2006 - Cê - Caetano Veloso
Cê foi lançado em setembro de 2006 e marca uma nova fase da carreira de Caetano Veloso. Ao lado de um grupo de jovens músicos (Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado), Caetano revigorou sua capacidade inventiva num disco visceral e pessoal, tornando-se Outro ao trajar sua personalidade adolescente em letras que tratam da angústia e do sexo a partir de uma discussão crítica a respeito do rock. Anos antes, tendo lido comentários de alguns dos seus ouvintes nos Estados Unidos, Caetano atentou para ressalvas à sua Rock'n'Raul (do disco Noites do Norte): os americanos lamentaram o fato do artista ter feito um rock, o que também serviu de estímulo para a criação do que veio a se tornar o Cê. A guitarra em tremolo picking de Minhas Lágrimas remete aos desertos da América do Norte e o verso ambíguo de Deusa Urbana faz referência à canção Por Causa Desta Cabloca, de Ary Barroso. Waly Salomão é homenagem ao poeta e amigo que foi velado na Biblioteca Nacional do Rio, ao som do Afroreggae, grupo de que era mentor. Não Me Arrependo, feita para Paula Lavigne, é a mais biográfica de todas e cita Walk On The Wild Side (de Lou Reed) na sua linha de baixo. As pessoas de Musa Híbrida e Um Sonho são Ildi Silva e Luana Piovani, respectivamente. Odeio, canção de amor, ganhou clipe e se tornou símbolo deste período. Caetano inspirou-se em Rita Lee ao fazer Homem e revela em sotaque lusitano o modo com os portugueses dizem prever o orgasmo na concisa Porquê?. O disco nascido de concepções de arranjos feitas por Caetano ao violão encerra com o épico O Herói, que tem como personagem principal um ativista do movimento negro. Mais do que um projeto de canções, Cê significou o começo de movimento para a regeneração: "inspirado em muita dor e capaz de me dar alegria".
Caetano: "Aconteceu o seguinte: eu estava excursionando com Pedro Sá já fazia duas temporadas, se não, três; além de conhecê-lo desde antes, dele já tocar no Tropicália 2, de eu já conhecê-lo desde criança porque ele é amigo de Moreno e nós somos de conversar (até conversas sérias) desde que ele tinha oito anos de idade porque ele ficava acordado de noite e eu tinha insônia também. Moreno estava dormindo e ele vinha conversar comigo. E depois ele se tornou um grande guitarrista, é um grande músico e tocava comigo... Terminei propondo a ele meio de brincadeira mas, depois, mais e mais a sério de nós fazermos um disco de rock a partir das nossas observações e críticas do que a gente achava interessante e tal. Sendo que foi um disco dos Pixies gravado na BBC de Londres (um disco de que ele gosta muito e que realmente é uma coisa linda, muito impressionante) que nos estimulou a ficar fantasiando com esse negócio. Eu disse a ele que eu criaria um repertório especial... Eu queria fazer um negócio assim fictício, mudar a minha voz, fazer um negócio de rock. Ficamos animados eu e Pedro. Até Moreno interferiu nisso, me animou a fazer o disco em meu próprio nome e a minha própria voz sem fazer modificações eletrônicas. Eu queria fazer mesmo clandestinamente pra ninguém saber quem era, como se fosse um negócio de rock. Aí, naturalmente, com a minha voz e sendo eu mesmo, dá uma grande baixada de bola no arrojo do projeto. Se fosse pra fazer uma banda fictícia, ia ser bem um negócio rock mesmo mais moderno pra dar uma sacudida no ambiente aqui no Brasil, mas terminamos não fazendo isso e o que restou de um pouco desse sonho, dessa brincadeira, foi o que veio a ser o Cê. Eu comecei a compor as canções e tinha muito embalo. Aquilo vinha com muita vivacidade na minha cabeça, as ideias dos temas musicais, as letras e o modo como eu achava que deveria ser tocado. E aí fiz aquelas canções. [...] O Cê é um disco que eu adoro. É um dos meus discos que eu mais gosto". (Caetano Veloso em entrevista para os seus 70 anos, 2012).
