Miúcha

Conheci Miúcha em Salvador. Ela estava grávida de Bebel Gilberto. Agradeço a Carlos Coqueijo ter tido contato com essa pessoa especial em momento tão significativo: ele quis que a turma de música do Vila Velha conhecesse João Gilberto, então casado com ela. Ao longo dos anos, Miúcha teve presença sempre luminosa em minha vida. Tanto como artista quanto como pessoa. Tornei-me camarada constante de Chico Buarque no período de idas e vindas Rio-São Paulo. Fui umas poucas vezes à casa dos Buarque de Hollanda. Conheci os outros irmãos de Chico, mas Miúcha, que eu já encontrara antes, vivia nos Estados Unidos, depois no México. Sua musicalidade e a força que esta teve na formação de Chico é fato que este atesta ao lembrar treinamentos recreativos de abertura de vozes harmônicas. E ela aparecia cantando lindamente com João no segundo álbum deste com Stan Getz. De volta ao Brasil, Miúcha nos aproximou de João Donato, com quem apareceu muitas vezes em meu apartamento na Delfim Moreira. Também foi com ela que Tom Jobim foi umas vezes nos visitar. Sempre sorridente e gostando muito de viver, Miúcha era toda música, na intimidade ou no palco do Canecão. Com Vinicius e Tom. E em todas as gravações solo que fez. Anos depois, aquela participação divina no show de Bethânia! E agora, enquanto escrevo estas palavras diante da notícia de sua morte, Cezar Mendes me diz que "Aquele Frevo Axé", canção que amo apaixonadamente, parceria dele comigo, foi a última música que Miúcha gravou. Paro de escrever e vou pedir a Cezinha que ponha a gravação para eu ouvir (a faixa será lançada em breve).

Caetano Veloso, 27/12/2018. 

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