Edith do Prato (11/01/2009)
EDITH DO PRATO |
11/01/2009 4:42 am |
Foi muito emocionante ver Paulinho Daflin segurando o caixão de Edith Oliveira ontem. Ele veio para Santo Amaro para ficar perto do samba-de-roda, da chula, do violão de Roberto Mendes e de todos os mestres anônimos que, para além do mestre maior, Gilberto Gil, ajudaram Roberto a construir e refinar seu estilo. Paulinho tinha vindo para ver e ouvir - e terminou vivendo em Santo Amaro por consideravelmente longo tempo. Já faz longo tempo também que ele deixou a cidade. Comove ver o quanto essa cultura - que Edith encarnava - pode atrair jovens guitarristas brasileiros de toda parte. Havia muita gente no enterro. A maioria era de Santo Amaro mesmo. O grupo Vozes da Purificação cantou na capela. Paulinho Daflin segurou a alça do caixão ladeira acima. (Como eu me lembrei de Carlinhos ao sentir a brisa do alto do cemitério, aonde ele sempre nos chamava para conversar, fugindo do calor! Carlinhos era o filho mais velho de Edith, meu irmão-de-leite, a razão de ela ter podido me amamentar quando o leite de minha mãe rareou. Luciano, o filho mais novo, estava lá. Carlinhos, infelizmente, morreu muitos anos antes de sua mãe). Edith viveu 94 anos. Sempre foi alegre e gostava muito das coisas da vida. Para olhar-se no espelho e conferir se a roupa estava boa para ir à praça numa noite de novena, ela percutia com os lábios uma batida de samba e dava uma dançadinha, batendo com as mãos nos quadris: não se reconheceria parada e séria. Tocava o prato-e-faca da história do samba (mesmo no Rio, há velhos que lembram das rodas antigas em que às vezes alguém tocava prato; Moreno, meu filho, é um excelente tocador de prato, inclusive tendo tido de repetir o samba em 5 por 4 que tocou em minha “13 de Maio” para uma gravação de Fiorella Manoia: o prato no samba antecedeu Edith e sobrevive a ela, mas todo esse passado e todo esse futuro veio a depender dela: não é natural para nós, seus parentes, chamá-la - ou ouvir chamarem-na - Edith do Prato, mas sabemos que não é descabido). Jorge Portugal e Roberto Mendes estavam conversando lá atrás, entre uns jazigos caiados. Nicinha e Elza choravam muito sós, cada uma tão sozinha quanto se pode estar, apesar de estarem juntas e rodeadas de todos nós. Elas pareciam mais escuras, um pouco menores e quase sem volume. Não era propriamente tristeza o que todos sentíamos. Mas Elza e Nicinha, as irmãs biológicas de Edith, tinham muita tristeza adensando as cores de suas imagens e esgarçando-lhes a matéria. Meu amigo Chico Motta, Jota (meu sobrinho querido), Mabel - todos éramos capazes de conversar com alguma animação. Ao descerem o caixão onde estava o corpo de Edith, olhei para Clara Maria e comecei a cantar baixinho “Viola, meu bem”. De modo muito natural, aprofundou-se um silêncio que fez minha voz ser ouvida - e me fez reforçá-la - e aí todos responderam ao chamado do refrão. Transcrevo aqui a letra inteira desse lindo samba tradicional em homenagem à memória de Edith - e consciente de que Heloisa em particular e os blogueiros nossos aqui em geral lembrarão o Sertão metafísico de Rosa: Vou-me embora pro sertão Esse “sô” é “seu”, de “senhor”, ou, como escrevia o próprio Rosa (e que eu, o cara legal do “sifo”, que fui agredido por um professor de sobrenome italiano citado aqui por um companheiro nosso equivocado, prefiro), “seo”. Sei que muita gente pode pensar que é “Sou empregado da Leste/ Sou maquinista do trem”, mas não é não. É o cara pedindo ao empregado da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro (que tantas vezes me levou de Santo Amaro a Salvador), ao maquinista do trem dessa empresa estatal que foi dizimada por Mário Andreazza durante a ditadura militar (na esteira do rodoviarismo desenfreado que veio como indesejável efeito colateral da industrialização de JK, da qual, aliás, Lula é um resultado direto e muitíssimo menos indesejável), que, por favor, o leve de volta pro sertão: ele não se dava bem na cidade, na zona da mata, no Recôncavo; queria o ilimitado. |
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hoje foi um daqueles dias perfeitos. nada de mais aconteceu. simples e perfeito.
Que maravilha de texto, Caetano! Uma descrição comovente no sentido mais bonito da palavra (juntando tristeza e alegria). Fiquei emocionado, pois com certa sincronia sentia de longe os ecos da da sua voz na despedida de Dona Edith…
Então, reproduzo aqui o comentário que publiquei no POST anterior:
“Hoje revi João da Bahiana no filme Saravah tocando seu prato ao lado de Baden. Resolvi rever Caetano e Moreno em Prenda Minha juntos com Moreno no prato e mostrei a minha mãe de 84 anos que chorou. Isso fiz por mim, pela minha mãe conhecedora do samba e por Dona Edith. Desejo que essa emoção tão profunda vivida ao lado da minha mãe que viu Pixinguinha e que vio Caetano cantando Drão e que viu Moreno e que viu Adão ao lado de Walter Salles seja o tantinho de bom astral que que psicografo agora ao meu cristalíssimo Joaldo em sua viagem poética ao Recôncavo.”
A história verdadeira do Brasil não há de ser contada em um livro, mas em fragmentos de cartas e lembranças (como na cidade submersa dos Futuros Amantes do Chico). E esse seu texto é um desses preciosos fragmentos que nos mostram que amores serão sempre amáveis.
beijo na testa
salem
Bellísimo post, quedé profundamente conmovido, y conmocionado con la noticia de la muerte de Edith Oliveira. Desde que por vez primera escuché a Edith cantando “Viola, meu bem” en el arranque de Araçá azul, me pareció una cosa extraordinaria, estremecedora, esa voz a un tiempo alegre y doliente, nueva y diferente a todo y a la vez tan antigua y verdadera como una raíz, como la tierra. Gracias, Caetano, y salve a Edith do Prato para siempre.
Receba meu abraço e um sorriso.
Aceitar a partida daqueles que amamos, esse desapego radical, é difícil mas necessário.
Doce mistério da vida.
bjs.
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*Estou vivendo um pouco das minhas lembranças aqui em minha terra natal. O vento, o sol, o sal, os mestres, os amigos, os parentes…
“Moço: todo saudade é uma espécie de velhice.”
[Esse “sô” é “seu”, de “senhor”, ou, como escrevia o próprio Rosa (...), “seo”. Sei que muita gente pode pensar que é “Sou empregado da Leste/ Sou maquinista do trem”, mas não é não].
Eu sou um que não sabe, hum-hum. Tanto que escrevi “sou” lá nos comentários do A Tarde. Mas o encarte do Araçá Azul ajuda a errar porque lá está grafado “sou”.
Bem, whatever, Viva Edith Oliveira, deusa maravilhosa!!!
Um abraço e muito carinho pro Caetano!!
Aproveitando a chamada do Glauber, “cadê a Analuisa”, que nunca mais apareceu?
“Cidade Submersa” é um samba do Paulinho da Viola, do ‘Nervos de Aço’, disco em que ele gravou o Chicote, inclusive.
Joaldo quando acordar vai falar mais do que pobre na chuva.
“(,,,) Edith do Prato nos deixou. À parte de ser mais que mestre no samba-de-roda, não só tocando o prato com a faca, mas também cantando e sambando, era uma amiga querida, companheira de uma viagem muito boa a Porto Alegre. Ela, no dizer de Garcia Lorca, “tinha duende”. Era capaz de trazer o infinito para o tempo. Um beijo nas irmãs e irmãos de sangue e de coração (…)”
Bethânia:
Era o início do pagode duro da noite e fim dos desfiles.
As meninas e meninos estavam muito bonitos e orgulhosos, muito arrumados e muito felizes o que é melhor de tudo.
O acarajé era bom, com a massa dentro bem branquinha, geralmente agente acha que acarajé bom só em Salvador.
Acho que ví Joaldo, grande e desengonçado entrando na varanda e dizendo algo a Caetano, pela foto do orkut é difícil dizer, era vc Joaldo?
A praça tava toda iluminada, todo mundo muito bem vestido e muitos e muitos velotróis elétricos, tava tudo muito bonito mesmo. Até os malucos, todos legais, sem roubo visível, sem baixaria e sem repressão. E tudo isso com muita paquera, sexo e cerveja.
Fui fazer fotos, um amigo meu fotógrafo disse para usar preto para ficar discreto. Que loucura! eu era a única pessoa de preto na varanda de D Canô. Todos de branco.
D. Canô exercer um efeito interessante, ela é a grande pop star. Vc chega lá querendo ver Caetano e Bethânia e logo ocorre um fenômeno interessante: Cateano e Bethânia ficam lá sem ninguém incomodar e vc tá se batendo no bolo tentando uma foto dela. Com uma simpatia autêntica recebe todos os malucos, tietes, crianças, só vendo para crer….
meus sentimentos Caetano, linda mensagem…conheci Nicinha, a irmã, tão especial, um anjo entre nós, que sangue bom. vi uma vez só há muito tempo num encontro em Salvador a roda de samba tocada a prato e talher, inesquecível para um carioca que nunca tinha visto aquilo…e é um som que levanta mesmo. acho que dona edith estava lá. amém.
Nando, acho que todos pensavam que era “sou”. Será que eu pensava também? Não. Não faria sentido. Mas pode ser. Escrevi esse texto sob emoção muito intensa. Sei que ouvia “sou” desde menino - e não entendia. Em algum momento percebi o que era e achei mais lindo. Creio que foi bem antes de Araçá Azul.
Luedy: claro que você é legal. Eu ia escrever sobre seu “equívoco” num post. Esperei passar a noite de Ano Novo (que dura mais ou menos uma semana) e aí Edith Morreu. Resumindo, eu ia dizer que se achar análise sintática algo cansativo fosse razão para restringir a gramática aos especialistas, minhas dificuldades em resolver problemas de artitmética justificariam que a matemática se restringisse aos matemáticos. Mas se não se ensina gramática nem aritmética aos ainda não especialistas, de que planeta esses virão? Continuo achando pedante e antidemocrático pensar que se deve deixar todo o entendimento para os entendidos. (À parte: Lula não estudou porque não quis. Tempo ele teve. Marina Silva estudou e hoje fala e escreve lindamente bem.)
Caetano, viu a entrevista de Bobô na Muito (A Tarde)? Bobô fala de vc e da homenagem feita em Reconvexo. Tem acompanhado o futebol baiano?
A vi tocar num show seu aqui em SP há quantos anos… eu era menina - foi mais um pedaço do Brasil a formar a minha alma. Uma lição do essencial: para que houvesse música, bastavam uma mulher e um prato.
Puro como é o próprio pão.
“Melhor do que isso, só mesmo o silêncio.”
Obrigada.
salve mano caetano,
li seu texto-câmera-bacante-do-glauber
com o prato cheio de pranto
araci fez noel araçá rosa
edith fez araçá azul stockhausen
axé
pk
cadê heloisa? e labi? e merengue? e carolina? e maria joão brasil? e exequiela? e miriam? e adriana calcanhoto? e marcelo? e as patricias todas? e todo mundo que num aparece mais? aparece aí, minha gente. cês fazem falta! joaldo dorme o sono dos justos. rafael e rosana já apareceram…
salem tá inspiradíssimo! “cidade submersa dos futuros amantes de chico”…putz! cada comment, um poema.
hoje é o dia “araçá azul” no meu planeta. repeat total.
Gil realmente é o mestre maior, da música, da humildade, da coragem, da esperança (”três vezes salve a esperança”)…
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hermano vianna, PhD em moderação virtual, protegei-nos de nós mesmos! haha
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aah, o tempo, esse querido ladrão…
caetano
a essência em estado mais puro este seu texto.
vou cometer uma indelicadeza neste seu texto atemporal da alma nordestina.
sua referência contida nas palavras:
que moreno continue a “tocar” prato….assim a esperança da essencialidade das coisas se perfaz.
http://www.youtube.com/watch?v=9prnbHWaRLo
HM, Caetano,esse papo de que Lula nao estudou pq nao quis me parece tao repetitivo! Vc fala sempre as mesmas coisas para pessoas diferentes? HM,
em homenagem ao sertão:
trecho de “o violeiro”, de elomar.
VIVA A MEMÓRIA DE DONA EDITH E VIVA TODAS AS SERTANEJAS QUE AINDA EMBELEZAM ESSE NOSSO PAÍS…
Beijo no seu coração Caê, sempre no limiar da extrema lucidez e poesia…
Pra finalizar, na TV uma dona de casa do Mato Grosso explicando ao repórter porque tinha tirado seus filhos da escola: “Pra que estudar? Lula não estudou e virou presidente!!!”
“Um país se faz com homens e livros” (Monteiro Lobato).
Salve salve Edith Oliveira!!!
Querido Caetano.
A verdadeira história do Brasil,e do mundo é de fato,contada por fragmentos que recolhemos do fundo dos nossos quintais,dos fundos da escola,da igreja,do cinema,do fundo dos nossos corações,onde Dona Edith passa a residir de agora em diante.
Com certeza nessa roda de samba de roda,alem do prato,que eu penso ter visto,tocado por Dona Edith, no cinema falado,vão juntar-se,a sanfona de Dona Maria,que eu acompanhava,criança, nas festas juninas da vila,da escola,da igreja do padre Rolim,a voz do Jurandir seresteiro,a guitarra do Elcinho que amava Elvis,e muitas outras pequenas estrelas escondidas no fundo da abóboda celeste,mas que brilham intensamente,eternamente nas nossas vidas.
Caetano, que texto lindo e que pena. Tenho o disco de Edith, lembro de sua voz em “Viola Meu Bem”, no Araçá, abrindo o disco - ouvi bem menininho, levei em princípio um susto, depois achei o máximo.
E também achei o máximo aquelas músicas incidentais em Sugar Cane Fiels Forever. Sempre canto essa música, mas fazendo tudo numa única voz, claro, tentando a quase impossível tarefa de conciliar os timbres.
Confesso que não sabia do “sô/seo/senhor” e, sem dúvida, isso dá um sentido mais rico aos versos - fazendo-me lembrar do documentário Tempo Rei, passado na HBO e que reunia Gilberto Gil e Roberto Mendes, ambos tocando essa canção no violão (e depois os dois tocavam também Expresso 2222).
É importante que todos saibam do valor de Gilberto Gil e de Roberto Mendes para o violão do Brasil. E do valor de Edith.
Obrigado por manter isso aceso, Caetano.
O meu sentimento de ignorância é algo tão inerente a este blog quanto o fundo branco e as letrinhas pequenas - eu não sabia quem era Edith do prato. Mas, o curioso, é que já a ouvi muitas vezes, sem saber que era ela. Há alguma coisa estranha em eu ter ouvido tanto esta mulher, sem saber que a estava ouvindo, em conhecer sua arte sem conhece-la.
OEP é cultura!
[aos moderadores: tem tantos erros no meu último comment que eu queria pedir que, ao invés de uma errata, vcs o substituíssem pelo comment abaixo. Pode ser?]
Ah, agora eu vi o que Caetano escreveu sobre Lula e sobre o meu “equívoco”.
Deixa eu comentar:
Quanto a Lula, eu não acho que seu falar é feio. Ao contrário, admiro sua capacidade de tornar seus discursos públicos no oposto do palavrado balofo de políticos beletristas. Mas, mais uma vez, é uma questão de perspectiva. Não vejo “Ignorância” em quem fala “menas”.
ps. em tempo, meus sentimentos por D. Edith. Aquela abertura de Araça Azul, com ela cantando, é de uma beleza profunda. Pago meu tributo a ela e a você por tanta beleza em nossas vidas.
Oi, Caetano e pessoal.
Meus sentimentos pelo falecimento de D. Edith.
Quanto ao Possenti: acho que não se tratou de agressão e sim desejo de esclarecimento. De qualquer forma, levar uma reprimenda de uma das maiores autoridades em Linguística do Brasil para mim seria uma honra…
“Sô” como “Seu” é muito particular, local. Como não sou entendido, mas quero entender, achei fascinante.
Aliás, semana passada a “Grobo” exibiu “Ó Paí ó”, um filme que é ótimo justamente por mostrar algo tão brasileiro, mas, por vezes, tão distante. Amigos meus não comprenderam e continuam preferindo o que lhe é mais próximo: Hollywood.
e isso é tão bonito. isso é o nosso jeito.
A Déa, que canta tão bonito e e com uma força tamanha, falou algo importante: a cultura sertaneja, que num certo sentido, parece-me ser maior que a cultura negra e ingígena no Brasil. O sertão talvez seja ainda maior que o Quilombo e a Aldeia.
Da maior importância.
talvez seja melhor dizer indígena…
Caetano,
Um grande abraço.
“De tão interessante que é a todo os momentos, a vida chega a doer”
As coisas parecem ter um encontro natural. e a vida passa como um filme ao reverso: Caetano em Santo Amaro no adeus ao som do prato. como lhe fez falta o acompanhamento e, quantas imagens lhe sobreporam o pensamento naquele instante, em que juntara força para cantar sozinho.
Fiquei muito comovido com o texto ai de Caetano, não conhecia d.Edith do prato, nem vive esses doces anos de cultura, leite e lembranças dessa senhora mas a forma suave e marcante como Caetano se refere a tudo isso me faz ter a certeza que vive esses momentos citados, as vezes me pergunto como Caetano tem essa facilidade poetica de falar das coisas da vida(até da morte)é como se tudo que ele falasse tivesse uma camada aveludade de luz que encobre qualquer poeira e dor…não acho que Caetano falou demais, acho que ele foi preciso, muito direto e eficaz, suas palavras encheram meu peito de uma paz tão musicalmente harmonica que agora escrevo pensando como é bom pra mim mesmo não tendo conhecido ou vivida com d.Edith do prato mas admirar e viver o tempo da vida de Caetano Veloso, isso me enriquece o coração. forte abraço Jô
Eu não tenho o direito de criticar ninguém por causa de “erros” de português. E não critico. Eu erro pra caramba, mas procuro me aprimorar, me corrigir, sou muito desligadão. Também falo inglês, mas não me atrevo a discutir nada em inglês com Caetano ou Heloisa,por exemplo, pois sou péssimo na ortografia inglesa. Falo também italiano e sou péssimo também na ortografia dessa língua. Baci fratello!!!
