2011 - Zii e Zie Ao Vivo - Caetano Veloso


MTV Ao Vivo: Zii e Zie foi gravado nos dias 7 e 8 de outubro de 2010, no Vivo Rio, após a última excursão de Caetano e BandaCê pela Europa, no meio do ano. No repertório, todas as músicas compostas para o disco de estúdio, outras antigas que se adaptaram ao clima do show, um transtango e duas canções para suas irmãs: Irene e Maria Bethânia, esta última dedicada à memória do diretor Augusto Boal. A Voz do Morto, samba encomendado por Aracy de Almeida nos anos 60, inaugura o show citando os hits do carnaval de Salvador. Depois da crueza e densidade de , Caetano aparece leve e amplo em letras e imagens que sobrevoam o Rio de Janeiro no cenário idealizado por Hélio Eichbauer. 

Caetano: "Estávamos fechando a turnê, não havia DVD planejado, mas tamanha foi a insistência de Zeca que eu disse para ele falar com Paula. Ela disse o mesmo que eu, que não havia planos e nem verba, mas ele começou a trabalhar, e conseguimos. Quando vejo este DVD comparado ao do show , sobressaem muitas diferenças. Há um apuro estético, visual, que não tivemos com o outro. E a banda está mais entrosada." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2011). 

"Zii e Zie é um show que ficou lindo. As canções que a gente escolheu pra cantar - algumas são do período do tropicalismo e outras de logo depois, e alguma dos anos 80 - casam maravilhosamente bem com as canções do Zii e Zie. As canções novas ficam mais bonitas e as mais antigas também ficam mais reveladas e são canções que vão muito fundo no coração do espectador, diferentemente dos meros grandes sucessos. E isso tudo fica um milhão de vezes mais bonito com aquele cenário de Hélio Eichbauer que são visões maravilhosas que se passam com aquela asa delta sobre o palco que muda de situação de acordo com as projeções que vêm atrás." (Caetano Veloso em entrevista para Uns Produções e Filmes, 2010). 

"O show do era bacana, o disco era melhor, mas o show do Zii e Zie era muito melhor do que o show do . O próprio repertório antigo que foi convidado não era óbvio e o jeito de tocar, todo mundo estava mais junto... E aquelas canções mesmo... Perdeu, canções que não são fáceis, tocadas ao vivo ganham aquela força de presença, impressiona que aquilo esteja sendo produzido na sua presença com tanta espontaneidade. É bonito pra caramba. Terminamos fazendo um disco, né? E um DVD desse show e que ficou muito bonito porque visualmente ficou lindo e tem o som maravilhoso. É uma peça importante. Ganhou Grammy, né? Ganhou prêmio de melhor disco de rock brasileiro, um negócio assim. Uma dessas categorias super categorizadas [ri]. Foi a gente que bancou. A gente decidiu fazer. Na verdade, foi o Zeca, meu filho, que vendo o show na Europa - ele foi ver o final da minha excursão na Europa, foi ficar comigo um pouco, para a minha alegria - ficou muito maravilhado com o show. E também ele ficou orgulhoso de ver plateias europeias em alguns lugares, como na Finlândia, por exemplo, a plateia quase que totalmente local, pois não há imigrantes brasileiros na Finlândia para encher um teatro, entendeu? Mas ele ficou animado e ficou impressionado com o show e achou que o show era muito bonito, que não era possível que a gente não gravasse. Parece que a gravadora não tinha interesse em bancar a feitura de uma gravação ao vivo desse show, o DVD. Saiu DVD e CD. E aí nós terminamos, com essa campanha do Zeca, bancando nós mesmos. Foi o meu escritório que bancou. A gente fez e é uma razão pra gente ter muito orgulho". (Caetano Veloso em entrevista sobre seus 70 anos, 2012). 

Caetano no lançamento do disco ao vivo.

O cenário do show

Eichbauer: Ele teve a ideia de fazer um show com projeção. Com fragmentos ou filmagens do Rio de Janeiro, da praia, da chuva, das montanhas, enfim.

Caetano: Estávamos nos caminhos das projeções quando ele falou em asa delta.

Eichbauer: E aí, no ensaio, comecei a fazer um desenho de um delta. E lembrei da asa delta, dos voos livres, da liberdade que se tem. Aí propus a colocação em cena como objeto cênico, como escultura, uma asa delta que é uma grande escultura. E a introdução do filme em profundidade, atrás da asa delta, dá a impressão durante o show de que os músicos, os intérpretes e Caetano estão voando sobre o Rio de Janeiro, sobre a Lapa, sobre Cuba. Essa foi a ideia. 

