2008 - Roberto Carlos e Caetano Veloso e as músicas de Tom Jobim
Roberto Carlos e Caetano Veloso e a música de Tom Jobim (2008) comemorou os cinquenta anos da Bossa Nova num espetáculo gravado no Auditório Ibirapuera (São Paulo) e lançado em CD e DVD pela Sony Music. Os arranjos e regências do show (que trouxe orquestra de cordas de 21 músicos e bandas de Caetano e Roberto) são dos maestros Jaques Morelenbaum e Eduardo Lages, que construíram o show o mais próximo possível do pensamento de Tom. Águas de Março foi interpretada por Daniel Jobim, neto de Tom, ao piano. Caetano escolheu cantar Por Toda a Minha Vida, Ela é Carioca, Inútil Paisagem (inspiração de Paisagem Útil - feita por Caetano nos anos 60), Meditação (gravada em Prenda Minha) e O Que Tinha de Ser. O show tinha que encerrar com Chega de Saudade em dueto.
""Roberto está muito cuidadoso, empenhado. E preocupado com o bem-estar de Caetano. Diz coisas como "vamos deixar esta parte para Caetano, ele vai fazer muito bem." - diz Lages. Do lado de Caetano, Morelenbaum testemunha: "Percebo o olhar de Caetano quando, nos duetos, pára de cantar e observa Roberto assumir a canção. É um olhar de deleite. É emocionante ver artistas tão grandes fazendo essa deferência um ao outro. E a Tom."" (Jornal O Globo, 2008).
Trechos da entrevista de Caetano e Roberto para Nelson Motta
Veiculada na Globonews em 2009
Nelson: Roberto, quando você foi chamado para fazer um show em homenagem ao Tom Jobim com o Caetano, qual foi a sua primeira reação?
Roberto: Eu fiquei primeiro muito preocupado porque a responsabilidade é realmente muito grande, né? Responsabilidade grande de fazer um show cantando bossa nova, cantando as músicas de Tom Jobim, mas depois eu fui me acalmando (ri) e disse: 'bom, quando eu comecei minha carreira cantava essas músicas lá no Plaza (boate em Copacabana), né? Cantava bossa nova... então acho que posso encarar sim'. Aí animei.
Nelson: E nas escolhas das músicas? Qual foi o seu critério?
Roberto: Bem, eu fui nas músicas que tem mais a ver comigo. Músicas mais românticas como Eu Sei Que Vou Te Amar, Por Causa de Você e Insensatez, que é uma música que eu gravei em espanhol. Então eu fui ficando mais à vontade.
Caetano: Quem segurou minha onda foi o Jaquinho (Jaques Morelenbaum). Ele fez os arranjos, ensaiei com a banda com ele e depois no dia que ensaiamos no teatro juntos (aponta para Roberto) com orquestra. Eu fiquei com mais medo que você, podes crer.
Nelson: Caetano, vocês tem uma longa história de amor, de amizade. As primeiras vezes que vocês se encontram foram naqueles festivais de música?
Caetano: Acho que foi. A primeira vez que a gente se encontrou acho que foi nos bastidores da TV Record, nos festivais de música.
Nelson: Você chegou a cantar na jovem guarda, Caetano?
Caetano: Cheguei a cantar. Tive a glória de subir no queijinho onde só subiam Roberto, Erasmo e Wanderléa no final. Eu acho que (foi) por gratidão, porque nós tínhamos feito aquela onda de recuperar criticamente a jovem guarda que era adorada pelo povo, mas criticamente não tinha o prestígio que merecia.
Roberto: É verdade, é verdade.
Caetano: Nós fizemos esse esforço e isso foi uma das grandes conquistas do tropicalismo, né? Isso foi um gesto fundamental do negócio tropicalista: dotar criticamente a jovem guarda. Não sei se por gratidão a isso, o Roberto chamou 'sobe aqui, bicho!', eu subi e fiquei orgulhosíssimo. Eu fiz umas três vezes a jovem guarda.
Nelson: E foi, Roberto? Isso foi importante mesmo para você?