Caetano,
Eu gostaria de saber de vc duas coisas - o que vc quer dizer quando diz ” a verdadeira Bahia é o R.G do Sul, e outra: por que vc, em alguma fala, cita o nordeste como uma coisa e a Bahia como outra?.Por favor, me explica!
Abraços Osvaldo
Não, Nando, ainda não é o meu texto sobre a ida ao Terno de Reis da Dona Canô no sábado - visitando Caetanino e essa cidade definida tão lapidarmente por Exequiela como: cidade-interjeição!
É o registro, em primeiro lugar, do seguinte: que cheguei em casa da festa somente no final da tarde de ontem, domingo, ou seja, 24 horas depois de ter saído! Não, não ache que sequestraram o meu ser dengoso and carinhoso durante o retorno. Havia a cumplicidade de uma sentinela amorosa comigo que impediria a violência de um tal ato.
Simplesmente a cumplicidade de uma bela e grande amizade me acolheu na chegada em sua casa fruindo a lembrança de cada gostosura vivenciada na magnífica noite, e com quem fiquei confabulando horas sobre o que extrair vital e criativamente, daqui para frente, inclusive para a Impertinacia, de tantos encontros que rolaram lá em Santo Amaro!
Além de estar com o mano, beijá-lo e abraçá-lo ternamente, cumprimentar a Dona Canô, tomando-lhe a benção, pude dar um beijo no rosto de Bethânia (que emoção, tanta que eu curiosamente exclamei: Meu Deus!), e através de Jota Velloso fui apresentado a Jogre Vercillo. De susto e de surpresa ainda me bati de frente com o Flavio Venturini!
A par disso tudo, conheci uma galera de Salvador que irá a qulquer momento se despontar na música, e que ficou de me repassar os seus endreços no myspace. E que muito grato prazer: boa parte da turma com que viajei para Santo Amaro era de educadores da Universidade Estadual da Bahia, uma gente curiosamente antenada em fazer com o Cinema comece a ter papel proeminente na Educação. Amizades novas e parcerias para ações socioculturais pela vida afora!
Mas saiba: cheguei a escrever à noitinha meu comment-depoimento para postá-lo na página anterior. Só que não logrei publicá-lo, pois o servidor do Wordpress estava com um comportamento deveras estranho para comigo. Estou reputando isso à qualidade péssima da conexão de internet discada. Estou momentaneamente sem banda larga em casa. E a conexão por telefone ontem à noite estava sofrível!
Num primeiro momento e em todas as tentativas, o meu comment não surgia ‘visualizado’ (eta palavrinha que o João Ubaldo desgosta!) “aguardando moderação”! Nada aparecia. Na segunda tentativa, fui informado na janela do navegador que o comment estava repetido. E nas várias tentativas seguintes: que eu estava publicando rápido demais! Você and Salem acreditam nisso? Oh, Amaro-oh!
Voltarei à página anterior ainda hoje pra publicar meu escrito em forma de mais um comment-dromedário, não sem antes fazer algumas reedições de trechos especiais para ficarem ainda mais próximos da linguagem de meu coração!
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Caetano, no texto que publicarei, farei menção a um gesto de carinho e alegria que fiz no lado esquerdo de teu peito para transmitir o carinho especial de outra pessoa que te quer muito - pois saiba que eu queria que esse gesto com o condão de significar também para ti o meu próprio pesar pela perda ainda tão recente de Edith!
caetano, seu texto sobre d. edith me emocionou muito, lembrei de um outro escrito por mabel, sua irmã, publcado no jornal a tarde sobre a partida do jornalista béu machado.
Sô minino Caetano,
“meu Deus onde eu vou quarar, quarar minha roupa?…” Lembro da importância de tia Edith não só em sua vida, mas sobretudo em sua música, em seu vou-me-embora-pro-sertão… Com seu prato de louça, Edith serviu sambas-de-roda como quitutes para o povo da Bahia e muito além, primeiro em seus discos, e muito depois em vôo solo em “Vozes da Purificação”. Ficará para sempre a voz marcante e o batuque certo de uma das maios expressivas artistas populares da Bahia.
Paz e afeto, Felipe
Me adhiero al pedido de Julio Vellame: Jo!!!! Dónde estás, no nos dejes con la intriga de todo tu relato de la Fiesta en Santo Amaro…
Ahora sí!!! maravilloso jo!!
Bjs silenciosos
Nao sei se foi com intuito de epitafio mas li assim - e achei muito comovente.
Acho que foi em larga medida, um testemunho poético e afetivo desse processo em marcha nos sertões de Rosa e reeditado mas nunca exaurido em um regionalismo, Neste sentido acho de total pertinência a citacao a Lula .
A prosa excepcional de Rosa e a poetica de Caetano nas letras musicais ( Cajuina por exemplo) sao de fato, sínteses das mais felizes que se opera em nossas letras ou Letras.
Neste inventário de artifícios lingüísticos e estéticos de que se valem estas narrativas de Rosa e de caetano vem Dona Edith .
Acho que ela vivia em um Sertao baiano - o espaço onde o homem vive e espaço onde o homem pena.
O prato dela tem essa coisa pitoresca, mas de uma universalidade extraordinária, bem na linha do que meu amado e favorito Antonio Candido diria.
Se este mundo e seu demiurgo não podem ser dissociados do contexto de um país violento e cindido, que e resultado e processo de mazelas centenárias, temos Santo Amaro como a própria província de Minas Gerais que traz implícita em seu nome uma fratura, fruto do projeto de saque colonial e escravocrata que se adivinha “no rosário das cidades ligadas ao mar, próximas a Portugal e à vasta área ainda ‘não explorada’ dos Gerais”.
Estas realidades excludentes e esquizofrênicas, em que os dois Brasis jamais se comunicam continua hoje igualzinha nos Jardins paulistas e no bolsa familia di Interior. Lula e fruto disso e desse desencontro… Pernambuco em SP suponho.
E se esta fala popular de edith revela a uma essência mítica, com uma poética de raízes trovadorescas, cheia de motivos medievais retomados pela literatura de cordel acho muito lindo todas as vezes q ela manifestou-se artisticamente.
O Todo natural- cultural onipresente (fala de Bosi) com quem Riobaldo interage e no qual todas as contradições se equacionam, uma espécie, quem sabe, de “Espírito absoluto” encarnado em pedras, plantas e animais.. Esse e o sertao de Rosa e o sertao onde Edith vivia e de onde partiu imortalizada por caetano. Deus a tenha pois morrer aos 94 e muito glorioso.
Fui ao encontro de D. Edith do Prato com finalidades de pesquisa. Munido de uma espécie de anamnese antropológica, falei num tom presunçoso à senhora corpulenta . Logo, na primeira pergunta, ela riu ternamente o riso de quem aceita as vaidades alheias sem delas participar e me respondeu, festiva: “A vida, professor,são essas ruas tortas e sem fim. Numas dessas esquinas, a gente acaba achando o caminho.” Então,envergonhado, eu continuei a entrevistá-la de modo mecânico: me perdi nas perguntas, no objeto da pesquisa, no estudo sobre a História do Samba do Recôncavo da Bahia e apenas me interessava olhar as esquinas na esperança de encontrar quem eu quisesse encontrar. Tudo em vão. Naquela tarde, depois do nosso encontro,fiz um poema, D. Edith, e não tive coragem de lhe dedicar porque com tamanha doçura me destituístes o nobre e tão fugidio espírito da Academia. No livro, o poema foi dedicado a Antônio Brasileiro, poeta e amigo, mas, na verdade, ele é seu, querida. Nasce de ti:
De Caeiro e do sertão
Para Antônio Brasileiro
- Metafísica eterna dos aboios -
P.S.: Em nossa casa não se chora. Mas é que o relato do Caetano me pôs absorto.
Ay, Caetano que emoción su último post. Quiero ser breve aunque se que me cuesta. Nuevamente ocurrió lo que llamo “magias” (a riesgo de parecer la reina de las cursis pero las llamo así, que voy a hacer, seré cursi).
Ya comenté que conocí a Dona Edith casi en el mismo momento que ella moría. Luego de leer su post y algunos comentarios creo que ya la conocía aunque no asociaba su nombre con lo escuchado por mi anteriormente. Nunca presto mucha atención a los nombres por cierto.
El jueves 8 y hoy, 12/1 estuve horas escuchando la radio de DB, temas como “Minha Señora, How beautiful” y “Casa Nova, Raiz” de Vozes da Purificacao, “Santo Amaro e una flor” por Walmir Lima, a Batatinha , “Manda Chamar”, “Noite perpétua” y “Voz da Alegria” por Roberto Mendes,
Nuevamente estos nombres primero viajaron hacia el norte para luego volver al sur y recién allí entrar en mi casa. Nuevamente aclaro que a muchos quizá los haya escuchado anteriormente, estoy segura que si e incluso Ud. los debe de haber nombrado muchas veces pero soy consciente que me pierdo, que me es difícil retener tantos nombres que se nombran por aquío en su libro. Se ve que el “orden” con que vienen del norte, en una lista elaborada por alguien no especialista en el tema me facilita la retención y ya no me los olvido más. Aunque los nombres no son lo importante por cierto, pero veamos como funciono a veces.
Hoy de mañana venía para Montevideo en un ómnibus repleto, leyendo el prólogo de Diario: 1974-1983 de Angel Rama, libro que ya leí el año pasado. Esta persona fue muy muy importante para mi y encontrarme con él el año pasado, sin saber casi nada de su vida, y por cómo fue el encuentro me demostró que los fantasmas existen y que las “magias” también. Lo puedo asegurar y cuando lo pienso me viene un escalofrío. En una leo, casi al principio: El ensayista brasileño Antônio Cândido lo describe así: “conocí a Ángel Rama en Montevideo en el momento exacto en que tomó una decisión que, en el curso de los años, se tornó una verdadera misión. “Era el comienzo de 1960 y me declaró que en adelante haría todos los esfuerzos necesarios para establecer contactos de todo tipo con los intelectuales de la América Latina. Estaba dispuesto a intercambiar correspondencia, libros, hacer reseñas, viajar, interesarse a fondo por la vida cultural de nuestro subcontinente.
En la página 190 del diario, haciendo una referencia a un encuentro en Campinas con él y contraponiendo a otros encuentros en universidades del norte leo lo siguiente: No sentí eso en Campinas; quizás porque el equipo es joven, porque tiene la gracia brasileña, porque cuando se reúnen lo primero que hacen es arrollar la alfombra para bailar, porque ponen pasión y juegan su vida en lo que dicen. El hecho de que me reconocieran como a uno se su raza corresponde a ese reconocimiento que yo hice de ellos. Las euménides Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst vinieron a decirme después de mi intervención en el panel: Você é diferente!. Você nao e profesor!. Y era injusto, porque en ese sentido ellos tampoco, los de Campinas (Carlos Vogt, Ligia Leite, David Arrigucci, Walnice Nogueira, etc.) son profesores. Están vivos en el curso arroyador del arte y el conocimiento: eso es central para ellos, es el sentido de la vida. Y las cosas no están separadas, el arte, el deseo, la política, el júbilo y el miedo, son todas cosas que van juntas, con el agregado de que exigen como pago la gracia. Ver a Antônio Cândido en ese jardín de sus bellos hijos e hijas, es comprender cabalmente lo que ha hecho su vacación, ese abandono de las ciencias sociales por la belleza y esa pasión política que en el sostiene el edificio entero del entendimiento con la suprema cautela y donosura de un “mineiro”.
Bueno, nuevamente no se muy bien porque escribo esto. Se me ocurrió. Es que hoy estuve buena parte del día con las lágrimas a punto de salir y no se porque. No es que esté triste, para nada, pero se acentuó luego de leer detenidamente el post.
Dejemos de lado ciertas simplificciones y ciertos estereotipos que tenemos con respecto a la alegria brasilera y esas cosas, ya que muchos piensan que andan las 24 horas del día bailando y cantando. Y que no duermen, o que duermen también bailando y cantando.
En fin, el asunto es que me levanté “emocionada” y la crónica de Caetano exacerbó ese sentimiento. Dos días antes ni sabía de la existencia de esas personas y ahora estaban en mi vida, acompañándome mientras trabajaba y pocas horas antes algunos de ellos habían estado en compañía de mi adorado Caetano¡no es maravilloso!. Me sorprende una y otra vez como llegan algunas personas, ciertos libros o lo que sea a la vida de uno. Mi próxima tarea es descubrir a Joao Guimaraes Rosa, tan nombrado por acá. Ängel lo nombra en su diario por cierto y entonces yo “debo” leerlo. Exagero como siempre, aunque no tanto.
Recuerdo hace unos meses, en mi “película” cuando transcribí una partecita del diario cuando Angel comentaba algo con respecto a su hija:
“.. siempre la siento desamparada, con estrujamiento del corazón, pero cuando resurge, cuando ve el futuro algo más claro, hay un tono jocundo de la voz, una expansión que me enamoran. Y al saberla bien, contenta, me siento tan íntimamente feliz que me pondría a cantar.”
Acá terminaron sus palabras y yo agregue en mi “guión” la letra de Leaozinho de Caetano y lo mandé al ciberespacio, para “nadie”, a esa dirección de correo que no se bien que es y me quedé felíz. Misión cumplida me dije para mi.
En fin, dejo por acá porque estoy totalmente divagada. Me agarró por el lado sentimental. Es que soy una enamorada de cómo se van construyendo las conexiones, los lazos entre las personas, las cosas, etc. Por lo comentado anteriormente se que a Dona Edith la recordaré a partir de ahora de una manera especial. Ya estuve viendo algunos videos de youtube y me encantó. Si fue alguien tan importante para Caetano, entonces yo “debo” saber más sobre ella. ¿Estoy exagerando como siempre, aunque no tanto?. Mmm., si, soy exagerada y no lo puedo evitar.
Gracias Bruno Guimarães. Você é parente do Glauber Guimarães?
Quando Caetano diz que Lula “não estudou porque não quis” parece óbvio que ele não se refere ao menino esfaimado do nordeste brasileiro, mas sim ao político já bem sucedido que, tendo perdido uma eleição em 1989, teve todas as oportunidades para buscar estudo até 2002, mas preferiu lançar-se em campanha política.
Contra esses fatos, desculpem, não há argumentos.
Vicentinho, outro metalúrgico de infância igualmente pobre e nordestina, este inclusive negro, estudou e se formou. Lula, porém, OPTOU POR NÃO ESTUDAR. Foi, sim, uma opção dele.
E não se trata apenas do ensino acadêmico clássico, mas da leitura, do debate, do saber: Jô Soares, Millôr Fernandes e Caetano Veloso, para ficar em três exemplos, não têm “diploma”, e mesmo assim são notórios intelectuais que estão sempre em busca do saber - e o difundem como inequívocos intelectuais.
É preciso sair dessa eterna defensiva quando se alega uma obviedade a respeito de Lula. Se ele tem - e tem! - várias virtudes, não se pode negar que tenha - e tem - ao menos este defeito.
(meu comentário seria em resposta a Julinho, mas o relógio lisérgico o pôs antes do próprio comentário a que iria responder! :))
muito bonito o texto, caetano. “araçá azul” é um dos meus discos preferidos - dos seus é o que eu acho melhor - e muito da beleza dele está na presença de dona edith do prato.
Não se enganem. A senha do texto do Caetano não está na figura de Lula e no que a Chris (coment 34) chamou de “papo repetitivo.
A senha está na interessante menção ao ministro Mário Andreazza. Militar, gaúcho de cabelos prateados e pele bronzeada, Andreazza foi o ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici. Representou a idéia de progresso embutida no milagre asfaltando o Brasil. Andreazza fez o Brasil dos sem-carro. Sujeito rude e autoritário, ele está na gênese da nossa arraigada forma de superfaturar, poluir e valorizar o transporte rodoviário que hoje está implodindo nossos centros urbanos e transformando o sertão em paisagem de passagem emoldurada pelos vidros dos carros, caminhões e ônibus. A idéia insana da Transamazônica nasceu naquele período alucinado.
A Ponte Rio-Niterói também foi idéia dele. Hoje está lá, firme e robusta, graças a um “modo de produção” que causo dezenas de mortes de operários.
No governo do Figueiredo, Andreazza foi ministro do Interior e em seguida, candidato à sua sucessão à Presidência da República. Concorreu na convenção nacional do PDS com o Maluf e perdeu.
Se tivesse ganho na convenção do PDS, não teríamos tanto medo de que Tancredo perdesse as eleições indiretas, pois Maluf era adversário mais forte.
No começo dos 80, o Renato Aragão nos Trapalhõescriou uma personagem chamada Severina, que falava ironicamente de sua tara pelos olhos verdes de Mário Andreazza. Era hilário.
Andreazza era o homem urbano, macho e emprendedor da urbe. Didi era o homem nordestino, pobre, imitando mulher e falando errado.
Há algo de Didi no Lula. Quando Teteco (com brilhantismo) fala do “falar errado” proposital de Lula que toca os brasileiros, lembro que Didi também o faz, mas como artista.
No entanto (a senha) Lula de forma enviesada dá certa continuidade ao estradismo de Andreazza. A idéia de “o sertão vai virar asfalto” e das super-produções a la SUDENE é que o opuseram a Marina Silva. Aí, sim, mais uma vez, Caetano acerta. Marina, mulher, de fala correta, propõe uma nova forma. E é aí que Teteco arrasou nos presenteando com dados de inteligência fina percepção.
No anos de 2008, pela primeira vez na história desse país (bem ao gosto de Lula) a população urbana superou a rural. Olhem o mapa do Brasil e tentem entender esses números impressionantes.
Chega de discutir Lula X FHC. No Brasil, pós-Lula uma missão se impõe. Fazer do Brasil um país urbano, sertanejo e civilizado. Diverso. Onde se fala o português correto. Não o da unificação lusófona. Mas o de Rosa, Buarque, Cabral, Veloso, Catulo, Mano Brown, Gabeira, Arlindo Cruz, Dona Edith e todos os brasileiros que nós, por aqui, amamos tanto.
Lula está fazendo o seu papel. Não é definitivo. Está cheio de erros… políticos, econômicos e de português. Mas caminha.
Quando citei “Futuros Amantes” do Chico pensava no texto do Caetano e no tempo que está vindo, sobre o qual pouco sabemos, falamos e refletimos. O Brasil sem Caymmi, Dercy e Dona Edith.
