2001 - Noites do Norte Ao Vivo - Caetano Veloso


Noites do Norte Ao Vivo foi gravado em julho e agosto de 2001 nas cidades de São Paulo e Salvador. No álbum duplo, 32 músicas que revelam o repertório completo do show: oito canções do disco de estúdio mescladas às músicas do repertório de Caetano e novas interpretações, como Samba de Verão, Eu e a Brisa Caminhos Cruzados. Na primeira parte do espetáculo, Caetano incluiu as suas Two Naira Fifty Kobo, Sugar Cane Fields Forever Haiti para desenvolver a temática da questão racial no Brasil. Em seguida, o set de voz e violão prevalecido por canções românticas contou com a participação especial de Lulu Santos em Cobra Coral e Como uma Onda. Já na segunda metade do show, sucessos dos anos 70 e 80 ganharam brilhantes versões com ênfase na percussão. Antes da estreia do show, o Canecão (no Rio) recebeu um final de semana com ensaios abertos a preços populares, ainda sem as contribuições de Hélio Eichbauer (para o cenário) e Felipe Veloso (para os figurinos). Caetano enfrentou algumas vaias ao cantar Tapinha, canção que já tinha sido interpretada por Fernanda Abreu, Rita Lee e Adriana Calcanhotto. O funk vinha logo após a transfeminista Dom de Iludir. Ao término da música, o público ouviu algumas vezes: "Viva o funk do morro!". 

Caetano"No caso de Noites do Norte, o que me animou a lançar o 'Ao Vivo' foi poder registrar o show inteiro, gravado ainda no início da temporada, e lançar o disco com todas as músicas, na ordem exata em que elas foram mostradas no palco. Nos outros, foi feita uma compilação do shows." (Caetano Veloso para o Estado de S. Paulo, 2001). 

“Eu tinha dito a Jaquinho que este show talvez não fosse tão interessante como trabalho musical para o músico que ele é. Mas Jaquinho não achou isso, fiquei honradíssimo de ele querer tocar comigo. O show tem uma vinculação conceitual considerável com o disco, incluindo muitas de suas canções. Talvez os ensaios abertos sejam muito adequados a esse tipo de show, que não partiu de uma ideia só, nasceu aos poucos. Isso pode resultar num espetáculo criticamente mais vulnerável mas, para mim, é a forma de deixar sair a música que pode sair de mim agora”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2001).

Release

Há muita reação na imprensa contra o hábito de se fazerem discos nascidos de shows que nasceram de discos. Pessoalmente, tenho mantido uma opinião diferente. Por um lado, gosto do calor da música registrada fora dos estúdios; por outro, considero saudáveis as revisitações de repertório e as reiterações de estilos que esse tipo de disco favorece. Naturalmente, como de qualquer fonte, de tal procedimento podem surgir obras muito boas, obras aceitáveis e obras más. Entendo que a reação contrária se justifica pelo risco de comercialismo banalizante. Mas eu gostaria de ver um rigor crítico maior por parte de quem exibe tanta antipatia pelo mercado, pelo sucesso e pelas gravadoras. Sendo um medalhão transviado, eu tenho feito, em minha própria carreira, escolhas singulares quanto a isso. Como ninguém manda em mim (fora de casa), teimosamente faço discos de shows de discos, mas não faço como se espera que eu faça. O de Fina Estampa estava alicerçado em inéditas fortes: Cucurrucucu Paloma, Lábios Que Beijei, Você Esteve Com Meu Bem, O Samba e o Tango etc. O de Livro (Prenda Minha), na ausência total de canções do disco de estúdio.

