2015 - Dois Amigos, Um Século de Música - Caetano Veloso e Gilberto GIl


Dois Amigos, Um Século de Música foi gravado nos dias 22 e 23 de agosto de 2015 no Citibank Hall, em São Paulo. A turnê foi anunciada em fevereiro do mesmo ano e, inicialmente, percorreria apenas a Europa, a convite de um produtor italiano amigo dos cantores. Desse modo, Caetano e Gil dividiriam a mesma excursão após mais de 20 anos, desde Tropicália 2, passando por 18 países em pouco mais de um mês. Com show voltado ao público estrangeiro, entraram canções em inglês (Nine Out Of Ten), em espanhol (Tonada de Luna Llena e Tres Palabras) e em italiano (Come Prima). Caetano propôs as canções Tropicália Marginália II logo no início do espetáculo por serem músicas "programáticas". Antes da estreia nacional, Caetano e Gil compuseram a inédita As Camélias do Quilombo do Leblon, que fala da necessária segunda abolição no Brasil e da passagem dos amigos por Israel, após clamor público de Roger Waters para que o show não ocorresse. Os dois amigos ainda percorreram dez capitais brasileiras e cidades nos Estados Unidos e América do Sul. 

Caetano: "Nossa afinidade musical se resumiu à adesão apaixonada à bossa nova. Aprendi tudo com Gil, acho que não tenho nem o direito de me sentir musicalmente próximo dele. Sempre foi algo aquém e além da música. Isso não muda essencialmente. Agora, é bom para mim estar próximo de Gil outra vez, tentando tocar colado com ele, mesmo sendo quase incapaz. [...] Um dos maiores prazeres para mim neste show é ter aprendido a pecinha que Gil fez para acompanhamento. Depois de fazer alguns shows, aprendi e faço junto com ele. Isso me dá um prazer enorme. No show, Gil botou um negocinho em Terra que é quase nada, mas que muda tudo. Ele é incrível. Eu toco a canção toda, como sempre toquei, mas tem esse detalhe do Gil. Muda tudo." (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 2015).

"Quando iniciei os ensaios para Dois Amigos, Um Século de Música, pensei que ter aceito o convite do contratante europeu para fazer uma turnê ao lado de Gil fosse ser, afinal, mero caça-níquel: repertório redundante e absoluta impossibilidade de eu tocar um violão ao menos aceitável ao lado do meu colega. Precisei enfrentar umas quatro apresentações para admitir que havia um pouco de Paratodos no nosso show. Um pouco é muito. Hoje, há o sentimento de que o Brasil está acabando, de que não se pode suportar outra década perdida, de que descer tanto quando se esboçava aprender a subir é prova de que nunca sairemos do buraco em que sempre estivemos. O cu do mundo. Nossos shows nos diziam que há uma luz mais alta apontando para outras possíveis visões. Gil tinha saído da turnê intitulada Gilbertos Samba, em que retomava o repertório de João Gilberto, e eu resistia a que ele parasse com ela. Eu queria que o mundo o visse tocar É Luxo Só ou Você e Eu com os estudos do ritmo do samba feitos por Domenico Lancelotti e Bem Gil em aparatos eletrônicos - e a inspiração harmônica do magistral garoto Mestrinho no acordeom. Bom, o show chegou ao menos aos Estados Unidos, onde, no New York Times, foi criticamente consagrado. Mas Gil queria fazer o que o contratante europeu propunha. Honrava-me estar perto dele. Mas comecei hesitante. O que aprendi com ter feito o Dois Amigos não tem preço." (Caetano Veloso para a Revista Fevereiro, 2017).

"Gil faz 73 anos hoje [um dia após a estreia mundial do show]. Ontem, cantando e tocando Tres Palabras daquele jeito, ele me fez chorar. Gil engendra em Gil rouxinol. Nada se parece mais com ele do que esse verso escrito no século 19 por Sousândrade. Gil tem a compulsão da música. Na passagem de som, faz todos os números do show que fará à noite. Alguns, mais de uma vez. Não poupa a voz. Parece acreditar nos portos-seguros das comendas, das estabilidades, dos confortos, mas é misterioso. Costumava alardear fé em transcendências e entregas a imanências sagradas. Seu trabalho de filigrana com harmonias a um tempo sutis e toscas, feitas de paixão por cordas soltas, desabusada distribuição de posturas repetidas de mãos sobre os trastes ao longo do braço do violão, no entanto, mostra absorção do impressionismo que veio da bossa nova e uma aleatória sugestão de atonalismos que apontam para o tambor a que ele sempre quis, como no poema do moçambicano, resumir-se. Ao cantar demais, gasta a voz, castiga as cordas vocais, mas torna-se alguém que vai virando pura música. Não sei a que deuses agradecer o acaso de ter estado desde quase sempre tão perto dele." (Caetano Veloso em publicação no Instagram, 2015). 

