2014 - Abraçaço Ao Vivo - Caetano Veloso


Multishow Ao Vivo Abraçaço foi gravado nos dias 16 e 17 de agosto de 2013, no Vivo Rio (RJ). A estreia do show do novo disco aconteceu no Circo Voador, em março do mesmo ano. Ao longo da turnê, todas as canções de estúdio foram apresentadas. Caetano incluiu no repertório outras de discos que se relacionam com Abraçaço: Triste Bahia, do Transa (1972); e Homem e Odeio, de (2006). Quero Ser Justo trouxe Eclipse Oculto. Além dessas, destacaram-se Reconvexo, gravada pela primeira vez na voz do compositor; e Você Não Entende Nada, do disco ao vivo com Chico Buarque no início dos anos 70. Com o falecimento de Dona Canô no Natal de 2012, Caetano incluiu inicialmente a canção Mãe, gravada na voz de Gal em 1978, mas depois a retirou por achar muito depressiva. Com cenário de Hélio Eichbuer que celebrou o centenário movimento artístico russo encabeçado por Kazimir Malevich, o espetáculo rodou entre 2013 e 2015 todo o Brasil, América e Europa. 

Caetano: "Neste show, algumas músicas fazem referências diretas aos gêneros funk e pagode, como Funk melódico Quando o Galo Cantou. Desde a estreia no Circo Voador, Abraçaço tem canções dos anos 1970 e 1980. Com o tempo, incluímos também uma dos anos 1960, um clássico do tropicalismo [Baby]. Mas a estrutura do show permanece a mesma. E há canções explicitamente políticas, como Um Comunista O Império da Lei. Mas contato físico (como em Um Abraçaço) sempre me interessou mais. Não me vejo cantando sem Pedro, Ricardo e Marcelo. Mas o ciclo que começou com o álbum Cê se encerra aqui. Ainda não sei o que vou fazer depois. Se tocarmos juntos, seguramente será algo diferente do que tocamos agora." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2014).

"Gosto de ouvir as pessoas gritando ‘a bossa nova é foda!’, isso me enche de orgulho. Gosto de cantar Alguém Cantando, me acalma e me lembra da minha irmã Nicinha, que gravou essa canção comigo. E gosto de ter voltado a cantar Eclipse Oculto, porque é uma grande canção tipo anos 1980 e que me parece mais bonita hoje." (Caetano Veloso para o Correio Braziliense, 2013). 

"A surpresa se deve justamente ao entusiasmo que muitos demonstraram com o disco. Mesmo as plateias brasileiras tiveram reação diferente da demonstrada diante de e de Zii e Zie: em todas as cidades brasileiras, as pessoas cantam as canções novas como se fossem conhecidas de longa data. Viajei para a Argentina e Uruguai (e agora vou à Europa e aos Estados Unidos), sem saber como as plateias iriam aguentar, sem cair no tédio, essas canções novas e sem definição muito alta aos meus olhos (ou ouvidos). Mas os públicos argentino e uruguaio reagiram como que maravilhados. Muitos críticos destacaram Abraçaço como excelente. Como, para mim, foi mais satisfatório artisticamente, intriga-me que seja assim. Atribuo ao amadurecimento da banda e ao total relaxamento e à despretensão com que Abraçaço foi feito. Mas ainda resta mistério. Escolhi as canções por sua adequação ao novo repertório. Quis cantar Triste Bahia porque, das canções de Transa, é a única toda composta em português e também, dentre as conhecidas, a que eu não tinha cantado nos shows referentes a e Zii e Zie. Reconvexo, quis cantar porque minha mãe tinha morrido e eu queria estar como que cantando com Bethânia o nome dela." (Caetano Veloso para o Jornal Público, 2014). 

"Retirei Alexandre porque não consigo decorar e fico cansado de ler. Isso também desconcentra as pessoas, porque não me dirijo a elas. Eu devia saber a letra e cantar para o público. De Noite na Cama foi escolha do Pedro Sá. Ele adora a gravação de Erasmo e tinha vontade de fazer aquele [cantarola o riff de guitarra gravado em Carlos, Erasmo]." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2013). 