"Paul McCartney e Mick Jagger, Bob Dylan e Erasmo Carlos têm a minha idade, pouco mais, ou menos. E esses são os revitalizadores do rock (os pioneiros estão mortos ou muito mais velhos: Elvis, Jerry Lee, Chuck Berry...). Eu próprio, com as escolhas tropicalistas, contribuí para a revalorização do estilo indescritível criado por aqueles americanos meio malucos, meio débeis mentais, meio gênios dos anos 50. Agora cheguei exatamente à idade da famosa canção de McCartney: 64. Não há nada que qualquer um de nós faça hoje que não inclua “lidar com a velhice”. Cê não foi concebido especificamente para exercer essa função. É o disco que, sendo o mais fiel possível aos meus impulsos espontâneos, pude fazer agora. Sexo tem a ver com rock, rock tem a ver com Cê. Jovens têm mais vigor sexual. Mas não gosto de pensar que sexo é coisa de jovens. Sexo é um absoluto. A velhice vai chegando devagar, apresentando perdas que parecem terríveis. Para um homem que sempre teve uma visão super boa, passar a ter de usar óculos para ler foi uma humilhação e um desconforto. Depois que me acostumei, passei a sentir prazer com a passagem do fora-de-foco ao em-foco pela aproximação das lentes aos olhos. Afeiçoei-me aos óculos, entendi melhor que ser é gostoso. O envelhecimento traz desvantagens múltiplas, mas não creio que a gente deva botar tudo na conta da velhice: qualquer um pode ter tido os piores momentos de sua vida aos 32 ou aos 43, aos 17 ou aos 59 - e há casos de alegria insuspeita a partir dos 65. Uma coisa pelo menos é certa, que a gente aprende: dá mais tempo para tudo, mais do que a gente pensava quando tinha 22 anos [...]. E Cê dialoga com Los Hermanos e o funk carioca; com o mangue bit (beat?) e com o +2; com Lucas Santtana e o Primórdios de Marina; com Cidadão Instigado e Lulu Santos. Um disco agradável e desagradável; muito meu e diferente de mim; inspirado em muita dor e capaz de me dar grande alegria". (Caetano Veloso para a Revista Bravo!, 2006).
"Queria criar uma banda de rock que tivesse um som próprio, que desse um toque relevante para o panorama de criação de rock no Brasil do ponto de vista sonoro e estilístico. Timbrístico, também. E isso se deu. Nesse ponto, acho que fomos 100% bem-sucedidos. E precisava fazer um repertório que se adequasse a isso. O rock tem, desde o princípio, esse componente sexual quase como tema central – mesmo quando não é explicitado. Então, tendi a explicitá-lo em algumas letras. Gostava de estar fazendo canções em que esse tema aparecesse de uma maneira direta e intensa, com poucas informações, poucas imagens, poucas palavras. Gostava de fazer assim para este disco. Acho que a razão é mais essa. [...] Na teoria, o Cê parece estar namorando as tendências da atualidade, do rock pretensioso, da juventude independente. Dizendo assim, friamente, sem ter a materialidade do disco ou do show na sua frente, parece uma coisa de adaptação às últimas novidades para estar antenado, atualizado, para estar ‘in’, estar ‘agora’. Mas existe o disco real, existe o show real, e o fato é que, neles, isso não se deu. Meu disco não é isso. Não é porque não é. Não é porque não é isso que eu quero. Basta ouvir. [...] Queria fazer um trabalho com a banda de rock com as coisas concentradas, peças concisas, com uma linguagem direta e certa violência. Tinha a intuição estética do que queria e ia procurando. Os temas de separação, de brigas, estavam presentes na minha cabeça porque eu estava me separando. Mas, enquanto fazia, não considerava a maior parte daquelas coisas como diretamente ligada aos episódios da minha vida, embora alguns temas viessem com facilidade porque estavam no repertório da minha cabeça.” (Caetano Veloso para a Revista Rolling Stone, 2007).
“O CD tem essa vontade de buscar algo reduzido ao essencial. É como chamar alguém de “cê”, é invasivo e carinhoso ao mesmo tempo. O disco é assim. As canções têm muitos aspectos de rock, mas são minhas músicas, sobretudo. Algumas delas, como Rocks e Outro, se compostas e cantadas à maneira dos grupos pop, seriam bons exemplos de rock.” (Caetano Veloso para o Jornal do Brasil, 2006).
"Estou tocando com músicos que podiam fazer aquilo que eu estava interessado em fazer. Eles foram escolhidos por mim e pelo Pedro Sá, dois caras, um velho e um jovem, mas dois adultos. Eu tenho 64, ele 33. Conhecemos música e estamos olhando muitas coisas em conjunto. Fui amigo de Vinicius [de Moraes] quando era novinho, e a casa dele vivia cheia de gente jovem. [...] Estou vivendo um momento interessante. Consegui fazer esse disco, descobri que sou capaz de concentrar minhas energias. Cê é um disco de energias concentradas. Estou com esperança de poder organizar um pouco melhor a minha vida pessoal daqui pra frente." (Caetano Veloso para a Revista RG Vogue, 2006).