Caetano: Eu fiquei logo contente: 'puxa, uma asa delta é uma coisa linda'. E ele ficou contente. Eu me lembro que ele sorriu e falou assim: 'que maravilha porque eu sempre tive o sonho de botar uma asa delta no palco e ainda não tinha tido a oportunidade'. (Depoimentos para os extras do DVD Zii e Zie, 2010). 

Foto: Eu, Fotógrafa?!/Flickr.

Release

Do palco para o estúdio e de volta ao palco: essa foi a trajetória dos transambas que compõem o mais novo CD de Caetano Veloso, Zii e Zie. A grande maioria deles fez parte da temporada do show "Obra em Progresso", realizada ano passado, no Rio, com a BandaCê - Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes - a mesma de agora. Na época, Perdeu, Sem Cais e Lapa, entre outros, foram executados pouco tempo depois de compostos. "As canções eram novas e cresciam de número a cada semana. Além disso, conviviam com um repertório mutante, o que é estimulante, mas também precário", lembra Caetano.

Passado quase um ano da estréia de "Obra em Progresso" - período que incluiu a gravação do CD Zii e Zie - a nova safra de composições do músico baiano reaparece no palco amadurecida. "Agora estão todas gravadas e farão parte de uma estrutura estável. Suponho que representarão mais o som que conseguimos no disco do que na época do Vivo Rio", explica. Se essa já representaria uma diferença básica em relação à temporada de 2008, soma-se a ela o fato de que ainda que fossem apresentadas todas as 13 músicas do CD recém-lançado, elas comporiam apenas cerca da metade do repertório do novo show. Assim, as canções - "minhas ou por mim amadas" - que se alternarão às de Zii e Zie deverão criar um conjunto de efeito diferente do que já foi visto. Para completar, no novo show, Caetano volta a contar com a colaboração de seus parceiros Maneco Quinderé (luz) e Hélio Eichbauer (cenário), o que não houve em "Obra em Progresso."

Em seu décimo-primeiro trabalho com Caetano, Hélio procurou traduzir o clima carioca presente no CD para a cenografia. O destaque no palco vai ser uma asa-delta de verdade, usada como escultura. Além disso, pela primeira vez, Caetano vai contar com projeções. Enquanto forem executadas músicas que falam do Rio - Lapa, Falso Leblon, Sem Cais... - serão exibidas imagens do cineasta Miguel Przewodovski.

O critério para a escolha do set list obedeceu a um padrão criado há tempos pelo artista: "São sempre as músicas do disco novo e o que mais vier à cabeça para conviver com elas e com os sons da banda que lhes dá vida", conta. Alguns números são imaginados desde que o CD vai ficando pronto, outros podem ser sugeridos por lembranças, associações e sugestões, venham elas dos músicos, de amigos e desta vez da audiência - por causa do blog "Obra em Progresso". A seleção inclui sucessos como Trem das Cores e Eu Sou Neguinha, além de canções da virada dos anos 60 e início dos 70: Irene, Não Identificado e Maria Bethânia. "Zii e Zie é, para mim, um grande disco, e nós pretendemos mostrar ao vivo quão rico é o seu som. A escolha das outras canções deve servir para mostrar também a força das idéias contidas nele", resume Caetano. (Natasha Produções, 2011). 

Gravação de MTV Ao Vivo: Zii e Zie, 2010. Foto: Adriana Barradas/Flickr.

Lista de Músicas

1 - A Voz do Morto
(Caetano Veloso)
Citações: Cole na Corda, Tem Que Ser Viola, Kuduro.

2 - Sem Cais
(Caetano Veloso, Pedro Sá)

3 - Trem das Cores
(Caetano Veloso)

4 - Perdeu
(Caetano Veloso)

5 - Por Quem?
(Caetano Veloso)

6 - Lobão Tem Razão
(Caetano Veloso)

7 - Maria Bethânia
(Caetano Veloso)

8 - Irene
(Caetano Veloso)

9 - Volver
(Alfredo Le Pera, Carlos Gardel)

10 - Aquele Frevo Axé
(Caetano Veloso, Cezar Mendes)

11 - Não Identificado
(Caetano Veloso)

12 - A Base de Guantánamo
(Caetano Veloso)

13 - Lapa
(Caetano Veloso)

14 - Água
(Alexandre Kassin)

15 - A Cor Amarela
(Caetano Veloso)

16 - Eu Sou Neguinha?
(Caetano Veloso)

17 - Força Estranha
(Caetano Veloso)

Faixas do DVD incluem Billie Jean & Eleanor Rigby / Tarado Ni Você /
Odeio / Falso Leblon / Menina da Ria / Manjar de Reis (com Jorge Mautner). 

