Paulinho da Viola
Nasci em 1942. Se tenho uma razão para me orgulhar nesta vida, esta é o ano em que nasci. Hoje, por exemplo, Paulinho da Viola completa a mesma idade que atingi em agosto. Somos Milton Nascimento, Gilberto Gil, Paul McCartney, uma pá de gente mágica. Mas Paulinho sempre mereceu um lugar especial em meu Olimpo. Quando eu o vi e ouvi pela primeira vez, tínhamos 23 anos. Em artigo que escrevi em 1965 para uma revista universitária de Salvador, em resposta aos argumentos um tanto reacionários de Tinhorão, eu já convidava quem quisesse entender o que estava acontecendo com a música brasileira que escutasse Paulinho. Depois, na ventura de ser seu vizinho de porta com porta no Solar da Fossa, foi a ele que mostrei minha primeira canção tropicalista: "Paisagem Útil". A reação de Paulinho foi uma lição de justiça e elegância. "Coisas do Mundo, Minha Nega", "Sinal Fechado", "Para Um Amor no Recife", "Coração Leviano", "14 Anos", só para mencionar as que me vieram à cabeça agora, as canções desse gênio discreto e deslumbrante são a riqueza do Brasil. Faz muitos anos que só vejo rara e finalmente. Não faz mal. Meu amor por tudo o que ele significa é e será sempre igual: ilimitado.
Caetano Veloso, 12/11/2019.
Conheci @paulinhodaviola no palco do Teatro Jovem, em 1965, no espetáculo Rosa de Ouro. Sua beleza, sua elegância e seu límpido talento me encantaram. O espetáculo era cheio de maravilhas, mas ele, ainda assim, sobressaía. 1965. Depois, quando voltei pro Rio e me hospedei no Solar da Fossa, tive a sorte de morar porta-a-porta com Paulinho. A essa altura eu já cantava "Coisas do mundo, minha nega" sozinho. Paulinho de perto era mais nobre e gracioso do que no palco. Seu violão era ainda mais puro em música do que no disco. Tenho orgulho de ter nascido no mesmo ano em que ele nasceu. O samba carioca deixava de ser propriedade do país varguista e se provava algo exclusivo do Rio. A cidade não era mais a capital do Brasil. Era ela. E Paulinho, jovem, representava a força do presente e do futuro dessa condição. O País está de parabéns pelos 80 anos desse gênio do Sinal Fechado, da Dança da Solidão, do Coração leviano, do Samba com letra maiúscula.