Cacá Diegues

Cacá Diegues é uma das grandes figuras da história do Brasil e de minha formação. Tendo sido um dos pioneiros do Cinema Novo, ele nunca deixou de crer no que o levou a isso. No tempo da ditadura, ele estava na Europa e me levou, em Paris, a ver um filme que segue sendo um dos que mais amo, "Matou a família e foi ao cinema" de Julinho Bressane, peça da fase inaugural do pós-cinema novo, e, de volta ao Brasil da abertura, fez "Xica da Silva", um dos encontros mais intensos entre a arte que os intelectuais cinemanovistas ambicionavam fazer e o público que alimenta a indústria cultural. "Bye bye Brasil" encontra a aprovação dos pensantes e se mostra fascinante aos olhos estrangeiros, o que faz de cada gringo um Elia Kazan, gênio holliwoodiano que amava Cacá desde "Os herdeiros" (e em cujo quarto de hotel parisiense Cacá viu foto de Joseph Losey, ex-amigo que Kazan tinha dedurado ao macartismo e refugiara-se em Londres produzindo obras finas). Quando, convidado a prestar homenagem a Almodóvar na Cinemateca Francesa, cantei para uma plateia em que estava Jeanne Moureau, esta me disse, ao final, com lágrimas nos olhos, que "Joana, a francesa" era um dos filmes que mais gostara de ter feito, que ela seria para sempre grata a Cacá. Eu, que não tinha gostado muito do filme quando ele foi lançado mas tinha, numa revisão televisiva casual, ficado surpreso com sua capacidade de crescer com o tempo, senti lágrimas virem aos meus. Cacá fez 80 anos. Tenho orgulho de que no Brasil haja alguém obstinado a ponto de, ao contrário do que a preguiça dita, nos levar a insistir seja qual for a aparência da derrota e da desesperança. Feliz Aniversário.

Caetano Veloso, 21/05/2020. 

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