Gilberto: "Fiz questão de que ele incluísse Desde Que O Samba É Samba, música dele que eu adoro. Mas não sou chegado a revelar o repertório antes do show, tira um grande elemento, que é a surpresa. Soube que os museus aqui [em Amsterdã] estão repaginados e maravilhosos. Mas em turnê gosto de ficar como jogador de futebol: concentrado... Nossa afinidade segue intacta como sempre. Vejo Caetano mais leve e jovial do que nunca em seus últimos trabalhos." (Gilberto Gil para o Jornal O Globo, 2015).

Lista de shows e ficha técnica ao final da página. 



O cenário do show idealizado por Hélio Eichbauer. Fotos: Gerlan Cidade/Flickr.

Release

Sem dúvida, dois dos maiores nomes da música popular do século XX, Caetano Veloso e Gilberto Gil celebram este ano cinquenta anos de carreira. Os dois se conheceram na lendária Rua Chile, centro de Salvador, numa tarde qualquer quando Gil descia a rua com o produtor Roberto Santana e este avistou Caetano que vinha subindo e fez as apresentações – e a amizade nascia ali. Houve os shows do Teatro Vila Velha da capital baiana, a ida para os grandes centros, a criação do tropicalismo: seria impossível destacar um momento da amizade ou da parceria (na verdade eles não chegam a ter dez composições juntos), mas o fato é que eles viveram muitas aventuras, alegrias, tristezas, concordâncias e discordâncias, e a amizade permaneceu intacta. É clara a admiração que um tem pelo outro e daí a dificuldade de se chegar a um repertório que represente isso tudo: tanto tempo, tanta amizade, tantas vivências – mas eles pretendem fazer um show que diga muito de tudo isso.

Desde que fizeram a turnê Tropicália Duo, em 94, havia muitos pedidos pelo mundo afora para que eles repetissem a dose. Cada um foi cuidando de sua carreira, desenvolvendo projetos bacanas até que agora surgiu a oportunidade deles dois, com seus violões, caírem na estrada juntos novamente.

A turnê os levará para palcos das principais cidades europeias onde eles já se apresentam individualmente há mais de 30 anos.

Gil por Caetano: Gil é um grande inventor que não registra patente. Sua imensa vaidade exercida com demasiada modéstia e seu desprezo inocente pela própria grandeza são as duas faces dessa lua meio negra meio escondida que é a música de sua pessoa. O meu entendimento do Gil de hoje: ser músico para ele sempre foi uma banalidade; é inerente a ele; não lhe dá trabalho. Ele quer discutir o que cerca a música; quer planejar uma estratégia política, com todos os seus colegas, da interferência no mercado que resulte numa desprovincianização e modernização do Brasil. Gil um dia disse que, ao contrário de refinar sua percepção harmônica, queira terminar batendo um tambor.

Caetano por Gil: Com Caetano tem sido sempre a reiteração do ato ritual da música, compreendido este ato em suas formas mais devocionais(como no mestre João Gilberto), ou nas mais guerreiras (como no rock'n'roll). Sempre pelo zen de todos e a felicidade geral do planeta. Com Caetano tem sido sempre pelo que a vida nos oferece de real: o viver. Como na viagem de avião ou na obrigação do Candomblé. Pelo gesto civilizado e pelo pensamento selvagem. Com Caetano tem sido sempre amor e amizade.

Caetano e Gil ensaiam sob os olhares de Felipe Veloso (figurinista) e Hélio Eichbauer (cenógrafo).
Foto: Paula Lavigne.

Sobre As Camélias do Quilombo do Leblon

"Fazia já um bom tempo, eu tinha lido um artigo de Eduardo Silva sobre o Quilombo do Leblon e suas camélias, que se tornaram o símbolo do movimento abolicionista. Antes de ir para a Europa, li "A História da Princesa Isabel", de Regina Echeverria e "Brasil, Uma Biografia", de Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, livros onde há referência a esse quilombo. De volta da Europa, me veio à cabeça, enquanto tomava banho em minha casa de Salvador, fazer uma canção sobre o tema. A sonoridade percussiva das palavras “as camélias do quilombo do Leblon” me sugeriram a frase melódica, a primeira parte. Esbocei uma segunda parte parecida com No Tabuleiro da Baiana, de Ary Barroso (1903-1964). Fui à casa de Gil e mostrei o que tinha feito, pedindo que ele refizesse a segunda parte sem abandonar de todo a parecença com a música de Ary. Ele fez isso e ainda arrematou com a frase final. Nós adoramos essa música. Ela fala desse episódio bonito de nossa história (que não nos ensinam nas escolas!), comenta os caminhos do samba, encontra sentido na rima de Leblon com Ebron, ao comentar a passagem pela Cisjordânia, e conclama o ouvinte à realização da Segunda Abolição." (Caetano Veloso para o Correio - Salvador, 2015).