E aí…
Nada é pra já.
Beijos nas testas do futuro
salem
A tempo:
Mario Andreazza morreu em 1988. O mesmo ano em que Chico Mendes foi assassinado.
É temo de ligar pontos.
bj nas tst
salem
Oi, Caetano e pessoal.
Que trem mais esquisito, sô! Por todo lugar na web, até numa tese de semiótica, a letra de Viola Meu Bem estava “sou maquinista…sou…” vc me surpreende com esse “seo” jeito de ser.
Bom, não quero ser renitente, Caets, só te alertar para o fato de que Heloísa quer fazer com jeitinho o que os linguistas fizeram e vc considerou agressão. O Possenti até topou sua tese! Só fez leves ponderações. É que Possenti, Luedy & eu não temos essa clareira do ser, essa abertura para o ser heideggeriana que a Heloísa tem e daí ficamos sendo os agressores…
Se quiser te mando minha tese sobre Oswald que tá no forno. Pode ler e criticar tudo que eu acato se eu achar pertinente. Topas?
My Brother,
Meus sentimentos ao povo de Santo Amaro e a todos os que sentiram a partida de D. Edith.
“Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” ou “No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were; any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.”
Os sinos também dobram por quem parte e deixa um rasgo de saudade dentro da gente. Fica um certo vazio que só com o tempo vamos preenchendo. Muitas vezes toca e fere a alma. Quando toca, menos mal pra quem consegue superar a dor, pois a vida continua. Nessas horas penso como o palhaço de um circo, que mesmo submerso pela dor tem que fazer a platéia sorrir. Faz parte do show de todo artista. Quando fere a alma, como a do Roberto foi ferida, a dor é mais intensa e o refazimento é demorado. Tem quem supere a dor facilmente, mas tem que seja levado pelo banzo. Dito isto gostaria de lhe dirigir um comentário que não precisa responder, se assim preferir.
Ninguém é obrigado a aceitar isso e mais aquilo. O direito de fazer suas próprias escolhas, sem que isto traga mal a seu semelhante faz parte do que convencionamos chamar de liberdade individual. A democracia nos permite a convivência dos contrários, é dialético e faz bem porque exercita o cérebro.
Não sei, mas acho que você, Caetano, tem algo de “pessoal” com Lula. Percebi algo quando diz que Lula não estudou porque não quis. Pode ser verdade, mas foi uma opção dele, se isso for uma verdade verdadeira. Não conheço a história do dia a dia desse operário que chegou ao cume da montanha. Não iria por ai…
Vejo que também remete críticas endereçadas a Lula (e/ou aos eleitores do mesmo, pouco importa) de modo equivocado, tocando o íntimo de um “ser social” cuja consciência é fruto de todas as experiências sociais vividas por ele.
Lula ganha sempre quando alguém o chama de analfabeto, de iletrado. Isto causa uma reação - dentro de um país de analfabetos, incluindo dentre estes os chamados “analfabetos funcionais”.
Vivemos em uma nação que é, por excelência, elitista. A própria internet vem se popularizando, mas não é pra todo mundo, ainda há uma política excludente nesta área. Muita gente usa micro de Lan-Hause, pois não pode comprar um micro. Esta gente que vive excluída em quase tudo, sem acesso a livros, às boas leituras, ao cinema, ao teatro (os “sem cultura”) e a quase tudo que nossa classe dominante possui e pode vir a possuir, quando ouve alguém dizer que Lula não sabe ler, nem escrever direito, cria um vinculo de solidariedade, quase que instintivo e/ou inconsciente, com o mesmo. Sentem-se no mesmo patamar, embora, na verdade, não estejam.
Nossas universidades - das mais austeras e mais bem equipadas e dotadas de verbas, formam profissionais que nos assustam, e outros que nos causa admiração, estes são uma minoria.
Também temos vícios e deformações que as elites insistem em defender e que denominam com o nome de vestibular. Mais um filtro seletivo que afunila o acesso de muitos ao topo da pirâmide social. No meio universitário, a partir do momento em que os senhores(as) donos(as) do poder, dentro da universidade, perceberam que qualquer professor poderia ser candidato a reitor, criaram novos critérios, seletivos, que só mesmo esta elite poderia preencher. Tornou-se quase que obrigatório buscar títulos. Uns só fazem colecionar por colecionar. Outros por mera vaidade. Outros para buscar o poder, enquanto uma minoria busca para ajudar a sociedade a evoluir. Agora tem que ter doutorado, mestrado ser phd e outras coisas mais, o que não significa nada, se a essência do ser não for boa.
O conhecimento é importantíssimo, mas a inteligência não é só conhecimento. A imaginação, diz Einstein, é mais importante que o conhecimento. As grandes descobertas arqueológicas foram feitas por quem não era arqueólogo, por autodidatas e aventureiros que exerciam a imaginação aliada ao conhecimento e à inteligência de que eram dotados. Isto revolta muita gente que se forma e que não faz absolutamente nada de produtivo, salvo ganhar dinheiro com projetos e outras coisas que as nossas políticas públicas oferecem.
Muitas vezes o povo sustenta verdadeiros parasitas no meio universitário, com salários pagos via projetos. Outros equipam suas casas com produtos adquiridos via projetos. Isto é: com verbas públicas, com o dinheiro do povo. Isso é injusto, é real, mas funciona como se fosse a linha do Equador: Todo mundo sabe que existe, mas não vê! Uns porque não querem ver, outros por conveniência, outros por medo, pois dentro do meio universitário, a palavra “perseguição” (quase sempre associada à esquizofrenia) é uma realidade Vivemos em um mundo cheio de fraudes e não me prendo as eleitorais, tecnicamente possível.
Também temos centenas e centenas e centenas de profissionais que um dia poderão - ao examinarem suas consciências - dizer que na vida não foram mais que uma fraude, ainda que tenham sido magníficos.
Alguns poderão assumir que “venceram” profissionalmente através de uma, ou mais de uma fraude.
Uma dessas fraudes está exatamente no processo, dito seletivo (o que é mesmo, mas muito mais elitista que seletivo) do vestibular.
Quanta gente não foi contemplada com uma fraude dessa natureza? Quem quiser examinar o histórico do vestibular e buscar em páginas de jornais informações vão descobrir que existem fraudes que deram certo, outras que não se consumaram e outras que passaram invisíveis ao olho clínico dos mais letrados.
Houve ocasião em que cursinhos davam quesitos do que iria cair em prova. Gente “bem informada” e que já sabia como seria a prova.
No ensino fundamental, até chegarmos ao atual segundo grau (houve um tempo em que tínhamos o curso clássico, o cientifico e o normal, e as deficiências eram menos notáveis e havia muito mais seriedade de propósitos.
Da Aritmética à matemática moderna tudo continua como dantes, com a grande diferença de que, antigamente, a fraude não era tão escandalosa. Era mais bem salvaguardada e incluía poucos e bastava ser de família tradicional. Hoje o dinheiro favorece muito essa indústria, ou essa máquina que gira em torno do vestibular, que, felizmente, está com o tempo contado. No futuro o mercado é que irá selecionar o bom profissional.
Temos pessoas que possuem o dom de tocar um violão só em ver e ouvir alguém tocando, gente que aprende a tocar sem nunca ter sido ensinado, sem a aprendizagem básica. Nas artes plásticas existem pintores que nunca freqüentaram uma universidade de belas artes. Dizem que “o que é bom já nasce feito e que, quem quer se fazer não pode”. É verdade, sim. Minha bisavó nunca aprendeu a tocar bandolim com ninguém e sabia tocar divinamente bem seu este instrumento tão divinamente bem tocado por Armandinho. Isso é um dom ! Não é todo mundo que pode chegar a ser um Caetano, um Chico Buarque, um Milton Nascimento. Muita gente sonha, quer, mas não pode. Vocês parecem possuir algo a mais no cérebro que a maioria dos mortais. Ou nasceram com um ponto cerebral qualquer já feito pra ser bem sucedido, como o “estalo de Vieira”.
Vocês acertaram em suas escolhas, também. Veja, tem médico que não exerce a profissão pois o dom dele é a pintura. Tem engenheiro que se revela um grande contador, na prática, e assim vai a humanidade.
Lula tem um dom que não é igual ao de muita gente,nem ao seu, nem ao meu, mas é possuidor de um dom humano que o distingue dos demais mortais. O gosto de cada um vai determinar o julgamento futuro de quem é melhor pra isso ou aquilo. As eleições podem servir como uma forma de julgamento, apesar dos pesares.
Acho que você poderia fazer críticas a Lula nos campos da Educação e da Saúde Pública, embora ele tenha feito alguma coisa nessas áreas. Mas as Universidades continuam a ser precárias, com vícios e deformações que nunca são corrigidos por força da institucionalização do que há de errado e que favorece certos grupos. Se você quer corrigir, vira um embaraço, um pus, um tumor. Passa a ser “elemento ativo, feroz e nocivo ao bem estar comum”.
O SUS continua asSUStando o povão. Sim, o povão sente o peso dos equívocos quando sente a ferida e o bolso além do estomago doerem. Se o cara não tem um plano de Saúde e um pistolão pode vir a morrer em uma fila qualquer, ou na hora que tiver de buscar socorro em uma emergência e/ou urgência do SUS, cuja concepção teórica é divina e maravilhosa, mas nunca irá funcionar dentro de uma estrutura capitalista neo-liberal, como a nossa. Lula está vencido nisto pelo grupo sanitarista e não pode tocar nessa “coisa” chamada SUS.
A questão salarial que atinge muitos profissionais e é um outro ponto fraco do governo. Os supermercados da vida revelam que os preços sobem e que o povo cada vez compra menos coisas.
A agiotagem dos bancos parece favorecer a economia, mas vem liquidando muita gente honesta que cai nas armadilhas das oferendas dos banqueiros que possuem um apetite voraz. E bote voracidade nisso. Se passar em Salvador, visite o comercio e outros pontos do centro da cidade e verá que muitas lojas de eletrodomésticos e de outros artigos transformaram-se em financeiras e, por detrás delas estão grandes bancos. Exemplo: o BV, Banco VOTORANTIM, que era do Ermírio de Morais, agora é do Banco do Brasil. O BMG está associado àquele escândalo que resultou em nada. Aquele, que teve um dos envolvidos com dinheiro na cueca.
Agora passamos por uma reforma ortográfica - no meu entendimento sem muito sentido (algo para agradar Portugal (ou não). O “espírito” verdadeiro, que ensejou esta reforma ainda não se conhece).
Temos outras contradições gritantes como a continuidade da permanência da ausência do Estado nas favelas e bolsões de pobreza, favorecendo, involuntariamente, as organizações (não que Lula deseje isso!) mafiosas, tipo CV-PCC e outras facções, sem contar com as mais perigosas e inteligentes(estas ficam mais próximas do poder, gravitando em volta dele).
Os aposentados pagarem INSS é absurdo e a justificativa de que pagam por que estão vivendo mais é ridícula. Endividado até os dentes tem que pagar imposto de renda! Creia, tudo certo como 2 e dois são 5.
A oposição feita a Lula é descerebrada e carrega uma certa ira burra em seu bojo.
Não basta criticar só pra tomar o poder e não fazer nada. Se existe o desejo em melhorar o Brasil, esse desejo tem que ser visceralmente honesto em todos os aspectos.
Veja, só, querido Caetano (gosto de você), você já falou em “podres poderes” e o poder tem se revelado podre, mas a podridão continua fedendo em todo o mundo.
O homem que levou o homem à lua, que nos permite enviar e-mail e termos uma comunicação quase que instantânea, que inventou o cinematografo, que inventou o telefone, que inventou a roda, que criou o avião, que faz a vida ser mais confortável para uns, é o mesmo homem que não encontrou a formula para por fim às desigualdades sociais. Não estou falando em marxismo, mas em uma invenção nova que mude o mundo e que permita a todos uma convivência digna e salutar e que possamos denominar como uma verdadeira Humanidade.
Não lhe questiono, mas acho que você comete um erro quando crítica um erro de uma pessoa que é mais um erro da sociedade, da estrutura social vigente.
Penalizamos os “drogados” e até os adjetivamos pejorativamente, mas o erro é nosso, posto que permitimos a continuidade de estruturas sociais ultrapassadas e de mentalidades, também, caducas. Eu teria tanta coisa a dizer - “deixe-me dizer pois quero desabafar” (Marcelo D-2) - mas escrever muito é chato pois os tempos atuais é de quem diz pouco é bem visto. Como diria o pessoal do Pasquim, eu estou mais pra opa que pra oba.
Poderia elencar inúmeras vulnerabilidades e contradições do governo e que gostaria que fossem equacionadas, mas não toco na ferida pessoal de ninguém. Falo da corrupção como linha do Equador, ou como uma Linha Maginot. Mas é tudo muito transparente nos chamados centros de excelência. Aquela coisa dos 10% pra um, 10% pra outro e, no final, 20% pra o que efetivamente tem que ser feito acontece ainda… mas na linha maginot tudo é underground e não é todo mundo que vai ter condições de ver e de saber. Enquanto isso, nossa São Salvador é tão rica em mistérios que ninguém consegue, neste blog, explicar porque temos o mapa da Bahia igual ao do Brasil. Agora me permita uma indagação feita por V.Sa.: “existirmos, a que será que se destina!”. Não é pela cajuína cristalina em Teresina. Ao menos explique-me esta profunda indagação filosófica que a todo instante me ocorre. Pode ser ? apenas “meias palavras” que sei ler nas entrelinhas. Bye, bye!
PS: porque não reativam nossa malha ferroviária, não purificam o Subaé e não fazem o Vapor de Cachoeira ser o que foi?
Pois é, Glauber, apareci… e Labi também. Faltando apenas a sá Heloisa.
Eu concordo, e tenho dito, já faz tempo, que o nosso presidente não estudou porque não quis. Ele teve tempo. Acho que, e isso é apenas um jogo de achar, o Lula tenha pensado que estudar seria se vender, de alguma forma. Que estudar o faria um “estudado”.
A gramática do Lula não me incomoda. Não me incomoda o sifu. Não me incomoda ele não falar outra língua. Me incomoda, sim, profundamente, ele não saber da história deste país. E o bordão do nosso presidente, o “Pela primeira vez na história deste país”, me parece ser um bordão de quem não sabe a história desse país, Nabuco, Bonifácio, Pedro De Alcântara, etc - essa gente. Isso do “Pela primeira vez na história..” sempre me irritou profundamente.
E por falar em Estudar;
O recente Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),rendeu farto material para os redatores de programas humorísticos.
As “pérolas” estão sendo divulgadas por um dos professores que corrigiram as provas,e não quis se identificar,pois houve recomendação do Cesgranrio,que elaborou o teste,para não expor os autores das provas.
Outras Pérolas :
Este post esta muito lindo, precisei de uns dias para digerir, isso acontece quando me deparo com um texto em que o autor tenta nos passar mais do que a imagem que se vê diante dos olhos. A revelação dos sentimentos mais profundos e íntimos que Caetano revela nesse post é muito tocante e me transportou por um instante e mesmo que tardiamente posso dizer que me senti ali presente. Este elo com a casa, as pessoas, com a cidade e suas raízes me maravilha sempre. Esta homenagem poética e plena de sentimento, com esta canção que fala do sertão e de pessoas simples e belas, transformando as letras em parágrafos ricos e estonteantes. Indizível sensação. Gosto muito de Rosa mais sempre tenho uma tendência a pender para o lado de Catullo.
Vi o vídeo do youtube sugerido por Lucesar e que lindo foi vê-lo porque me trouxe uma compreensão ainda maior de tudo que escrevi no parágrafo anterior.
Muitas coisas tenho conhecido através do blog, fiz um curso com Rafael sobre o Tambor, também sobre o samba-de-roda estudei um pouco, e como gosto desta cultura brasileira e de toda sua manifestação popular.
Beijos
Licença.
Acabei de receber uma notícia bastante triste, no dia 10/01 faleceu Nelson Brito,ator e diretor do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão (Laborarte). Tá difícil, viu. Ano passado foi o Mestre Felipe e o Mestre Salustiano, agora começamos o ano com mais essa perda. Nossos mestres, nossos mestres.
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Notícias:
http://www.jornalpequeno.com.br/2009/1/12/Pagina96195.htm
http://www.badaueonline.com.br/2009/1/11/Pagina38664.htm
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Bjs.
Quem me falou que a Dª Edith do Prato havia sido mãe de leite de Caetano foi meu filho Lucas. Ele disse o seguinte: Pai, você conhece a mãe de leite do Caetano? Eu arrisquei e disse, deve ser a Dª Edith do Prato, venho como que por intuição pois eu não havia lido o post do Caetano.
Gostei do que Caetano falou sobre Lula, que, apesar de sua “falta de estudos” (as aspas têm seu valor), sugere outras nuances ao nosso Presidente quando diz :Lula é um resultado direto e muitíssimo menos indesejável, ao se referir à industrialização JK, aliás, o Lula pra mim não está somente na esteira de JK, ele lembra mesmo (embora de maneira bem mais diferenciada) aspectos populistas varguistas, sei lá, não sou bom pra falar em política, mas o Salem já falou da “senha” (tá parecendo palavra de passe de sociedade secreta).
Preciso trabalhar, mas quero dizer o seguinte: o que me impressiona em VIOLA, MEU BEM, VIOLA, que junto com EU QUERO ESTA MULHER ASSIM MESMO (MONSUETO) me parecem um desvio às outras canções do ARAÇA AZUL, é que ela, não soa como as canções de protesto da década de 1960, e no entanto, ela é muito mais de protesto, ela é um iceberg, traz muito de uma época, com o lamento na voz de Dª Edithe, e o que é melhor, com vida, com prazer,na batida do trem, muito mais do que a simples “fala-para-operário” que nos fala Favaretto em sua análise das canções tropicalistas.
Também penso que o “pela primeira vez na história” é “dífo”; não lembra a carta-testamento forjada do Dr. Gegê: “saio da vida para entrar na história”?
Se fôssemos verificar, quem de fato é a burguesia brasileira?
Cacilds, Luedy!
Onde você me viu reiterar a todo instante sobre erros de português do Lula?
Jamais escrevi sobre o tema. Pelo contrário. Quando Caetano levantou a questão do sifu X sifo (não uma questão de erro do Lula, mas sim da grafia utilizada pela imprensa), comentei que o o assunto não me interessava por esse viés e sim pelo fato de se tratar da “morte de brasileiros” em ambiente político com humor.
