Wanderlino Nogueira Neto

Meu querido amigo Wanderlino Nogueira Neto morreu hoje. Ele foi um dos mais marcantes colegas que tive no curso clássico do Colégio Severino Vieira, em Salvador. A primeira pessoa a me falar da importância de Oswald de Andrade, quando do modernismo paulista de 22 só sabíamos os nomes de Mário e de Villa Lobos e sussurros sobre Anita Malfati. Eu não segui seu conselho de atentar para Oswald, cuja obra só vim a conhecer anos depois, via poetas concretos, instigado pela montagem de O Rei da Vela no Oficina de Zé Celso. Em Verdade Tropical ( http://bit.ly/PlaylistVerdadeTropical ) conto sobre a confusão do nome "Panis et Circencis", que, inacreditavelmente, saiu grafado assim na capa do disco: Wanderlino tinha me ensinado a expressão e deve ter rido muito ao lê-la truncada. Confirmando uma intuição minha sobre a força de sua personalidade, Wanderlino se tornou um militante dos direitos humanos, tendo se tornado membro do Comitê dos Direitos da Criança da ONU. Em 2015 ele ganhou o prêmio Faz Diferença. Pensei, na altura, que seria uma oportunidade de vê-lo e conversar com ele (a última vez em que
tínhamos estado juntos fora depois de um show meu em Aracaju, uma década e meia antes), mas tarefas surgiram para mim no dia da premiação. Agora estive com ele na Bahia, junto a nosso outro colega do Severino, Fernando Barros, no Hospital Aliança, onde ele estava em tratamento. Tenho muita saudade dele e muita frustração por não ter voltado a conversar com ele nesses últimos anos. Havia muita coisa sobre que eu queria e precisava ouvi-lo. Toda turma do clássico do Severino deve estar agora com o pensamento e o coração voltados para ele.
Muita gente no Brasil e no mundo também.

Caetano Veloso, 26/02/2018. 

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