"Gosto muito desse tema [a abolição da escravatura brasileira e seus reflexos, com referência ao núcleo abolicionista do título e às flores que eram um signo da campanha antiescravidão]. Quando Caetano veio com a ideia, minha cabeça me levou para o Noites do Norte, o trabalho que ele fez quando estava lendo Joaquim Nabuco. E tem o estímulo que veio de nossa viagem a Israel, aquela paisagem árida, agreste, nordestina, aquele povo como se fosse os sem-terra daqui, mas na Cisjordânia. E a coisa da Princesa Isabel, esse resgate que Caetano coloca como exigência do papel de importância dela, a partir desse desprezo que parte dos historiadores brasileiros tem em relação à sua figura. Eu ficava me lembrando que botei o nome da minha filha de Isabela por causa dela. Caetano tinha acabado de tomar banho na casa dele em Salvador, teve a ideia da música. Quando chegou lá em casa para jantar, me contou. Falou que tinha uma parte que é parecida com Ary Barroso." (Gilberto Gil para o Jornal O Globo, 2015).

Ensaio para o show Dois Amigos, Um Século de Música. Foto: Pedro Tourinho.

Outras palavras: Entrevista com Caetano Veloso
(Trecho: Jornal O Povo, 14/11/2015)

O POVO – Queria começar pela montagem do show. Como pensaram o repertório, o que queriam mostrar, por que só voz e violão?

Caetano Veloso – Foi só com voz e violão que tocamos juntos há 21 anos, na turnê Tropicália duo. Foi com nossos violões que conhecemos a música um do outro. Tivemos poucos dias para definir repertório e ensaiar: eu estava ainda fazendo Abraçaço por aí. As ideias que vieram foram quase todas adotadas de cara.

OP– No que toca à música, o que você mais admira em Gilberto Gil?

Caetano – Justamente a musicalidade nata. Ele é um artista da música muito maior do que eu. Coisa que vi desde que o conheci em 1963. O violão dele é um capítulo na história da nossa música popular. Seu senso do ritmo, uma delícia para a alma.

OP– O primeiro disco que vocês assinaram juntos foi lançado há 46 anos. O que mais mudou nessa unidade “Gil+Caetano” ao longo desse tempo?

Caetano – Que disco era esse? [o disco é o Barra 69] Mudar a gente sempre muda. Mas a essência da música de Gil permanece basicamente a mesma. No palco, vejo-o em Salvador desdobrando a bossa nova; em Londres, improvisando horas de vocalise e violão harmônico-rítmico. Ele é um mestre eterno. E meu espanto diante dele não muda.

OP– Você já lançou alguns discos em parceria com o Gil. Também lançou com Gal, Bethânia, Chico, Maria Gadú, Mautner, David Byrne. E agora esta nova turnê vai render mais um disco em parceria. Existe alguém com quem gostaria de dividir um trabalho e não teve oportunidade?

Caetano – Nunca penso nisso. Os artistas da música que mais admiro me parecem sempre acima das minhas possibilidades. Todos os encontros que tive – com Gil, com Milton, com Chico, com Mautner, com Donato, com Beta, com Gal, com Elza, com mil gentes – foram oportunidades em que me senti presenteado pelo destino.

OP– Depois de 50 anos de carreira, a expectativa do público pela obra de vocês tornou-se bem grande. E como fica isso para você? Existe uma preocupação de responder a uma expectativa na hora de apresentar um novo trabalho?

Caetano – Fizemos tudo de modo muito modesto e simples. Nem sei como as plateias dos primeiros shows na Europa, em que eu estava totalmente despreparado, gostaram tanto do que viram e ouviram.

OP– Indo além da parceria na música, a amizade de Gil e Caetano é um das poucas verdades incontestáveis que se sabe. Se essa amizade fosse virar um filme, que cena não poderia faltar?

Caetano – Nosso encontro na Rua Chile, em Salvador, ao lado de Roberto Santana.


Dois Amigos, Um Século de Música em Brasília. Foto: Francisco Taboza.

Lista de Músicas

CD1

1 - Back In Bahia
(Gilberto Gil)

2 - Coração Vagabundo
(Caetano Veloso)

3 -Tropicália
(Caetano Veloso)

4 - Marginalia II
(Gilberto Gil, Torquato Neto)

5 - É Luxo Só
(Inezita Barroso, Luiz Peixoto)

6 - De Manhã
(Caetano Veloso)

7 - As Camélias do Quilombo do Leblon
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

8 - Sampa
(Caetano Veloso)

9 - Terra
(Caetano Veloso)

10 - Nine Out Of Ten
(Caetano Veloso)

11 - Odeio
(Caetano Veloso)

12 - Tonada de Luna Llena
(Simón Díaz)

13 - Eu Vim da Bahia
(Gilberto Gil)

CD 2

1 - Super Homem (A Canção)
(Gilberto Gil)

2 - Come Prima
(Mario Panzeri, Alessandro Taccani, Vincenzo Dipaola) 

3 - Esotérico
(Gilberto Gil)

4 - Tres Palabras
(Osvaldo Farrés)

5 - Drão
(Gilberto Gil)

6 - Não Tenho Medo da Morte
(Gilberto Gil)

7 - Expresso 2222
(Gilberto Gil)

8 - Toda Menina Baiana
(Gilberto Gil)

9 - São João, Xangô Menino
(Caetano Veloso, Gilberto Gil)

10 - Nossa Gente (Avisa Lá)
(Roque Carvalho)

11 - Andar Com Fé
(Gilberto Gil)

12 - Filhos de Gandhi
(Gilberto Gil)

13 - Desde Que o Samba é Samba
(Caetano Veloso)