"Cê é um dos meus trabalhos que mais gosto. Foi um negócio que se originou dessas conversas com Pedro Sá. A gente queria fazer um negócio com rock’n’roll e, como já contei, eu queria fazer quase que como um personagem. A gente pensava em fazer sob pseudônimo, mudando o som da voz eletronicamente, mas nem chegamos a tentar isso. Desisti antes de começar a fazer. A gravadora não se meteu em nada. Foi mais eu mesmo, eu e Moreno. Ele disse: 'Pai, faz com sua voz mesmo, quanto mais você fizer do seu jeito, melhor vai ficar". Eu acharia interessante fazer esse heterônimo, né? Às vezes penso em fazer heterônimo, eu penso tantas coisas. Mas não, nunca fiz. Adoraria já ter feito e ninguém ter percebido, estaria feliz aqui com isso se tivesse feito. Se fizesse, não deixaria ficar muito tempo sem ninguém saber. Um tempo depois eu ia dizer. Sabe o que acontece com o Cê? Eu tenho muito orgulho dele, porque as composições e a concepção dos arranjos foram na verdade mesmo minhas, porque nasceram antes da gente reunir a banda. Pedro, Marcelo e Ricardo sabem disso muito bem. Eu mostrei a Pedro, dizendo como é que eu queria. E aí ele escolheu os outros dois músicos. E, quando nós testamos com eles, era 1000% do que a gente esperava. Entendiam tudo o que eu falava e dava tudo certo, conheciam tudo a que eu me referia, melhor do que eu. Então foi uma maravilha, mas eu tenho um orgulho das composições e das concepções de arranjo serem tão sucintas, coesas e inspiradas... e concentradas, entendeu? O disco posterior já é um disco mais variado, mas o Cê tem um negócio de golpe de karatê!" (Depoimento para a Coleção Caetano Veloso 70 anos, 2012).
"Chama Cê porque, em primeiro lugar, a palavra 'você' na linguagem coloquial a gente usa apenas a segunda sílaba. A gente chama a pessoa de 'cê'. Mais do que 'você'. Então, em alguma letra de música - mais de uma - apareceu a palavra só com essa sílaba. E, depois, é a letra que é a inicial do meu nome. Eu já tenho um disco chamado 'Caetano', aí reduzir pra 'cê' que é 'você' e, ao mesmo tempo, é o nome da letra inicial do meu nome, eu achei que era bonito, que ficava super conciso assim, entendeu? E depois eu descobri um outro negócio que você não sabe. Quando Einstein fez aquela famosa fórmula E = mc², ele usou pra velocidade da luz a letra 'c', enigmaticamente, porque ele não disse nos textos que escreveu porque ele escolheu a letra 'c'. Um jornalista americano escrevendo um livro sobre Ciência, ele conta que o próprio Einstein não escreveu sobre isso, mas há pessoas que dizem tê-lo ouvido dizer que ele partiu do termo latino 'celeritas'. O fato é que 'c' é velocidade da luz. [...] Cê tem um parentesco grande com o Transa pelo fato de ser, como o Transa, um disco de banda. Um disco de banda pequena e todo ele feito com a mesma sonoridade dessa banda. [...] Pedro Sá foi crucial junto a mim pra fazer com que aquilo tivesse o resultado que o Tom Zé tanto louvou: deixar a área timbrística da voz sempre livre, sempre desimpedida de som. Eu não preciso sempre gritar ou brigar contra a massa sonora da banda de rock. Aquilo está feito de maneira contrapontística que é muito sofisticada. O Tom Zé foi esperto como crítico. Ele observou o aspecto mais louvável, talvez a única coisa propriamente relevante do ponto de vista musical dessas invenções. Eu posso cantar alto, baixo, médio. Tudo acontece e tudo se torna musicalmente inteligível e fisicamente audível. Isso é uma façanha, não é pouca coisa, não. Nesse ponto, eu acho que aqui no Cê tem lição pra qualquer banda de rock brasileira e até não brasileira." (Caetano Veloso em entrevista para os Extras do DVD "Multishow Ao Vivo: Cê", 2007).
Foto: Ana Carolina Fernandes/Folhapress.
Manuscritos de Cê. Foto: Marcus Preto.
Release
Há canções demais nesse mundo. Eu próprio já fiz uma quantidade ridícula delas. Quase sempre com muita ambição e pouco cuidado. Tento não fazer mais tantas. Penso muito em cantar canções já existentes, pois cantar me dá prazer (só não me dá mais porque não canto tão bem quanto acho que se deve cantar). Mas tenho hábito e necessidade de fazer canções. Em parte para tentar pôr as já feitas por mim numa perspectiva mais favorável, isto é: melhorá-las.
Gosto de "Coração Vagabundo", de "Uns", de quase todas as canções que fiz para o filme "Tieta do Agreste" e de algumas que fiz para "Orfeu". Gosto de "13 de Maio" e das novas que fiz para o disco gravado com Jorge Mautner. Me orgulho (o que é diferente de "gosto") de "Tropicália", "Terra", "Haiti", "Baby", "Fora da Ordem", "Livros". Gostaria que mais gente conhecesse "Motriz", "Mansidão", "Meu Rio", "Um Tom". Mas a impressão geral é de quase irrelevância.