"Com o Abraçaço, tomei involuntariamente uma certa distância que me fez perceber que algumas canções da fase BandaCê entraram na vida de um número considerável de pessoas. É bom perceber que, depois de décadas de composições, algumas novas possam entrar no páreo com as já conhecidas há muito tempo. E que elas têm um clima diferente, característico desse período tardio. É gozado. Parece um pouco com quando eu tinha 24 anos. Já cheguei a pensar que eu não deveria compor mais muitas canções, mas aí fiz o repertório do Recanto pra Gal, e meus discos com a BandaCê. A gente criou um entendimento rápido sobre o que queremos fazer, desde o primeiro ensaio para o . Tenho consciência de que é um trabalho modesto. Mas nem eu nem os caras da banda seremos os mesmos depois disso. Eles são jovens, isso é natural. Para mim, é difícil imaginar o que fazer depois dessa trilogia. Cedo saiu Alexandre e entrou Eclipse Oculto. Depois entrou De Noite na Cama também. Mas as mudanças mais interessantes não são de repertório. Sempre improviso um roteiro de gestos que vou repetindo ao longo das temporadas, como se fosse uma peça teatral ou uma dança. E esses gestos mudam de lugar, de intensidade, de tom, e se metamorfoseiam em outros, novos." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2014).

Foto: Gerlan Cidade/Flickr.

Release

Abraçaço foi um disco que me surpreendeu e intrigou. Recebo com alegria as reações positivas que ele provoca mas sigo pensando que não o conheço direito. Ou não o entendo. Quando fizemos o show de lançamento, no Circo Voador, a intimidade da plateia com as novas canções me comoveu. Eu próprio não sabia quase nada de seus possíveis encantos. Mas há coisas claras. A naturalidade com que Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado tratam as canções é perceptível mesmo para mim. Nossa colaboração foi miraculosamente direta desde o . Mas, com o tempo, tudo o que era entendido e realizado passou a ser produzido de modo tão orgânico que o que se capta é só a beleza, nunca as intenções. Sempre gostei de A bossa nova é foda, mas aprendi a gostar de Quero ser justo e de Quando o galo cantou - e de Um abraçaço! - depois que os três caras as traduziram para mim. Suponho que eles gostavam mais de todas essas do que eu. Mais importante: Moreno gostava mais de tudo o que estávamos fazendo do que eu conseguiria. É a certeza dele que, tendo feito do disco algo auto afirmado, responde pela limpidez do som que se pode ouvir nas gravações ao vivo que estão no DVD e no CD que saem agora.

Perto de Vavá Furquim na análise da acústica do Vivo Rio (onde fizemos as apresentações que foram gravadas) e de Daniel Carvalho nas mesas de captação, mixagem e masterização dos sons, Moreno fez do Multishow Ao Vivo - Caetano Veloso - Abraçaço um trabalho relevante. Mágica foi a chegada de Hélio Eichbauer. Eu o tinha convidado para fazer a capa de um caderninho em que eu leria a letra de Alexandre. Ele veio ao ensaio e, aceitando que tivéssemos apenas um fundo preto (mas dizendo que há pretos e pretos), fez a capa do caderno (que afinal saiu de cena, já que deixei de cantar Alexandre, canção que adoro, pois não gosto de cantar lendo) e um pano de fundo composto de diferentes texturas e graus de transparência, chegando à lembrança de que o "Quadrado negro" de Malevich completava 100 anos em 2013 - e pediu a Igor Perseke para fazer reproduções, não só do "Quadrado negro", mas também dos outros três quadros mais radicais do pintor russo, pontilhando o palco com quatro cavaletes.

A luz, planejada por Hélio e Gabriel Farinon, seguiu as sugestões visuais dos pretos e dos quadros e as sugestões sonoras e poéticas das canções. A combinação de tudo isso foi captada com cuidado e energia por Paulinha Lavigne e Fernando Young. Para celebrar o fato de termos conseguido registrar tão bem o show (que, apesar de minha ignorância do sentido central do CD Abraçaço, sempre nos deu alegria e comoção), vamos fazer apresentações especiais. De certa forma, o lançamento do DVD e do CD ao vivo também celebra as premiações do Grammy Latino obtidas pelo CD feito em estúdio. O fato de a inventiva e elegante capa criada por Quinta-Feira e Fernando Young ter recebido prêmio de melhor projeto gráfico (além de o refinamento sonoro com que a bandaCê, Daniel e Moreno enriqueceram meu enigmático trabalho de composição) me encheu de alegria, tanto que a parceria com a dupla é repetida na capa deste novo trabalho.