14 - Domingo no Parque
(Gilberto Gil)

15 - A Luz de Tieta
(Caetano Veloso)

Vamos às Letras

1 - Back In Bahia (Gilberto Gil)

Lá em Londres, vez em quando me sentia longe daqui
Vez em quando, quando me sentia longe, dava por mim
Puxando o cabelo
Nervoso, querendo ouvir Cely Campelo pra não cair
Naquela fossa
Em que vi um camarada meu de Portobello cair
Naquela falta
De juízo que eu não tinha nem uma razão pra curtir
Naquela ausência
De calor, de cor, de sal, de sol, de coração pra sentir
Tanta saudade
Preservada num velho baú de prata dentro de mim

Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar
Do luar que tanta falta me fazia junto com o mar
Mar da Bahia
Cujo verde vez em quando me fazia bem relembrar
Tão diferente
Do verde também tão lindo dos gramados campos de lá
Ilha do Norte
Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar
Por algum tempo
Que afinal passou depressa, como tudo tem de passar
Hoje eu me sinto
Como se ter ido fosse necessário para voltar
Tanto mais vivo
De vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá

Foto: Henrique Alqualo.

2 - Coração Vagabundo (Caetano Veloso)

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher

Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meus sonhos
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim

Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

Foto: Berenguez.

3 -Tropicália (Caetano Veloso)

Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés, os caminhões
Aponta contra os chapadões, meu nariz

Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central do país

Viva a bossa, sa, sa

Viva a palhoça, ça, ça, ça, ça

O monumento é de papel crepom e prata
Os olhos verdes da mulata
A cabeleira esconde atrás da verde mata
O luar do sertão

O monumento não tem porta
A entrada é uma rua antiga,
Estreita e torta
E no joelho uma criança sorridente,
Feia e morta,
Estende a mão

Viva a mata, ta, ta

Viva a mulata, ta, ta, ta, ta

No pátio interno há uma piscina
Com água azul de Amaralina
Coqueiro, brisa e fala nordestina

E faróis
Na mão direita tem uma roseira
Autenticando eterna primavera
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis

Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia

No pulso esquerdo o bang-bang
Em suas veias corre muito pouco sangue
Mas seu coração
Balança a um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes
Pelos cinco mil alto-falantes
Senhoras e senhores
Ele pões os olhos grandes sobre mim

Viva Iracema, ma, ma
Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma

Domingo é o fino-da-bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai à roça

Porém, o monumento
É bem moderno
Não disse nada do modelo
Do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem
Que tudo mais vá pro inferno, meu bem

Viva a banda, da, da
Carmen Miranda, da, da, da da

Caetano e Gil no Circo Voador. Foto: Filipe Marques.

4 - Marginalia II (Gilberto Gil, Torquato Neto)

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição

Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti

Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá

A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá

Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo

Foto: Henrique Alqualo.

5 - É Luxo Só (Inezita Barroso, Luiz Peixoto)

Olha, essa mulata quando dança
É luxo só
Quando todo seu corpo se embalança
É luxo só
Tem um não sei quê
Que faz a confusão
O que ela não tem, meu Deus,
É compaixão
Êta, mulata bamba
Olha, essa mulata quando dança
É luxo só
Quando todo seu corpo se embalança
É luxo só
Porém seu coração quando se agita
E palpita mais ligeiro
Nunca vi compasso tão brasileiro

Êta, samba, cai pra lá
Cai pra cá, cai pra lá, cai pra cá
Êta, samba, cai pra lá
Cai pra cá, cai pra lá, cai pra cá
Mexe com as cadeiras, mulata
E o requebrado me maltrata

Foto: Henrique Alqualo.

6 - De Manhã (Caetano Veloso)

É de manhã
É de madrugada
É de manhã
Não sei mais de nada
É de manhã
Vou ver meu amor

É de manhã
Vou ver minha amada
É de manhã
Flor da madrugada
É de manhã
Vou ver minha flor

Vou pela estrada
E cada estrela
É uma flor
Mas a flor amada
É mais que a madrugada
E foi por ela
Que o galo cocorocô
Que o galo cocorocô

Dois Amigos, Um Século de Música em Bruxelas. Foto: Uns Produções.

7 - As Camélias do Quilombo do Leblon (Caetano Veloso, Gilberto Gil)

As camélias do quilombo do Leblon
As camélias do quilombo do Leblon
As camélias do quilombo do Leblon
As camélias

As camélias do quilombo do Leblon
As camélias do quilombo do Leblon
As camélias do quilombo do Leblon
Nas lapelas

Vimos as tristes colinas logo ao sul de Hebron
Rimos com as doces meninas sem sair do tom
O que fazer
Chegando aqui?
As camélias do Quilombo do Leblon
Brandir

Somos a Guarda Negra da Redentora
Somos a Guarda Negra da Redentora
Somos a Guarda Negra da Redentora

As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
As camélias da Segunda Abolição
As camélias

As camélias da segunda abolição
As camélias da segunda abolição
As camélias da segunda abolição
Cadê elas?