No entanto, agora fiz esse "cê" com 12 músicas novas. Admito que já devia estar com vontade de fazer isso, pois na excursão do "A Foreign Sound" eu dizia, em todas as apresentações, que planejava fazer um disco "todo em português, todo de sambas, todos meus, todos inéditos". Era uma piada por causa do disco de canções americanas. Mas a verdade é que comecei a escrever sambas para um CD novo. Um deles, "Diferentemente", eu cantava no próprio show em que anunciava isso. Decidi que seriam 16 - e que o disco se chamaria "Dezesseis Sambas". Por um motivo ou por outro, fui me afastando dessa idéia. Ao menos por enquanto. Além de "Diferentemente" (que não entrou no "cê"), eu tinha feito um ("Luto") que dei pra Gal gravar, outro ("Tiranizar") em parceria com Cézar Mendes - e comecei mais uns quatro que ficaram inacabados. "Musa Híbrida" é o único que poderia ter ido para aquele disco e veio para este.
As canções de "cê" são em geral curtas e foram compostas com a formação guitarra/baixo/bateria (e eventual teclado) em mente. Mostrei as músicas a Pedro Sá já com as linhas de arranjo esboçadas (às vezes definidas) no violão. Têm, quanto a isso (mas não só quanto a isso), parentesco com as composições de rock. Suponho que elas tenham a mesma atitude desabusada que, na época do tropicalismo (e também depois), me levava a dar mostras de interesse pela cultura de massas dominante (a dos países ricos - e às vezes até dos pobres - de língua inglesa), mas sem submeter-me a ela, nem mesmo tornar-me um especialista nela. Claro que hoje, velho, sei mais coisas do que sabia aos 24. E sei fazer melhor. Mas se alguém achar que o ar de revisão do rock dos anos 80 sob um critério punk é um lugar-comum dos grupos atuais que não evitei adotar em muitos momentos, estará certo. Não se trata, porém, de um disco de rock como os que ouço e me interessam: as músicas são minhas, minha voz continua a mesma, meus cabelos estão mais brancos do que pretos, menos cacheados e sempre mais curtos do que quando os tinha longuíssimos - ou mais longos do que quando decidi usá-los curtos.
Pedro Sá e Moreno são meus filhos (este último, biologicamente falando; nenhum dos dois no sentido artístico: são filhos na acepção familiar do termo). Estão nos seus trinta: têm uma vivência direta dos caminhos que tomou o gosto musical nas últimas décadas - e intervenções pessoais notáveis na orientação desses caminhos. Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado estão nos seus vinte. Foi Pedro quem sugeriu seus nomes quando ouviu meus temas e minhas idéias. E nossa comunicação foi tão clara que em poucos minutos de ensaio as peças ficavam prontas para ser gravadas. Todas. Nem uma só emperrou. Todos traziam logo idéias que levavam as minhas até as últimas e melhores conseqüências.
Esse disco é resultado de muitas conversas que tive com Pedro Sá nesses anos em que ele tem tocado comigo (desde "Noites do Norte"). Comentávamos o que ouvíamos, ouvíamos algumas coisas juntos, finalmente falamos em fazer um disco marcando posição na discussão crítica do rock. Seria o disco de uma banda fictícia, onde às vezes ele cantaria, às vezes eu (num personagem diferente e com a voz eletronicamente modificada), às vezes algum outro músico que viéssemos a convidar para compor a banda. Faríamos como os Gorillaz (aliás, gosto muito de Gorillaz). Pensei em fazer isso enquanto gravava o disco de sambas, numa perfeita clandestinidade. Contaríamos muito com a utilidade do pro-tools.
Ao mesmo tempo, eu sonhava fazer uma outra coisa totalmente diferente disso: um disco chamado "Novas Canções Sentimentais", todo voz-e-violão, todo de canções românticas feitas por mim, mas que parecessem essas lindas de Peninha ou de Fernando Mendes que gravei com grande sucesso comercial. Só "Tá Combinado" era uma canção já existente que entraria nesse projeto. Todo o mundo gosta de fazer sucesso. E a mim me traz felicidade poder fazer o que agrada a muita gente, ver que muitas pessoas me ficam gratas e gostando de mim. Sei que um disco assim teria receptividade fácil aqui e na Europa, no Japão (nos Estados Unidos também, possivelmente, dependendo da nitidez da execução e de haver pistas claras quanto ao que fosse sinceridade e ao que fosse ironia), talvez só na Inglaterra ninguém entendesse nada, como acontece freqüentemente. Ainda penso em fazer um disco assim. Mas é um projeto muito solitário. E eu a toda hora me inspirava mais para compor canções do tipo das que iriam pro disco clandestino de rock. Terminei fazendo um disco meu (não tenho esse espírito combativo todo para entrar na clandestinidade), com muito do que veio desse tipo de inspiração, uma canção que transbordou do pacote de sambas ("Musa Híbrida") e outra que meio veio do imaginário grupo das "Novas Canções Sentimentais" ("Não Me Arrependo") - sendo que esta última é (com "Minhas Lágrimas") um dos raros momentos autobiográficos de um disco que é quase a obra de um heterônimo. E, seguindo o caminho de purificação do som que Pedro e Moreno foram abrindo, gravamos tudo em fita larga, sem pro-tools.
