Naná Vasconcelos
Naná Vasconcelos na Bahia, tocando com Gil e aprendendo tudo sobre berimbau, instrumento a respeito do qual ele deu exuberantes aulas práticas (criando peças improvisadas que eram sempre obras-primas) em suas apresentações ao redor do mundo. Naná Vasconcelos em Paris, ensinando tudo. Naná Vasconcelos em Nova York, tocando comigo no disco Estrangeiro, chamado pelo americano pernambucano Arto Lindsay. Naná Vasconcelos no Recife, orientando o carnaval, na Noite dos Tambores Silenciosos ou no Marco Zero. Naná, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, em qualquer área. Fernando Salem me escreveu, tomado pelas notícias das mortes de Jó e de Naná, que toda vez que um percussionista brasileiro morre um cantor deve chorar. Eles são os mais aplaudidos pelas plateias brasileiras, juntamente com os cantores. Mão de preto no couro é núcleo da música do Brasil. Esse preto muitas vezes é um branco. Mas a essência africana predomina e a estatística diz que a maioria dos bons percussionistas daqui é de pretos. Temos chorado muito esses dias. E ver Naná partir é coisa grande. Ele é a síntese da percussão negra da nossa música. E é um exemplo de músico criador abrangente. Orgulho do Brasil aos olhos do mundo, sua personalidade musical seguirá nos salvando do apequenamento e apontando para a luz da grandeza.
Caetano Veloso, 09/03/2016.