Agora, Noites do Norte. Bem, desta vez terminei aprovando uma documentação completa do show. É o disco de show mais disco-de-show que já fiz. Não só está lá todo o repertório (e na ordem em que entra em cena!), mas também toda a impureza técnica das apresentações do show em sua primeira fase, quando ele ainda não estava tão maduro quanto agora. Como no caso de Prenda Minha, Circuladô ou Fina Estampa, não fiz pessoalmente nenhum trabalho pós-produção em estúdio para corrigir o que não me parecesse bem em minhas atuações vocais. Só que naqueles outros discos houve uma seleção: como se tratava de parcela pequena do repertório total, dava para escolher o que estava mais limpo. Houve também, naqueles casos, uma providencial mudança na ordem das canções. Neste aqui vai tudo. Para mim, o disco é um tesouro por causa do trabalho dos instrumentistas. O som que resulta das amarras das guitarras de Davi e Pedrinho com os couros de Cesinha, Márcio, Junior, Du e Jó - no diálogo singular que esse som mantém com o arco musical de Jaques Morelenbaum - é uma máquina poderosa. Ela produz enlevo e libertação. Lembro dos ensaios: todas as minhas idéias se traduziam com assustadora presteza em levadas e timbres da guitarra de Davi; precisão vigorosa por parte dos percussionistas (com Márcio sempre liderando); em intervenções sábias de Pedrinho; em perfeita segurança por parte de Cesinha — tudo isso com a interpretação geral classificadora de Jaques, sempre explicando o que estava se passando musicalmente e mostrando como fazer com que tudo se desse com mais clareza e consciência. Ele conseguia isso falando com calma e - o que é mais eficaz - tocando com inspiração. Foi também Jaquinho quem, depois de organizar nossa mente musical nos ensaios, entrou em estúdios e dirigiu a produção, orientando a recriação dos sons na mixagem. Como gravamos no dia do meu aniversário, eu tive (e posso dar aos compradores do CD) Lulu Santos de presente. Assim, embora peça desculpas por eventuais demonstrações de inabilidade de minha parte, aconselho a compra e a audição desse CD duplo e extensíssimo, onde, sobretudo por causa dos instrumentistas, se pode entrar em contato com uma milagrosa parte do que de mais vivo se faz em música no Brasil. (Release do disco Noites do Norte Ao Vivo - 2001).

Artigo: O Mundo Não é Chato

São filhos. São meus. Ainda que nenhum dos dois chegasse a tocar comigo, seriam, nessa mesma medida, meus. Davi em cima do caminhão do trio elétrico ou no cenário suntuoso do show de Marisa Monte; Pedro num grupo de rock experimental ou alinhavando o rico tecido sonoro de Lenine: de longe ou de perto, meus. Seus movimentos, suas venturas e suas aflições sempre me diriam respeito. Tê-los a meu lado, tocando meu repertório, opinando sobre meus arranjos; vê-los todos os dias nos ensaios, nos palcos de show - tudo isso representa para mim uma emoção continuada e renovada. É que os vi nascer. É que ainda os vejo nascer.
Pedro cresceu em minha casa com Dedé, tanto quanto Moreno cresceu em casa de Tetê e Ronaldo, pais de Pedro, músicos também. Parecem recentes as noites em que ele, aos seis ou sete anos, via seu sono interrompido e partilhava comigo alguns minutos de minha insônia. Quando hoje o vejo romper seu silêncio tão concentrado para encenar uma imitação hilariante - em que o timbre, o sotaque, a alma, a pele do personagem se fazem presentes -, lembro da caracterização surpreendente que ele improvisou na Escola Parque, quando, tendo ido ver Moreno, o vi pela primeira vez. E o companheirismo leal com meu filho por todos esses anos desde então! O orgulho que tenho das amizades de meu filho que já é homem! A esperança e a confiança que isso insufla às visões que Paulinha, Moreno e eu temos hoje de Zeca e Tom em companhia de seus colegas de escola!
Pedro Sá cresceu para a música. Vi com orgulho e admiração sua seriedade e seu talento. É para mim uma grande alegria que, nisso também, Moreno tenha podido manter-se perto dele. Na verdade, Noites do Norte não seria o disco que é se não fosse por Pedro e Moreno: eles me esclareceram, me encorajaram, me aconselharam e, com a competentíssima paciência de Marcelo Sabóia, desenharam a sonoridade do disco. Assim, a presença de Pedrinho no show Noites do Norte se faria sentir mesmo que não subisse no palco conosco. A densidade dos timbres, a modernidade das texturas, a consciência das proporções são sua marca. Soa como um inventor, ouvinte de inventores.
Davi também é amigo de Moreno. E um tanto primo dele por parte de mães. Não foram colegas de escola, portanto não o vi desde pequeno com a frequência com que vi Pedrinho. Mas Davi é filho de Moraes Moreira e isso já implica um outro parentesco. Que vem do bar Brasa e passa por Botafogo e Vargem Grande. Filho dos Novos Baianos. Uma vocação cristalina de instrumentista: como Jacob, Armandinho, Oscar Peterson ou Airto Moreira. Ele também está presente em Noites do Norte: toca em 13 de Maio. Uma das coisas que vi fazerem Moreno orgulhar-se mais foi ter gravado tocando junto com ele essa música. Davi deslumbra com seu domínio relaxado e seu bom gosto despretensioso. Ele tem (e mantém intacta) a alma simples da sensibilidade popular sem jamais roçar o banal ou o simplista. E sua beleza pessoal cresce em luminosidade por ser tão refinado o seu despojamento. Ele é virtuose sem fazer soar uma nota pedante. Soa como um mestre.
Mais do que uma vitória, é uma glória pessoal contar com filhos dessa magnitude. O mundo não é chato. (Caetano Veloso. Jornal do Brasil, Caderno B, 2001. Livro: O Mundo Não é Chato. Org. Eucanaã Ferraz. Companhia das Letras, 2005).