Todas as músicas do CD são tocadas pelos mesmos três músicos: Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado. E eu, claro, que, além de cantar (às vezes com Pedro, às vezes com Marcelo - só Ricardo não cantou no disco), toco meu velho violão, puxando as cordas (nunca consegui tocar batendo nas cordas como toda a geração rock e pós-rock faz), quase sempre as de náilon, mas, por duas vezes, umas de aço (com que não tenho nenhuma intimidade). Temos vontade de fazer o mesmo no palco. A única participação especial é de Jonas Sá, na faixa "O Herói", em que ele, atendendo a uma sugestão de Moreno, faz aqueles vocais angelicais à Stevie Wonder (quando a contra-ironia chega ao auge) e, depois, na mesma faixa, aqueles vocais diabólicos (quando a dor do herói salta pra fora da tensão ironia/não-ironia) que fecham o álbum. Acho que "cê" é o único álbum meu, até agora, em que só há canções feitas por mim sozinho. (Caetano Veloso, 2006).
Foto: Daniel Klajmic/Revista Rolling Stone.
A BandaCê
Pedro Sá (Guitarra)
Ricardo Dias Gomes (Baixo e piano rhodes)
Marcelo Callado (Bateria)
Caetano Veloso e BandaCê. Foto: Javier Scian.
Lista de Músicas
1 - Outro
2 - Minhas Lágrimas
3 - Rocks
para Zeca
4 - Deusa Urbana
5 - Waly Salomão
6 - Não Me Arrependo
7 - Musa Híbrida
para Antônio Risério
8 - Odeio
9 - Homem
10 - Porquê?
11 - Um Sonho
12 - O Herói
Todas as letras e músicas foram compostas por Caetano Veloso.
Vamos às Letras.
1 - Outro
Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você
Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você
Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você
De cara alegre e cruel
Feliz e mau como um pau duro
Acendendo-se no escuro
Cascavel
Eriçada na moita
Concentrada e afoita
Eu já chorei muito por você
Também já fiz você chorar
Agora olhe pra lá porque
Eu fui me embora
Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você
2 - Minhas Lágrimas
Desolação de Los Angeles,
A Baixa Califórnia e uns desertos ilhados por
Um pacífico turvo
A asa do avião
O tapete cor de poeira de dentro do avião
A lembrança do branco de uma página
Nada serve de chão
Onde caiam minhas lágrimas
Comentário do autor: "Eu estava no avião chegando em Los Angeles, vendo Los Angeles de cima, o avião descendo... E eu tive necessidade de escrever alguma coisa sobre aquilo, uma música sobre a visão daquilo. Tem coisas que são assim. Aquilo por acaso... Eu estava cansado no avião, vulnerável, sozinho e aí olhando assim pra baixo me deu uma emoção estranha que eu só poderia resolver se eu fizesse alguma música." (Caetano Veloso no documentário "Coração Vagabundo", 2008).
3 - Rocks
Tatuou um ganesh na coxa
Chegou com a boca roxa de botox
Exigindo rocks
Animais, Metais
Totais, Letais
Eu não dei letra
Tu é gênia, gata, etc
Mas cê foi mermo rata demais
Meu grito inimigo é
Você foi
Mó rata comigo
Você foi
Mó rata comigo
Você foi
Mó rata comigo
Você foi concreta
E simplesmente
Rata comigo demais
Rata comigo demais
Rata comigo demais
Rata
Comentário do autor: "Faço as canções que posso fazer. Desta vez, compus pensando no que a banda faria. Esboçava no violão. As letras vieram do desejo de criar textos curtos, mas intensos. Experiências da vida e observações da realidade deram os temas. Já disse que todas as minhas músicas são autobiográficas: mesmo as que não são, são. Quando canto "odeio você", estou mostrando que entendo melhor agora como o ódio é a outra face do amor. Muitas imagens físicas vêm de memórias recentes e muito vivas (os golfinhos, as cores, as pessoas). Outras (como em Um Sonho) vêm da fantasia. Rocks é claramente um comentário com humor sobre eu estar formando uma banda com pinta roqueira. E o desaforo "você foi mor rata comigo", uma homenagem à linguagem do meu filho Zeca e seus amigos de 15 anos. Ecoa, com graça, os temas de uma separação, mas não é, em nenhuma medida, um complemento do diálogo da minha separação real. Isso também acontece em Outro. Mas Não Me Arrependo e Waly Salomão se referem diretamente a fatos concretos." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2007).