Somos assim, capoeiras das ruas do rio
será sem fim o sofrer do povo do Brasil
Nele, em mim, vive o refrão
As camélias da segunda abolição virão

Caetano e Gil visitam ocupações palestinas no WestBank, em Susiya, território ameaçado de destruição, guiados por Yehuda Shaul, da ONG Breaking The Silence, que reúne ex-soldados combatentes de Israel para mostrar a realidade da Palestina hoje. Foto: Uns Produções.

8 - Sampa (Caetano Veloso)

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes

E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Foto: Henrique Moa.

9 - Terra (Caetano Veloso)

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que eu vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim, coberta de nuvens

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

Ninguém supõe a morena
Dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema
Mando um abraço pra ti
Pequenina
Como se eu fosse o saudoso poeta
E fosses à Paraíba

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

Eu estou apaixonado
Por uma menina, terra
Signo de elemento terra
Do mar se diz: Terra à vista
Terra para o pé, firmeza
Terra para a mão, carícia
Outros astros lhe são guia

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mande coragem
Pra gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas no nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito

Terra, Terra
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?

Foto: Marcos Hermes.

10 - Nine Out Of Ten (Caetano Veloso)

Walk down Portobello road to the sound of reggae
I'm alive
The age of gold, yes the age of old
The age of gold
The age of music is past
I hear them talk as I walk yes I hear them talk
I hear they say
"Expect the final blast"
I walk down Portobello road to the sound of reggae

I'm alive
I'm alive and vivo muito vivo
Feel the sound of music banging in my belly
Know that one day I must die
I'm alive vivo muito vivo
In the Electric Cinema or on the telly
Nine out of ten films stars make me cry

Foto: Filipe Marques.

11 - Odeio (Caetano Veloso)

Veio um golfinho do meio do mar roxo
Veio sorrindo pra mim
Hoje o sol veio vermelho como um rosto
Vênus, diamante, jasmim
Veio enfim o e-mail de alguém

Veio a maior cornucópia de mulheres
Todas mucosas pra mim
O mar se abriu pelo meio dos prazeres
Dunas de ouro e marfim
Foi assim, é assim, mas assim é demais também

Odeio você, odeio você, odeio você
Odeio

Veio um garoto do arraial do cabo
Belo como um serafim
Forte e feliz feito um deus, feito um diabo
Veio dizendo que sim
Só eu, velho, sou feio e ninguém

Veio e não veio quem eu desejaria
Se dependesse de mim
São Paulo em cheio nas luzes da Bahia
Tudo de bom e ruim
Era o fim, é o fim, mas o fim é demais também

Odeio você, odeio você, odeio você
Odeio

Dois Amigos, Um Século de Música em Milão. Foto: Uns Produções.

12 - Tonada de Luna Llena (Simón Díaz)

Yo vide una garza mora
Dándole combate a un rio
Así es como se enamora
Tú corazón con el mio

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante

Anda muchacho a la casa
Y me trae la carabina
Pa' mata este gavilán
Que no me deja gallina

La luna me está mirando
Yo no se lo que me ve
Yo tengo la ropa limpia
Ayer tarde la lavé

Luna, luna, luna, llena menguante
Luna, luna, luna, llena menguante

Pongate

Prova do figurino com Felipe Veloso. Foto: Uns Produções.

13 - Eu Vim da Bahia (Gilberto Gil)

Eu vim
Eu vim da Bahia cantar
Eu vim da Bahia contar
Tanta coisa bonita que tem
Na Bahia, que é meu lugar
Tem meu chão, tem meu céu, tem meu mar
A Bahia que vive pra dizer
Como é que se faz pra viver
Onde a gente não tem pra comer
Mas de fome não morre
Porque na Bahia tem mãe Iemanjá
De outro lado, o Senhor do Bonfim
Que ajuda o baiano a viver
Pra cantar, pra sambar pra valer
Pra morrer de alegria
Na festa de rua, no samba de roda
Na noite de lua, no canto do mar
Eu vim da Bahia
Mas eu volto pra lá
Eu vim da Bahia
Mas algum dia eu volto pra lá

Estreia do show em Amsterdã. Foto: Marina Mattoso.

CD 2

1 - Super Homem (A Canção) (Gilberto Gil)

Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter

Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver

Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser

Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher

Dois Amigos, Um Século de Música em Recife. Foto: Uns Produções.

2 - Come Prima (Mario Panzeri, Alessandro Taccani, Vincenzo Dipaola)

Come prima più di prima t'amerò
Per la vita la mia vita ti darò
Sembra un sogno
Rivederti e accarezzarti
Le tue mani
Fra le mani stringere ancor

Il mio mondo tutto il mondo sei per me
A nessuno voglio bene come a te
Ogni giorno ogni istante
Dolcemente ti dirò
Como prima più di prima t'amerò

Ensaio para Dois Amigos, Um Século de Música em Belo Horizonte. Foto: Uns Produções.

3 - Esotérico (Gilberto Gil)

Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu prá você
Que eu, que dois, que dez, que dez milhões, todos iguais
Até que nem tanto esotérico assim
Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim

Dois Amigos, Um Século de Música em Brasília. Foto: Uns Produções.

