Angela Maria

Angela Maria é uma das figuras mais importantes da nossa cultura. Ouvi sua voz ao longo das décadas de minha formação e ainda fiquei assombrado com a musicalidade que ela exibia nos shows com Cauby Peixoto já em décadas mais recentes. Vi de perto sua figura mulata (tinha o apelido de "Sapoti", fruta de cor castanha quase humana, que hoje, infelizmente, quase ninguém no Rio ou em São Paulo sabe o que é, levando muitos a concluírem que é coisa nordestina, embora se diga que o apelido lhe foi dado pelo gaúcho Getúlio Vargas) nos domingos do Programa Paulo Gracindo, no auditório da Nacional, na Praça Mauá. Seu repertório de sambas-canções, boleros, marchinhas e sambas de carnaval segue vivo em minha cabeça e me meu coração. Uma cantora vocacionada, uma luz na história do nosso povo. Olho o auto-retrato de Emanoel Araújo na parede de minha sala e penso que essas xilogravuras, as esculturas posteriores e a energia no comando da Pinacoteca e no Museu Afro Brasil não seriam o que são se não tivéssemos tido a voz e a beleza de Angela no fundo da nossa sensibilidade. Vidas e obras como as de Angela Maria são prova de que o povo Brasileiro não pode ser reduzido a mesquinharia de nenhum tipo.

Caetano Veloso, 30/09/2018. 

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