Foto: Marcos Hermes.

Show Noites do Norte, 2001.

Banda

Caetano Veloso (Voz, violão)
Jaques Morelenbaum (Cello elétrico, vocal)
Davi Moraes (Guitarra, bandolim, vocal)
Pedro Sá (Baixo, guitarra, vocal)
Cesinha (Bateria, vocal)
Márcio Victor, André Júnior, Eduardo Josino e Josino Eduardo (Percussão)

Lista de Músicas

CD 1

1 - Two Naira Fifty Kobo
(Caetano Veloso)

2 - Sugar Cane Fields Forever
(Caetano Veloso)

3 - Noites do Norte
(Caetano Veloso, Joaquim Nabuco)

4 - 13 de Maio
(Caetano Veloso)

5 - Zumbi
(Jorge Ben)

6 - Haiti
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

7 - O Último Romântico
(Lulu Santos, Antônio Cícero, Sérgio de Souza)

8 - Araçá Blue
(Caetano Veloso)

9 - Nosso Estranho Amor
(Caetano Veloso)

10 - Escândalo
(Caetano Veloso)

11 - Cobra Coral - com Lulu Santos
(Caetano Veloso, Waly Salomão)

12 - Como Uma Onda (Zen Surfismo) - com Lulu Santos
(Lulu Santos, Nelson Motta)

13 - Mimar Você
(Gilson Babilônia, Alain Tavares)

14 - Magrelinha
(Luiz Melodia)

15 - Rock'n'Raul
(Caetano Veloso)

16 - Zera a Reza
(Caetano Veloso)

CD 2

1 - Dom de Iludir
(Caetano Veloso)
+
Tapinha
(Naldinho)

2 - Caminhos Cruzados
(Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)

3 - Tigresa
(Caetano Veloso)

4 - Trem das Cores
(Caetano Veloso)

5 - Samba de Verão
(Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle)

6 - Menino do Rio
(Caetano Veloso)

7 - Meu Rio
(Caetano Veloso)

8 - Gatas Extraordinárias
(Caetano Veloso)

9 - Língua
(Caetano Veloso)

10 - Cajuína
(Caetano Veloso)

11 - Gente
(Caetano Veloso)

12 - Eu e a Brisa
(Johnny Alf)

13 - Tropicália
(Caetano Veloso)

14 - Meia Lua Inteira
(Carlinhos Brown)

15 - Tempestades Solares
(Caetano Veloso)

16 - Menino Deus
(Caetano Veloso)

Vamos às Letras.

1 - Two Naira Fifty Kobo (Caetano Veloso)

No meu coração da mata gritou Pelé, Pelé
Faz força com o pé na África

O certo é ser gente linda e dançar, dançar, dançar
O certo é fazendo música

A força vem dessa pedra que canta Itapuã
Fala tupi, fala iorubá

É lindo vê-lo bailando ele é tão pierrô, pierrô,
Ali no meio da rua lá


02 - Sugar Cane Fields Forever (Caetano Veloso)

Sou um mulato nato
No sentido lato
Mulato democrático do litoral

Foto: David Redfern / Redferns.

03 - Noites do Norte (Caetano Veloso, Joaquim Nabuco)

A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. Ela espalhou por nossas vastas solidões uma grande suavidade; seu contato foi a primeira forma que recebeu a natureza virgem do país, e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se fosse uma religião natural e viva, com os seus mitos, suas legendas, seus encantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu silêncio sem concentração, suas alegrias sem causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela o suspiro indefinível que exalam ao luar as nossas noites do norte.