Roberto: Muito importante. Quando Caetano falou bem da jovem guarda, falou coisas bonitas, isso realmente mudou muito porque inclusive a gente passou a ser mais respeitado.
Nelson: Caetano, a amizade de vocês se aprofundou bastante quando você estava exilado em Londres, você e o Gil. Que eu me lembre, o Gil reagiu bem ao exílio, ele participava daqueles festivais todos e me lembro de você sofrendo mais, mais triste no exílio. Como recebeu o Roberto Carlos na sua vida lá no exílio?
Caetano: Roberto Carlos foi uma aparição incrível. Acontece o seguinte: eu ia aos festivais também, eu ia assistir aos shows em Londres, mas eu estava muito triste. Gil não estava assim, mas eu estava.
Nelson: Você achava que poderia ficar muitos anos no exílio?
Caetano: A gente não tinha ideia de quando ia voltar para o Brasil. No princípio não tinha nenhuma ideia. Eles me puseram dentro do avião, o sujeito da polícia federal que me pôs dentro do avião disse assim: 'olhe aqui, não volte. Se você voltar, dirija-se diretamente ao departamento de polícia federal para evitar trabalho de um dia de te caçar e te pegar'. Foi uma saída ruim, evidentemente. Então eu estava mal, estava triste. Isso para mim era um negócio horroroso. O Roberto aparecer...
Nelson: Aí tocou o telefone...
Caetano: Aí a Rosa Maria Dias, que hoje é mulher do Julinho Bressane, ela que atendeu o telefone. Ela que atendeu o telefone. Ela morava em minha casa porque era mulher do Péricles Cavalcanti.
Nelson: Ela acreditou ou achou que era trote? (ri).
Caetano: Ela talvez não tenha acreditado logo no primeiro momento, mas depois ela ficou chorando porque ela ficou emocionada dele ter telefonado para combinar para ir lá em casa. Ela me falou e nós organizamos. Eles vieram de noite, Roberto e Nice, e ele cantou As Curvas da Estrada de Santos, que era uma música inédita ainda. Ele cantou só com o violão, na sala de minha casa. Eu chorei, mas eu chorei... fiquei horas chorando. Chegou aquela presença do Brasil, aquela mensagem de lá do fundo do Brasil. Todos ficamos emocionados.
Nelson: Você cantou alguma música para ele também?
Caetano: Não me lembro. Creio que não, eu não conseguiria, acho... Só chorei.
Nelson: Como surgiu Como Dois e Dois? Você pediu ao Caetano? Como foi?
Roberto: Eu pedi a ele pra fazer uma música para mim. Não falei nada, fiquei quieto.
Caetano: Na letra, ela tem muito a ver com o clima daquele período da ditadura e eu gostava muito de poder pôr alguma coisa relativa àquela situação na voz de Roberto Carlos, que era verdadeiramente a voz do Brasil. E ele gravou.
Nelson: E essa música é muito importante, até na história do Brasil mesmo porque nesse tempo, na ditadura, a repressão política estava fortíssima e, ao mesmo tempo, havia uma prosperidade, o milagre brasileiro. Então, o povo não estava nem ligando pr'aquilo ali. Quando surgiu essa música, foi um impacto enorme entre as pessoas porque não podia sair nada em jornal, não se sabia o que estava acontecendo. Quando veio essa canção com Roberto Carlos dizendo que tudo estava tudo certo como dois e dois são cinco, foi um impacto danado.
Roberto: E sendo letra do Caetano, né, bicho? Música dele... Com certeza tinha um impacto muito maior.
Nelson: Roberto, essa foi a primeira música de caráter político, de protesto com todas as sutilezas que tinha que ser na época. As pessoas entenderam o recado dessa música ou teve algum problema?
Roberto: Problema não, mas eu acho que entenderam sim, principalmente sendo feita por Caetano. Com certeza que entenderam muito bem.
Nelson: Isso foi uma força enorme porque talvez se não fosse cantada por Roberto Carlos, a música não fosse nem gravada, nem deixassem gravar com você cantando, né? (aponta para Caetano).