E agora, no meu último comentário, novamente chamei a atenção para um aspecto da política estradista de Lula na lembrança da figura de Mário Andreazza. E lembrei que Didi (Renato Aragão) fez um personagem que tinha tesão pelo ministro.
Blog tem dessas coisas. A gente corre o risco de ler “na diagonal”.
Repito o que disse no coment anterior:
“Chega de discutir Lula X FHC. No Brasil, pós-Lula uma missão se impõe. Fazer do Brasil um país urbano, sertanejo e civilizado. Diverso. ”
É por aí que a minha reflexão caminha.
Não estou interessado no significado da palavra “erro” tão importante pra você. Não conheço o livro do Bagno e peguei bode dele ao lê-lo na Caros Amigos, o que me deixa “suspeito” e descredenciado pra debater no caminho que você propõe.
Outra coisa. Você escreveu o seguinte:
“Acho que a gente poderia tentar ser mais sintético. É difícil acompanhar comments com mais de doze parágrafos!”
Vamos com calma. Aqui você pode ler o que quiser, desprezar, reler, ir, voltar, se entusiasmar, se entediar. Ninguém pode regrar isso.
Já li coments curtos e chatos e outros longos maravilhosos. Alguns, desisto no meio. Mas se não li com atenção, também não comento e nem critico.
Esse é o meu décimo terceiro parágarfo e o dedico à saudade que sinto do Joaldo. Um sujeito de muitas palavras, linhas, versos, parágrafos, links, caixas altas, negritos, aspas, refrões, aliterações, delírios e clareza textual.
bj (abreviado pra não gastar mais espaço e tempo)
salem
‘Tá bom. Se falar “menas” ou “pobrema” não é “erro” no conceito de algum linguista, okay. Sou leigo9 no assunto. Apenas me avisem o termo linguisticamente correto pra definir tais episódios. Empregarei com prazer.
beijo de língua
salem
Dona Edith do Prato, quem canta sua terra, purificada esta!
Riobaldo eu rio.
De aqui o canto.
” Nao provoque é cor de ‘Rosa’ choque “
“Viola, meu bem, Viola” é um outro Fabiano de Guimarães Rosa, cantando e falando bem.
A grande angústia do homem humilde em que as idéias fervem dentro da cabeça e não tem vocabulário para falar está redimida nessa canção.
Ele pede carona ao funcionário e escreve a história de sua vida.
O soldado amarelo está morto, Fabiano aprendeu a ler com paulo Freire.
Estive no funeral na sexta-feira. Quis me manter distante, mas ao ouvir de alguns curiosos comentários do tipo: “tem pouca gente”; “pensei que ia dá mais artista”, me afastei e preferi acompanhar o cortejo. Não gosto muito de cemitérios, no entanto a necrópole de Santo Amaro me fascina – e aqui não cabem conjecturas fatalistas e/ou futuristas, falo apenas da beleza. O cemitério fica num cume, que de longe é facilmente avistado e que os mais crédulos e supersticiosos dizem que é de onde “eles” nos observam. Durante a cerimônia de sepultamento caminhei entre os túmulos, algo que há muito não fazia, é como passear pela história da cidade, logo depois as pessoas começaram a ir embora, gradativamente e sem pressa. Roberto Mendes foi o primeiro a partir, parecia também o mais abatido. Visitei ainda o jazigo de um traficante recentemente assassinado, havia algumas pontas de cigarro de maconha pelo chão, deve fazer parte do ritual. Escutei Caetano a cantar e fui o último a sair.
a sapatada que Lula sugeriu sobre os jornalistas pode ser uma metáfora que atinja não só a eles mas também a nossa insatisfação com as idiossincrasias do presidente. nem entrevistas nem português castiço, Lula é o resultado da consciência política da classe trabalhadora brasileira no Poder, como ele disse no filme do João Salles. Quem o apoia são os lá de cima e os lá debaixo, nós aqui do meio nos mordemos com os desajeitos do presidente. Lula substituiu o doutor FHC e tem cumprido a agenda com louvor, o pacto social que ele representa é o avanço possível e necessário nessa quadra da nossa história. não podemos querer dele o que ele não pode nos dar, mas o que queremos? entre nós por exemplo, falar em reconstrução do Estado ainda provoca sentimentos fascistas, nacionalismo ainda é tema da TFP e ordem e progresso é slogan de camisa integralista. onde estamos? em que mundo ainda estamos? a burguesia brasileira ainda roda sem saber pra onde? a adoção de princípios civilizatórios é contestada como prática repressiva. Ou estamos malucos ou engatinhamos. Lula lê o Brasil que está aí na frente, e toca o bonde. Nosso problema não é o Lula, muito pelo contrário e não seria pouco lembrar a frase do Kennedy quando recebeu a faixa: não importa o que o país pode fazer por nós, mas o que podemos fazer pelo país.
Caro Luedy
Não aguentei. Fui atrás do tal texto que tem o título O ERRO DE PORTUGUÊS NÃO EXISTE, com o instigante subtítulo “Escritor e lingüista denuncia o preconceito lingüístico e considera absurdo dizer que os brasileiros não sabem português”.
Trata-se de matéria de 1999 escrita pelo jornalista Flávio Lobo pra Revista Educação. O título portanto é do jornalista e não de Bagno. E a base da matéria é a tese de doutorado de Bagno sobre o que chama de “diferentes gramáticas para diferentes variedades do português. Cada uma delas perfeitamente válida em seu contexto. Todas merecedoras de respeito.”
Gozado você dizer “chega de relativismo”. A tese do Bagno é a teoria mais relativista que já li sobre o tema.
Ele diz as tantas: “”No campo da língua, na verdade, tudo vale alguma coisa. Mas esse valor depende do contexto, de quem diz o quê, a quem, como, quando, onde, por que e visando que efeito”. Ou seja: tudo é muuuuito relativo!
Basicamente Bagno defende a idéia (um tanto óbvia) do uso e do desuso como elementos de transformação da língua. Ninguém negaria tal fenômeno. A beleza e a elasticidade da língua está justamente aí.
Mas apenas a constatação de que o uso repetitivo de uma forma teoricamente “errada” a consagrará como “merecedora de respeito” (essa foi a única expressão que o linguista usou para driblar o termo “certo” ou “correto”) justificaria anomalias e empobrecimentos.
O uso do gerúndio após o uso de verbo estar, por exemplo, espalhado pelos call centers como uma epidemia, na tese de Bagno, seria “merecedor de respeito” por ser “perfeitamente válida em seu contexto”.
Bagno é um relativista. Ou quase um quase lamarquista.
Essa discussão é bem mais profunda. E transformá-la apenas em denúncia de preconceito a reduz a nada. Não vejo no seu discurso parâmetros inovadores. Num certo sentido o que ele fala com ar de descoberta é até bem consensual.
É claro que a língua muda pra não ficar muda.
Mas não estamos surdos. E nosso ouvido não é penico.
12 parágrafos
beijo na testa
salem
Na ausência de mais material com Edith (além das canções do Araçá) escuto o Batatinha, principalmente “Toalha da Saudade”.
*
Teteco, parabéns pela perspicácia, fiquei estupefato. Realmente a questão é bem mais complexa. E certamente diz respeito ao plano inicial (fracassado, graças a Deus - um fica 8 anos, outro fica mais 8, assim por diante) de perpetuação no poder da canalha, da corja de vagabundos que foi obrigada a deixar o governo.
E o raciocínio/exemplo é esse mesmo: “se o presidente não lê, fala errado, não estudou (não “precisa”), por que nós teríamos que estudar, ler, falar corretamente?”.
Perfeito, perfeito, clap clap clap.
(Alberto Caeiro)
Também conheci Lula e não é proposital ele falar errado não. Como não é fingimento ele tomar “pinga” e de ser “machista”. Conheci antes dele ser presidente e de ser militante do PT. Há autenticidade nele. Tem momentos em que ele surpreende, em outros decepciona, mas é isso mesmo. Nesse aspecto eu prefiro não critica-lo, nem acusa-lo de falar errado propositalmente pois estaria mentindo pra mim mesmo. O povo tende a solidarizar-se com ele. É homem de origem popular, que freqüentou os botequins da vida, os bordeis mais simples e humilde. Que fala pornografia. É um ser humano que tem lá os seus erros e acertos e as elites é que são burras. Foi o egoísmo, a corrupção, a onda de privatizações nefastas, os interesses escusos e banditismo das elites, que não tá nem ai pra o tipo de governo e que adora colarinho branco, festas chics, com listas de convidados… Em resumo: da grã-finagem socialite. Ai ele - na autenticidade de um simples operário . mexe, cutuca, em casa de vespas e as vespas ficam assanhadas. Lula tem os limites dele. Não teve força para permitir o inquérito contra Daniel Dantas por pressões intestinas dos aliados e do próprio PT. A merda fede tanto que se abrirem a caixa de pandora vai ser um inferno. É aquela coisa que alguém denominou de linha maginot. Collor, na sua grandiosidade e eloqüência, e virilidade ostentada, acabou criando a “guilhotina” que o aguardaria para mais adiante. Falava bem e foi uma grande droga. FHC (tb conheci) é um intelectual de mão cheia, mas foi ruim demais. Se a solução dos problemas nacionais dependesse da oratória perfeita dos governantes, o Brasil, certamente, seria a maior potência mundial e nós seríamos donos do mundo. Estou farto de doutores que saem ricos do poder. Com todos os defeitos prefiro um que fale errado e dê pedradas certas. Existe corrupção no governo dele: sim! mas eu nunca vi tanto trabalho e ação da PF, nesta área, atuando contra o próprio governo. Só lamento que o caso DD não tenha proseguido, mas tem gente que não sabe que no Brasil, quem é classe dominante não fica na cadeia. Vai ver o costado de DD e descubra muito mais coisas e conheça o que é a classe dominante. Vai lá e verifique a árvore de costado dele, sem falar nas linhagens colaterais. Que pena que as coisas funcionem assim e assim será, falando bem, ou mal. É isso ai.
O Salem disse o que eu ia falar sobre o que o Luedy falou…
Salem,
“Gozado você dizer ‘chega de relativismo’. A tese do Bagno é a teoria mais relativista que já li sobre o tema.”
Hahaha! O meu intento era justamente esse: o de chamar a atenção de vocês. Seria óbvio que eu, um grande advogado do relativismo, não poderia estar afirmando justamente o contrário do que penso e acredito sem querer ser apontado como contraditório. Mas é importante atentar para o fato de que, em meu relativismo, eu, até então, procurava sempre afirmar meu ponto de vista como mais um dos pontos de vista existentes e a minha própria perspectiva como mais uma perspectiva (e não como “a” perspectiva, ou seja, como a mais correta). Daí o meu grito de basta: chega de ficar relativizando, erro de português não existe. Vocês – quase todos vocês – partem sempre do pressuposto de que há uma maneira mais correta de se falar a língua: há uma maneira “mais acertada” de se falar; “fulana fala e escreve lindamente porque estudou” [ao contrário de outros que, por não terem freqüentado os bancos escolares, por não terem avançado nos estudos formais, falam “errado”]. Era contra isso que eu estava me insurgindo e, finalmente, decretando o fim de minhas posturas relativistas: para afirmar que a noção de erro em língua tem de ser contestada. Os pressupostos que informam as crenças acerca de falares mais “corretos” precisam ser situados e contestados. Já que vocês não pareciam reparar que a perspectiva que assume que há uma maneira mais “correta” é apenas uma das perspectivas existentes, apesar de ainda dominante para se lidar com os fenômenos lingüísticos (ainda que seja, para mim, ultrapassada e pouco produtiva do ponto de vista educacional).
“Basicamente Bagno defende a idéia (um tanto óbvia) do uso e do desuso como elementos de transformação da língua. Ninguém negaria tal fenômeno.”
No entanto, apesar da “obviedade” das observações de Bagno, persistem aqui as noções arraigadas de que há “erros” e que há uma maneira “certa” de se falar a língua.
Confesso que não entendi as suas ponderações acerca de “anomalia e empobrecimento”, ou, em suas próprias linhas: “a constatação de que o uso repetitivo de uma forma teoricamente ‘errada’ a consagrará como ‘merecedora de respeito’ (essa foi a única expressão que o linguista usou para driblar o termo ‘certo’ ou ‘correto’) justificaria anomalias e empobrecimentos”.
Você poderia explicar melhor? Não me parece que Bagno se valeria destes qualificativos.
Quanto ao “uso do gerúndio após o uso de verbo estar”, algo que estaria “espalhado pelos call centers como uma epidemia”, eu concordo com o Bagno e digo mais, o Possenti – aquele mesmo – tem uns artigos ótimos acerca do propalado “gerundismo”. Vou procurar os links (estão no terra magazine) e depois de te mando.
“Essa discussão é bem mais profunda. E transformá-la apenas em denúncia de preconceito a reduz a nada. Não vejo no seu discurso parâmetros inovadores. Num certo sentido o que ele fala com ar de descoberta é até bem consensual. Mas não estamos surdos. E nosso ouvido não é penico.”
Concordo contigo! E devo dizer que eu sou um mero, um reles, curioso nesses assuntos. Sei que Bagno é um dentre muitos antes dele que já abordaram essas questões, mas admiro ele justamenete por ser (na minha modesta opinião) um excelente divulgador dessas questões para além do restrito círculo acadêmico. Salem, que bom que você não se furta a discutir esses assuntos. Queria dizer que, para mim, é um enorme prazer discutir contigo. Como disse antes, já te admirava desde “zeca, nino, pedro, biba”, da canção da caipora (com pena branca e xavantinho) e de toda aquela trilha do ratimbum. Mas discordo que o que se fala e contesta acerca das questões lingüísticas aqui (em discordância com a maioria que freqüenta esse blog) esteja fazendo de pinico seus ouvidos.
Grande abraço,
luedy
Salem,
Espero ter desfeito a confusão acerca do “relativismo”. Eu continuo relativista e lamento que você tenha se tornado reativo ao que Bagno e Possenti escrevem. Claro, você tem todo o direito de desgostar de seus argumentos, mas esperava que você se detivesse um pouco mais no que eles dizem e fundamentam para que pudesse compreender melhor o que eles estão defendendo (que não me parece distinto que você mesmo defenderia). Talvez lhe ajudasse, por exemplo, a repensar o uso de expressões como “as gafes [de Lula] com a língua portuguesa”. Que gafes são essas?
Luedy
“A questão aqui é: Lula, com sua retórica, passa ou não passa a idéia de que ‘estudar é fundamental’?”
Não acho que essa seja “a questão”, mas já que você a lançou, vamos a ela. Primeiramente, creio que a gente tem que definir o que vem a ser este “estudar”. Só se estuda na escola?
Em segundo lugar, eu torno a insistir: há um pressuposto aí a ser explicitado e discutido, o de que Lula “fala errado” e que por isso exerceria uma influência negativa, uma vez que ele deveria ser um modelo de “falar correto” e, efetivamente, não o é.
Por fim, dada a minha antipatia pelo tucanato e em especial pelo FHC, eu poderia muito bem partir do mesmo princípio para afirmar que, uma vez que não gosto do nosso ex-presidente e discordado de sua orientação política, jamais estudaria sociologia.
Acho que o papel desempenhado por Lula traz mais benefícios para que a gente repense o papel da escolarização (principalmente no que tange ao ensino da língua portuguesa) do que o oposto do que se tem sustentado aqui.
Caro Demostenes
É verdade que “a solução dos problemas nacionais não depende da oratória perfeita dos governantes”. Mas não é verdade que” Collor falava bem”.
Pela primeira vez vou falar diretamente do assunto Lula e o português. A questão colocada por Caetano foi mal entendida.
Em momento algum ele usou a expressão “erro de português” ou “o presidente fala mal”. Voltemos ao que ele disse:
“(À parte: Lula não estudou porque não quis. Tempo ele teve. Marina Silva estudou e hoje fala e escreve lindamente bem.)” Portanto, Caetano não falava do “português errado” (gosto mais da expressão “erros do meu português ruim” de Erasmo) e sim da decisão voluntária e expressa de não estudar.
Ora isso é bem lógico. Se, na defesa de Lula, um brasileiro sem estudo pode chegar à Presidência, também conseguiria chegar ao menos terminar o Ensino Médio. Convenhamos, que as probabilidades são bem maiores.
Daí pra frente, com o depoimento de Teteco, o que se discutiu não foi o “erro de português” e sim o aspecto popular e populista da fala na língua sindical do “chão de fábrica”, como ele definiu.
Aí, Luedy atribuiu a mim e ao Teteco uma visão “relativista”, “reiterada” e “ultrapassada” aos erros de português que, segundo ele, nós “noção de “erro”, “diligentemente” empregamos. Para isso, citou o linguista Bagno.
Foi quando voltei à cena pra dizer que jamais havia comentado o português do Lula e não gostava do Bagno por outras paradas. Havia entendido a preciosa percepção de Caetano ao se referir Ministra Marina e se lembrar de Mário Andreazza.
Mesmo assim, fui ler o Bagno e me decepcionei.
Estou aqui pondo uma certa ordem na casa.
Não entendo profundamente de língua portuguesa, nem de oratória, não sou dessa tal de “elite” que virou uma espécie de caricatura na fala do Lula e na sua, não defendo a idéia de que a educação é o pilar da criação de uma produção artística melhor (discuti a beça essa questão com meus melhores amigos neste blog) e finalmente não persigo o Lula por suas eventuais gafes com a língua portuguesa.
A questão aqui é: Lula, com sua retórica, passa ou não passa a idéia de que “estudar é fundamental”?
Na mesma medida em que se criou um preconceito por ele não ter estudo, há também uma idéia mistificadora e preconceituosa, de que mesmo sem estudar, podemos chegar lá!
Não me lembro de ter ouvido nenhuma reflexão do Lula a respeito disso. Caetano tocou nesse ponto. E esse é o ponto. Pescar erros de concordância é apenas um dos esportes preferidos da oposição. Mas esse papo de “elite” tem causado estrago e confusão. Elite não é o povo que frequenta a Daslu, vota no Maluf e tem conta na Suiça.
A verdadeira elite pode ser composta de intelectuais, artistas, livres pensadores, cientistas e o escambau.
Teteco foi brilhante ao flagrar o surgimento de uma nova elite: a sindical. Com seu estilo, sua terminologia, seu discurso e sua estratégia.