4 - Deusa Urbana
Com você eu tenho medo de me apaixonar
Eu tenho medo de não me apaixonar
Tenho medo dele, tenho medo dela
Os dois juntos onde eu não podia entrar
Com você eu tenho mesmo que me conformar
Eu tenho mesmo que não me conformar
Sexo heterodoxo, lapsos de desejo
Quando vejo o céu desaba sobre nós
Mucosa roxa, peito cor de rola
Seu beijo, seu texto, seu queixo, seu pêlo,
Sua coxa
Menina deusa urbana, neta do sol
Eu sou você e os meus rivais
Sou só
5 - Waly Salomão
Meu grande amigo
Desconfiado e estridente
Eu sempre tive comigo
Que eras na verdade
Delicado e inocente
Findaste o teu desenho
E a tua marca sobre a terra resplandece
Resplandece nítida e real
(Entre livros e os tambores do vigário geral)
E o brilho não é pequeno
Eu sigo aqui e sempre em frente
Deixando minha errática marca de serpente
Sem asas e sem veneno
Sem plumas e sem raiva
Suficiente
Comentário do autor: "Waly me fora anunciado como João Gilberto: um colega do clássico (Wanderlino) me disse que eu, que gostava de coisas loucas, precisava conhecer um sujeito maravilhoso, um conterrâneo seu (da cidade de Jequié, no interior da Bahia) que tinha muito a ver comigo. Ficou de trazê-lo até o Severino Vieira (Waly estudava no Central) para fazer as apresentações. Depois de uns dois alarmes falsos, finalmente nos encontramos. Wanderlino falara-lhe também de mim. Waly não me decepcionou, mas me parece que, embora não o tenha desagradado, eu não o entusiasmei. Wanderlino sabia mais do que nós: em pouco tempo, Waly e eu tínhamos nos tornado amigos e o somos até hoje. Sua capacidade de surpreender com associações de ideias insuspeitas e reveladoras, seu humor genuinamente anárquico e de uma inteligência que mete medo, enfim, toda a sua imensa energia tão destrutiva quanto enriquecedora me apaixona." (Caetano Veloso. Livro: Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997).
"Me emocionava muito a brincadeira que ele fazia, de que Deus não dava asa à cobra, mas a esta aqui..., gritando e apontando para mim." (Caetano Veloso para O Estado de S. Paulo, 2006).
6 - Não Me Arrependo
Eu não me arrependo de você
Cê não me devia maldizer assim
Vi você crescer
Fiz você crescer
Vi cê me fazer crescer também
Pra além de mim
Não, nada irá nesse mundo
Apagar o desenho que temos aqui
Nem o maior dos seus erros
Meus erros, remorsos
O farão sumir
Vejo essas novas pessoas
Que nós engendramos em nós
E de nós
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz
Nada, nem que a gente morra
Desmente o que agora
Chega à minha voz
Comentário do autor: "Eu estou apaixonado por Bob Dylan. Adorei aquele documentário sobre ele feito pelo Martin Scorsese. Timidamente, até insinuei uma imitação do jeito dele cantar em Não Me Arrependo." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 2006).
"Já estava com o repertório quase fechado quando a compus. Foi nessa que eu me entreguei mais, falei coisas que tinham a ver com minha vida pessoal. Fiz essa letra para Paula." (Caetano Veloso para a Revista Quem, 2006).
"Foi o Tom quem armou o negócio. Ele ficava muito aqui comigo, eu vou à casa deles, continuo trabalhando com Paulinha, mas esse assunto de canções, sobre o que elas falam, me parece um ponto sensível demais. Tom acompanhou de perto a confecção do disco, aprendeu as canções - tem até uma foto dele no encarte do CD - e pediu, em Londres, para que eu cantasse Minhas Lágrimas para Paulinha. Depois pediu Não Me Arrependo. Pedi que ele cantasse também. Ela ouviu Não Me Arrependo em dueto. Foi um momento muito íntimo da gente." (Caetano Veloso para a Revista RG Vogue, 2006).