Com o passar do tempo e com as revelações feitas por esses companheiros todos (e pelas plateias), canções como Quando o galo cantou, Quero ser justo e Estou triste passaram a me parecer amáveis. Tenho muito orgulho de conseguir atenção e respeito por Um comunista, música que dura 10 minutos e tem na letra certas dicções meio didáticas algo irregulares. Acho que muita gente pode gostar de ver e ouvir o que foi gravado num Vivo Rio lotado e participante. Sinto algum prazer em ter esse objeto para exibir. (Caetano Veloso, 2014).


Caetano canta Alexandre na estreia do show Abraçaço no Circo Voador (RJ).

A elegância solta de Caetano
(Entrevista para o Jornal O Globo, 20/03/2013)

Por que estrear o show no Circo Voador? Você acha que a sua popularidade entre os jovens cresceu na fase bandaCê? Tecnicamente, a casa é tão capacitada quanto o Vivo Rio e o Citibank Hall, por exemplo?

O Circo é uma linda plateia. Tem um palco limitado. Quis estrear lá porque combina com o som da bandaCê, e eu gosto do jeito como o pessoal fica na plateia. Desde o Arpoador e de Perfeito Fortuna, o Circo Voador tem um histórico de ambiente desembaraçado, nada careta, que eu adoro. Não apenas jovens vão lá. Eu próprio vou ver muitas coisas lá e não sou jovem. Tem muita gente como eu. Mas eu sei que a maioria dos frequentadores é garotada. Não acho que isso dependa de eu ter começado a tocar com a bandaCê: o Circo enche e se entusiasma se Nana Caymmi ou Chico Buarque forem cantar lá.

O show já terá cenário, figurino e luz definitivos? Como é fazer quatro noites seguidas de apresentações, é cansativo?

Antigamente a gente fazia dois meses, de quarta a domingo. E não era cansativo. Desta vez só me preocupo com minha voz. Quanto a cenário, o palco do Circo não permite grandes montagens. Fizemos o “Cê” (2006) lá, e Hélio Eichbauer pôs os bastões coloridos que ficavam pendurados sobre nossas cabeças. Desta vez, eu tinha decidido não ter cenário: apenas o fundo preto (gostei muito do resultado do show de Gal sem cenário ou projeção). Pedi apenas a Hélio para forrar o livro em que leio a letra de “Alexandre”, uma grande faixa do “Livro” (disco de 1997) que nunca decorei. Vendo o ensaio, ele se lembrou de que o quadrado preto de Malevich (Kazimir Severinovich Malevich, 1878-1935, pintor abstrato soviético) faz 100 anos este ano. Num palco maior, vamos ter reproduções dos quadros inaugurais desse gênio russo. No palco do Circo os cavaletes não cabem. Gabriel (Farinon), Hélio e eu vamos planejar a luz, que já estará basicamente estruturada desde a estreia.

Como estão os ensaios?

Os ensaios estão bons. Minha voz apresentou problemas no final do ano passado. Fui a médicos, fonoaudiólogas e professor de canto. Melhorei. Com os ensaios muito puxados, ela pifou de novo. Melhora com descanso, mas dormir não é coisa fácil pra mim. Faço alguns exercícios e nebulização para hidratar. Vamos ver como é que ela aguenta no Circo.

Como é o seu entrosamento com a bandaCê depois de quase sete anos juntos? Você já teve uma mesma banda durante tanto tempo? O que você aprendeu com eles?