4 - Tres Palabras (Osvaldo Farrés)

Oye la confesión,
de mi secreto
nace de un corazón,
que está desierto

Con tres palabras,
te diré todas mis cosas
cosas del corazón,
que son preciosas

Dame tus manos
ven toma las mías
que te voy a confiar
las ansias mías

Son tres palabras
solamente, mis angustías
y esas palabras son
como me gustas

Dois Amigos, Um Século de Música no Rio de Janeiro. Foto: Uns Produções.

5 - Drão (Gilberto Gil)

Drão
O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer!
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura

Drão
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se, infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer!
Nossa caminha dura
Cama de tatame
Pela vida afora

Drão
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há
De haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão!
Morrenasce, trigo
Vivemorre, pão

Drão

Passagem de som em Vienne, França. Foto: Uns Produções.

6 - Não Tenho Medo da Morte (Gilberto Gil)

Não tenho medo da morte
Mas sim medo de morrer
Qual seria a diferença
Você há de perguntar
É que a morte já é depois
Que eu deixar de respirar
Morrer ainda é aqui
Na vida, no sol, no ar
Ainda pode haver dor
Ou vontade de mijar
A morte já é depois
Já não haverá ninguém
Como eu aqui agora
Pensando sobre o além
Já não haverá o além
O além já será então
Não terei pé nem cabeça
Nem figado, nem pulmão
Como poderei ter medo
Se não terei coração?

Não tenho medo da morte
Mas medo de morrer, sim
A morte é depois de mim
Mas quem vai morrer sou eu
O derradeiro ato meu
E eu terei de estar presente
Assim como um presidente
Dando posse ao sucessor
Terei que morrer vivendo
Sabendo que já me vou

Então nesse instante sim
Sofrerei quem sabe um choque
Um piripaque, ou um baque
Um calafrio ou um toque
Coisas naturais da vida
Como comer, caminhar
Morrer de morte matada
Morrer de morte morrida
Quem sabe eu sinta saudade
Como em qualquer despedida.

Foto: Fernando Young.

7 - Expresso 2222 (Gilberto Gil)

Começou a circular o Expresso 2222
Que parte direto de Bonsucesso pra depois
Começou a circular o Expresso 2222
Da Central do Brasil
Que parte direto de Bonsucesso
Pra depois do ano 2000

Dizem que tem muita gente de agora
Se adiantando, partindo pra lá
Pra 2001 e 2 e tempo afora
Até onde essa estrada do tempo vai dar
Do tempo vai dar
Do tempo vai dar, menina, do tempo vai

Segundo quem já andou no Expresso
Lá pelo ano 2000 fica a tal
Estação final do percurso-vida
Na terra-mãe concebida
De vento, de fogo, de água e sal
De água e sal
De água e sal
Ô, menina, de água e sal

Dizem que parece o bonde do morro
Do Corcovado daqui
Só que não se pega e entra e senta e anda
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim
Ô, menina, que não tem fim

Nunca se chega no Cristo concreto
De matéria ou qualquer coisa real
Depois de 2001 e 2 e tempo afora
O Cristo é como quem foi visto subindo ao céu
Subindo ao céu
Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu

Foto: Marcos Hermes.

8 - Toda Menina Baiana (Gilberto Gil)

Toda menina baiana tem um santo, que Deus dá
Toda menina baiana tem encanto, que Deus dá
Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá
Toda menina baiana tem defeito também que Deus dá

Que Deus deu
Que Deus dá

Que Deus entendeu de dar a primazia
Pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia
Primeira missa, primeiro índio abatido também
Que Deus deu

Que Deus entendeu de dar toda magia
Pro bem, pro mal, primeiro chão na Bahia
Primeiro carnaval, primeiro pelourinho também
Que Deus deu

Que Deus deu
Que Deus dá

Ensaio. Foto: Uns Produções.

9 - São João, Xangô Menino (Caetano Veloso, Gilberto Gil)

Ai, Xangô, Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino, Xangô
Da fogueira de São João

Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão

Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxossi
Viva São João

Olha pro céu, meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho, Xangô
Canto tanto canto lindo

Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo, Xangô
Ai, São João, Xangô Menino

Viva São João
Viva Refazenda
Viva São João
Viva Dominguinhos
Viva São João
Viva Qualquer Coisa
Viva São João
Gal Canta Caymmi
Viva São João
Pássaro Proibido
Viva São João

Foto: Marina Mattoso.

10 - Nossa Gente (Avisa Lá) (Roque Carvalho)

Avisa lá que eu vou chegar mais tarde, o yê
Vou me juntar ao Olodum que é da alegria
É denominado de vulcão
O estampido ecoou nos quatro cantos do mundo
Em menos de um minuto, em segundos
Nossa gente é quem bem diz é quem mais dança
Os gringos se afinavam na folia
Os deuses igualando todo o encanto toda a transa
Os rataplans dos tambores gratificam

Quem fica não pensa em voltar
Afeição a primeira vista
O beijo-batom que não vai mais soltar
A expressão do rosto identifica

Avisa lá, avisa lá, avisa lá ô ô
Avisa lá que eu vou
Avisa lá, avisa lá, avisa lá ô ô
Avisa lá que eu vou

Foto: Tino Monetti.