Foi isso.
beijo na testa
salem
Oi, Caetano e pessoal.
Acabo de encontrar uma coluna recente do Possenti onde ele defende o Lula de não ter estudado, ou melhor, se diplomado em faculddade. Lula estudou até certo ponto, acho que equivale à nona série de agora e depois fez curso técnico no Senac. Ele não tem diplomas, o saber dele é de oitiva. Ele diz que só na escola primária se aprende (ou aprendia) de tudo. E as pessoas não deveriam ser tão otimistas quanto ao que se aprende em faculdade.
Não qualificaria o Lula como uma pessoa que não estudou por ele não ter um diploma universitário. O fato de alguém não ter um diploma talvez desqualifique o cidadão como acadêmico, mas não como pessoa que estudou. Estudar é, basicamente, correr atrás do que não se sabe, e se julga necessário saber. O Lula estudou para ser torneiro mecânico. O que eu gostaria de saber é o que ele estudou quando se propos a ser presidente do Brasil. Ele com certeza deve ter dito “Opa, se eu posso vir a ser presidente é melhor eu aprender a…”. Tenho certeza que ele correu atrás de alguma coisa - gostaria de saber, por pura curiosidade humana, do que.
Duele respirar…la “partida” de ese tan “especial ser amado”…y que no hay más ausencia que la del otro, quien parte, nosotros nos quedamos aquí…impotentes, resignados frente a lo que es de la vida…definitivo.
Estas líneas que a continuación escribo le dedico con la especial alegría de su existencia…y desbordada emoción a Dona Edith que mora em nossos corações, e para você em especial, Caetano mío:
… mais muito mais ainda…beijos carinhosos no teu CORAÇAO. Muito axé.
Grazie anche a Lucesar per i bellissimi e per noi in Italia inediti video.
olá caetano, será que ninguém registrou, com uma câmera ou celular, alguns dos momentos em santo amaro ? e a cantoria, será que se “perdeu” ?
sô gráubi guimarães falou e disse ! (no 110) léguas de textos com alguns equivocus digitalis geram léguas de textos para reparação. bore.
o brasileiro não fala nem escreve “corrijo-me”, ricardo, porque soa gay, e, como se sabe no brasil não tem gay, só tem ‘cabra’.
escrever corretamente leva a ler idem, mas não significa entender ibidem. não sendo escritora posso cometer, acidentalmente, incorreções gramaticais (desde que a finalidade do texto não seja didática), e mesmo assim “satisfazer” o leitor com o contexto.
além do que errar não é desumano.
abrs paloma
Desculpa, mas quanta bobagem! É um texto tão lindo sobre uma pessoa MARAVILHOSA chamada DONA EDITH!
E o patrulhamento Lulista nos obriga a remoer esse assunto chato!
VIVA DONA EDITH DO PRATO!
Ela está muito acima dessa discussão besta e policialesca, politiqueira e chata, chatíssima, modorrenta e batida.
Ouvi ontem o disco inteiro, hoje procurei no Youtube, ouvi outras coisas, ela sentada, tocando aquele prato.
Chega de Lula! Eu mesmo caí na besteira de tentar defender isso e aquilo, atacar aquilo e isso. Bobagem.
Viva Dona Edith do Prato!
Salem,
fui aluno do Marcos Bagno na Universidade de Brasília, mas li apenas um de seus livros: “Preconceito Lingüístico”.
Antes de mais nada, o Bagno é um ser humano fantástico, que até fisicamente lembra muito o Caetano (mas muito mais pela inteligência e conhecimento vasto). Escreve muito bem (além de textos acadêmicos, literatura), fala bem, cobra muito em suas provas o português bem escrito, prima pela língua, pela gramática, pelos nossos grandes escritores e estudiosos.
Bagno não sacou nada de novo na lingüística, apenas soube expressar muito bem conceitos clássicos, modernos e de vanguarda do estudo das línguas, contextualizando-os ao português. Sua experiência e seu campo de estudo é nas escolas, no ensino do português, além do português falado e escrito no Brasil.
Eu era aluno de jornalismo e peguei muitas cadeiras de Língua Portuguesa na universidade (inclusive essa iniciação à Lingüística) apenas por prazer.
Não estou defendendo as idéias de Bagno, mas entendo um pouco do que ele fala. Nesse livro que li e cito acima, bem como em suas aulas, ele não esconde que suas idéias são politizadas e que incorrerão em discórdia. Mas são idéias que precisam ser postas na mesa, pois também estão no jogo (e, acredite, o preconceito lingüístico não é um mito como a mídia e muitos outros consideram, mas uma realidade não combatida).
Este livrinho que cito não é acadêmico, não é uma tese, é fácil de ler, feito para professores e estudantes de colégios, iniciantes em estudo do português e público em geral.
A idéia principal, a meu ver, é que a norma culta real não é a norma culta propagada (a gramática) e como a repetição dessa idéia provoca o que ele considera o “Preconceito Lingüístico”, que faz com que muitas pessoas no país sejam estigmatizadas, temam a própria língua e se considerem marginalizadas de uma realidade em que, na verdade, são parte essencial: a própria língua.
Para Bagno, a forma corriqueira de corrigir o “errado”, com base na gramática (que “gerencia” a língua escrita), desconsiderando por completo a forma de fala do que errou, não o faz crescer. É diferente eu escrever um termo errado aqui, uma expressão incorreta, e você, como cara inteligente que é, me corrigir. Eu entenderei, poderei pesquisar e saber que de fato utilizei aquela forma gramatical inapropriadamente e seguirei em frente tranqüilo. Agora quando condenamos (que é mais forte que corrigir e é o que se faz na prática), apenas com base no que conhecemos de gramática, alguém que fala como ouviu e assimilou a palavra “vrido”, não contribuímos em nada para seu crescimento (e se faz isso de forma dura, desleal e cruel nas escolas, nas ruas e na mídia, entre alunos e alunos, alunos e professores, patrões e empregados, “inteligentes” e “burros”, “especialistas em gramática” e povão).
Segundo estudos lingüísticos, “vrido” tem uma razão de ser na língua oral que se justifica (agora estou com um pouco de preguiça de esmiuçar nos livros para relembrar e reportar, mas alguém aí que saiba pode explicar).
Enfim, Bagno quer dizer que existe uma forma melhor de ensinar a norma culta (que não é apenas a gramática) para quem não tem acesso natural a ela através dos estudos, dos livros, de pais educados, de colégios, músicas, filmes, etc. Esse, pra mim, é o grande “x” da questão.
Bagno é parcial e não esconde isso. Acho seu trabalho válido, sua pesquisa interessante e seu papo inteligente, mas as vezes ele acaba se tornando o que quer combater, ao suscitar a morte das versões modernas do professor Aldrovando Cantagalo, de Monteiro Lobato.
Matar nada nem ninguém resolve qualquer coisa, muito menos matar a gramática, porém, trucidar e extinguir do mapa todas as formas de preconceito (depois de reconhecê-los e entende-los) é uma bela forma de a humanidade andar pra frente.
Me corrijo:
Bagno prima pelo bom uso da gramática, não pela gramática em si, e vejam que é um conceito diferente.
Desculpe moderador, mas o que direi, apesar de ser o terceiro comentário seguido, está dentro de um propósito:
no último post eu escrevi “Me corrijo”. Segundo a gramática eu errei. Deveria ter dito: Corrijo-me. Mas vejam bem, nem mesmo as pessoas estudadas e inteligentes, conhecedoras do português, dizem no Brasil, “Corrijo-me”. Será que a norma culta é o que está na gramática (o “aportugalado” Corrijo-me), ou o que a própria classe estudada brasileira pratica: Me corrijo?
Nesse caso a gramática está atrasada em relação ao que é a “norma culta real” (que não é uma norma): o que até o brasileiro culto usa, sem doer no ouvido, que não é penico, de ninguém.
julia debasse falou o que eu ia falar sobre como salem disse o que eu ia falar sobre o que o luedy falou
Salem
eu pensei que a letra de Detalhes fosse de Roberto e Erasmo.
Esta postagem seria uma homenagem e nos perdemos num papo interessate, bobo e repetitivo sobre o Lula…
bjs.
No cometário 97 quis dizer feroz e não ferroz.
Desculpem-me os linguistas.
“agora falando sério”. tô lendo atentamente tudo aqui e me ocorre o seguinte:
1] preconceito não tá com nada e é fruto da ignorância, do desconhecimento do outro, do medo do desconhecido. porém, não dá pra ter duas regras paralelas funcionando ao mesmo tempo. não se pode admitir “vidro” e “vrido” como duas formas corretas de se falar a mesma palavra na mesma língua. vira mangue.
2] acho admirável que alguém que não saiba falar bem o português [como o lula] se mostre tão capaz, inteligente, com um poder de comunicação notável e uma capacidade incomum de administrar um país/continente tão cheio de idiossincrasias, como o brasil.
3] com todos os problemas, este me parece ser o melhor governo que tivemos. o país melhora, isso me parece inegável. e não se pode atribuir isso ao fator sorte, simplesmente. é injusto dizer isso.
4] existe um componente “populista” na figura do lula? sim, existe. faz parte do show. mas é um absurdo compará-lo ao getúlio, um ditador, verdadeiramente populista.
5] o país vem, desde o início do século xx, enfrentando regimes ditatoriais. depois de getúlio, veio JK, jânio, jango [hiatos]. golpe de 64, AI-5, exílio e tortura. “diretas já”, tancredo morre [até hoje, isso me intriga]. os desastres, sarney e itamar. collor [confisco, golpes baixos eleitoreiros que lhe garantem a vitória nas urnas, impeachment. FHC [plano real, privatizações, "abafamento" dos escândalos de corrupção].
não se conserta 50 anos em 5. as pessoas falam dos problemas do país, como se tivessem começado nesta década. o que preocupa agora, acho, é o crescimento do PMDB e o imenso poder nas mãos do geddel [que é um mix de mal necessário e efeito colateral do governo lula].
se eu estiver falando alguma bobagem aqui, por favor, corrijam-me.
sei que é cliché citar algo que caetano escreveu aqui, mas estou ouvindo esta música ["minhas lágrimas"] agora e é incrível que algo que você, caetano, tenha escrito e que é tão pessoal, seja pra mim tão familiar. o tipo de sentimento aqui:
aah, “o homem velho” ao vivo com a banda “cê” é ultra-PHoda! e com pedra ou sem pedra, a vida é mesmo muito boa.
Araçá Azul é transcendental. todas as vezes que me concentro para ouví-lo escuto vozes que parecem ficar de fora quando ouço-o sem uma concentração de pura entrega.
pô, hermano, desculpa comentar de novo, mas faltou dizer que “nine out of ten” ao vivo com a banda “cê” é muuuito Phoda! pedro sá rocks!
Tive visitas aqui do Brasil e como gosto disso, poder falar um pouco o português sem me preocupar se estou sendo entendida ou não, depois levar as pessoas para passear, outra coisa que adoro mais isso fez com que ficasse ausente do blog e senti muita saudades mesmo.
Glauber adorei esta colocação do dia perfeito! Foram me chamar… eu estou aqui!!! Falei de Catullo mais o Elomar também me toca dentro quanto se fala de sertão.
Passeando pelo orkut visitei a pagina do Julio e adorei as fotos recentes da sua passagem por Santo Amaro, desta forma pude ver também eu um pouco do que você andou narrando aqui para nós, vi a foto de Caetano ao lado de Tom e que gracinha este menino, muito solar. Esta observação que você fez a respeito de Dona Canô é muito interessante, porque sempre que a vejo pelos vários vídeos espalhados pelo youtube tenho exatamente esta sensação, mais vou um pouco mais alem, para mim Dona Canô é a personificação do Amor, é um sol com a candura da lua, infinitamente linda.
Luiz Castello tem algumas sintonias que gosto, você falando ai de Pompéia que esta quase aqui no “quintal de casa” de tão perto creio uns 25 km, e como disse no começo do meu comentário andei levando alguns amigos brasileiros para passear e conhecer e um dos lugares “obrigatórios” é exatamente Pompéia, dentro desta realidade já fui algumas varias vezes por lá, é interessante porque destes últimos 5 anos que frequento Pompéia cada vez que vejo as novas escavações tenho a impressão que pouca coisa mudou, é verdade, porque este é um trabalho minucioso, e os arqueólogos são sempre muito cuidadosos, e limpar a fachada de uma casa e manter quase intacta uma pintura na parede me parece mesmo uma missão quase impossível, mas eles fazem isso com tanta arte que eu diria que fazem uma outra arte. Quando a Impertinacia estiver no ar te prometo que farei uma boa ilustração sobre o tema.
Beijos
Labi Barrô, chegando EM casa.
Salem,
Não sei porque as pessoas se importam tanto quando aleguem diz que Lula não estudou se isso é verdade e as pessoas não deveriam se incomodar com a verdade, ele não o fez e ponto. Uma vez li em algum lugar uma entrevista dele que ele dizia que se mudasse sua forma de falar isso iria descaracteriza-lo, penso que ele tinha razão. Falar que Lula não estudou não significa dizer que ele seja uma pessoa ignorante ou analfabeta, se assim o fosse não seria o presidente do Brasil, e não teria realizado tudo o que realizou em seu governo. Pelo que li o que Caetano falou foi que ele poderia ter aprimorado seu português, coisa que tenho a impressão que ele somente não o fez e não o faz por birra. Minha experiência familiar me autoriza dizer que nem sempre o “estudo” faz o homem, mais estudar sim. Minha avó materna não completou o primário, isso pelas dificuldades que tinha no tempo dela, mas isso não a impediu de estudar sozinha, foi auto-ditada, falava e escrevia em latim perfeitamente, tanto que foi ela a redigir em latim a monografia do meu tio quando este se formou em direito. Dona Esther tinha adoração pelo léxico, era uma devoradora de livros e, mesmo após um AVC se esforçava para pronunciar as palavras corretamente, dizia sempre que apreciava as palavras rebuscadas porque eram cheias de sonoridades. Ah! Este ouvido “musical” creio que foi herança dela que também tocava os corinhos no órgão na igreja sem nunca ter estudado musica.
Concluindo, ao meu ver, existe uma caricatura do Lula que ele mesmo criou e que o popularizou.
Existe uma certa incoerência entre este Lula presidente e o Lula caricaturado, enquanto o primeiro parece que valoriza o estudo e quer dar oportunidades a toda população o segundo o contradiz mostrando que a pessoa pode “não estudar” e chegar a presidência da republica. O discurso esta errado, o problema não esta no fato de não se ter um diploma universitário, mais no fato de não falar corretamente o idioma do seu pais, pior ainda é justificar isso dizendo que se tem que falar a língua do povão. Tivemos um presidente que comparou o povo a cavalos, e muita gente ficou indignada, agora temos um que diz que povo não sabe falar o próprio idioma, e quando a gente faz criticas as pessoas acham que não temos razão, que estamos sendo preconceituosos, isso porque se trata de Lula. Balela isso não? Ao contrario do que ele vive discursando, ele deveria mostrar ao “povão” que uma pessoa pode sim evoluir, mesmo sendo pobre, mesmo vindo lá do meio do sertão, porque o Lula não chegou a presidência sem estudar ou sem conhecimento algum, pensar que isso não seja verdadeiro me parece ridículo, seria subestima-lo, coisa que não faço. Alem de mostrar ao “povão” que ele aprendeu a se vestir bem, a se apresentar bem em publico, a ter boa aparência, a escolher bem seus assessores, ministro, etc., ele poderia mostrar que aprendeu a falar um bom português também, creio que isso seria pouco comparado ao tanto que teve que aprender como chefe de Estado e de Governo. Por isso mesmo não gosto quando escuto Lula falando errado, me soa falso, pequeno, da a impressão de que ele esta subestimando a nossa inteligência.
Beijos a todos
[Por fim, dada a minha antipatia pelo tucanato e em especial pelo FHC, eu poderia muito bem partir do mesmo princípio para afirmar que, uma vez que não gosto do nosso ex-presidente e discordando de sua orientação política, jamais estudaria sociologia].
Só que você não é um tapado, Luedy.
ih salem, agora é que eu li os comments 87 e 88. a cronologia aqui fica muito doida. tem coisas que eu respondi a você que terminaram aparecendo antes de sua pergunta.
Sim, vc está certo: nada a ver eu ficar querendo dar uma de moderador e de censor da quantidade dos parágrafos alheios. perdoe esse seu amigo por isso.
luedy
ps. revisando os comments, vi que Lucio Jr também falou coisas que eu gostaria de ter dito ao Caetano. Tô encontrando minha turma aqui!
Um detalhe: nem todas as escolas do Brasil ensinam, verdadeiramente; o ensino público do Brasil ainda carece de “um plano de educação fácil e rápido”; em muito aspectos creio mesmo que a escola funcione hoje em dia mais como uma proposta de sociabilidade entre pessoas do que um local de aprendizado. É claro que não dá pra generalizar, mas a EDUCAÇÃO SOA FALSA, e a “nossa língua portuguesa” com suas várias gramáticas vai à bancarrota. Ainda há o problema que os próprios professores não utilizam “o padrão linguístico” adequado, e os métodos são, apesar da ignorância, de uma grámatica opressiva, do tipo que o Ricardo de Alcântara mencionou. As próprias metodologias adotadas são obsoletas e os dados do número de analfabetos no Brasil também é falso. Não dá pra considerar-se uma pessoa que apenas escreve o nome como alfabetizada; o próprio sistema utilizado em alguns estados de escola ciclada é uma aberração, pra começar que é um sistema russo (creio eu) mal compreendido pelos educadores, sem pessoas ou pedagogos verdadeiramente capazes de sanar as dificuldades de cada aluno, é um grande faz de conta. Tudo bem que é preciso estudar, mas até a escola de maneira mais holístisca garantir um conhecimento elementar, e, ainda, educar no melhor sentido que esta palavra possua, está muito longe de rolar…
glauber guimarães disse exatamente o que eu diria quando julia debasse falou o que eu ia falar sobre como salem disse o que eu ia falar sobre o que o luedy falou
Andei relendo os posts do Caetano, e comecei a imprimir alguns. Bem que os comentários e todas as maravilhas e bobagens poderia ser impressas.
