Molière - Uma Comédia Musical

Renato Borghi, que está no nascedouro do Tropicalismo, sendo o Rei da Vela de Oswald, Zé Celso, Hélio Eichbauer e Luiz Carlos Maciel de 1967, me saudou do palco do Teatro Adolpho Bloch ao final do Molière - Uma Comédia Musical que Elcio Nogueira Seixas e ele idealizaram a partir de texto da mexicana Sabina Berman que foi adaptado por Luci Collin e pelo diretor Diego Fortes. Fiquei emocionado e me senti tímido. Antes de se montar o espetáculo, Renato tinha me escrito uma bela carta (que veio como email enviado por um amigo dele), explicando o projeto e pedindo autorização para uso de canções minhas. Mandei um "sim" agradecido. Mas ver a peça é uma experiência surpreendente. A oposição entre tragédia e comédia é assunto que me fascina. Amo a comédia acima da mera função de distração a que ela se presta. E acima desse outro patamar de sagaz observante da realidade. Ver esse tema tratado com exuberância por um bando de atores excepcionais (com Matheus Nachtergaele à frente, mas também, além do jovem octogenário Renato e de Elcio, com o talento de Nilton Bicudo, Rafael Camargo, Georgette Fadel, Luciana Borghi, Regina Franco, Débora Veneziani, Marco Bravo, Edith Camargo (atriz e musicista) e o tratamento elegante e como que produzido de dentro para fora das canções dado a composições minhas por Gilson Fukushima, que põe Fabio Cardoso como um sereno Lully conduzindo Beatriz Lima, Renata Neves e Thomas Marcondes numa camerita sobre o palco. O resultado é exuberante: atuações magníficas, minha música tornada trilha sutil e profunda, com um "Coração vagabundo" feito drama, comédia e tragédia pelo gênio de Matheus, Molière é um espetáculo inteligente e excitante, tropicalista digno da melhor tradição moderna e experimental do teatro brasileiro desde 1967.

Caetano Veloso, 13/08/2018. 

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