Vamos às Letras.

1 - A Voz do Morto (Caetano Veloso)
Citações: Cole na Corda, Tem Que Ser Viola, Kuduro.

Psirico passando é madeira é viola
Então cole na corda...

Tem que ser viola...

Estamos aqui no tablado
Feito de ouro e prata
De filó, de nylon

Eles querem salvar as glórias nacionais
As glórias nacionais, coitados

Ninguém me salva
Ninguém me engana
Eu sou alegre
Eu sou contente
Eu sou cigana
Eu sou terrível
Eu sou o samba

A voz do morto
Os pés do torto
O cais do porto
A vez do louco
A paz do mundo
Na glória

(Tem que ser viola...)

Eu canto com o mundo que roda
Eu e o Paulinho da Viola
E viva o Paulinho da Viola
Eu canto com o mundo que roda
Mesmo do lado de fora
Mesmo que eu não cante agora

Ninguém me atende
Ninguém me chama
Mas ninguém me prende
Ninguém me engana

Eu sou valente
Eu sou o samba
A voz do morto
Atrás do muro
A vez de tudo
A paz do mundo
Na glória

Tem que ser viola...

Kuduro...

Comentário do autor: "Assim como Baby me foi sugerida por Bethânia, A Voz do Morto me foi ditada pela Aracy de Almeida. Ela estava em São Paulo para fazer a Bienal do Samba, que era um festival só de sambas, e estava muito irritada com a ideologia em torno daquilo. Ela veio falar comigo: "Pô, me tratar como glória nacional pensando que vão me salvar? Puta que pariu, salvar o caralho! Quero que você faça um samba, porque você é o verdadeiro Noel, porque você é violento, você é novo!". Era assim que ela falava pra mim: "Eu já estou por aqui, de saco cheio" - e ela pegava como se tivesse saco mesmo -; "Eu estou de saco cheio desse negócio de Noel Rosa, ter que arrastar esse morto pelo resto da vida. Quando eu canto é a voz desse morto! E ninguém me engana com essa porra não, de festival do samba. Faça uma música da pesada para eu gravar, esculhambando com essa porra toda!". Ela me ditou o samba! Fiz essa música, ela adorou e gravou." (Caetano Veloso. Livro: Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

Foto: Marcelinho Hora/Flickr.

2 - Sem Cais (Caetano Veloso, Pedro Sá)

Catei colo
E o mar parou
Fui deitando
Pra perguntar
Nome, bairro
Amigo, amor
De onde vem
Parar o mar
Seu sorriso
Bateu aqui
'Inda posso
Me apaixonar

Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto você
Mar aberto
Mar adentro
Mar imenso
Mar intenso
Sem cais
'Tou com medo
'Tou com medo
'Tou com medo
'Tou com medo de ver
Que 'inda posso
Que 'inda posso
Que 'inda posso
Ir bem mais

Barra, Gávea
E Arpoador
Deuses brancos
De luz do mar
Deuses negros
Um esplendor
Quem é essa
E o que será
Quem me dera
Eu poder me dar
Todo a essa
Que eu nunca vi

Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto
Quero tanto você
Mar aberto
Mar adentro
Mar intenso
Mar imenso
Sem cais
'Tou com medo
'Tou com medo
'Tou com medo
'Tou com medo de ver
Que 'inda posso
Que 'inda posso
Que 'inda posso
Ir bem mais

Foto: Correio 24 Horas.

3 - Trem das Cores (Caetano Veloso)

A franja da encosta cor de laranja, capim rosa chá
O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar
O ouro ainda não bem verde da serra, a prata do trem
A Lua e a estrela, anel de turquesa

Os átomos todos dançam, madruga, reluz neblina
Crianças cor de romã entram no vagão
O oliva da nuvem chumbo ficando, pra trás da manhã
E a seda azul do papel que envolve a maçã

As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há
Azul que é pura memória de algum lugar

Teu cabelo preto, explícito objeto, castanhos lábios
Ou pra ser exato, lábios cor de açaí
E aqui, trem das cores, sábios projetos: Tocar na central
O céu de um azul, celeste celestial

Foto: IstoÉ.