Imprimi o texto lingüistas (ainda com trema). Este texto lança luz (adoro este termo que sempre gosto de utilizar para falar do tropicalismo, como “ismo” mesmo, como se fosse um estudo, voltando-se para a compreensão de si mesmo, enquanto uma vanguarda artística)ao debate deste tópico que nasceu a partir do comentário de Dª Edith, há considerações importantes, especialmente aquelas mencionadas por Caetano a partir da leitura do “Norma Oculta”…
Salem.
Eu escrevo errado muitas vezes, principalmente dentro da norma.mas não seria “a meu ver” no lugar de “ao meu ver”. desculpe-me a pergunta. mas eu só quero aprender.
Gente,
Eu fico aqui advogando em nome dos que não precisam de advogados, fico tentando repetir (às vezes um tanto toscamente) o que eles falam/pensam/escrevem com muito maior propriedade que eu. E não tem adiantado muito (quer dizer, além de chamar a atenção de alguns ou de apenas recrudescer a resistência de outros em relação aos linguistas). Melhor eu dar um tempo. Os links estão aí, as indicações de leitura (mínimas, eu sei) também.
Permitam-me, no entanto, uma última tentativa. Essa vai em especial para o Salém que teceu certas considerações acerca de educação que merecem ser debatidas. Particularmente, gostaria de comentar o seguinte trecho dele:
“Possenti e Bagno fazem universidade e se dedicam anos aos seus artigos publicados e teses de doutoramento pra defender que não sejamos ‘otimistas quanto ao que se aprende em faculdade’”.
Para me contrapor, gostaria de me valer do seguinte excerto de um texto que li certa feita, bem antes do post de Caetano que acabou suscitando tod este nosso debate:
“É curioso como alguns ainda repetem que ele [Lula] deveria ter aproveitado os vinte anos que decorreram desde sua primeira candidatura para estudar. Não chegaram ao ponto de indicar uma escola - mas espero sinceramente que não seria aquela em que eles estudaram. É impressionante o número de pessoas que acha que, fazendo um curso superior, o cara aprende direito, administração, economia, ecologia, retórica, gramática, genética, medicina preventiva, curativa, alopatia e homeopatia, psiquiatria, psicanálise, literatura (antiga, moderna, estrangeira e nacional), pré-história, tudo sobre dinossauros etc. Ora, nem jornalista aprende tudo isso… É impressionante. Nunca devem ter ido à escola. Caso contrário, saberiam que a única em que se estuda tudo é a primária, ou fundamental, da qual se diz hoje, no entanto, que não consegue ensinar metade dos alunos a ler e a contar.”
O trecho acima é do Possenti e traduz bem o que eu penso acerca de escolarização e educação formal-institucionalizada. Ou seja, não é porque a gente estuda e obtém um título que a gente se torna autoridade em “tudo”.
Dito isto, queria dizer (talvez para a felicidade de alguns) que eu vou ter que parar de postar aqui durante certo tempo. Tenho uma tese de doutorado para apresentar e não preparei ainda o resumo. Adoro ficar aqui discutindo com vocês, mas o dever me chama. Defendida a tese, prometo voltar com carga total! : - )
Salem,
Você é claro e te admiro muito por isso.
Mas acho que você desviou um pouco do que eu quis dizer. Eu não falei que não se deve corrigir quem tem baixa escolaridade, em momento algum. Aliás, nem disse que quem fala “vrido”, ou menas, ou qualquer outra expressão fora da gramática tem necessariamente baixa escolaridade.
Eu só disse que CONDENAR quem fala “vrido” porque ele fala “vrido” é preconceito. Ensinar a norma culta é útil, importante, um dever da sociedade e uma necessidade para todos cidadãos. E existem boas formas de se fazer isso, mas infelizmente não é a prática.
A maneira como a sociedade propaga a idéia de certo ou errado faz com que pessoas que digam “vrido” se envergonhem, baixem a cabeça. O Glauber falou que só se deve admitir UMA forma correta de falar a palavra em nossa língua. E se ele fosse a pessoa que fala “vrido”, como seria não ser admitido? Agora, deveria ser ensinado a ele como se escreve vidro, e com o tempo ele poderia até assimilar essa forma de falar, ou não, isso não o definiria. Mas define.
É “preconceito”, não tem outro nome.
O fim das gramáticas? Nunca! Gramáticas contextualizadas? Não sei, não conheço a idéia, me parece inútil.
Melhorar o ensino do Brasil? Admtir o preconceito? Não definir uma pessoa pela forma como ela fala? ESSENCIAL
O “detalhe” que o comentário do Guido trouxe caminhou mais próximo do que eu quis dizer.
Ensinar a norma culta, exigir o bom uso de quem a conhece e a ultiliza, é valorizar a língua. Nunca eu seria contra isso. Só digo que é preciso ensinar sem estigmatizar.
O exemplo “Corrijo-me” é para ilustrar o seguinte: você acertou, essa assimilação é o caminho natural da língua e essa desmistificação acontecer realmente na sociedade, mas não para os gramáticos.
A Tv Educativa da Bahia exibirá o vídeo Edith do Prato e as Vozes da Purificação hoje às 21 horas. O registro mostra a apresentação da sambista na sala Itaú Cultural em 2004. No repertório Marinheiro Só, quixabeira, Viola meu Bem. Quem estiver no estado da Bahia não pode perder e outros estados não sei se terá a oportunidade de assistir ao programa.
Pois é, Laureane
Homens como Possenti e Bagno fazem universidade e se dedicam anos aos seus artigos publicados e teses de doutoramento pra defender que não sejamos “otimistas quanto ao que se aprende em faculdade” ou postular a idéia de múltiplas gramáticas “dependendo do contexto”.
Estranho, né?
Ricardo de Alcântra
O que você diz a respeito do Bagno está claro. Sobre seu caráter e aspecto físico, não posso dizer nada a não ser que fico feliz que você reconheça nele um cara legal.
Sobre o preconceito, acho que o que ele diz está correto, mas é evidente. E mais: me parece um olhar mais político do que linguístico, o que (mesmo ele tendo razão) embaça aspectos fundamentais dessa discussão.
O exemplo que você usou “Me corrijo X corrijo-me” já foi amplamente desmistificado no uso da linguagem escrita e não se trata de um preconceito e sim de uma evolução natural da língua.
“Vrido” é um exemplo de natureza diversa, pois se trata da forma que uma paravra é “dita” popularmente e não “escrita”, portanto, esta sim, sujeita à correção preconceituosa.
Mas se o meu filho dissesse conômetro ao invés de cronômetro, com 16 anos de idade, não teria o mínimo problema em sinalizar o equívoco.
Agora, o que você defende é que se uma pessoa de baixa escolaridade cometesse o mesmo equívoco e fosse corrigida estaria sendo constrangida. Isso, inversamente, é que é um baita preconceito. Só os que têm acesso à escola são passíveis de correção. O coitado “sem-escola” pode falar como quiser, pra não ser vítima de preconceito. Ou seja: ele está em um outro contexto. Isso é preconceito!
Ora, por essa tese, a língua só muda através dos equívocos das classes “desfavorecidas”. O que é uma abordagem exclusivamente política da língua.
Todos nós mudamos a língua. Manos, minas, artistas populares, eruditos, escritores, jornalistas, falantes e repentistas.
A questão é outra: Bagno defende uma tal de gramática contextual. Que se aplicaria dependendo do universo (contexto) onde a palavra é dita ou escrita. E que assim a idéia de ERRO deixa de existir. É relativista.
Me parece óbvio que “corrigir ” a gramática de uma produção de literatura de cordel usando parâmetros caretas da norma culta é uma besteira. Isso é evidententérrimo.
No entanto, não acho que seja incorreto corrigir as anomalias das provas de redação, o uso desleixado do português por jornalistas apressadinhos e etc. Aí, uma gramática oficial cumpre sim algum papel, mesmo que haja sempre nela um razoável atraso em relação às evoluções da língua promovidas pelo uso.
beijo na testa
salem
Caro Ludy
Só agora li tua resposta. Quem diria. Eu que sou um sujeito extremamente permissivo com o uso da língua acabo me metendo numa discussão meio chata.
Mas vamos nessa:
Você diz que não entendeu as minhas ponderações quando disse: “a constatação de que o uso repetitivo de uma forma teoricamente ‘errada’ a consagrará como ‘merecedora de respeito’ (essa foi a única expressão que o linguista usou para driblar o termo ‘certo’ ou ‘correto’) justificaria anomalias e empobrecimentos”.
Acho que fui claro: em uma redação de português se um carinha escrever “a gente estamos indo no cinema” (uso bem comum) você acha que deveria ser aceito ou corrigido? Ao meu ver o “erro de concordância é um equívoco e o “no” (contação de em + o) no lugar do “ao” é até aceitável.
“A gente não sabemos escolher presidente” do maravilhoso Roger Moreira só tem graça porque denuncia reiteradamente a falta de acesso. Do contrário seria uma canção “sem graça”. Adoniran foi mestre nisso. Se é isso que Bagno chama de contexto, volto a falar: é óbvio.
Quando você diz: “Vocês – quase todos vocês – partem sempre do pressuposto de que há uma maneira mais correta de se falar a língua” está errado. Eu não me incluo nisso. Nunca liguei para os eventuais erros aqui digitados. Eu mesmo já cometi uma penca deles.
Mas uma coisa você deve concordar. Há textos que comunicam melhor que outros. Que se costuram com mais densidade e clareza. Isso se deve a quê? Apenas à criatividade de quem os escreve ou à existência da gramática?
Wally sabiamente escreveu “assaltaram a gramátca” percebendo tal banalização e com certa ironia meteram poesia onde devia e não devia”.
Pois é. Espero que Bagno não veja poesia onde ela não esteja.
beijoca na testa
salem
Pessoal,
nesse ponto dos comentários o post do Caetano realmente tomou rumos estranhos.
Não queria estar aqui defendendo Bagno e atacando gramáticos. No último comentário não quis ser ofensivo aos gramáticos nem a ninguém. Esse papo é complicado e está deslocado, realmente. Pedagogia, Lingüística e Normas devem estar a favor da educação universal, e eu, que gosto do Lula e da forma como ele fala, acho que ele peca imensamente nesse ponto. A educação no Brasil é uma tristeza. Poucos poderiam participar de tantos debates inteligentes como já surgiram aqui por dificuldade de articular idéias com a própria língua. Isso é uma pena.
No mais, acho o Salem, o Luedy, o Glauber Guimarães, o Nando, o Guido e tantos outros extremamente inteligentes. É um privilégio ler seus comentários.
Deixo o Bagno pra lá, quero mais os outros papos cabeças que vocês evocam.
Acho bonito a forma serena (nem por isso menos emocionada) como Caetano fala da morte de alguém tão próximo. Isso (e a menção de Luedy para mim como um dos seus) foi o mais bacana por aqui.
Luedy
já que ocê perguntou”
“Só se estuda na escola?”
Minha resposta: não. Mais foi nela que Bagno construiu seu raciocínio. E suponho que eu e você também.
Já disse aqui o que verso maravilhoso de Noel sintetiza:
NINGUÉM APRENDE SAMBA NO COLÉGIO
Mas gramática, ainda não inventaram outro lugar pra se aprender. Adoraria que fosse outro. Reduzir apenas ao “contexto” em que vivemos é dizer que qualquer gramática vale. Portanto, nem eu nem você nem o Bagno precisamos estudar pra defender o que pensamos.
Lula estudou no sindicato. É de fato, sem ironia, uma belíssima escola de política. E até, contextualmente, de retórica e uso específico da língua. Mas não é escola de gramática, nem de matemática, nem de química, nem de física. Só isso.
Precisa pra ser Presidente? Ele provou que não. É um bom exemplo pra sociedade? É. Mas, temos que admitir. Se por um lado quebrou um preconceito, por outro está construindo um novo preconceito, talvez involuntariamente.
E quando esse novo preconceito se opõe à escolaridade do FHC fico mais puto ainda! Não sou tucano nem petista.
beijo na testa
salem
Estudando o Relativismo. 1
Goebbels entre outras assertivas sôbre a comunicação de massa, dizia que “uma mentira repetida 1000 vezes transforma-se numa verdade”.
Uma forma teoricamente errada repetida 1000 vezes a consagrará como correta ?
Estudando o Relativismo. 2
Caymmi compôs :
camarada no singular depois do pronome que determina o plural,faz de Caymmi um iletrado,ou alguem que usou a lingua de maneira incorreta ?
Obrigado Miriam, por gostar das fotos.
Obrigado Bira pela dica do programa na TV de Edith do Prato e as Vozes da Purificação.
Para Glauber Guimarães
De todo modo, se o foi, veja quanta diferença da minha afirmação, com a suposta comparação ditatorial:
…ele lembra mesmo (embora de maneira bem mais diferenciada) aspectos populistas varguistas…
Obóvio que o Lula não é um ditador, e mesmo os “aspectos populistas” em Lula me parecem bem mais positivo; o que eu disse não é nada tão sério assim (eu sei que a galera da FGV me trocidaria), é que o jeitão popularzão do Presidente me remeteu a uma espécie de PAI DOS POBRES ÀS AVESSAS.
Mas o Gravataí já colocou a boca no trombone, deixa isso pra lá, evoquemos outras danças, outras paroles,
JESUS DE NAZARÉ E OS TAMBORES DE CANDOMBLÉ
Nem o maior dos imbecis seria capaz de achar que “fazendo um curso superior, o cara aprende direito, administração, economia, ecologia, retórica, gramática, genética, medicina preventiva, curativa, alopatia e homeopatia, psiquiatria, psicanálise, literatura (antiga, moderna, estrangeira e nacional), pré-história, tudo sobre dinossauros etc”.
Jeez. Não posso deixar de não ler esse livro.
Queridos Luedy e Alcântra
Parei por aqui. Entendi quase tudo que vocês disseram. Minha dissonância começa a tomar tom de argumentação teórica. Sou fraco nisso. Nem pretendo ser forte. Já tem até gente fazendo perguntas sobre gramática pra mim! Não manjo quase nada do assunto.
Só brigo contra essa ideologização exacerbada na discussão da língua.
Briguei quando defenderam de forma extremista a “falta de escola” como um argumento pra uma suposta queda da nossa produção artística.
E agora brigo pelo avesso. Contra quem defende o outro extremo.
Fui.
beijo nas testas
salem
…errei feio no comentário 131, e por ironia, justamente na palavra G R A M Á T I C A, sem falar da concordância verbal…
Salem e Luedy,
também acho que tá de bom tamanho esse papo. Paremos por aqui.
Pra ser sincero, Salem, o que me motivou a ficar respondendo esse assunto, foi, além de conhecer um pouco do Bagno e gostar do Luedy, me amarrar em poder trocar alguma idéia contigo, figura que considero muito.
Estou viciado no Obra em Progresso e em todos vocês. Não é mais apenas o que o Caetano publica que me motiva a entrar aqui. Ler o que vocês falam sobre o que ele fala e sobre tantas outras coisas dá prazer, e prazer vicia.
A internet é realmente uma ferramenta poderosa e o Caetano fez disso algo mais.
Esse contato que aproxima mantendo um fina linha de distância entre o artista e seu público (mas que por menor que seja, é intransponível), deve ser um barato de explorar.
Ainda bem que o Obra em Progresso vai chegar ao fim um dia. Encerrá-lo o tornará belo pra sempre. E que outros caminhos surjam.
desculpem, eu não resisto. É que Castello fez uma analogia tão equivocada que não dá para não comentar. Em seguida nos brindou com um exemplo maravilhoso - o de Caymmi, com o “meus camarada” - e, no entanto, problematizou a sentença de modo a nos fazer escolher dentre duas opções de resposta (seria Caymmi iletrado ou estaria incorreto?), que são ambas decorrentes de uma mesma perspectiva, digamos, “problemática”.
Bem, quanto à analogia dos usos “errados” da língua com a frase que se atribui a Goebbels, eu acho de uma infelicidade enorme. Mas não deixa de ser reveladora de tudo o que eu tenho tentado apontar aqui como problemático para se discutir língua. Mais uma vez, Castello parte do pressuposto de que há “erro” em língua. Se ele apenas pudesse admitir que se um grupo social consagra um determinado uso este uso passa a constituir uma “norma”, talvez fosse mais fácil compreender aquela máxima de que não existem “erros de português” (ou de língua alguma).
Ao mesmo tempo, se Castello admitisse que toda gramática busca servir de referência, como um manual, do uso que fazemos da língua, ele deveria compreender que certas modalidades serão eleitas como “mais corretas”, “mais elegantes”, em detrimento de outras formas e usos que fazemos da língua. O processo de eleição de certas modalidades em detrimento de outras é sempre decorrente de um ato político. A noção de “elegante” e “correto” não decorre, pois, de propriedades intrínsecas da língua, mas de escolhas que se dão no interior de relações assimétricas de poder.
Ao mesmo tempo, uma modalidade tida como “errada” ou “feia”, como, por exemplo, no uso do “menas”, ou na ausência de concordância em “meus camarada”. Esta última, muito comum no falar de muitos brasileiros, obedece a uma norma, não é uma maluquice de gente desatenta, ou de gente incapaz de compreender as “regras”. Veja, Castello, que quem fala “meus camarada”, jamais falaria “meu camaradas”.
Portanto, para finalizar, Caymmi não é nem iletrado e nem usou a língua de maneira incorreta. Ele apenas se valeu de uma modalidade bastante comum e que as gramáticas normativas insistem em desconsiderar. E por que isso? POrque a noção de “norma” das gramáticas costuma ser a de “normativo”, “prescritivo” e não de “normal”, “corrente”. Se se levasse em consideração o uso real, concreto, de nossos falares, o “meus camarada” poderia ser aceito como uma modalidade legítima. Aliás, tanto quanto o uso do “menas”.
Queria tanto que tivesse alguém que pudesse explicar isso melhor do que eu aqui. Eu não sou da área, estou apenas reproduzindo o que já li de certos autores. Espero estar fazendo jus às lições que deles aprendi.
Luedy e Alcântara
Calma Rafael, fratello mio, este é o blog de todos os assuntos, interessantes ou não…talvez. Mas tudo porque Caetano sempre foi múltiplo e único, ou vice-versa.
“um dia rico, um dia pobre, um dia no poder, um dia chanceler, um dia sem comer…” (Gilberto Gil)
Pena, pena pena…a TV Bahia não pega aqui na terra da garoa ( e tá garoando agora ) e eu não pude ver o especial da Edith Oliveira do Prato.
beijos na testolândia do Salem, da Miriam, do Luedy, do Glauber, do Caetano, do Bruno, do Rafa e da Maria que andava sumida.