11 - Andar Com Fé (Gilberto Gil)

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Ô-ô
Num pedaço de pão
A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Ô-ô
Na luz, na escuridão

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Ô-ô
No calor do verão
A fé tá viva e sã
A fé também tá pra morrer
Ô-ô
Triste na solidão

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Ô-ô
A pé ou de avião
Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Ô-ô
Pelo sim, pelo não

Dois Amigos, Um Século de Música em Miami. Foto: Gtdmouse.

12 - Filhos de Gandhi (Gilberto Gil)

Omolu, Ogum, Oxum, Oxumaré
Todo o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Iansã, Iemanjá, chama Xangô
Oxossi também
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Mercador, Cavaleiro de Bagdá
Oh, Filhos de Obá
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Senhor do Bonfim, faz um favor pra mim
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Oh, meu Deus do céu, na terra é carnaval
Chama o pessoal
Manda descer pra ver
Filhos de Gandhi

Dois Amigos, Um Século de Música no Circo Voador. Foto: Juliana Periscinotto.

13 - Desde Que o Samba é Samba (Caetano Veloso)

A tristeza é senhora
Desde que o samba é samba é assim
A lágrima clara sobre a pele escura
A noite, a chuva que cai lá fora
Solidão apavora
Tudo demorando em ser tão ruim
Mas alguma coisa acontece
No quando agora em mim
Cantando eu mando a tristeza embora

O samba ainda vai nascer
O samba ainda não chegou
O samba não vai morrer
Veja, o dia ainda não raiou
O samba é o pai do prazer
O samba é o filho da dor
O grande poder transformador

Dois Amigos, Um Século de Música em Barcelona. Foto: Tino Monetti.

14 - Domingo no Parque (Gilberto Gil)

O rei da brincadeira – ê, José
O rei da confusão – ê, João
Um trabalhava na feira – ê, José
Outro na construção – ê, João

A semana passada, no fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde saiu apressado
E não foi pra Ribeira jogar
Capoeira
Não foi pra lá pra Ribeira
Foi namorar

O José como sempre no fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio
Foi no parque que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu

Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana, seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João
O espinho da rosa feriu Zé
E o sorvete gelou seu coração

O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, dançando no peito – ô, José
Do José brincalhão – ô, José

O sorvete e a rosa – ô, José
A rosa e o sorvete – ô, José
Oi, girando na mente – ô, José
Do José brincalhão – ô, José

Juliana girando – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
Oi, na roda gigante – oi, girando
O amigo João – João

O sorvete é morango – é vermelho
Oi, girando, e a rosa – é vermelha
Oi, girando, girando – é vermelha
Oi, girando, girando – olha a faca!

Olha o sangue na mão – ê, José
Juliana no chão – ê, José
Outro corpo caído – ê, José
Seu amigo, João – ê, José

Amanhã não tem feira – ê, José
Não tem mais construção – ê, João
Não tem mais brincadeira – ê, José
Não tem mais confusão – ê, João

Foto: Felipe Veloso.

15 - A Luz de Tieta (Caetano Veloso)

Todo dia é o mesmo dia,
A vida é tão tacanha
Nada novo sob o sol
Tem que se esconder no escuro
Quem na luz se banha
Por debaixo do lençol

Nessa terra a dor é grande
E a ambição pequena
Carnaval e futebol
Quem não finge,
Quem não mente,
Quem mais goza e pena
É que serve de farol

Existe alguém em nós
Em muitos dentre nós
Esse alguém
Que brilha mais do que
Milhões de sóis
E que a escuridão
Conhece também

Existe alguém aqui
Fundo no fundo de você,
De mim
Que grita pra quem quiser ouvir
Quando canta assim:

Eta
Eta, eta, eta
É a lua, é o sol é a luz de Tieta,
Eta, eta!

Toda noite é a mesma noite,
A vida é tão estreita
Nada de novo ao luar
Todo mundo quer saber
Com quem você se deita
Nada pode prosperar
É domingo, é fevereiro,
É sete de setembro,
Futebol e carnaval
Nada muda, é tudo escuro
Até onde eu me lembro
Uma dor que é sempre igual

Foto: Flora Gil.




LISTA DE SHOWS - DOIS AMIGOS, UM SÉCULO DE MÚSICA

2015:

25 de junho - Amsterdam - Holanda, Koninklijk Concertgebouw.

29 de junho - Bruxelas - Bélgica, Forest National. 

1 de julho - Londres - Inglaterra, Hammersmith Apollo.

3 de julho - Vienne - França, Théâtre Antique no Festival Jazz à Vienne. 

6 de julho - Paris - França, Palais des Congrès de Paris. 

8 de julho - Copenhague - Dinamarca, DR Koncerthuset.

10 de julho - Chieri - Itália, Piazza Dante no Area Festival. 

11 de julho - Milão - Itália, Villa Arconati. 

13 de julho - Barcelona - Espanha, Gran Teatre del Liceu. 

15 de julho - Montreux - Suíça, Montreux Jazz Festival no Auditorium Stravinski.  

