Independência da Bahia

O 2 de Julho na Bahia é muito mais importante do que o 7 de Setembro. A Independência brasileira não se deu na hora do grito às margens do Ipiranga. Aquilo foi só um anúncio. Na Bahia as lutas duraram até julho de 1823. Há os heróis, como Maria Quitéria que se vestiu de soldado e foi lutar com bravura (mas pôs sempre uma saia por cima da farda); há o corneteiro Lopes (de quem, completando o elenco da Independência Baiana de Ipanema, Cesar Maia mandou pôr uma estátua numa das esquinas da Visconde de Pirajá); e há a mártir Joana Angélica, que, sendo freira, protegeu os revolucionários no convento da Lapa, o que levou as tropas portuguesas a matá-la à entrada da igreja. As festas do 2 de Julho em Salvador são coisa grande ainda. As fanfarras, lideradas por rapazes que giram de modo charmoso os malabares, são formadas por estudantes, quase todo mundo mulato, e o que se celebra é o casal de Caboclos, os indígenas que representam a brasilidade. A câmara de Santo Amaro, minha cidade, foi pioneira em propor uma independência do Brasil (antes do grito do Ipiranga), com um texto liberal e moderno. Cresci fazendo guirlandas de papel crepom verde e amarelo com meu pai para enfeitar a sacada do sobrado. O desfile passaria de tarde. Sendo Santo Amaro uma cidade mariana, carregamos em procissão apenas a Cabocla.

Caetano Veloso, 02/07/2021.

 

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