04 - 13 de Maio (Caetano Veloso)

Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão

Tanta pindoba
Lembro do aluá
Lembro da maniçoba
Foguetes no ar

Pra saudar Isabel
Ô Isabé
Pra saudar Isabé


05 - Zumbi (Jorge Ben)

Angola, Congo, Benguela
Monjolo, Cabinda, Mina
Quiloa, Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola, Congo, Benguela
Monjolo, Cabinda, Mina
Quiloa, Rebolo
Aqui onde estão os homens
De um lado cana-de-açúcar
Do outro lado, cafezal
Ao centro, senhores sentados
Vendo a colheita do algodão branco
Sendo colhido por mãos negras

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer

Zumbi é senhor das guerras
Senhor das demandas
Quando Zumbi chega
É Zumbi é quem manda

Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

Angola
Congo
Benguela
Monjolo
Cabinda
Mina
Quiloa
Rebolo

Foto: Jornal O Globo.

06 - Haiti (Caetano Veloso, Gilberto Gil)

Quando você for convidado pra subir no adro da fundação
Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui - o Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção
Da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo
Do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui - o Haiti não é aqui

Foto: Jornal O Globo.

07 - O Último Romântico (Lulu Santos, Antônio Cícero, Sérgio de Souza)

Só falta abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito Coca-Cola
Fazer da minha vida sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único

Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse oceano atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida já que a morte cai do azul

Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar, ser gente grande pra poder chorar

Me dá um beijo então, aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Deixa ser pelo coração
Se é loucura então, melhor não ter razão

Foto: David Redfern / Redferns.

08 - Araçá Blue (Caetano Veloso)

Araçá Azul é sonho-segredo
Não é segredo
Araçá Azul fica sendo
O nome mais belo do medo

Com fé em Deus
Eu não vou morrer tão cedo

Araçá Azul é brinquedo


09 - Nosso Estranho Amor (Caetano Veloso)

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer

Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mãeinha
Deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar
E sigamos juntos
Ah! Neguinha
Deixa eu gostar de você
Pra lá do meu coração
Não me diga nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valham dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos, mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor


10 - Escândalo (Caetano Veloso)

Ó, doce irmã, o que você quer mais?
Eu já arranhei minha garganta toda
Atrás de alguma paz
Agora nada de machado e sândalo
Você que traz o escândalo
Irmã-luz

Eu marquei demais, tô sabendo
Aprontei demais, só vendo
Mas agora faz um frio aqui

Me responda, tô sofrendo:
Rompe a manhã da luz em fúria a arder
Dou gargalhada, dou dentada na maça da luxúria
Pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só.

Eu marquei demais, só vendo
Aprontei demais, tô sabendo
Mas agora faz um frio aqui.

Me responda, tô sofrendo:
Rompe a manhã da luz em fúria a arder.
Dou gargalhada, dou dentada na maça da luxúria
Pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só.

Comentário do autor: "Ângela Ro Ro me pediu uma música, e como tinha havido uma briga entre ela e a namorada, que terminou na polícia e saiu nos jornais, fiz essa, aproveitando o escândalo em torno do nome dela." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 


11 - Cobra Coral (Caetano Veloso, Waly Salomão)

Para de ondular agora
Cobra coral
A fim de que eu copie as cores
Com que te adornas
A fim de que eu faça um colar pra dar
À minha amada
A fim de que tua beleza
Teu langor
Tua elegância
Reinem sobre as cobras não corais

Caetano e Lulu Santos.

12 - Como Uma Onda (Zen Surfismo) (Lulu Santos, Nelson Motta)

Nada do que foi será de novo
Do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo o que se vê não é
Igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo
Agora há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar

Foto: David Redfern / Redferns.