O texto de Labi Barrô é excelente. É a única defesa do livro do Bagno que funciona. Não tenho vontade de discutir esse assunto. Só de elogiar a Labi. Nem ligo pra quem disse que Possenti só queria esclarecer. Mas a lista do que ele disse crermos que se aprende na universidade é de lascar. Nando, Jeez!
“… o prato descansou, partiu, calou… em nós apenas os olhos, o sorriso e o amor ficaram…”
Senhorinha linda!!!!
Texto lindo ’seo’ Caetano!!!!
Quanto ao Lula ser ditador ou não.sabemos que não. hoje em dia a ditadura é de outra forma. o poder da mídia e de quem está por trás é de colocar quem bem entende na hora que quer. nós é que achamos que escolhemos algo.
Conforme o assunto se encerra, gostaria de fazer uma colocação um tanto óbvia, sobre o Lula e sobre tudo:
O Lula não ter um diploma não o desqualifica como uma pessoa que estudou. Ele estudou para ser torneiro mecânico, por exemplo. Ele não ter um diploma o desqualifica como acadêmico, e nada mais. Estudar é procurar saber o que não se sabe, e se julga necessário saber…
Passei rapidinho, vi que o negócio ta pegando por aqui. Como não posso ler tudo, aproveito pra solicitar ao Jualdino o texto da festa de Santo Amaro e deixa uma frase curta mas que traduz meus votos a todos os blogueiros frequentes da OeP:
Para vc o que vc gosta: Diariamente!
Ya desperté me parece. Como decimos acá, me RE COPÉ con los sueños y puXa vida…. estuve soñando con los ojos abiertos, los ojos cerrados, los ojos vendados, un ojo abierto, otro cerrado. Sueños húmedos, sueños secos, sueños profundos, sueños superficiales, sueños terrenales, sueños etéreos…. incluso un sueño-pesadilla (en el que el protagonista era un integrante de este Blog). Lucre, soñé por vos también, hice que apareciera el otro en un sueño. Interesante ese otro pero me quedo con o leAozinho.
Muitos sueños, pero nunca en demasía… y que conste que nem vinho tomei!
LeAozinho… si hubiese sabido de tu pérdida, te habría enviado por Joaudo además del besito: un abrazo de medio minuto y un beijo-oh! Pero tampoco da para que abuse de nuestro poeta-profeta Joauuuuudo!! Aunque me dijo que el besito te lo dio con mucho gusto… y que lo aceptaste con mucho gusto también. LeAozinho, no es cierto que no existe mejor transmisor de un beso que Joauuuuudo?
Joauuuudote: escribí ese comentario de Amaro-oh! tan esperado! … presiento que habría que convertir ese comentario en un post.
Un beso especial para mis hermanas rioplatenses Lucre y Vero que escriben comentarios tannn lindos y sentidos! (Lucre… estuve leyendo un poco el blog del otro… cuántos detalles que o LeAo no nos contó… no leí todo todavía pero dónde dejás los comentarios?)
tem uns comentários meus [normalmente feitos de madrugada] em que eu viajo, divago mesmo. depois no dia seguinte fico imaginando vocês pensando “pronto, lá vai o glauber em mais um comment filosófico-espacial-de boteco virtual”.
“houston, we have a problem!”, hahahaha
Labi,
não é só na sala de aula que você chega e chama mais atenção do que qualquer objeto identificado ou não-identificado. Quando você chega aqui, acende um neon rosa-choque que não choca ninguém, um sol danado imprimindo todos os tons nas gentes e nas coisas, aquecendo a tela fria do computador.
Você é uma figuraça, um tremendo barato.
Glauber,
Você tocou num ponto interessantíssimo com essa questão dialeto/português errado. Espero alguém com mais embasamento que eu (cadê Luedy?) para falar. Ademais, não vejo erro algum na forma serteneja de falar. É uma forma de falar que faz sentido, obedece estruturas e, acima de tudo, soa bonito pra caramba.
“E as morena na jinela divirtindo os carnavais…”
Beijos em todos!
Meus camarada
Caymmi não é letrado é grande letrista.
Caymmi não segue a norma. Ele é a norma, dizendo a todo mundo o que ninguém diz.
beijo na testa
salem
Roberto Joaldo isso não se faz, como se diz por ai: você não é menino! Então foste a Santo Amaro encontrou todo o povo e não conta nada… Como assim? Deu apenas uma aguçada na curiosidade e pronto? Pode voltar aqui e contar tudo direitinho que a gente babando de curiosidade!
Lucesar lá visitei teu link e já me achei na foto, obrigada pela consideração!
Glauber ia responder e te agradecer no outro post pelo “pisadeira”, eu sou do interior do de São Paulo e a gente chamava de “pesadeira” e quando era criança tinha muito medo dela e, olha que isso existe mesmo porque tive uma experiência horrível com isso uma vez que comi uma “feijoada noturna” que uma amiga fez especialmente para mim com feijão branco e uma porção de carnes e embutidos, comi muito mesmo, e isso foi a meia noite, depois fui dormir daí não foi somente a “pisadeira” que apareceu mais ela trouxe consigo toda a gangue, e dançaram um samba sobre a minha barriga, só sei dizer que despertei lá pelas tantas da madrugada com a minha amiga me chacoalhando tentando me acordar, disse ela que eu estava agitada e falando pra caramba. Depois disse ocorrido, uma vez que estive em Salvador meu caro amigo baiano e sua turma me levaram para comer uma feijoada as 2 da madrugada, mas, com medo da “pisadeira” optei por uma rabada. Adorei esta lembrança que você me trouxe a memória, ri muito aqui, obrigada. Li os artigos que você colocou nos links, achei muito interessante, não sabia da explicação cientifica sobre isso.
http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Pisadeira
Beijos a todos
TETECO,
Eu hoje acho que todos nós, eu, vc, todos, somos as caricaturas de nós mesmos.
Somos personagens, que nós mesmos vamos criando ao longo da vida por vários motivos e depois estamos presos, sem saber como, nem para aonde, voltar.
tinha uma série na tv nos 70 - daquelas que ensinavam aos americanos como formar uma sociedade e se tornar uma nação - chamada “julia”. julia era uma enfermeira bonitona, de 30 anos, recém separada do marido, negra, e com um filho de uns 8 anos para cuidar. a sitcom era um verdadeiro manual para as mulheres que, modernamente, se viam obrigadas a viver esta situação.
lembro de um episódio em que o filho disse : “eu “num” quero ir para a escola…” - e julia, a mãe, respondeu : “você vai à escola … e não diga “num”, que é feio …”.
como o seriado era dublado, pensei logo que o garoto tinha falado alguma palavra errada em inglês também. que legal! como seria “num” em inglês? levei a dúvida para o professor do meu curso. e foi ótimo, porque tive uma aula que ninguém jamais teria : de inglês errado !
ah, e aprendi o que significava cultura geral.
depois veio o ringo com o “it don’t come easy, you know it don’t come easy”, mas é outra estória.
………
ps: quando criança, eu sentia um ‘nervoso’, como muita gente sente, com a visão ou o som do atrito entre materiais : algodão desfiando, giz no quadro-negro, faca arrastando no prato …
lembrei disso vendo dona edith no youtube. tem certos incômodos que, com ritmo, se tornam prazer.
abrs paloma
/tetequinho dos anjos ( permita-me a expressão de carinho. este carinho estende-se também a todos desse blog.)
passei somente uma semana fora do recife e da internet, mas mesmo nestes últimos dois posts do caetano, o meu comentário é mínimo, não sei como você conseguiu ver. é que são tantas as polêmicas, que nem sei qual a escolher para falar. na maioria das vezes é por que eu não sei mesmo, além da minha timidez, que, aos poucos, vou enfrentando aqui neste blog. vejo que estou bem mais à vontade, desde que comecei a escrever aqui, e você também.agradeço ao Hermano por deixar passar os meus comments.estou tentando acompanhar todos os cometários, mas como ando estudando muito outras coisas,e, às vezes, não dá para ver tudo. Mas, gostei do seu comentário sobre o Lula. Por outro lado, vejo que ele melhorou muito o português nestes últimos anos.ele tem concordado o sujeito com o verbo e outras coisinhas mais, que nem acreditei. fiquei achando até que ele tem um assessor para assuntos de gramática, você não acha isso não?
Ps:desculpe-me as /’minúsculas/’, é que estou numa máquina que só libera a maiúscula no início da frase e da página e nunca depois do ponto.
abraços a todos
Maria
Caro Caetano,meus sentimentos e que lindo texto! Sorte tua poder mamar em tetas tão divinas.Quando nasci minha mãe não pode amamentar tambem.Teve mastite.Tivemos muita febre.Ficamos muito magros eu e ela.Soube que so vim a engordar aos cinco anos na primeira viagem a Bahia.Era Ilhéus hospedados em casa amigos Judeus que escondiam a comida da gente e o pouco que conseguiamos na cidade que diziam ser carente em alimentação,a judeusada comia tudo que compra-va-mos.So sobravam as bananas.(Dizem que Ilhéus ainda tem um mercado pouco sortido.Então entrei nas bananas,mamei nas bananas viciei em bananas e enfim engordei e fiquei “mais bunito”.Mas nunca esqueci do imenso,tenebroso,calorento e antigo trajeto BH-Bahia.Era tanto calor que mamãe e a queridíssima criada e madrinha,a sergipana Mirenita,não resitiram e viajaram a maior parte do tempo com os peitões de fora para desespero de papai que raivoso morria de vergonha chingando muito.As de Mirenita eram tão gigantescas e colossaias que competiam com o para-lama e as lanternas da velha ‘Udson’ do velho.Pelo tal “rodoviarismo desenfreado”…Bem JK,nosso presidente Bossa Nova não tem cumplicidade alguma com as derivações viciosas de seus feitos nos governos ditatoriais.O que ele fez cinco anos e o que Jango faria o que JK poderia fazer em um segundo mandato o Golpe golpeou.E a ditadura manteve os grandes lucros dos empresários,empreiteiras e multinacionais porque precisava dessa turma para se manter.JK não teve o tempo de Lula.
Em respeito à memória de Edith do Prato.
“Caramba,carambola,eu sou do samba,não me amola”.
Amolando, descubro que amolar também amola.
Bom feriado de São Sebastião,Santo Padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro, para todos.
a vaidade é caricata.
A guerra na Amazônia continua acontecendo e não damos tanto por isso. Desde a decisão dos militares “nacionalistas” de ocupar a Amazônia para preservá-la geopoliticamente remanejando contingentes da população para aquela área desafiando a floresta, cortando-a ao meio, numa Transfronteira de asfalto que o problema vem tomando proporções impressionantes. As lideranças locais continuam a ser dizimadas e o som da moto serra faz sinfonia na floresta. Não há doutor que dê jeito. Tem alguém aí? Alcançamos “aquele país” daqui nesse blog Caetano? Seria um presente ouvir daqui o batuque da floresta. Tem alguém aÍ?
Adorei o vídeo do link da Labi!!!
A todo vocês que eu cada vez mais amo, preciso dizer que ‘inenarrando Amaro-oh!’ -meu comment-dromedário sobre a viagem para o Terno de Reis da Dona Canô e o meu encontro com o Caetanino (não o artista, mas um ser simples, direto e humano, e distinto como o Peter Gast da canção, enfim será publicado até amanhã, somente que reeditado e acrescentado de trilha musical sugerida pelos queridíssimos Gilliatt and Exequeila e ainda entremeado por fotos, como as tiradas pelo traquinas do Julio Vellame - que ficou brincando de esconde-esconde comigo, viu-me e nem falou comigo lá.
Querido Luedy !
Acompanhei todo o desenrolar dessa rica trama,relativista,lingüística e dialética ( pode ser de dialeto,hehe) e mais acompanharia se houvesse.
Sou um vídeo-aluno disciplinado.Vou abrir os links que você tão generosamente,afixou,e ler calmamente,longe da impaciência demonstrada por alguns obreiros com a “repetição” do papo.
_____x_____
Como sou um cara bem humorado,selecionei uma das falas impagáveis do síndico pra fechar esses meus dois dedinhos de prosa.
Viva Tim Maia !
Caetano,
Linda e emocionante homenagem. Meus sentimentos a todos que conheceram Dona Edith.
Teteco, amigo do Vale Virtual, o verdadeiro CUTman.
Luedy, Salem, Alcântara, Glauber e todos que se envolveram nesta batalha de línguas: muito boa discussão. Tendo a ficar mais com o Luedy nesta. Mas parabéns a todos.
Labi Barrô, arrasô, de novo. Ado, a-ado, cada um no seu cada um.
Castello, que bom que continua, Fratello.
Joaldo, também quero ler esse texto de Santo Amaro!!!
Paloma, como seria “num” em inglês? In’a?
Árvores revoltadas caindo em Sampa.
Abraços e beijos!
Caetano,
ps. paloma, eu assistia Julia na tv e adorava. Em inglês deve ser o popular uso do “I ain’t” que ela, a personagem, estava condenando.
Pessoas,
C, no outro post:
“efeito casimir”…he he…amei seu coment todo. obrigada pelo carinho. amo essa visão física das coisas. trabalho com uma tecnica chamada cordões de relacionamento, que me lembrm muito da teoria das cordas.
Lucesar:
vc tornou meu google mais emocionante. que boa lembrança!
carinho e alento para os que estão fazendo suas passagens. dna Edith, e pessoas queridas de muitos aqui no blog que também tiveram essa aproximação com a morte. sabem, entre 2005/2007 4 irmãos de meu pai morreram; 1 irmão, 1 sobrinho e 1 irmã de minha mãe; a mãe e 2 tias de minha cunhada; e tem gente que reclama comigo pq levo a vida tão a sério, de forma as vezes firme e voraz em relação ao jeito com que escolho viver…
pra mim, a OP também tem a música do silêncio…
bjs
Pelo jeito, Caetano vai postar e o Joaldo não vai nos contar o que viu no Terno de Reis de dona Canô… avie minino.
EU, VOCÊ, NÓS DOIS, JÁ TEMOS UM PASSADO, MEU AMOR
… andei olhando o início do blog, que legal,
se lembra da discussão do Feitiço da Vila? de “Por quem?, do Caetano lendo o texto do Lobão? Moreno cantando com Caetano? da evocação de “ele me deu um beijo na boca”? dos debates tropicália/roda viva? do typo etc e tal, sei lá, que mais? lembra?
Fernando Salem,
Apenas o conheço pelo teor do que escreve e lhe felicito pelos seus texto de excelente qualidade.Sempre bem redigidos e polidos. Já os meus - até invejo-lhe no bom sentido - são tão repletos do que você bem lembrou e que vejo e revejo, com detalhes “os erros do meu português ruim”.
Depois daquela polêmica entre Ruy e seu professor Ernesto Carneiro Ribeiro (meu pai foi aluno do filho deste) eu verifico que quase todos nós erramos, seja por um vacilo qualquer, ou outra razão que foge à nossa própria razão.
Erros de português acontecem, freqüentemente nos meios mais ilustrados e muitas vezes passam despercebidos.
Tem livros que são publicados e até os revisores deixam os erros passarem. Já andei escrevendo e, quando entregamos um texto aos revisores, eles deveriam exercer as suas funções da melhor maneira possível. Tentam e também erram e nos obrigam a buscar correções através de erratas.
Estou longe de discutir essa coisa do erro, gosto de apreciar o debate (seja contra, ou a favor). Temos que aceitar, por exemplo, inúmeras palavras consideradas erradas e que parte nos forram legadas de variadas formas. Nossos ancestrais, sejam os arrancados das suas terras e trazidos ao Brasil na condição de escravos, sejam os mouros, os ciganos, os europeus, os aborígenes (que passamos a denominar de índios), nos legaram muitas palavras que os eruditos de “antigamente” (bote antigamente nisso) acabaram incorporando ao nosso idioma fazendo-as constarem em nossos dicionários mais consagrados.
Tem palavras como varrer e barrer (eu achava horrível alguém falar que estava “barrendo a casa”. Gosto de tamarindo, mas prefiro tamarino. A palavra desbundar - contam que foi Caetano que inventou, mas tem quem conteste isso. Mas está incorporada ao nosso vocabulário. Então foi criado um novo verbo de um modo interessante. Estamos em uma nação rica em “desbundes”. As gírias vão se incorporando e a filologia que cuide dessas coisas. Tive que me adaptar a tantas reformas e estou sem muito saco para incorporar esta novíssima. Um saco! Mas regra é regra e vou viver desregradamente por muito tempo até aceitar - de bom grado - essa mudança.
Eu entendi Caetano perfeitamente bem, mas ele nos oferece “ganchos” extraordinários para exercitarmos essa coisa bonita que é o debate das idéias. Marina Silva é uma personalidade que muito admiro, mas não vejo sentido compara-la a Lula. Ela não tem a mesma impressão digital dele, nem o mesmo timbre de voz. Nossas capacidades e dons também são diferentes. Deus nos fez muito parecidos em tantas coisas e em outras tantas nos diferenciou.
O ser social e a consciência de cada ser humano é algo que absorvo com muita naturalidade. Sem preconceito e muita compreensão. Prefiro compreender as pessoas e entende-las. Todos somos vulneráveis a criticas. Prefiro exercer meu senso crítico de um modo mais tolerante, porque errar é humano e continuar a errar também será humano e permanecer errando pode ser burrice. Os erros do português ruim de Lula são certeiros como a flecha de Robin Hood. Que comparação, heim ?!
Bem, Lula dedicou grande parte desse tempo “que teve” em lutar o bom combate. Em peregrinar em defesa do restabelecimento do regime democrático. Em defender o regime democrático que havia sido destruído pelos “donos do poder”. Ele, eu e você, podemos ser perfeito em muitos aspectos, mas vai ter sempre alguém observando imperfeições na gente.Ele optou por este caminho meritório.