Talvez eu tenha ficado um tempo longo assim com A Outra Banda da Terra (nos anos 1970). Em geral trabalho com alguns músicos por muito tempo. Minha colaboração com Jaquinho Morelenbaum, da qual saíram “Livro”, “Fina estampa”, “A foreign sound” e “Noites do Norte”, também durou muito. A bandaCê é um milagre de comunicação. Nada nunca demora a se definir. No disco “Abraçaço” (lançado no ano passado) estamos relaxados até demais. No show, esse clima continua. Falamos de bandas, sambistas, fadistas, jazzistas, tudo. Sempre espontaneamente. Não me lembro de eles terem me apresentado bandas que eu não conhecesse. Me mostraram trabalhos específicos de um grupo ou outro. Tudo começou com Pedro me mostrando o CD dos Pixies na BBC. Eu conhecia a banda, mas não esse disco. Marcelo e Ricardo me fizeram ouvir coisas do Devo. Mas sou eu quem fica pedindo a eles para ouvirem James Blake e o novo do Cascadura.

Esse formato mais cru traz alguma limitação para a sonoridade? Em algum momento passou pela sua cabeça adicionar algum instrumento, como percussão?

Amo percussão e quero voltar a trabalhar com percussionistas. Mas com a bandaCê eu curto o som econômico de banda pequena. Do que eu mais gosto são coisas como “Outro”, do disco “Cê”, ou “Por quem?”, do “Zii e zie”. Não tenho vontade de adicionar nada à nossa sonoridade.

O repertório é mais concentrado nas músicas dos três discos com a bandaCê? Que outras fases da sua carreira você acha que se relacionam com a atual? Como o disco é mais melancólico e puxado pelo violão, você pensa em épocas diferentes de “Transa”, sempre tão evocada desde “Cê”?

Não abandonamos “Transa”: pelo menos uma música desse disco estará no show do “Abraçaço”. Mas este é um disco que abre para todo o histórico. Fechar o repertório não tem sido fácil. Tenho sentido dificuldade de relembrar letras que quase nunca canto. Uma pelo menos eu vou ter de ler. Sobretudo porque gravei “Abraçaço” sem decorar as letras novas. Eu não devia exigir tanto da minha cabeça. Mas não quero cantar as músicas que canto em todos os shows vendidos. A história da bandaCê pede coragem.

Você já tem ideia do que fará depois da turnê, quando encerrar sua colaboração com a bandaCê? Já existem planos para um DVD?

Não tenho planos para DVD desse show. Mas eu não tinha planos para gravar o show de “Zii e zie”: foi meu filho Zeca quem me convenceu, depois de ver as apresentações na Europa. Essas coisas só aparecem no fim das temporadas. Acho que não gravaria DVD agora. Não com a voz e com a memória que estou.

A ideia é ficar por conta do show até o fim do ano? Haverá um giro pelo exterior?

Há já um giro nacional. O Brasil é grande. Já sei que vou a São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre, Juazeiro e Belo Horizonte. Claro que faremos Buenos Aires, Montevidéu e Santiago, ao menos. Não quero viajar demais. Vamos estudar o que vale a pena fazer na Europa e nos EUA. Nem quero pensar na Ásia.

Ensaio para o show Abraçaço.

Um abraçaço para Malevich e sua bossa nova
(Trechos de matéria do Jornal O Globo, 16/08/13)

Caetano: Hélio ligou os quadrados do fundo aos cem anos do "Quadrado negro" [obra do artista russo Malevich] e quis fazer essa homenagem. E, ao ver os ensaios, ele pensou como "Quadrado negro" se relacionava com A Bossa Nova É Foda.

Hélio: Isso é a bossa nova russa, de 1913. E também a bossa nova brasileira do fim dos anos 1950, quando foi realizada a "Exposição de arte concreta", em São Paulo (1956) e no Rio (1957). Eles são filhos e netos de Malevich. É sempre a partir da música. E Malevich é abstrato como a música. É ritmo. E o suprematismo é a sensação suprema, a intuição suprema. Ali, ele reduziu o mundo objetivo ao mundo não objetivo da geometria. A palavra vem depois. Primeiro vêm todas as sensações que a música provoca. A suprema sensação.

Hélio escolheu mais três telas de Malevich para completar o cenário: "Cruz negra", "Quadrado vermelho" e "Círculo negro".

Hélio: É como se o show estivesse acontecendo num museu de arte futurista. E cada quadro é iluminado em trechos do show, relacionando-os às canções. Eles funcionam como janelas, também. ["Quadrado vermelho" conversa com Um Comunista e O Império da Lei; enquanto "Círculo negro" faz referência a Eclipse Oculto]. 