17 de julho - Perugia - Itália, Umbria Jazz na Arena Santa Giuliana. 

19 de julho - Codroipo - Itália, Villa Manin. 

21 de julho - Madri - Espanha, Teatro Real. 

23 de julho - Monte Carlo - Mônaco, Salle des Étoiles. 

24 de julho - Marselha - França, Palais Longchamp. 

26 de julho - Cartagena - Espanha, Auditorio El Batel (cancelado por problemas logísticos).

28 de julho - Tel Aviv - Israel, Menora Mivtachim Arena. 

31 de julho - Oeiras - Portugal, Parque dos Poetas. 

2 de agosto - Marciac - França, Festival Jazz in Marciac no Chapiteau.

20, 21, 22 e 23 de agosto - São Paulo-SP, Citibank Hall.

26 de agosto - Curitiba-PR, Ópera de Arame. 

28 de agosto - Porto Alegre-RS, Auditório Araújo Vianna. 

4 de setembro - Rosário - Argentina, City Center. 

6 de setembro - Córdoba - Argentina, Orfeo Superdomo. 

9 de setembro - Buenos Aires - Argentina, Luna Park. 

12 de setembro - Montevidéu - Uruguai, Velódromo Municipal. 

26 e 27 de setembro - Belo Horizonte-MG, Chevrolet Hall. 

3 de outubro - Brasília-DF, Centro de Convenções Ulysses Guimarães. 

8 de outubro - São Paulo-SP, Citibank Hall. 

16, 17, 18, 23 e 24 de outubro - Rio de Janeiro-RJ, Metropolitan. 

13 de novembro - Recife-PE, Classic Hall. 

14 de novembro - Fortaleza-CE, Centro de Eventos do Ceará. 

4, 5 e 6 de dezembro - Rio de Janeiro-RJ, Circo Voador.

18 de dezembro - Campinas-SP, Red Eventos Jaguariúna. 

2016:

2 de abril - Salvador-BA, Farol da Barra (gratuito).

5 de abril - Santiago - Chile, Movistar Arena. 

7 de abril - Lima - Peru, Domos Art. 

10 de abril - Los Angeles - EUA, Microsoft Theater. 

12 de abril - Oakland - EUA, Paramount Theatre.

16 e 17 de abril - Miami - EUA, Bayfront Park (16) e Faena Theater (17). 

20 e 21 de abril - New York - EUA, BAM Howard Gilman Opera House. 

24 e 25 de abril - Porto - Portugal, Coliseu do Porto. 

27 e 28 de abril - Lisboa - Portugal, Coliseu dos Recreios. 

30 de abril - Zurique - Suíça, Kongresshaus Zürich. 

2 de maio - Barcelona - Espanha, Palácio da Música Catalã. 

4 de maio - Londres - Inglaterra, Barbican Centre. 

6 de maio - Roma - Itália, Sala Santa Cecilia no Auditorium Parco della Música. 

27 de agosto - Rio de Janeiro-RJ (adiado por motivo de saúde de Gil).

16 e 17 de setembro - São Paulo-SP, Citibank Hall. 

30 de outubro - Rio de Janeiro-RJ, Metropolitan. 


Ficha Técnica

Uma Produção: Uns Produções, Gege Produçõess e Multishow

Direção Musical: Caetano Veloso & Gilberto Gil

Show: Coordenação de Produção: Flora Gile Meny Lopes / Produção Executiva: Fafa Giordano e João Franklin / Técnico de Pa: Vavá Furquim / Técnico de Monitor e Roadie: João Ribeiro / Light Design: Ivan Marques / Produção Uns: Andrea Franco/ Figurino: Felipe Veloso/ Cenografia: Helio Eichbauer
/ Assistente Cenografia: Igor Perseke/ Comunicação Gege: Marina Mattoso / Assessoria de Imprensa Gege: Gilda Mattoso / Assessoria de Imprensa Multishow: In Press Porter Novelli / Comunicação Uns: Tino Monetti / Assessoria Imprensa Uns: Lis Estrela

DVD
Produção Paula Lavigne/ Coordenação Executiva: Henrique Alqualo

Áudio
Direção de Áudio: Bem Gil e Moreno Veloso / Mixagem: Moreno Veloso/ Masterização no Magic Master (rj): Ricardo Garcia / Unidade Móvel de Captação de Audio: Epah! / por Marcelo Freitas
Multishow - Diretor do Multishow: Guilherme Zattar / Conteúdo Musical: Stella Amaral/ Direção de Captação: Pedro Secchin/ Coordenadora de Conteúdo Musical: Juliana Costantini / Producão de Engenharia: Cecilia Vale/ Produção: Fred Vannucci e Miriam Ribas/ Gerente de Produção
Externa: Lu1z Augusto Morais / Coordenação de Operaçóes e Eventos: Fabio Costa e Ricardo dos Santos

Capa
Projeto Gráfico Gb65 - Giovánni Bianco/ Fotos: Marcos Hermes/ Revisāo: Luiz Augusto

(P) 2015 Uns Producões Artísticas Ltda, e Gege Produções Artísticas Ltda.





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