestades Solares (Caetano Veloso)

Você provocou
Tempestades solares no meu coração
Com as mucosas venenosas de sua alma de mulher
Você faz o que quer
Você me exasperou
Você não sabe viver onde eu sou
Então adeus
Ou seja outra:
Alguém que aguente o Sol

Comentário do autor: "Tempestades Solares é uma canção de drama íntimo e amoroso. Diferentemente de Djavan e Chico Buarque, que disseram em entrevistas que suas canções não tinham nada a ver com suas vidas, para ser sincero, eu quase poderia dizer o contrário: praticamente todas as minhas canções são autobiográficas, e não posso dizer que em Tempestades Solares isso é diferente. Fiquei empolgado com a gravação, porque ainda queria uma oportunidade de fazer o que pensei primeiro em fazer no disco, que era usar muitos vibratos, exageradamente, e obter sons estranhos da voz junto com a percussão e alguns guitarras. Pedi ao Luiz Brazil para tocar um estilo bem flamenco justificando ainda mais o vibrato." (Caetano Veloso. Release para a Nonesuch Records, 2001). 

"É espetacular!" (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).

Site oficial de Caetano Veloso lançado com Noites do Norte.

Ficha Técnica

Uma produção Universal Music
Dirigido por Caetano Veloso
Co-dirigido por Jaques Morelenbaum
Direção Artística: Max Pierre
Gestão Artística: Ricardo Moreira
Supervisão Musical: Luiz Brasil
Supervisão Executiva: Conceição Lopes
Coordenação Executiva: Beth Araújo
Gravado e mixado no AR Estúdio, Rio de Janeiro
Direção de Arte: Luiz Zerbini
Design: Ludmila Ayres e Zoy Anastassakis
Fotografia: Mario Cravo Neto

Músicos

Caetano Veloso, vocais (1-12), violão (1, 8-12), palmas (3), refrão (4)
Cleber Sena (AfroReggae), percussão (1)
Marcio Victor, bateria / percussão (1- 4, 7, 8, 11), trompas (7)
Du, bateria / percussão (1- 4, 7, 8, 11)
Jó, bateria / percussão (1-4, 7, 8, 11)
Paulo Calazans, teclado ( Hammond B3) (1)
Pedro Sá, guitarra elétrica (1, 5, 9), refrão (4), baixo (5, 9)
Luiz Brasil, guitarras (2, 4, 7, 10, 12), refrão (4) , talk box (7), maestro (8)
Moreno Veloso, tambor de conga, percussão, guitarra elétrica, palmas (3); coro (4); violoncelo (12)
Davi Moraes, guitarras elétricas (3)
Nara Gil, voz (3)
Belô Veloso, voz (3)
Paula Morelenbaum, voz (3)
Jorge Gomes, palmas (3), percussão (4)
Fernando Fishgold, palmas (3), coro (4)
César Mendes, coro (4)
Arthur Maia, baixo (4)
Domenico, percussão (5, 9)
Zeca Assumpção , baixo acústico (6)
Jotinha, vibrafone (6)
Marcelo Costa, percussão (7)
Lulu Santos, vocal convidado (8), aparece cortesia do BMG Brasil
Zélia Duncan, vocal convidado (8)
Ronaldo Silva, percussão (8)
Dudu Nobre , convidado especial (ukelele) (10)
Zeca Assumpção, baixo acústico (11)
Milton Guedes, gaita (7)
Thamyma, borel (bullroarer) (7)
Chiquinho Chagas, acordeão (7)
Armando Marçal, pandeiro, guizo, pandeiro (10 )

Orquestra

Violinos: Bernardo Bessler, primeiro; Michel Bessler, José Alves, João Daltro, Ricardo Amado, Antonella Perschi, Walter Hack, Paschoal Perrota (2, 6, 11)
Violas: Marie Springel, Jesuína Passaroto (2, 6, 7, 11); Ricardo Taboada (2, 6, 11)
Violoncelos: Alceu Reis (2, 6, 11); Marcos Oliveira (2, 6);
Marcio Malard (2, 6, 7, 11); Yura Ranevsky (7, 11)
Contrabaixo: Denner Campolina (2)
Kátia Pierre, flauta, flautim (2, 11)
Andréa Ernest, flauta alto, flautim (2)
David Ganc, alto fltue, flautim (11)
Carlos Malta, baixo flauta (2)
Andréa Dias, flauta baixo, flautim (11)
Carlos Prazeres, trompa inglesa (2), oboé (11)
Lucia Morelenbaum, clarinete (2)
Eduardo Morelenbaum, clarinete baixo (2, 7)
Philip Doyle, trompa (2) )
Ismael Oliveira, chifres (2)
Jailson Araújo, flügelhorn (4)
Pedro Paulo, trompete (4), flügelhorn (8)
Flávio Melo, trompete (4, 8)
Jessé Sadoc, trompete (4, 8, 11)
Vittor Santos, trombone (4, 7)
Sergio de Jesus, trombone (4)
Antônio Henrique Bocão, trombone baixo (4)
Eliézer Rodrigues, tuba (7)
Paschoal Perrota, músico contratado (2, 4, 6-8, 11)







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