Brumadinho

Quando fui a Brumadinho em 2016 para cantar no Meca Festival, fiquei assustado com o que vi no caminho. O evento era em Inhotim, museu cujo prestígio conhecia de longe. O entorno, no entanto, era deprimente. Os veículos da mineradora com frequência soltavam fumaça preta e ultrapassavam o carro que nos transportava nas estradas não asfaltadas, lançando poeira ou lama. Tudo é muito feio ali. Talvez mineração seja uma atividade que atrai violência. Lendo o livro de Zé Miguel sobre Drummond, pensei muitas vezes no fato de o que há de belo em Inhotim tardar a ser captado por minha sensibilidade, tal a sensação de desconforto humano, vegetal, animal e espiritual da região. A delicadeza das pessoas, o sabor das comidas, a graça da decoração (tudo tão mineiro) da pousada Nova Estância era igualmente contaminada pelo sentimento de desequilíbrio e feiura que a cercava. Já chorei algumas vezes hoje, incontrolavelmente, pensando nas pessoas que conheci lá. E nas tantas que não conheci. Revejo no YouTube o lindíssimo vídeo do garoto preto baiano, Vitor, que declama ‘E agora, José?’. Essa é a pergunta.

Caetano Veloso, 26/01/2019. 

Quero dedicar esse show ao Márcio Paulo Mascarenhas, dono da pousada que me recebeu com muito carinho da última vez que estive aqui, sua família e funcionários que perderam suas vidas soterradas na tragedia em Brumadinho, em 2019. Precisamos cobrar os responsáveis e estar mais atentos ao que há de mais precioso no país e no planeta!

Caetano Veloso, 13/08/2022.

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