Roberto Machado

Devo a Nara Leão ter conhecido Roberto Machado. Eu não sabia que ele era professor de filosofia e que tinha estudado com Deleuze. Eu voltara de Londres e a vivia na Bahia. Nara apareceu com o que julguei ser um namorado em minha casa de Ondina. Eu tinha acabado de ler O Anti Édipo e falei com humor e irreverência sobre o livro e os cacoetes dos pós-estruturalistas. Roberto ria muito. Fiquei sabendo que ele era autoridade em Deleuses e Foulcaults e toda essa turma. Nasceu uma amizade. Por um bom número de anos, encontrei Roberto com frequência, sempre com prazer e proveito intelectual. Também afetivo. Num dado momento, ele não mais apareceu em lugar nenhum em que eu estivesse. Devo ter dito ou feito alguma coisa que o levou a concluir que não perderia mais tempo comigo. Penso nisso sempre. Mas só com saudade. Sem mágoa ou culpa. Agora a saudade é total. Acabo de saber que ele morreu. Na introdução da edição comemorativa de Verdade Tropical digo o quanto ele foi importante na minha inconclusa, confusa formação. Roberto era refinamento parisiense em sotaque pernambucano intacto. Tenho muita pena de saber que não vou mais poder passar a limpo nossas conversas.

Caetano Veloso, 21/05/2021.

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