David Byrne

A escritora argentina Violeta Weichelbaum disse num email que o novo show de David Byrne, a que ela assistiu em Buenos Aires, "é uma das coisas melhores que já vi sobre um palco". Sinto não estar no Brasil pra ver. Ele está chegando por aí. "Stop Making Sense" é o melhor filme de show de rock de todos os tempos. Com toda a reverência ao diretor Jonathan Demme, o filme é genial por causa do show. Vi outros três shows de David, já pós-Talking Heads. Um com base eletrônica e ele na guitarra era perfeito. O com Margareth Meneses e banda tipo cubana, divino. O outro em que ele cantava uma ária de ópera, incrível. Pra mim, David é o mais chique dos roqueiros. Nos anos 80 eu amava aqueles gestos autistas, aquelas paradas, aqueles congelamentos. E a voz que dá vida única às canções que ele compõe! Pois agora me dizem que este é o mais lindo dos shows dele! Queria estar aí. Um dia eu vejo. Mas eu queria ver agora no Brasil. Nos anos 80 a plateia carioca cantava as músicas no cinema, durante um festival. Eu, que não sabia nenhuma, ficava encantado. Mais tarde, gravei a bem posterior "Nothing but Flowers". David é um dos meus artistas favoritos no mundo. Dediquei Verdade Tropical a ele (junto com Zé Miguel Visnik e a argentina Silvina Garret).

Caetano Veloso, 22/03/2018. 

O show de David Byrne (American Utopia) é incrível. Sempre disse que ele é o mais chique dos roqueiros. E isso ele continua sendo. Mas neste show de agora há uma vida, uma liberdade, uma energia luminosa que é força a se contrapor à sensação de baixo astral que vive o mundo. Estar na América de Trump e receber as notícias que recebemos do Brasil é o oposto de estar num auditório diante da música e da cena de David. Tenho mais orgulho de ser seu amigo. No show, cada canção é uma peça cênica bem desenvolvida. A qualidade das coreografias reside em elas abrirem mão de seu nível intrínseco e se porem a serviço da estrutura de concerto popular. Quem viu no Brasil sabe do que estou falando. Que beleza ter podido ver aqui agora. Os músicos, todos com os instrumentos amplificados sem fio, dançam e contracenam com David de modo a fazer cada número dizer melhor o que os versos e as frases ritmo-melódicas dizem. Cria-se clima de alegria e beleza genuínas e de desafio à baixeza que rola por cima e ameaça nos esmagar. E ainda tem Gustavo De Dalva (gênio da percussão baiana que conheci adolescente), Mauro Refosco e Stephane San Juan. Amigos. É um dos mais belos concertos de rock ou pop que já se fez e é diferente de todos os outros.

Caetano Veloso, 08/09/2018. 

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