Carnaval
Já é carnaval, cidade. Assim começa uma marcha deslumbrante de Gerônimo. Aqui em Salvador já é. Ontem na Barra teve BaianaSystem, Armandinho Dodô e Osmar, Saulo, Claudia Leitte, Daniela Mercury, Bell Marques, Harmonia do Samba, Margareth Menezes, Ricardo Chaves (com Magarylord) entre outros. De pagode, além do Harmonia, rolou Parangolé (genial) e mais dois novos, cujos nomes não aprendi mas cujo clima divino de groove arrastado me prendeu. Muitos momentos bonitos. Bel mostrou a força do estilo de rua desenvolvido no Chiclete. Cotoveladas multitudinárias e violência prazerosa não escondem a puta dor sentimental que surge nas marchas-frevo-galope. Daniela é a boa rainha má: figura histórica nível Dodô, Osmar, Carlinhos Brown ou Vovô, ela faz renascer a cada ano a festa de rua baiana. Margareth não fica atrás dela ou de Bel. E a multidão que segue o Bloco Mascarados é interminável e canta os refrãos: mesmo quem está a mais de quilômetro do trio se faz ouvir tanto quanto os instrumentos elétricos e as vozes amplificadas. Claudia Leitte surgiu quando Ivete Sangalo e Daniela já eram estrelas nacionais: prova até hoje que resiste à convivência e a eventuais comparações. Tenho muito orgulho do carnaval da Bahia. Armandinho e BaianaSystem ocupam os extremos da era histórica a que assistimos.
Caetano Veloso, 01/03/2019.
Eu amo muito o Carnaval da Bahia. Isso aqui, pra mim, tem uma importância imensurável. Então, eu fico emocionado! Quando eu cheguei mais cedo, vi coisas incríveis. Armandinho, com arranjos maravilhosos, um cara português cantando uma música do Queen, mas acompanhando o ritmo do marcha rancho. Um solo de Armandinho. Já fiquei com os olhos cheios d'água. O Carnaval da Bahia disse, diz e dirá coisas imensas para o Brasil, que o Brasil haverá de saber metabolizar-se.
Caetano Veloso, 21/02/2023.