Jards Macalé

Todo mundo deve ouvir Besta Fera, o novo álbum de Jards Macalé. Tem uma produção paulistana à altura do que ele esboçou no cultuado álbum de 1972. Acho que conheci Macalé quando ainda nem era 64. Álvaro Guimarães me trouxe ao Rio pra finalizar a trilha do Curta "Moleques de rua" e assim encontrei Jota (com quem compus "No carnaval") e Macalé era seu vizinho. Pra mim ele foi, desde o primeiro momento, uma personalidade fascinante. Engraçadíssimo e bom tocador de violão. Eu ficava encantado com pessoas que sabiam tocar acordes de bossa nova. E Macalé ainda tinha essa personalidade singular. Quando vim com Bethânia, ele logo estava tocando no Opinião. Eu ia ao ap dele no Bar Vinte, Ipanema. Adorava a mãe dele. Depois foi pra Samba conosco. Do exílio em Londres, chamei-o para tocar comigo no projeto que eu já estava desenvolvendo: Transa. E foi uma maravilha. Já tinha o morcego na porta e tudo o mais. Capinam. Tudo mesmo. Agora esse Besta Fera é a glória da marginália, que, segundo alguns, seguiu-se à (e vale mais do que a) tropicália. Seja como for, é um disco de audição obrigatória para quem quer sentir o que a música popular tem mesmo sido no Brasil. Pound e Tim Bernardes. Muita beleza.

Caetano Veloso, 18/03/2019. 

A turma da Biscoito Fino que gravou Macalé cantando "Sem samba não dá" num álbum de festa não imaginava que logo estaríamos, Macal e eu, revivendo o Transa juntos. Adorei a gente falar até em briga e datas antes de "Sem samba" e das transas de Transa. Bora, Macal!

Caetano Veloso, 21/11/2023. 

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