Caetano: Em Estou Triste, enquanto Pedro está solando, ando para o "Quadrado negro" e fico olhando para ele, como uma janela [ecoando involuntariamente o que Malevich disse sobre a concepção do "Quadrado negro": "Eu sentia apenas noite dentro de mim"]. Acredito que Hélio tenha sido levado a isso [o conceito minimalista do cenário] ao perceber como é tudo muito conciso desde o Cê. Realmente são cenários bem diferentes dos outros que ele fez para mim.

Caetano, Eichbauer e o "Quadrado Negro". 

Cenário do show Abraçaço.

BandaCê

Caetano Veloso: voz e violão
Pedro Sá: guitarra e coro
Ricardo Dias Gomes: baixo, piano rhodes e coro
Marcelo Callado: bateria, baixo em Gayana e coro

Foto: Fernando Young.

Lista de Músicas

1 - A Bossa Nova É Foda
(Caetano Veloso)

2 - Lindeza
(Caetano Veloso)

3 - Quando o Galo Cantou
(Caetano Veloso)

4 - Um Abraçaço
(Caetano Veloso)

5 - Homem
(Caetano Veloso)

6 - Triste Bahia
(Poema de Gregório de Mattos, Caetano Veloso)

7 - Estou Triste
(Caetano Veloso)

8 - Escapulário
(Caetano Veloso, Oswald de Andrade)

9 - Funk Melódico
(Caetano Veloso)

10 - Alguém Cantando
(Caetano Veloso)

11 - Quero Ser Justo
(Caetano Veloso)

12 - Eclipse Oculto
(Caetano Veloso)

13 - Mãe
(Caetano Veloso)

14 - De Noite na Cama
(Caetano Veloso)

15 - O Império da Lei
(Caetano Veloso)

16 - Reconvexo
(Caetano Veloso)

17 - Você Não Entende Nada
(Caetano Veloso)

18 - A Luz de Tieta
(Caetano Veloso)

19 - Outro
(Caetano Veloso)

Faixas do DVD incluem Parabéns / Um Comunista / Odeio / Gayana / Vinco / Um Índio.

Vamos às Letras.

1 - A Bossa Nova É Foda (Caetano Veloso)

O bruxo de Juazeiro numa caverna do louro francês
(Quem terá tido essa fazenda de areais?)
Fitas-cassete, uma ergométrica, uns restos de rabada
Lá fora o mundo ainda se torce para encarar a equação
Pura-invenção
Dança-da-moda
A bossa nova é foda

O magno instrumento grego antigo
Diz que quando chegares aqui
Que é um dom que muito homem não tem
Que é influência do jazz
E tanto faz se o bardo judeu
Romântico de Minessota
Porqueiro Eumeu
O reconhece de volta a Ítaca:
A nossa vida nunca mais será igual
Samba-de-roda, neo-carnaval, rio São Francisco
Rio de Janeiro, canavial
A bossa nova é foda

O tom de tudo
Comanda as ondas do mar
Ondas sonoras
Com que colore no espacial
Homem cruel
Destruidor, de brilho intenso, monumental
Deu ao poeta, velho profeta,
A chave da casa
De munição
O velho transformou o mito
Das raças tristes
Em Minotauros, Junior Cigano,
Em José Aldo, Lyoto Machida,
Vítor Belfort, Anderson Silva
E a coisa toda:
A bossa nova é foda

Foto: Ana Schlimovich/ Estreia no Circo Voador (RJ).

2 - Lindeza (Caetano Veloso)

Coisa linda
É mais que uma ideia louca
Ver-te ao alcance da boca
Eu nem posso acreditar
Coisa linda
Minha humanidade cresce
Quando o mundo te oferece
E enfim te dás, tens lugar
Promessa de felicidade,
Festa da vontade
Nítido farol, sinal
Novo sob o sol,
Vida mais real
Coisa linda
Lua lua lua lua
Sol palavra dança nua
Pluma tela pétala
Coisa linda
Desejar-te desde sempre
Ter-te agora e o dia é sempre
Uma alegria pra sempre

Foto: Edu Defferrari/Flickr.