13 - Mimar Você (Gilson Babilônia, Alain Tavares)

Te quero só pra mim
Você mora em meu coração
Não me deixe só aqui
esperando mais um verão
Te espero meu bem
Pra gente se amar de novo
Mimar você
Nas quatro estações
Relembrar
O tempo que passamos juntos
Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei


14 - Magrelinha (Luiz Melodia)

O pôr-do-sol
Vai renovar
Brilhar de novo o seu sorriso
E libertar
Da areia preta e do arco-íris cor de sangue
Cor de sangue, cor de sangue

O beijo meu
Vem com melado
Decorado cor de rosa
O sonho seu
Vem dos lugares mais distantes
Terras dos gigantes
Super homem, super mosca
Super carioca, super eu, super eu

Deixa tudo em forma
É melhor, não sei
Não tem mais perigo
Digo, já nem sei
Ela está comigo
O Sol e o som não sei

O Sol não adivinha
Baby, é magrelinha
O Sol não adivinha
Baby, é magrelinha

No coração do Brasil
No coração do Brasil
No coração, no coração
No coração do Brasil

Foto: Estacion Mapocho.

15 - Rock'n'Raul (Caetano Veloso)

Quando eu passei por aqui
A minha luta foi exibir
Uma vontade fela da puta
De ser americano

(E hoje olha os mano)

De ficar só no Arkansas
Esbórnia na Califórnia
Dias ruins em New Orleans
O grande mago em Chicago

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul

Hoje qualquer zé mané
Qualquer caetano
Pode dizer
Que na Bahia
Meu Krig-Ha Bandolo
É puro ouro de tolo

(E o lobo bolo)

Mas minha alegria
Minha ironia
É bem maior do que essa porcaria

Ter um rancho de éter no Texas
Uma plantation de maconha no Wyoming
Nada de axé, Dodô e Curuzu
A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul

Rock'n'me
Rock'n'you
Rock'n'roll
Rock'n'Raul


16 - Zera a Reza (Caetano Veloso)

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Zera a reza, meu amor
Canta o pagode do nosso viver
Que a gente pode entre dor e prazer
Pagar pra ver o que pode
E o que não pode ser
A pureza desse amor
Espalha espelhos pelo carnaval
E cada cara e corpo é desigual
Sabe o que é bom e o que é mau
Chão é céu
E é seu e meu
E eu sou quem não morre nunca

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Não quero ter religião
Seja católica
Seja evangélica
Seja Hare Krishna ou candomblé
Ou seja umbanda
Moço bacana, sacana na TV de paletó
O eco repeteco vem da lama
E eu me sinto só
Minha reza é barulho
Minha reza é silêncio
Minha reza é movimento
Não venha torrar a minha paciência
E com eloquência engabelar a minha inteligência

Vela leva a seta tesa
Rema na maré
Rima mira a terça certa
E zera a reza

Foto: Lawrence K. Ho / Los Angeles Times.

17 - Dom de Iludir (Caetano Veloso) / Tapinha (Naldinho)

Não me venha falar na malícia
De toda mulher
Cada um sabe a dor e a delícia
De ser o que é

Não me olhe
Como se a polícia andasse atrás de mim
Cale a boca e não cale na boca
Notícia ruim

Você sabe explicar
Você sabe entender tudo bem
Você está, você é
Você faz, você quer, você tem

Você diz a verdade
A verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer
Que a mulher vá viver sem mentir

Dói um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói

Só um tapinha
Dói


18 - Caminhos Cruzados (Antonio Carlos Jobim, Newton Mendonça)

Quando um coração
Que está cansado de sofrer
Encontra um coração
Também cansado de sofrer
É tempo de se pensar
Que o amor pode de repente chegar

Quando existe alguém
Que tem saudade de alguém
E esse outro alguém não entender
Deixa esse novo amor chegar
Mesmo que depois
Seja imprescindível chorar

Que tolo fui eu
Que em vão tentei raciocinar
Nas coisas do amor
Que ninguém pode explicar
Vem, nós dois vamos tentar
Só um novo amor
Pode a saudade apagar


19 - Tigresa (Caetano Veloso)

Uma tigresa de unhas negras
E íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza
Que me aconteceu
Esfregando a pele de ouro marrom
Do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel

Enquanto os pelos dessa deusa
Tremem ao vento ateu
Ela me conta sem certeza
Tudo o que viveu
Que gostava de política
Em mil novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancin' Days

Ela me conta que era atriz
E trabalhou no Hair
Com alguns homens foi feliz
Com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração
Que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz
Que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis
Inventando um lugar
onde a gente e a natureza feliz
Vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão

As garras da felina
Me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina
Que ela disse não
E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento


20 - Trem das Cores (Caetano Veloso)

A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá
O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem
A Lua e a estrela, anel de turquesa

Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando, pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios
Ou pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos: Tocar na central
O céu de um azul, celeste celestial


21 - Samba de Verão (Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle)

Você viu só que amor
Nunca vi coisa assim
E passou, nem parou
Mas olhou só pra mim

Se voltar, vou atrás
Vou pedir, vou falar
Vou dizer que o amor
Foi feitinho pra dar

Olha, é como o verão
Quente o coração
Salta de repente para ver
A menina que vem

Ela vem, sempre tem
Esse mar no olhar
E vai ver, tem de ser
Nunca tem quem amar
Hoje sim, diz que sim
Já cansei de esperar
Não parei, nem dormi
Só pensando em lhe dar

Peço
Mas você não vem
Bem
Deixo então
Olho o céu, falo só
Mas você vem


22 - Menino do Rio (Caetano Veloso)

Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Dragão tatuado no braço
Calção, corpo aberto no espaço
Coração de eterno flerte
Adoro ver-te
Menino vadio
Tensão flutuante do Rio
Eu canto pra Deus proteger-te
O Havaí seja aqui
Tudo o que sonhares
Todos os lugares
As ondas dos mares
Pois quando eu te vejo eu desejo o teu desejo
Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção como um beijo


23 - Meu Rio (Caetano Veloso)

Meu Rio
Perto da favela do Muquiço
Eu menino já entendia isso
Um gosto de Susticau
Balé no Municipal
Quintino
Um coreto
Entrevisto do passar do trem
Nós nos lembramos bem
Baianos, paraenses e pernambucanos
Ar morno pardo parado
Mar pérola
Verde onda de cetim frio
Meu Rio
Longe da favela do Muquiço
Tudo no meu coração
Esperava o bom do som: João
Tom Jobim
Traçou por fim
Por sobre mim
Teu monte-céu
Teu próprio deus
Cidade
Vista do outro lado da baía
De ouro e fogo no findar do dia
Nas tardes daquele então
Te amei no meu coração
Te amo
Em silêncio
Daqui do Saco de São Francisco
Eu cobiçava o risco
Da vida
Nesses prédios todos, nessas ruas
Rapazes maus, moças nuas
O teu carnaval
É um vapor luzidio
E eu rio
Dentro da favela do Muquiço
Mangueira no coração
Guadalupe em mim é Fundação
Solidão
Maracanã
Samba-canção
Sem pai nem mãe
Sem nada meu
Meu Rio


24 - Gatas Extraordinárias (Caetano Veloso)

O amor me pegou
E eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Saio na noite à procura
O batidão do meu coração
Na pista escura

Se pego, ui
Me entrego e fui
Será que ela quererá
Será que ela quer
Será que meu sonho influi

Será que meu plano é bom
Será que é no tom
Será que ele se conclui

E as gatas extraordinárias
Que andam nos meios onde ela flui
Será que ela evolui, será que ela evolui
E se ela evoluir
Será que isso me inclui

Tenho que pegar, tenho que pegar
Tenho que pegar essa criatura
Tenho que pegar, tenho que pegar


25 - Língua (Caetano Veloso)

Gosto de sentir a minha língua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira
Fala!

Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes como Scarlet Moon Chevalier,
Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
E Maria da Fé e Arrigo Barnabé

Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode
Esta língua?

Incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Se você tem uma ideia incrível
É melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo
Meu medo!
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
Eu quero frátria
Poesia concreta e prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
Será que ele está no Pão de Açúcar
Tá craude brô você e tu lhe amo
Qué queu te faço, nego?
Bote ligeiro
Arigatô Arigatô
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Foto: IstoÉ.