Caetano: Talvez tivesse outro caráter. Mas o fato é que eu não escreveria essa música se o Roberto não me tivesse pedido uma canção. Foi feita para ele mesmo.
Roberto: Obrigado. Mais uma vez, obrigado.
Nelson: Roberto, e o Debaixo dos Caracóis, essa música que você fez pro Caetano, que tinha um cabelo todo cacheado, era símbolo da rebeldia, da independência dele. Quando prendiam as pessoas, raspavam a cabeça na mesma hora pra colocar no seu lugar. Então, tem um caráter simbólico muito grande essa música, justamente. Como você fez?
Roberto: Tudo o que estava acontecendo com o Caetano me comovia muito. Quando eu fui vê-lo em Londres eu fiquei comovido, fiquei muito chocado com tudo aquilo que estava acontecendo com ele, mais ainda. Caetano lá fora, enfim... Eu cheguei no Brasil e comecei a pensar na volta dele, quando é que ele voltaria, essa coisa toda. Aí comecei a fazer essa música. Liguei por Erasmo, já tinha adiantando bastante... Continuamos, fizemos a música. Aí eu contei pra ele.
Nelson: Caetano, a música certamente colaborou para a sua volta ao Brasil com o Gil de alguma forma?
Caetano: Olha, pra mim quase que decidiu. Bateu aqui dentro muito forte. O fato de Roberto ter pensado e escrito essa música com o Erasmo, de uma certa forma, estava dizendo que o Brasil estava se preparando pra gente voltar.
Nelson: Você ouviu primeiro no disco?
Caetano: O Roberto cantou para eu ouvir...
Nelson: No telefone?
Caetano: No telefone não, ao vivo! Ele chamou na casa dele... eu vim ao Brasil, tive uma vinda especial, voltei pra Londres e depois vim direto pra ficar definitivamente. Ele me chamou na casa dele e me mostrou Debaixo dos Caracóis.
Nelson: Isso acabou puxando também o Força Estranha, que é uma das suas grandes músicas e diz a lenda que é a favorita de Dona Canô.
Caetano: É... minha mãe, em geral, ela diz que a minha canção de que ela mais gosta é Força Estranha.
Roberto: Ele me mostrou essa música por telefone. Eu estava gravando em Nova Iorque e aí quando ele cantou essa parte, depois falei 'escuta, Caetano, naquela parte por isso essa força estranha eu posso completar dizendo no ar?'... Aí ele deu uma paradinha e disse assim: 'é... pode sim'.
Nelson: Você não sentiu firmeza, né?
Caetano: Eu demorei pra eu próprio sentir firmeza. Quando senti firmeza eu disse a ele.
Roberto: Essa música me acompanha todo esse tempo. É uma música que está sempre no repertório, sempre no repertório dos shows.
Caetano: Tenho muito orgulho disso, de que ela se mantém no seu repertório. É atuante.
Roberto: Não pode estar fora. O povo pede.
Nelson: E essa música, que é um tributo a um artista extraordinário movido por uma força estranha, o Roberto diz que demorou a cair a ficha e perceber que a música era sobre ele.
Roberto: Não sabia. Demorei muito tempo. Já tinha gravado... depois de muito tempo, acho que por alguma coisa que ele disse em alguma entrevista.
Caetano: Precisei então dizer (ri).
Roberto: Falei: 'não, não pode ser'.
Caetano: Mas é.
Foto: Geraldo Lazzari.