4 - Perdeu (Caetano Veloso)

Pariu, cuspiu
Expeliu
Um Deus, um bicho
Um homem

Brotou alguém
Algum ninguém
O quê?
A quem?

Surgiu, vagiu
Sumiu, escapuliu
No som, no sonho
Somem

São cem
São mil
São cem mil
Um milhão
Do mal, do bem
Lá vem um

Olhos vazios
De mata escura
E mar azul
Ai, dói no peito
Aparição assim
Vai na alvorada manhã
Sai do mamilo marrom
O leite doce e sal

Tchau, mamãe
Valeu

Cresceu, vingou
Permaneceu, aprendeu
Nas bordas da favela

Mandou, julgou
Condenou, salvou
Executou, soltou
Prendeu

Colheu, esticou
Encolheu, matou
Furou, fodeu
Até ficar sem gosto

Ganhou, reganhou
Bateu, levou
Mamãe, perdeu
Perdeu, perdeu

Céu
Mar e mata
Mortos da luz desse olhar
Antes assim do que viver
Pequeno e bom
Não diz isso não
Diz isso não
A conta é outra
Tem que dar, tem que dar
Foi mal, papai
Anoiteceu

Brilhou, piscou
Bruxuleou, ardeu
Resplandeceu
A nave da cidade

O Sol se pôs
Depois nasceu
E nada aconteceu

O Sol se pôs
Depois nasceu
E nada aconteceu

O Sol se pôs
Depois nasceu
E nada aconteceu

Foto: Bruna Manso/Flickr.

5 - Por Quem? (Caetano Veloso)

Blush em minha fronha
Quem deixa
Esse cheiro bom assim?
Músculo que sonha
Vem

Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Quem vai
Ai, ai, ai, ai, ai
Quem sai
Ai, ai, ai, ai, ai
De mim

Foi a noite
Negros asfalto
Pneu e mar
Ranhuras da montanha
Descem até o vale
Lágrimas vão de mim
Por quem?
Por quem?

Foto: Marcelinho Hora/Flickr.

6 - Lobão Tem Razão (Caetano Veloso)

Lobão tem razão
Irmão meu Lobão
Chega de verdade
É o que a mulher diz
Tô tão infeliz
Um crucificado
Deitado ao lado
Os nervos tremem
No chão do quarto
Por onde o sêmen
Se espalhou

O mundo acabou
Mas elas virão
E nos salvarão
A ambos nós dois
O medo já foi
O homem é o próprio
Lobão do homem
Ela só vem
Quando os mortos
Somem
Ela que quase
Nos matou

Chove devagar
Sobre o Redentor
Se ela me chamar
Agora
Eu vou

Mais vale um Lobão
Do que um leão
Meto um sincerão
E nada se dá
O rock acertou
Quando você tocou
Com sua banda
E tamborim
Na escola de samba
E falou mal
Do seu amor

Chove devagar
Cobre o Redentor
Se ela me chamar
Agora
Eu vou

Foto: Mauricio Pessoa Produções/Flickr.

7 - Maria Bethânia (Caetano Veloso)

Everybody knows that our cities were built to be destroyed
You get annoyed, you buy a flat, you hide behind the mat
But I know she was born to do everything wrong whith all of that

Maria Bethânia, please send me a letter
I wish to know things are getting better
Better, Beta, Beta, Beta, Bethânia
Please send me a letter
I wish to know things are getting better

She has given her soul to the devil but the devil gave his soul to God
Before the flood, after the blood, before you can see
She has given her soul to the devil and bought a flat by the sea

Maria Bethânia, please send me a letter
I wish to know things are getting better
Better, Beta, Beta, Beta, Bethânia
Please send me a letter
I wish to know things are getting better

Everybody knows that it’s so hard to dig and get to the root
You eat the fruit, you go ahead, you wake up on your bed
But I love her face ‘cause it has nothing to do with all I said

Maria Bethânia, please send me a letter
I wish to know things are getting better
Better, Beta, Beta, Beta, Bethânia
Please send me a letter
I wish to know things are getting better

Foto: Lais Rodrigues/Flickr.

