Pierre Gervaiseau

Pierre Gervaiseau foi um dos caras mais íntegros que conheci. Muito modesto de maneiras, era um homem típico de sua geração. Veio a ser de grande importância em minha vida. Francês, casou-se com Violeta Arraes que, exilada, foi viver com ele em Paris, onde tiveram e criaram os filhos Henri, Maria Benigna e Joca. A casa de Violeta era o refúgio dos exilados brasileiros em Paris durante a ditadura militar. Foi Guilherme Araújo, então meu empresário, quem me apresentou a essa mulher incrível. Ela é que fazia a sala, contava pessoas, brilhava na conversa. Mas ele era muito o homem dela. Segurava o chão onde tudo se passava. Arrumava as malas de quaisquer viagens. Afável mas lacônico, envolvido nos temas mas ultra discreto, Pierre foi um esteio em nossas vidas. Veio terminar a dele no Cariri. Depois que Violeta pôde voltar ao Brasil, onde não apenas continuou a nos ajudar a viver e a pensar, Pierre veio com ela e a seguiu ao oásis cearense, onde importante experiência cultural e educativa foi por ela liderada. Ela nos deixou faz alguns anos. Pierre, há alguns dias. Dos seus filhos (que, com exceção de Joca, falam português como pernambucanos vivendo no sudeste) Henri é de que mais me aproximei. Já tivemos longas conversas ao longo dos anos. Ultimamente não nos temos visto. Mas trocamos emails. Espero que os três estejam firmes e, apesar da saudade, achem força no orgulho que devem ter dos pais que os puseram no mundo. E que mundo!

Caetano Veloso, 30/11/2018. 

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