Banda Caetano Veloso
Daniel Jobim (piano)
Gabriel Improta (violão)
Jorge Helder (contrabaixo)
Paulo Braga (bateria)
Carlos Malta (sopros)
Banda Roberto Carlos
Norival D'Angelo (bateria)
Darcio Ract (baixo)
Paulinho Ferreira (violão)
Benedito Wanderley (piano)
Arthur Borba de Paula "Tutuca" (teclado)
Anderson Marquez "Dedé" (percussão)
Lista de Músicas
1 - Garota de Ipanema
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
2 - Wave
(Tom Jobim)
3 - Águas de Março
(Tom Jobim)
4 - Por Toda Minha Vida
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
5 - Ela é Carioca
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
6 - Inútil Paisagem
(Tom Jobim, Aloysio de Oliveira)
7 - Meditação
(Tom Jobim, Newton Mendonça)
8 - O Que Tinha De Ser
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
9 - Insensatez
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
10 - Por Causa De Você
(Tom Jobim, Dolores Duran)
11 - Lígia
(Tom Jobim)
12 - Corcovado
(Tom Jobim)
13 - Samba do Avião
(Tom Jobim)
14 - Eu Sei Que Vou Te Amar (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Incidental: Soneto da Fidelidade (Vinicius de Moraes)
15 - Tereza Da Praia
(Tom Jobim, Billy Blanco)
16 - Chega de Saudade
(Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Faixas do DVD incluem Caminho de Pedra e Surfboard.
Vamos às Letras.
1 - Garota de Ipanema (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
2 - Wave (Tom Jobim)
Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração
Pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho
O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas
Que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho
À brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho
Da primeira vez
Era a cidade
Da segunda o cais
E a eternidade
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver
3 - Águas de Março (Tom Jobim)
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
4 - Por Toda Minha Vida (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Minha bem amada
Quero fazer
De um juramento
Uma canção
Eu prometo
Por toda
A minha vida
Ser somente teu
E amar-te
Como nunca
Ninguém jamais
Amou ninguém
Minha bem amada
Estrela pura
Aparecida
Eu te amo
E te proclamo
O meu amor
O meu amor
Maior que tudo
Quanto existe
Ó meu amor
Ó meu amor
5 - Ela é Carioca (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Ela é carioca
Ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim para dar
Eu vejo na cor dos seus olhos
As noites do rio ao luar
Vejo a mesma luz
Vejo o mesmo céu
Vejo o mesmo mar
Ela é meu amor
Só me vê a mim
A mim que vivi
Para encontrar
Na luz do seu olhar
A paz que sonhei
Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca
Ela é carioca
6 - Inútil Paisagem (Tom Jobim, Aloysio de Oliveira)
Mas pra quê?
Pra quê tanto céu?
Pra quê tanto mar?
Pra quê?
De quê serve
Esta onda
Que quebra?
E o vento
De tarde?
De que serve
A tarde?
Inútil paisagem
Pode ser
Que não venhas mais
Que não venhas
Nunca mais
De quê servem
As flores
Que nascem
Pelo caminho?
Se o meu caminho
Sozinho é nada
Pode ser
Que não venhas mais
Que não venhas
Nunca mais
De quê servem
As flores
Que nascem
Pelo caminho?
Se o meu caminho
Sozinho é nada
É nada, é nada
7 - Meditação (Tom Jobim, Newton Mendonça)
Quem acreditou
No amor
No sorriso
Na flor
Então sonhou
Sonhou
E perdeu a paz
O amor
O sorriso
E a flor
Se transformam
Depressa demais
Quem no coração
Abrigou
A tristeza de ver
Tudo isto
Se perder
E na solidão
Procurou
Um caminho
E seguiu
Já descrente
De um dia feliz
Quem chorou
Chorou
E tanto
Que seu pranto
Já secou
Quem
Depois voltou
Ao amor
Ao sorriso
E a flor
Então
Tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou
O caminho do amor
E a tristeza acabou
8 - O Que Tinha De Ser (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Porque foste
Na vida
A última
Esperança
Encontrar-te
Me fez criança
Porque
Já eras minha
Sem eu
Saber sequer
Porque eu sou
O teu homem
E tu
Minha mulher
Porque tu
Me chegaste
Sem me dizer
Que vinhas
E tuas mãos
Foram minhas
Com calma
Porque foste
Em minh'alma
Como
Um amanhecer
Porque foste
O que tinha
De ser
9 - Insensatez (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Ah, que insensatez hiciste tú
Corazón más sin cuidado
Por un gran dolor lloro tu amor
Un amor tan delicado
Ah, porque razón hacer sufrir
Quien sólo amor te ha dado
Ah, mi corazón sólo hace así
Quien no sabe se amado
Va mi corazón dile a tu amor
Que tú estás arrepentido
Que lo que pasó fue insensatez
Y que ahora has comprendido
Va mi corazón y con amor
Sincero, apasionado
Va pide perdón pues por amor
Uno siempre es perdonado
Vai, meu coração
Pede perdão
Perdão apaixonado
Vai porque quem não
Pede perdão
Não é
Nunca perdoado
10 - Por Causa De Você (Tom Jobim, Dolores Duran)
Ah, você está vendo só
Do jeito que eu fiquei
E que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples
Que você tocou
A nossa casa querida
Já estava acostumada
Guardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam
Por causa de você
Olhe meu bem nunca mais
Nos deixe por favor
Somos a vida e o sonho
Nós somos o amor
Entre meu bem por favor
Não deixe o mundo mau
Levá-la outra vez
Me abrace simplesmente
Não fale, não lembre
Não chore meu bem
11 - Lígia (Tom Jobim)
Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol
E quando eu te telefonei
Desliguei, foi engano.