26 - Cajuína (Caetano Veloso)

Existirmos - a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina:
A cajuína cristalina em Teresina


27 - Gente (Caetano Veloso)

Gente olha pro céu
Gente quer saber o um
Gente é o lugar
De se perguntar o um
Das estrelas se perguntarem se tantas são
Cada, estrela se espanta à própria explosão
Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar
De se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu pra amar
Marina Bethânia Dolores Renata Leilinha Suzana Dedé
Gente viva brilhando estrelas na noite
Gente quer comer
Gente que ser feliz
Gente quer respirar ar pelo nariz
Não meu nego não traia nunca essa força não
Essa força que mora em seu coração
Gente lavando roupa amassando pão
Gente pobre arrancando a vida com a mão
No coração da mata gente quer prosseguir
Quer durar quer crescer gente quer luzir
Rodrigo Roberto Caetano Moreno Francisco Gilberto João
Gente é pra brilhar não pra morrer de fome
Gente deste planeta do céu de anil
Gente, não entendo gente nada nos viu
Gente espelho de estrelas reflexo do esplendor
Se as estrelas são tantas só mesmo o amor
Maurício Lucila Gildásio Ivonete Agripino Gracinha Zezé
Gente espelho da vida doce mistério


28 - Eu e a Brisa (Johnny Alf)

Ah, se a juventude que esta brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor
De ser tão só pra ser um sonho
Daí então quem sabe alguém chegasse
Buscando um sonho em forma de desejo
Felicidade então pra nós seria

E depois que a tarde nos trouxesse a lua
Se o amor chegasse eu não resistiria
E a madrugada acalentaria a nossa paz
Fica, ó brisa, fica pois talvez quem sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim queira ficar


29 - Tropicália (Caetano Veloso)

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões, meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país

Viva a bossa, sa, sa
Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça

O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão

O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga,
Estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente,
Feia e morta,
Estende a mão

Viva a mata, ta, ta
Viva a mulata, ta, ta, ta, ta

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina

E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis

Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia

No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança a um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele pões os olhos grandes sobre mim

Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma

Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça

Porém, o monumento
É bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda, da, da
Carmen Miranda, da, da, da da


30 - Meia Lua Inteira (Carlinhos Brown)

Meia Lua Inteira
Sopapo na cara do fraco
Estrangeiro gozador
Cocar de coqueiro baixo
Quando engano se enganou
São dim dom dão São Bento
Grande homem de movimento
Martelo do tribunal
Sumiu na mata adentro
Foi pego sem documento
No terreiro regional
Poeira ra ra ra
Poeira ra ra ra
Terça-feira capoeira ra ra ra
Tô no pé de onde dé ra ra ra ra
Verdadeiro ra ra ra
Derradeiro ra ra ra
Não me impede de cantar ra ra ra ra
Tô no pé de onde dé ra ra ra ra ra
Bima berimba a mim que diga
Taco de arame cabaça barriga
São dim dom dão São Bento
Grande homem de movimento
Nunca foi um marginal
Sumiu na praça a tempo
Caminhando contra o vento
Sobre a prata capital


31 - Tempestades Solares (Caetano Veloso)

Você provocou
Tempestades solares no meu coração
Com as mucosas venenosas de sua alma de mulher
Você faz o que quer
Você me exasperou
Você não sabe viver onde eu sou
Então adeus
Ou seja outra:
Alguém que aguente o Sol


32 - Menino Deus (Caetano Veloso)

Menino Deus
Um corpo azul-dourado
Um Porto Alegre é bem mais que um seguro
Na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus
Quando tua luz se acenda
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia
A eletricidade ligada no dia
Em que brilharias por sobre a cidade

Menino Deus
Quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
E então, por um lapso, se encontrar anexo
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos de terna alegria no dia
Do menino Deus

Do menino Deus
Do menino Deus
No dia do menino Deus



Capa internacional.

Ficha Técnica

Uma produção Universal Music
dirigida por Jaques Morelenbaum e Caetano Veloso
Direção Artística: Max Pierre
Gerência Artística: Ricardo Moreira
Coordenação de Produção: Beth Araújo
Supervisão de Produção: Natasha Produções
Gravado ao vivo nos dias 15 de Julho de 2001 no DirecTV Hall, São Paulo e
06 e 07 de Agosto de 2001 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador.
Capa: Domenico e Zoy Anastassakis
Fotos show: Marcos Hermes; Fotos digitais: Quito Ribeiro
Coordenação Gráfica: Cá Alves Pinto
Agradecimentos: Albérico Mascarenhas, Heitor Reis, Lulu Santos e Scarlet Moon.



Postagens mais visitadas deste blog

O Leãozinho (Caetano Veloso)

Os Argonautas (Caetano Veloso)

Nicinha (Caetano Veloso)