3 - Quando o Galo Cantou (Caetano Veloso)

Quando o galo cantou
Eu ainda estava agarrado
Ao seu pé e à sua mão
Uma unha na nuca
Você já maluca de tanta alegria
Do corpo, da alma e do espírito são
Eu pensava que nós
Não nos desgrudaríamos mais
O que fiz pra merecer essa paz
Que o sexo traz?
O relógio parou
Mas o sol penetrou
Entre os pelos brasis
Que definem sua perna
E em nossa vida eterna
Você se consterna
E diz: não,
Não se pode, ninguém pode ser tão feliz
Eu queria parar nesse instante
De nunca parar
Nós instituímos esse lugar
Nada virá
Deixa esse ponto brilhar
No atlântico sul
Todo azul
Deixa essa cântico
Entrar no sol no céu nu
Deixa o pagode romântico soar
Deixa o tempo seguir
Mas quedemos aqui
Deixa o galo cantar

Foto: Edu Defferrari/Flickr.

4 - Um Abraçaço (Caetano Veloso)

Dei um laço no espaço
Pra pegar um pedaço
Do universo que podemos ver
Com nossos olhos nus
Nossa lentes e azuis
Nossos computadores luz

Esse laço era um verso
Mas foi tudo perverso
Você não se deixou ficar
No meu emaranhado
Foi parar do outro lado
Do outro lado de lá de lá

Ei
Hoje eu mando um abraçaço

Um amasso, um beijaço
Meu olhar de palhaço
Seu orgulho tão sério
Um grande estardalhaço
Pro meu velho cansaço
Do eterno mistério

Meu destino eu não traço
Não desenho ou desfaço
O acaso é o grão-senhor
Tudo o que não deu certo
E sei que não tem conserto
Meu silêncio chorou chorou

Ei
Hoje eu mando um abraçaço

Foto: Daniel Behr.

5 - Homem (Caetano Veloso)

Não tenho inveja da maternidade
Nem da lactação
Não tenho inveja da adiposidade
Nem da menstruação

Só tenho inveja da longevidade
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
Eu sou homem
Pele solta sobre o músculo
Eu sou homem
Pêlo grosso no nariz

Não tenho inveja da sagacidade
Nem da intuição
Não tenho inveja da fidelidade
Nem da dissimulação

Só tenho inveja da longevidade
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
E dos orgasmos múltiplos
Eu sou homem
Pele solta sobre o músculo
Eu sou homem
Pêlo grosso no nariz

Foto: Carlos Barretto/Flickr.

6 - Triste Bahia (Poema de Gregório de Mattos, Caetano Veloso)

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
A ti tocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim vem me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Triste, ó quão dessemelhante, triste...
Pastinha já foi à África,
Pastinha já foi à África
Pra mostrar capoeira do Brasil.
Eu já vivo tão cansado
De viver aqui na Terra.

Minha mãe, eu vou pra Lua
Eu mais a minha mulher.
Vamo fazer um ranchinho,
Todo feito de sapê,
Minha mãe eu vou pra Lua
E seja o que Deus quiser.

Triiiiii... Ê, galo cantô
Ê galo cantou, camará
Ê, cocorocô
Ê, cocorocô, camará
Ê, vamo-nos embora,
Ê vamo-nos embora camará
Ê, pelo mundo afora,
Ê pelo mundo afora camará
Ê, triste Bahia,
Ê triste Bahia, camará
Bandeira branca enfiada em pau forte
Trago no peito a estrela do norte
Bandeira branca enfiada em pau forte

Afoxé leí, leí, leô...

Bandeira branca enfiada em pau forte...

Trago no peito a estrela do norte...

O vapor da cachoeira não navega mais no mar...

Triste recôncavo

Maria pé no mato é hora,
Arriba a saia e vamo-nos embora
Arriba a saia e vamo-nos embora
Maria pé no mato é hora,
Arriba a saia e vamo-nos embora
Arriba a saia e vamo-nos embora

Pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora...

Oh, virgem mãe puríssima...

Bandeira branca enfiada em pau forte,
Trago no peito a estrela do norte,
Bandeira branca enfiada em pau forte...

Bandeira branca enfiada em pau forte...
Bandeira branca...

Bandeira...