Seu nome eu não sei,
Esqueci no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer
Lígia, Lígia.
Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana
Um choop gelado em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon
E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome eu rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendi com você.
Lígia, Lígia.
E quando você me envolver
Em teus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol
Ligia, Ligia.
12 - Corcovado (Tom Jobim)
Um cantinho
E um violão
Este amor
Uma canção
Pra fazer feliz
A quem se ama
Muita calma
Pra pensar
E ter tempo
Pra sonhar
Da janela
Vê-se
O Corcovado
O Redentor
Que lindo
Quero a vida
Sempre assim
Com você
Perto de mim
Até o apagar
Da velha chama
E eu
Que era triste
Descrente
Deste mundo
Ao encontrar você
Eu conheci
O que é felicidade
Meu amor
13 - Samba do Avião (Tom Jobim)
Minha alma canta
Vejo
O Rio de Janeiro
Estou morrendo
De saudades
Rio, teu mar
Praia sem fim
Rio
Você foi feito
Pra mim
Cristo Redentor
Braços abertos
Sobre a Guanabara
Este samba
É só porque
Rio
Eu gosto de você
A morena
Vai sambar
Seu corpo
Todo balançar
Rio de sol
De céu, de mar
Dentro
De mais um minuto
Estaremos
No Galeão
Cristo Redentor
Braços abertos
Sobre a Guanabara
Este samba
É só porque
Rio
Eu gosto de você
A morena
Vai sambar
Seu corpo
Todo balançar
Aperte o cinto
Vamos chegar
Água brilhando
Olha a pista
Chegando
E vamos nós
Aterrar
14 - Eu Sei Que Vou Te Amar / Incidental: Soneto da Fidelidade (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
Em cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
De tudo, ao meu amor serei atento antes
E com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
15 - Tereza Da Praia (Tom Jobim, Billy Blanco)
Caetano
Arranjei novo amor
No Leblon
Que corpo bonito
Que pele morena
Que amor de pequena
Amar é tão bom
Roberto
Ela tem
Um nariz levantado
Os olhos verdinhos
Bastante puxados
Cabelo castanho
E uma pinta
Do lado
É a minha Tereza
Da praia
Se ela é tua
É minha também
O verão passou
Todo comigo
O inverno pergunta
Com quem
Então vamos
A Tereza
Na praia deixar
Aos beijos do sol
E abraços do mar
Tereza
É da praia
Não é de ninguém
Não pode ser tua
Nem tua também
Tereza
É da praia
16 - Chega de Saudade (Tom Jobim, Vinicius de Moraes)
Vai, minha tristeza
E diz a ela
Que sem a ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há mais paz, não há beleza
É só tristeza e melancolia que não sai de mim
Não sai de mim, não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar
Que coisa linda,
Que coisa louca
Pois há menos peixinhos
A nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim
Colado assim
Calado assim
Abraços e beijinhos
E carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De viver longe de mim
Não quero mais esse negócio
De você viver sem mim
Vamos deixar esse negócio de viver longe de mim.
Foto: Geraldo Lazzari.