Tom Veloso

Meu caçula faz 18 anos. Tom ganhou esse nome porque nasceu no dia do aniversário de Jobim. E, dos meus três filhos, é o mais sintonizado com o que o Grande Maestro fez com a harmonia da canção brasileira. Também é o que ouve Debussy repetidamente. Sempre jogador, crítico e amante do futebol, Tom, em sua masculinidade lacônica, exibe sempre claridade de palavras, gestos e decisões. É o mais alto e mais forte dos meus três. À primeira vista, pode parecer que não deseja se comunicar: mantém, mais do que os outros, o ar arredio das crianças. Mas é doce como poucos homens podem ser. Como os outros dois, é inteligente, educado e sagaz. Eu poderia escrever muitas páginas sobre cada um dos meus filhos, mas o dia hoje é de Tom e é só da beleza, da luz, da musicalidade dele que quero falar. Quando pequeno, foi o único que não queria que eu cantasse para niná-lo. Depois, louco por futebol, não se interessava por música. Hoje é o melhor violonista de todos, participa (sem participar das apresentações) da banda Dônica, que ele ajudou a fundar compondo canções com Zé Ibarra, um grupo de adolescentes virtuoses que estão impressionando quem toma conhecimento deles. Moreno me mostrou Buika, Zeca me mostra James Blake, Tom me faz reouvir os Mutantes da fase progressiva, o Yes, o Clube da Esquina e o Amoroso de João. O mundo só faz sentido para mim por causa dos meus filhos. Tom é a glória da vida. Percebo que ele tem a vocação da felicidade. Que o mundo permita que essa vocação se exerça em toda a plenitude a que tem direito.

Caetano Veloso, 25/01/2015. 

Meu Zico, por causa de ter começado a chamá-lo de Tomzico, o que liga ainda mais sua imagem ao futebol. Amo o fato de os nomes dos meus filhos terem, respectivamente, três, duas e uma sílaba: Moreno, Zeca, Tom. Nomes que seriam os nomes dos meus sonhos quando comecei a ter vontade de reproduzir mas que foram achados pelas mães deles. Quando Tom tinha 9 anos, escrevi um conto intitulado "Uma Sílaba", só para ele ler. Era inspirado em elementos de sua vida real, do nome monossilábico ao amor pelo futebol, sem ser uma história sobre ele mesmo. Tudo era ficcional. Minha intenção era fazê-lo começar a gostar de ler. Mas Tom não precisa de leituras. Seu masculino laconismo o leva sempre às observações essenciais. E ele ama tirar sons do violão e, como seu homônimo, ama Debussy. Escreve letras inspiradas e compostas com perfeição para as melodias que faz com Cezar Mendes ou sozinho. Eu brigo com ele: como pode escrever tão bem se não lê? E fico cheio de felicidade. Todos os meus filhos são a maravilha da minha vida. Mas Tom é meu príncipe. Por ser o caçula, por ser como ele é.

Caetano Veloso, 25/01/2019. 

Tom nasceu no mesmo dia do Jobim e da cidade de São Paulo. É baiano de nascimento e carioca de formação. Pequenininho, já era um talento no futebol. Cheguei até a bater bola com ele no espaço imenso da copa do nosso ap na Vieira Souto. Cresceu e, para meu deslumbre, revelou talento igual para a música. Agora ele vai ser pai. Só assim ele vai entender o quanto eu o amo.

Caetano Veloso, 25/01/2020. 

Hoje é aniversário de Tom, meu príncipe, que ganhou esse nome por ter nascido no mesmo dia de Tom Jobim. Além de seu talento para o futebol, de seu estilo sintético de falar (num ambiente familiar em que predomina a verborragia), de sua surpreendente capacidade musical e de seu talento poético (que aos 21 já escrevia como um bom letrista dos anos 1940/50), Tom, unido a Jasmine, nos presenteou com um Benjamim deslumbrante. Agradeço a Deus por ter um filho tão cheio de beleza. Que ele tenha toda a felicidade que merece.

Caetano Veloso, 25/01/2021.

Hoje meu filho mais novo, Tom Veloso, faz 25 anos. Ele, caçula, é mais firme do que todos nós. Encontrou no futebol sua alegria e me faz chorar com seu samba "Falta". Mas fala da Bahia tão bem ou melhor do que os mais velhos dos velhos baianos: "Chutando água morna", letra sua para melodia de Cezar Mendes, é sentir o ser/estar em Salvador, entender tudo do Rio - e voltar. Toca violão como nenhum outro Veloso. Letrista e melodista à altura da mais fina tradição brasileira. E ainda me deu, com Jasmine, meu neto benjamim Benjamim. Sim, Benjamim é benjamim, caçula de nós. Por enquanto. Tom é luz. Que o Deus em que ele crê lhe dê tudo de bom bonito.

Caetano Veloso, 25/01/2022.

Hoje é aniversário de meu filho mais novo, músico e boleiro, alegria da minha vida, pai do meu neto mais novo, real beleza pura. Que toda a felicidade possível chegue a sua vida. Mesmo a impossível. Só diante de um filho penso assim. Mais ainda de um filho que faz soar a beleza da música espontaneamente, que compõe com Cezar Mendes, um mestre músico da minha terra natal, e, sozinho, faz coisas como "Falta", samba que me faz chorar mesmo à mera lembrança. Não é à toa que seu nome é Tom. Chutando água morna nas praias baianas, agradeço a ele por aprofundar meu conhecimento até do que eu julgava já conhecer bastante.

Caetano Veloso, 25/01/2023.

Hoje Tom faz 27 anos. Estou feliz por tê-lo abraçado logo que o dia começou. Ele é meu caçula. Joga bola e faz canções. Tudo inspiradamente e com apuro. Todos os dias aprendo mais sobre a maravilha que é ter filhos. E Tom, aqui perto de mim, me confirma isso. Que ele tenha uma vida mais feliz do que pode imaginar. A canção "Falta", escrita por ele, é a que mais me comove hoje em dia. Mesmo nem sendo a mais bela que ele produziu até aqui. O mais naturalmente musical de nós Velosos merece poder dar a seu filho (e a outros que venha a ter) uma Terra capaz de imensas mas equilibradas alegrias.

Caetano Veloso, 25/01/2024. 

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