8 - Irene (Caetano Veloso)

Eu quero ir, minha gente, eu não sou daqui
Eu não tenho nada, quero ver Irene rir
Quero ver Irene dar sua risada

Irene ri, Irene ri, Irene
Irene ri, Irene ri, Irene
Quero ver Irene dar sua risada


9 - Volver (Alfredo Le Pera, Carlos Gardel)

Yo adivino el parpadeo
De las luces que a lo lejos
Van marcando mi retorno
Son las mismas que alumbraron
Con sus pálidos reflejos
Hondas horas de dolor

Y aunque no quise el regreso
Siempre se vuelve al primer amor
La vieja calle donde el eco dijo
Tuya es su vida, tuyo es su querer,
Bajo el burlón mirar de las estrellas
Que con indiferencia
Hoy me ven volver

Volver...
Con la frente marchita
Las nieves del tiempo
Platearon mi sien
Sentir...
Que es un soplo la vida
Que veinte años no es nada
Que febril la mirada
Errante en la sombra
Te busca y te nombra
Vivir...
Con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez

Tengo miedo del encuentro
Con el pasado que vuelve
A enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
Que pobladas de recuerdos
Encadenan mi soñar...

Pero el viajero que huye
Tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
Haya apagado mi vieja ilusión,
Guardo escondida una esperanza humilde
Que es toda la fortuna de mi corazón

Foto: Bruna Manso/Flickr.

10 - Aquele Frevo Axé (Caetano Veloso, Cezar Mendes)

Que fazer?
Meu pensamento está preso àquele carnaval
Volto a pisar este chão
Enceno um drama banal
Tento refazer a trama
Mas o desfecho é igual
E você?
Será que canta calada aquele frevo axé?
Que não me deixa dormir
Ou terá perdido a fé
No que ficou prometido
Sem nos falarmos sequer
Meu amor
Ando na praça vazia e espero o sol se pôr
Vejo o clarão se extinguir
Por trás da mão do poeta
Nosso amor não vai sumir
Veja onde a gente se achou
Estrelas já vão luzir
Na noite da Bahia preta
Queria tanto você aqui

Foto: Luana Ribeiro/Flickr.

11 - Não Identificado (Caetano Veloso)

Eu vou fazer uma canção pra ela
Uma canção singela, brasileira
Para lançar depois do carnaval

Eu vou fazer um iê-iê-iê romântico
Um anticomputador sentimental

Eu vou fazer uma canção de amor
Para gravar um disco voador

Uma canção dizendo tudo a ela
Que ainda estou sozinho, apaixonado
Para lançar no espaço sideral

Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior
Como um objeto não identificado

Foto: Fernando Young.

12 - A Base de Guantánamo (Caetano Veloso)

O fato dos americanos
Desrespeitarem
Os direitos humanos
Em solo cubano
É por demais forte
Simbolicamente
Para eu não me abalar

A base de Guantánamo
A base
Da baía de Guantánamo
A base de Guantánamo
Guantánamo

Foto: Marcelinho Hora/Flickr.

13 - Lapa (Caetano Veloso)

Samba canal 100
No meio dos 60
E nos 70
Era o Largo da Ordem
Tudo vinha
Desaguar na Lapa
Lapa, minha inspiração
Lapa, Guinga e Pedro Sá
Lição
Quem projetaria
Essa elegância solta
Essa alegria
Essa moça-vanguarda
Esse rapaz gostoso
Que é a Lapa
Lapa, Circo Voador
Lapa, choro
E rock'n'roll
Perdão
Cool e popular
Cool e popular
Cool e popular
A Lapa
Quem ia imaginar
Quem ia imaginar
Quem ia imaginar
Só eu
Eu sozinho
Só e solitário
Sob a chuva da Bahia
Pobre e requintado
E rico e requintado
E refinado
E ainda há conflito
Pelourinho vezes Rio
É Lapa
Lapa
Veio a salvação
Lapa
Falta o mundo ver
Assim
Água de Kassin
Lava a Nova Capela
Eu amo a PUC
E a gíria dos bandidos
Fundição Progresso
Eis a Lapa
Lapa
Lula e FH
Lapa
Amo nosso tempo
Em ti

Foto: Mauro Ferreira.

14 - Água (Alexandre Kassin)

Eu vou ficar aqui torcendo
Para tudo melhorar
Juro que vou
E sei
Vai passar o seu rancor
O sangue não se torna água

Eu vou ficar aqui torcendo
Pra você se recuperar
Eu vou ficar, sim
Cantando pra você ninar
Eu quero que tudo melhore

Pa, pa, pa, pa...

Calma, tenha calma
Ninguém pode viver assim
Calma, tenha calma
Que o mundo não tem fim

Pa, pa, pa, pa...

Foto: Lauro Maia/Flickr.