7 - Estou Triste (Caetano Veloso)

Estou triste tão triste
Estou muito triste
Por que será que existe o que quer que seja?
O meu lábio não diz, o meu gesto não faz
Sinto o peito vazio
E ainda assim farto
Estou triste tão triste
E o lugar mais frio do Rio
É o meu quarto

Foto: Caio Duran/AgNews.

8 - Escapulário (Caetano Veloso, Oswald de Andrade)

No pão-de-açúcar
De cada dia
Dai-nos, Senhor
A poesia de cada dia

Foto: Gerlan Cidade/Flickr.

9 - Funk Melódico (Caetano Veloso)

Não aprendi nada com aquela sentimental canção
Nada pra alertar meu coração
Mulher indigesta, você só merece mesmo o céu
Como está no samba de Noel

Você produz raiva, confusão, tristeza e dor
Prova que o ciúme é só o estrume do amor

Vá numa sessão de descarrego ou num médico
Meu amor tem preço módico
Não tenho um tijolo nem um paralelepípedo
Só resta o funk melódico

(Não abrace abraçace essa letra-tijolo
Esse papo de céu
Foi só pelo Noel.
Nem com cheiro de flor
Bateria em você.
Não sou bravo nem forte
Nem mesmo do Norte
Sem canto de morte
No meu HD.
O paralelepípedo
É um jeito de verso
Que quer dizer raiva
E mais raiva e mais raiva
Raiva e desprezo e terror,
Desamor.
O tijolo é gritar:
Você me exasperou
Que você me exasperou
Você me exasperou
Você me exasperou
Você me exasperou)

Foto: Pri Buhr.

10 - Alguém Cantando (Caetano Veloso)

Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando longe longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir
Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
Que canta como que pra ninguém

A voz de alguém quando vem do coração
De quem mantém toda a pureza
Da natureza
Onde não há pecado nem perdão

Foto: Carlos Barreto/Flickr.

11 - Quero Ser Justo (Caetano Veloso)

Disse que vinha e veio
Lá do Norte
O mar nos olhos
Era noite sem vento
E eu nem cri na minha sorte
Houve curiosidade e um calmo susto
Alguma palidez por trás do ouro
Do seu rosto
Quero ser justo:
Mesmo que não pudéssemos manter
A lua cheia acesa (ou não ainda)
Nem no seu nem no meu coração
Eu vi você:
Uma das coisas mais lindas da natureza
E da civilização

Foto: Edu Defferrari/Flickr.

12 - Eclipse Oculto (Caetano Veloso)

Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan

Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
Ó eclipse oculto
Na luz do verão

Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar

Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Foto: Jennifer Monteiro/Flickr.

13 - Mãe (Caetano Veloso)

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visses, não
Imensa solidão

Eu sou um rei que não tem fim
E brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração

Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tem amor
Cigarras, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor

Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais, nem vou

Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estás
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs

Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
E nunca chego a ti

Foto: Nino Colella/Flickr.

14 - De Noite na Cama (Caetano Veloso)

De noite, na cama, eu fico pensando
Se você me ama, e quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite, na cama, e quando
De dia eu faço graça pra não dar bandeira, não deixo você ver
De dia tudo passa como brincadeira
Por longe de você
Por onde você mora, para e se demora
Por hora não vou ter coragem de dizer
Mas há de haver a hora
E se você for embora, agora
De noite, na cama, eu fico pensando
Se você me ama, e quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite, na cama, e quando
De noite, na cama, eu fico pensando
Se você me ama, e quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite, na cama, e quando
De dia eu faço graça pra não dar bandeira, não deixo você ver
De dia tudo passa como brincadeira
Por longe de você
Por onde você mora, para e se demora
Por hora não vou ter coragem de dizer
Mas há de haver a hora
E se você for embora, agora
De noite, na cama, eu fico pensando
Se você me ama, e quando
Se você me ama, eu fico pensando
De noite, na cama, e quando

Foto: Edu Defferrari/Flickr.

15 - O Império da Lei (Caetano Veloso)

O império da lei há de chegar no coração do Pará
O império da lei há de chegar no coração do Pará
O império da lei há de chegar lá

Quem matou meu amor
Tem que pagar
E ainda mais quem mandou matar
Ter o olho no olho do jaguar
Virar jaguar

O império da lei há de chegar no coração do Pará

Foto: Labfoto/Flickr.