7 - Musa Híbrida
Musa híbrida
Musa híbrida
De olho verde e carapinha cúprica
Cúprica cúprica cúprica
Onça onça
A minha voz tão fosca
Brilha por teus lábios bundos
A malha do teu pêlo
Dongo, congo, gê, tupi, batavo, luso, hebreu e
Mouro
Se espalha pelo mundo
Vamos refazer o mundo
Teu buço louro
Meu canto mestiçoso
Tu, onça tu
Eu, jacaré eu
Tu, onça tu
Eu, jacaré
8 - Odeio
Veio um golfinho do meio do mar roxo
Veio sorrindo pra mim
Hoje o sol veio vermelho como um rosto
Vênus, diamante, jasmim
Veio enfim o e-mail de alguém
Veio a maior cornucópia de mulheres
Todas mucosas pra mim
O mar se abriu pelo meio dos prazeres
Dunas de ouro e marfim
Foi assim, é assim, mas assim é demais também
Odeio você, odeio você, odeio você
Odeio
Veio um garoto do arraial do cabo
Belo como um serafim
Forte e feliz feito um deus, feito um diabo
Veio dizendo que sim
Só eu, velho, sou feio e ninguém
Veio e não veio quem eu desejaria
Se dependesse de mim
São Paulo em cheio nas luzes da Bahia
Tudo de bom e ruim
Era o fim, é o fim, mas o fim é demais também
Odeio você, odeio você, odeio você
Odeio
Comentário do autor: "Se você sofre uma perda amorosa e o mar está violentamente azul, e o sol, e as pessoas que passam são bonitas, isso dói muito mais. O único jeito de você lembrar daquela pessoa que você ama, e a intensidade de amor real, é poder sentir que odeia aquela pessoa na exuberância das outras coisas. As imagens que me vinham eram as de Fernando de Noronha onde tinha estado dois anos antes de me separar. E me lembro de lá como um dos lugares mais deslumbrantes da minha vida. Eu não estava lá [quando fez a música], mas meus dois filhos menores e minha ex-mulher estavam. E eu fiquei pensando nisso. Na verdade, me coloquei no lugar deles, porque eu é que não estava com eles. Não era eu odiando alguém. Entendeu como é o processo? É muito indireto, jamais faria um negócio agressivo diretamente para uma pessoa, tornando público, como se fosse uma briga. Nesse ponto, a Paulinha sabe, ela é muito esperta para saber a distância entre uma canção e a vida. [Ainda sobre esse assunto, Caetano conta que, quando mostrou, ao violão, a canção Odeio a Jorge Mautner, este teve uma crise de choro]. Depois, quando mostrei já gravada, ele chorava mais ainda. Mautner acha bonito que, na hora que entra no refrão dizendo ‘odeio você’, a canção, em vez de subir, desça e fique mais próxima, mais terna. Então ele dizia: "A gente sabe que dizer ‘odeio você’ é a maneira mais próxima de dizer ‘amo você’. Parece um carinho". Ele chorava lágrimas. E, na verdade, Jorge tem razão. Quando fiz a música, pensava justamente em como esses sentimentos de amor se convertem em ódio com muita facilidade. É o avesso da mesma fazenda. E a gente sabe disso, todo mundo sabe, mas nesse período eu pensava muito nisso, e sentia. Ou melhor, eu próprio não sentia isso, estava imaginando o que se sente, porque quando você tem briga de amor, tem muitas raivas. Mas não era o caso no período dessa música, não era isso. Estava pensando em como acontece isso com as pessoas, e não estava sentindo tanto assim em mim. Achava que o fato de haver tanto amor e estar desfazendo, que aquilo criava uma maneira de dizer o amor como ‘odeio’.” (Caetano Veloso para a Revista Rolling Stone, 2007).
9 - Homem
Não tenho inveja da maternidade
Nem da lactação
Não tenho inveja da adiposidade
Nem da menstruação
Só tenho inveja da longevidade
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
Eu sou homem
Pele solta sobre o músculo
Eu sou homem
Pêlo grosso no nariz
Não tenho inveja da sagacidade
Nem da intuição
Não tenho inveja da fidelidade
Nem da dissimulação
Só tenho inveja da longevidade
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
Eu sou homem
Pele solta sobre o músculo
Eu sou homem
Pêlo grosso no nariz
Comentário do autor: "Prefiro ter nascido homem, mas invejo a longevidade da mulher. Tem lugar onde elas vivem mais de dez anos do que a gente." (Caetano Veloso para a Revista Quem, 2006).
"Tem um livro sobre rock muito interessante de uma mulher chamado "I'm a man", e até faço uma remota homenagem a essa mulher na música Homem." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2006).
10 - Porquê?
Estou me a vir
E tu como é que te tens por dentro?
Porquê não te vens também?
Comentário do autor: "Ora, a canção é séria, sobre um assunto sério e, para mim, tem mais valor por causa da observação linguística. É que nós, brasileiros, usamos o verbo "gozar", assim como os franceses usam "jouir", com o significado de alcançar o orgasmo. Esses verbos se referem à curtição, à fruição do momento do orgasmo, enquanto que o equivalente inglês, "to come", parece o ponto final de alguma coisa, assim como o espanhol "acabar". Mas os portugueses dão a volta por cima nessa questão, pois usam o verbo "vir", na forma reflexiva: vir-se. A pessoa se vem. Acho isso muito bonito. E o tal crítico só pode ter pensado que se tratava de uma piada por supor que tudo o que se fala com sotaque lusitano é uma piada. É a interpretação mais vulgar que uma canção tão invulgar poderia ter encontrado. Um amigo meu, casado com uma portuguesa, ontem me telefonou para dizer que sua mulher achava Porquê? muito bonita, pois já tinha ouvido canções em inglês e em francês que se referiam a isso, mas nunca em português. [...] Para mim é importante que os brasileiros passem a conhecer a expressão portuguesa 'vir-se' e que os portugueses ouçam um brasileiro cantá-la." (Caetano Veloso para a Revista RG Vogue, 2006).