15 - A Cor Amarela (Caetano Veloso)

Uma menina preta
De biquíni amarelo
Na frente da onda

Que onda
Que onda
Que onda
Que dá
Que bunda
Que bunda

É o melhor
Que podia acontecer
A cor amarela
Destacar-se entre o mar
E o marrom
Da pele tesa dela
O sol já têm muito
O que fazer
Na minha vida
Querida
Quem é você?

Que onda
Que onda
Que onda
Que dá
Que bunda
Que bunda

Foto: Mauricio Pessoa Produções/Flickr.

16 - Eu Sou Neguinha? (Caetano Veloso)

Eu tava encostad'ali, minha guitarra
No quadrado branco vídeo papelão
Eu era o enigma, uma interrogação
Olha que coisa mais
Que coisa à toa, boa boa boa boa boa
Eu tava com graça...
Tava por acaso ali, não era nada
Bunda de mulata, muque de peão
Tava em Madureira, tava na Bahia
No Beaubourg no Bronx, no Brás
E eu e eu e eu e eu
A me perguntar:
Eu sou neguinha?
Era uma mensagem lia uma mensagem
Parece bobagem mas não era não
Eu não decifrava, eu não conseguia
Mas aquilo ia e eu ia e eu ia...
Eu me perguntava:
Era um gesto hippie, um desenho
Estranho
Homens trabalhando, pare, contramão
E era uma alegria, era uma esperança
E era dança e dança ou não ou não...
Tava perguntando:
Eu sou neguinha?
Eu sou neguinha?
Eu sou neguinha?
Eu tava rezando ali completamente
Um crente, uma lente, era uma visão
Totalmente terceiro sexo
Totalmente terceiro mundo
Terceiro milênio
Carne nua nua nua nua...
Era tão gozado
Era um trio elétrico, era fantasia
Escola de samba na televisão
Cruz no fim do túnel, becos sem saída
E eu era a saída, melodia, meio-dia dia
Dia dia dia...
Era o que dizia:
Eu sou neguinha?
Mas via outras coisas: via o moço forte
E a mulher macia den'da escuridão
Via o que é visível, via o que não via
O que a poesia e a profecia não vêem
Mas vêem, vêem, vêem, vêem...
É o que parecia
Que as coisas conversam coisas
Surpreendentes
Fatalmente erram, acham solução
E que o mesmo signo que eu tenho ler e
Ser
É apenas um possível ou impossível
Em mim em mim em mil em mil em mil
E a pergunta vinha:
Eu sou neguinha?

Eu sou neguinha?

Foto: Fabiano Cerchiari/Flickr.

17 - Força Estranha (Caetano Veloso)

Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo brincando ao redor
Do caminho daquele menino

Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei

Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são
É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão

Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada, é o sol sobre a estrada, é o sol

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto, não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto
(Viva Roberto Carlos!)
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha no ar
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Foto: Javier Falchetti/Flickr.

Ficha Técnica

Uma produção Natasha Produções e Filmes dirigida por Moreno Veloso.
Produção executiva por Paula Lavigne.
Coordenação executiva por Clarice Saliby.
Gravado ao vivo no Vivo Rio (RJ) nos dias 07 e 08 de outubro de 2010 por Moreno Veloso e Daniel Carvalho.
Mixado no estúdio Monoaural (RJ) e no estúdio Cia. dos Técnicos (RJ) por Daniel Carvalho e Moreno Veloso com assistência de Gabriel Muzak, Pedro Tambellini (Monoaural), Daniel Alcorofado e Tiago Jardim (Cia. dos Técnicos).
Masterizado no Magic Master (RJ) por Ricardo Garcia. 
Arranjos de Caetano Veloso, Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes.
Fotos de Daniel Behr.
Projeto gráfico de Pedro Einloft.
Revisão por Luiz Augusto.
Coordenação gráfica por Geysa Adnet.

Produção do Show

Direção geral: Caetano Veloso
Direção musical: Caetano Veloso e Pedro Sá
Cenografia: Hélio Eichbauer
Projeto de luz: Maneco Quinderé
Videoarte: Miguel Przewodovski e Laís Rodrigues
Figurino: Felipe Veloso
Sound designer e mixagem por Wlademiro Furquim
Técnico de som (monitores): Igor Ferreira
Técnico de luz: André Botto
Operador de vídeo: Marcos Mota
Contrarregras: Amílcar Cruz, Gabriel Paredes e Luciano Silva
Produção executiva: João Franklin
Assistente de produção: Miguel Lavigne
Assessoria de imprensa: Jorge Velloso
Jurídico: Beatriz Mafra Vianna
Editora: Jorge Moreira

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