16 - Reconvexo (Caetano Veloso)

Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não

Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo

Foto: Chevrolet Hall (BH) - Lucas Hallel/Flickr.

17 - Você Não Entende Nada (Caetano Veloso)

Quando eu chego em casa nada me consola
Você está sempre aflita
Lágrimas nos olhos, de cortar cebola
Você é tão bonita

Você traz a Coca-cola, eu tomo
Você bota a mesa, eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como

Você não está entendendo
Quase nada do que eu digo
Eu quero ir-me embora
Eu quero é dar o fora

E quero que você venha comigo
E quero que você venha comigo

Eu me sento, eu fumo, eu como, eu não aguento
Você está tão curtida
Eu quero tocar fogo neste apartamento
Você não acredita

Traz meu café com Suíta eu tomo
Bota a sobremesa eu como, eu como
Eu como, eu como, eu como

Você tem que saber que eu quero correr mundo
Correr perigo
Eu quero é ir-me embora
Eu quero dar o fora

E quero que você venha comigo

Foto: Chevrolet Hall (BH) - Lucas Hallel/Flickr.

18 - A Luz de Tieta (Caetano Veloso)

Todo dia é o mesmo dia,
A vida é tão tacanha
Nada novo sob o sol
Tem que se esconder no escuro
Quem na luz se banha
Por debaixo do lençol

Nessa terra a dor é grande
E a ambição pequena
Carnaval e futebol
Quem não finge,
Quem não mente,
Quem mais goza e pena
É que serve de farol

Existe alguém em nós
Em muitos dentre nós
Esse alguém
Que brilha mais do que
Milhões de sóis
E que a escuridão
Conhece também

Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você,
De mim
Que grita pra quem quiser ouvir
Quando canta assim:

Eta
Eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta,
Eta, eta!

Toda noite é a mesma noite,
A vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar
É domingo, é fevereiro,
É sete de setembro,
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
Até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual

Foto: Gerlan Cidade/Flickr.

19 - Outro (Caetano Veloso)

Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você

Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você

Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você

De cara alegre e cruel
Feliz e mau como um pau duro
Acendendo-se no escuro

Cascavel
Eriçada na moita
Concentrada e afoita

Eu já chorei muito por você
Também já fiz você chorar
Agora olhe pra lá porque
Eu fui me embora

Você nem vai me reconhecer
Quando eu passar por você

Abraçaço em Brasília, 2015.

Ficha Técnica

Uma Produção Uns Produções e Multishow
Direção Musical: Moreno Veloso
Produzido por Paula Lavigne
Coordenação Executiva: Henrique Alqualo

Multishow
Direção Geral: Guilherme Zattar
Gerente de Produtos & Negócios: Stella Amaral
Gerente de Programação: Tatiana Costa
Coordenadoras de Produtos & Negócios: Juliana Costantini e Monica Brandão
Coordenador de Canal: Pedro Secchin
Analistas de Produtos & Negócios: Bernardo Resende, Fred Vannucci e Paula Melo
Assistentes de Produtos & Negócios: Cecilia Vale, Juliana Mattos, Marcello Galindo, Thiago Faria e Vladimir Nascimento
Estagiários de Produtos & Negócios: João Paulo Bueno, Julianna Koss, Renata Novaes e Sarah Galvão
Assessoria de Imprensa: In Press Porter Novelli

Gravado Ao Vivo no Vivo Rio (RJ) nos dias 16 e 17 de Agosto de 2013 por Daniel Carvalho
Unidade Móvel de Gravação: DB Áudio
Equipe DB Áudio - Coordenação Geral: Renato Guerra/
Suporte Técnico de Sistemas: Alexandre de Oliveira/
Técnicos de Montagem: Rafael Quintanilha, Marcio Werderits e David Diniz

Técnico de Monitor: Igor Ferreira
Técnico de P.A.: Vavá Furquim
Roadies: Gabriel Gomes e Pimpa Cruz

Mixado no Rockit! Estúdios (RJ) por Duda Mello
Masterizado no Magic Master (RJ) por Ricardo Garcia
Assistente de Produção de Áudio: Mariana Rolim

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