11 - Um Sonho
Lua na folha molhada
Brilho azul-branco
Olho-água, vermelho da calha nua
Tua ilharga lhana
Mamilos de rosa-fagulha
Fios de ouro velho na nuca
Estrela-boca de milhões de beijos-luz
Lua
Fruta flor folhuda
A trilha de alcançar-te
Galho, mulher, folhos, filhos
Malha de galáxias
Tua pele se espalha
Ao som de minha mão
Traçar-lhe rotas
Teu talho, meu malho
Teu talho, meu malho
O ir e vir de tua
O ir e vir de tua ilha
Lua
Toda a minha chuva
Todo o meu orvalho
Cai sobre ti
Se desabas e espelhas da cama
A maravilha-luz do meu céu
Jabuticaba branca
Comentário do autor: "Eu tinha ela sem achar que fosse possível de ser tocada por aquela banda e, especificamente, Ricardo e Pedro inventaram um jeito de tocar que fizeram da música uma outra coisa e fizeram com que essa coisa fosse compatível com o disco Cê." (Caetano Veloso em entrevista para os Extras do DVD "Multishow Ao Vivo: Cê", 2007).
12 - O Herói
Nasci num lugar que virou favela
Cresci num lugar que já era
Mas cresci a vera
Fiquei gigante, valente, inteligente
Por um triz não sou bandido
Sempre quis tudo o que desmente esse país
Encardido
Descobri cedo que o caminho
Não era subir num pódio mundial
E virar um rico olímpico e sozinho
Mas fomentar aqui o ódio racial
A separação nítida entre as raças
Um olho na bíblia, outro na pistola
Encher os corações e encher as praças
Com meu Guevara e minha Coca-Cola
Não quero jogar bola pra esses ratos
Já fui mulato, eu sou uma legião de ex-mulatos
Quero ser negro 100%, americano
Sul-africano, tudo menos o santo
Que a brisa do Brasil beija e balança
E no entanto, durante a dança
Depois do fim do medo e da esperança
Depois de arrebanhar o marginal, a puta
O evangélico e o policial
Vi que o meu desenho de mim
É tal e qual
O personagem pra quem eu cria que sempre
Olharia
Com desdém total
Mas não é assim comigo
É como em plena glória espiritual
Que digo
Eu sou o homem cordial
Que vim para instaurar a democracia racial
Eu sou o homem cordial
Que vim para afirmar a democracia racial
Eu sou o herói
Só Deus e eu sabemos como dói
Comentário do autor: "Não é um hap como Haiti, por exemplo. A sua base tem elementos de choro. Apesar disso, é a única canção política do disco. Ela é sobre a importância de reconhecer onde há atrito racial e onde ele está camuflado. No fim há uma virada, que reafirma a harmonia racial que conhecemos no Brasil. Acho nocivo criar atritos raciais desnecessários.” (Caetano Veloso para o Jornal do Brasil, 2006).
"É como se fosse a trajetória de um ativista do movimento negro que, depois de se opor a todas as ilusões da harmonia racial brasileira, termina reafirmando-se como o homem cordial e instaurador da democracia racial. É como se ele atravessasse o processo inteiro e no fim chegasse a uma coisa a que só um brasileiro poderia chegar." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 2006).
Caetano no clipe de Odeio.
Foto: Arquivo pessoal de Giovana Chanley.
Foto: Fernanda Negrini.
Foto: Jornal do Brasil.
Ficha Técnica
Uma produção Universal Music dirigida por Pedro Sá e Moreno Veloso
Arranjos: Caetano Veloso, Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes
Direção Musical: Pedro Sá
Direção Artística: Max Pierre
Gerência Artística: Daniel Silveira
Coordenação Executiva: João Franklin e Giovana Chanley
Gravado e mixado no AR Estúdios (Rio de Janeiro)
Técnico de gravação: Daniel Carvalho
Assistentes de gravação: Leonardo Moreira, Fernando Fischgold, Bruno Stheling e Igor Ferreira
Roadie: Amilcar Cruz (Pimpa)
Coro de O Herói gravado no kong-dub por Jonas Sá
Assistente de gravação: Letícia Kling
Mixado por Daniel Carvalho e Moreno Veloso
Masterizado por Ricardo Garcia no Magic Master
Concepção da capa: Caetano Veloso
Realização gráfica: Pedro Einloft
Coordenação gráfica: Gê Alves Pinto e Geysa Adnet
Em Outro, Marcelo Callado faz a segunda voz.
Em Deusa Urbana, Caetano faz a segunda voz.
Em Waly Salomão, Pedro Sá e Caetano fazem o coro.
Nas faixas Não Me Arrependo e Porquê?, Pedro Sá toca baixo.
Participação especial de Jonas Sá (coro e arranjo vocal em O Herói).
Todas as músicas compostas por Caetano Veloso e editadas por Uns Produções Artísticas.