Lula agora é “papagaio velho”. Fala com a autenticidade do mundo em que viveu, que o acolheu. Somos parte de uma sociedade que exige “boas maneiras”, “boa educação”, etc e tal. Mas vivemos em uma sociedade cheia de pecados, de erros, de imperfeições. Culturalmente somos um povo sofrido, espoliado desde a colonização, com muitos deveres e poucos direitos. A educação no Brasil sempre foi elitista, hoje as coisas tomam um novo rumo, com as deficiências que não serão corrigidas a curto prazo. Cristovam Buarque foi ministro de Lula e saiu do ministério por entender que não havia vontade política do governo em erradicar o analfabetismo. Cristovam estava certo e o “pragmatismo” do PT não o compreendeu. Tem muita coisa errada no governo, mas o governo de Lula ainda é - depois do de Getulio Vargas - dos melhores. Criticam muito JK e eu defendo. Não sou tão radical para não entender o projeto político do mesmo. Criticam Antônio Balbino com uma severidade impressionante e eu defendo. Gil diz, com muita propriedade, que “louvando o que bem merece, deixe o que é ruim de lado”. Já o Collor - você disse com muita propriedade que ele não era esse letrado todo e concordo plenamente. Foi um governante que tinha uma aspiração ditatorial. FH também tinha a vontade e o desejo de ser presidente perpetuo do Brasil. Fez um governo dos mais deploráveis e eu até imaginava que ele não fosse levado pela onda neo-liberal tão em voga.
Gosto de Caetano falar o que ele pensa. Mas nem sempre devemos achar que ele está certo. Temos o direito de divergir em alguns aspectos. Ele é - por excelência - polêmico e lutador. Isso é bom e aplaudo. Ruim é o “amém” o “amém” da corte.
Lula foi lançado na estrada da política por intelectuais de nome e renome. Não era o português ruim dele que importava, mas o que ele dizia e diz e que as nossas elites não aceitam e não assimilam com os olhos generosos da simplicidade humana que importava.
Adoro ler seus textos. Fiz minhas colocações, apenas. Não alvejo ninguém. Apenas achei que devia escrever algo e fiz isso. Posso até desagradar, mas tenho que ser o que sou e para conviver bem não é necessário sempre aceitarmos tudo como sendo algo incontestável.
Li um comentário escrito pelo Glauber Guimarães (não sei se é parente de Álvaro Guimarães) e concordo com ele apenas ressalvando que houve duas fases do governo de Getulio. A melhor parte foi a que o levou ao suicídio. O golpe que pretendiam dar, àquela época, foi retardado e só foi possível acontecer em 1964. Entre erros e acertos temos avançado. Aos que acham Lula ruim eu digo que eu prefiro ele por ser o menos ruim de todos. Não podemos fechar os olhos para as coisas boas do governo dele. A questão da corrupção está onipresente. Precisa ser extirpada e é o que a PF tem feito na medida do possível. O caso Daniel Dantas é uma caixa de pandora. Gostaria que fosse aberta, mas entendo que a republica democrática cairia e olhe que os saudosistas de 64 vivem doidos e sedentos pelo podre poder que exerceram e infelicitaram esta nação.
Ressalvo que não me considero dono da verdade, não pretendo obter nenhum tipo de unanimidade, ando afastado da política, mas não posso me tornar um alienado só por causa de um português ruim. Lula dá pedradas certeiras, mas não é Deus. O povo gosta dele, eu também. Mas não sou do tipo que vive dizendo amém a tudo que ele diz, ou faz, ou deixa de fazer. Ele aceita críticas e vai ser alvo delas de uma forma impiedosa. Marina, mesmo, afastou-se dele. Heloisa Helena, idem. Outros petistas, do mesmo modo. Agora nós precisamos compreender que há uma máquina infernal em crescimento, um monstro que começa a se agigantar mais e mais( PMDB de Gedel). Um monstro que busca se aliar aos monstros do passado (Arena, PDS, PFL e agora DEM) em busca do poder pelo poder e que nada tem a ver com um projeto de progresso social. Essa gente no poder significaria voltarmos ao período obscurantista de 64 e a todas as deformações decorrentes de uma ditadura que prendeu Caetano. Se Caetano não enxerga isso, alguém precisa dizer a ele que é bom abrir os olhos e que ele não se iluda, não. Essa turma no poder será um retrocesso inimaginável. Por favor, tentem enxergar isso se os olhos de qualquer tipo de passionalismo. É apenas um grito de alerta…
Fernado, um beijo na testa! Você é valoroso e virtuoso.
Havia esquecido: sem essa de fulano tem diploma e sicrano não tem e é um intelectual de mão cheia. O Brasil está repleto de autodidatas da melhor estirpe e Chico Buarque sabe disso. João Ubaldo só quis concluir o curso dele de Direito (o pai dele foi meu professor, com muito orgulho - Manoel Ribeiro, que me reprovou porque eu não fazia as segundas provas que ele aplicava. Conversava muito sobre política com ele, mas esta é uma história à parte) pra ter o nível universitário. Assim, se um dia fosse preso não cairia em uma cela comum. Estes sem diploma valem mais que mil diplomados juntos.
A voz, o timbre, a entonação, a respiração de Edith…tinham algo de particular, algo irresistível que penetrava elos poros do tecido musical e solfejava a melodia sem precisar de um outro instrumento
É música de cantar lavando roupa, batendo na pedra do rio e vendo o regato correr pro remanso..
Assim como uma vez Caetano disse que o falsete de Milton era uma das coisas mais poderosas da Terra, ouso dizer que o canto de Edith é a identidade do canto do nosso povo !
Já que o post fala de funeral pensei em contar um pouco como é um funeral aqui na cidade onde moro na Itália porque é um ritual com algumas diferenças do nosso. A cidade é bem pequena, deve ter uns 8000 hab aproximadamente e, aqui quando uma pessoa morre é velada em casa mesmo, como fazíamos ai no Brasil quando eu era criança. Aqui a pessoa é velada na cama, as imensas e varias coroas de flores vão ficando do lado de fora da casa o que da um colorido todo especial, da mesma forma a bandeira vermelha, tendendo para o vinho, com detalhes dourados pendurada na porta de entrada.
Aqui tem uma espécie de painel, nada sofisticado, na verdade bem rudimentar, que estão espalhados em vários pontos da cidade onde são fixados os avisos de interesse publico, como demonstrativos financeiros das prefeituras e outras questões administrativas, eventos, avisos de óbitos, de missa de sétimo dia, alem de algumas raras propagandas que ficam na parte lateral. Desta forma as pessoas estão constantemente informadas dos acontecimentos gerais na cidade. Na rua onde esta sendo realizado o velório normalmente se tem estes mesmos “avisos de óbito” com setas indicando o caminho.
Na hora de sair o cortejo as pessoas saem do quarto chega o carro fúnebre e somente nesse momento a pessoa é colocada no caixão. Aqui tem um carro fúnebre muito lindo, imitando uma carruagem, preto com detalhes dourados, parece coisa de filme, apesar de gostar daquela coisa de cortejo pelas ruas onde as pessoas carregam o caixão. O tal carro vai na frente logo atrás dele vai um outro carro aberto onde são colocadas todas as coroas de flores.
Os poucos cemitérios que conheci aqui tem muitas coisas diferentes dos que conheço ai. O que estão enterrados os pais do Franco tem túmulos enormes, quando entro lá tenho a impressão de estar entrando em uma vila cheia de casas, alguns túmulos são muito elegantes com aparência faraônica. Tem uma grande quantidade de arvores o que torna o lugar fresco, e as pessoas de menos posse são enterradas numa espécie túmulos que fazem um grande muro onde somente as placas com os nomes ficam expostos, tem também espaço individual reservado para colocação de flores e o interessante é que tem algumas tomadas individuais onde se pode ligar luzes ou santinhos iluminados que acabam dando um pouco de vida ao local. Bem ao centro do cemitério esta a capela onde é rezada a missa antes do enterro propriamente dito. Após a missa, a ultima homenagem fica por conta dos aplausos, que para mim representam a gratidão, respeito e reconhecimento, acho isso bem legal.
Beijinhos
Caríssima Labi, aqui na Itália também o trabalhador é mais respeitado e valorizado, tanto é verdade que a mão de obra aqui é muito cara, atenção, ela tem que ser especializada, senão não tem valor também. Aqui o estudo é obrigatório quando se trata de crianças, assim que elas nascem seus registros vão para a prefeitura e quando atingem a idade escolar se os pais não fizerem a sua inscrição na escola, primeiramente, a própria escola entra em contato, se mesmo assim os pais não comparecerem a policia ira tomar satisfação e, se os pais insistirem responderão a uma ação legal e serão punidos por este crime, podem inclusive perder a guarda dos filhos para o Estado, porque aqui isso é não é brincadeira, os pais tem que zelar pelo estudo de seus filhos. Se isso é antidemocrático ou questionável não sei, porque para mim, mais questionável seria a exploração do trabalho infantil consentida e incentivada por alguns pais.
Ao meu ver, o Estado no Brasil tornou-se paternalista demais nessa problemática, deixando a responsabilidade dos pais de lado. Poderia ter ido por outra rua, ao invés de dar dinheiro para as famílias, deveria criar escolas em período integral, investir em merendas, em material didático, uniformes, em monitores para auxiliar nas tarefas e no estudo, etc., transformando as instituições de ensino em local de educação e aprendizado. Jogar a questão escolar na responsabilidade dos pais com obrigatoriedade punitiva, criando assim uma consciência maior sobre planejamento familiar e a importância do aprendizado.
Estas medidas tomadas ate o momento vem somente tapando o sol com a peneira, as crianças estão ficando cada vez mais pobres de conhecimento, porque se você não aprende o básico não vai aprender o que vem após, se não souber fazer uma conta de multiplicação jamais saberá extrair uma raiz quadrada. O pedreiro nunca vai ser valorizado por não entender a lógica de um alicerce bem feito, embora seja ele que realize. Isso sem contar que ai no Brasil o fator grana é mais valorizado que o conhecimento.
Beijinhos polemicos
Labi Barrô, hiper-happy
VERO PERGUNTA-ME POR OUTRAS BANDAS VIRTUAIS: O QUE ACONTECEU COMIGO QUE AINDA NÃO POSTEI MEU RELATO SOBRE A VIAGEM A SANTO AMARO? POR QUE SUMI?
Está tudo muito bem, Vero. Somente que os acontecimentos de minha vida pessoal e profissional depois da viagem, a maior parte deles turbilhonando em redor do florescimento da Impertinacia, com a eclosão de grandes encontros e convergências, assumiram proporção total que me absorveram muito estes dias!
Realmente, eu ia postar no domingo, 24 horas depois da ida. E escrevi tudo num jato. Só que houve aquele problema técnico que eu relatei mais acima entre a conexão discada que eu usava e o servidor Wordpress da OeP. Avisei que, naquele novo dia, segunda, pois, eu voltaria e postaria, depois que eu reeditasse partes especiais, pra ficarem mais próximas do idioma de meu coração.
Usted sabe que não sei falar, ao menos de primeira, com a lingaguem direta, natural e inquebrantável da leodulceferina Exequiela, nem no idioma precioso de tão conciso das andorinhas, como o da Heloisa! Ao reler o escrito, gostei muito, mas achei que eu devia reescrevê-lo em alguns pontos.
E então passei a reeditar com voracidade - quase tudo! Até porque para dar conta do seguinte: passei a receber sugestões musicais de Gilliatt e da própria Exequiela que me reacenderam-me ainda mais as luzes de minha viagem, proporcionando-me uma linda trilha sonora.
A par disso, as fotos começaram a chegar. Está faltando receber justo a foto que eu fiz (de rosto coladinho, acredite Veriño!) com o Caetanino, que ainda não sei se ficou boa, vou recebê-la hoje.
Em suma, adiei pra poder oferecer a você e a todos algo mais rico, entremeado com links para som e imagens. E já expliquei isso a todos daqui que vem me indagando o mesmo por outras bandas virtuais, como o faço diante de você aqui and agora.
Eu dei, sim, o teu beijo no coração dele com a palma de minha mão - massagendo-lhe o lado esquerdo do peito! Comecei, é claro, com um abraço, e logo parti pro besito gostoso enviado por Exequiela, desferido no lado direito de seu rosto. Fiz isso sem alardes, até porque não é do meio feitio. No enanto, eu teria cometido uma só impertinência, que o ambiente não me permitiu - e desisti: um beliscãozinho no bumbum!
Adianto que não encontrei o Caetano tão idolatrado ou fantasiado por você e as outras hermanas, Judith, Lucre and a própria Exequiela - esta, para mim, a pessoa que mais senti ter querido está lá de fato conosco (preferia que só comigo: sinto ciúmes do Caetanino!) e manifestando um desejo tão grande que até este instante me encanta.
Saibam que eu estive com um ser humano simples, direto, imerso em seu ambiente cultural e familiar de origem: amigos, filhos, irmãos - a quem ele me apresentou sem reservas. Mas nem por isso um Caetano menos apreciável!
Tratou-me muito educada e ternamente, nos falamos por longos minutos. Revelou com esse gesto o interesse em meu ideário de promover um circuito de cineclubismo em sua terra natal: prontamente apresentou-me ao Rodrigo (que eu já conhecera há três anos na minha primeira ida ao Terno), seu mano e atual secretário municipal de Cultura. A propósito, ligarei ainda hoje pra Rodrigo: a fim de agendarmos, se possível, o nosso primeiro encontro oficial com a equipe da Prefeitura de Santo Amaro a respeito do assunto.
Tentei explicar isso ontem, agradecendo e compreendendo o interesse mais do que esperado de vocês todos da OeP, a quem cada vez mais vou divisando, além dos que eu já profundamente mais conheço e amo, como você linda Vero.
Porém, a moderação optou por não publicar a minha justificativa de ontem! Tento agora, adiantando algumas coisas para satisfazer a curiosidade de vocês.
Aguarda-me só mais um pouquinho?
Até amanhã, uma semana após essa Festa inesquecível para mim e pra tantos que lá estavam - e por certo pra todos vocês que não foram e se sentiram representados por mim, porei o meu comment-dromedário para andar de vez!
p.s.: Julio Vellame foi pra Amaro-oh! mas ficou brincando de esconde-esconde comigo - e com o Caetanino. Esteve lá, nos viu, fotografou quase tudo (não se dignou a tirar uma fotinha minha!), e não quis saber de prosa conosco. Somente fui conhecer o Julio quatro dias após no Tijuana aqui em Salvador. E ganhei dois belos amigos: ele foi em companhia do instigante Fernando, que fulminantemente se apaixonou por uma belezura que lá se encontrava transposta de algum quadro da Renascença! Os dois, físicos de formação - deliciosamente pirados: o último por astrologia medieval, Vellame por fotografia, psicanálise freudiana e junguiana. Encontrei a ambos - pobrezinhos - já amurados pela voz e a beleza da cantante internacional Exequiela!
Maria
Caro Demosthenes
Obrigado pelos elogios. Nunca dei trela pra essa polêmica a respeito do português do Lula.
Só me manifestei quando o outro extremo relativizou a questão dos falaeres diversos. Não sou um unificador e isso ficou nítido em todas as posições que tomei ao longo do OeP, a respeito de música popular, política, sexualidade, cinema e outras mumunhas. Gosto do valor absoluto.
Quanto a nem “sempre achar que Caetano está certo. Ruim é o “amém” o “amém” da corte”, cabe dizer que é bem frequente que concorde e goste do que ele diz (aliás esse é um dos motivos pra que eu frequente com tanta assiduidade esse espaço generoso), mas lembro que discordar não significa “polemizar”.
Eu fui o primeiro a colocar a minha cabeça na bandeja dizendo que não gostava de acompanhar os bastidores da gravação do disco. O que, em si, pode parecer uma discordância, mas se revelou uma enorme dissonância com o aparente desejo inicial deste projeto.
A idéia de “corte”, adulação e amiguismo já foi recorrentemente discutida aqui e todos já estão muito à vontade pra discordar de Caetano, mesmo o adorando. Não sou “corte” de ninguém.
No mais, a política como você aborda com propriedade está longe de ser um tema que eu domine ou tenha anseios de dominar. Pra falar a verdade, tenho preguiça. Acho chato.
Gosto muito das palavras e da forma com que elas se namoram, se encaixam e se provocam. O papo de gramática quando se politiza demais perde o molho. E foi contra este tom que eu me rebelei. Não tenho nada pra dizer do Lula. Mas tenho muita coisa pra falar sobre frases e palavras.
A militânacia é inimiga da malemolência.
O limite pra mim foi quando citaram Caymmi nessa discussão. Só louco!
beijo na testa
salem
Caetano,
I’m very sorry for your loss in the passing of someone so dear to you. It’s impossible to read your posting and not be touched by your fond memories.
I’m sorry that I can only express my sentiments in my “língua horrorosa.” But, perhaps because I heard my first words of love in a “língua horrorosa,” I still believe that it’s the message that makes a communication beautiful. And if that’s the case, I hope you can see that, despite the words I use, I am sending you beautiful thoughts.
Barbara
Na minha simplória opinião,perceber a roda das configurações,é um passo fundamental,e proporciona de imediato,uma sensação de liberdade,que nenhum sistema político ou doutrinário,de qualquer ordem,é capaz de proporcionar.
“Para que resulte o possível,deve ser tentado o impossível”.
o luedy já traduziu, “I ‘ain’t’ doing this” pode significar “eu ‘num’ vou fazer isso”.
‘I ain’t', de ‘I am not’, primeira pessoa sem contração oficial permitida (como em you-we-they are not/aren’t), conquistou nas ruas esse direito, com o título de ’slang’ ou gíria - palavras que tb aprendi, na época. a partir daí fui descobrindo outras que resultaram numa lista de palavrinhas e palavrões em inglês, super disputada lá no curso.
entretanto o que motivou ‘julia’ a reprimir no filho a gramática incorreta não foi a paixão pela língua natal, foi uma questão social. a mesma que me fez repreender meu filho quando ele adolescente, ousou usar o pronome “tu” no lugar de “você”, sem a devida conjugação do verbo - linguagem de funkeiro que, please, não me peçam nem para tolerar, muito menos dentro da minha casa. com exceção do linguajar dos gaúchos, é um horror o tal do “tu”!
mas aí veio o santana com seu “I ain’t got nobody, that I can depend on, no tengo a nadie”, coitado, “num podia contar com ninguém”, mas faturou uma grana com o refrão.
abrs paloma
Se não existisse “erro em língua”, obrigatoriamente deixaria de existir “acerto” (vez que este depende daquele para existir). Seria tudo nem certo nem errado (mais uma vez o fantasma da neutralização, eita monstrinho danado).
Só que existem instâncias na comunicação que não admitem sequer dúvida, quanto mais erro - como nas correspondências oficiais (mandados judiciais, ofícios, receituário médico etc), o que sepulta qualquer pretensão em ter como norma aceitável uma linguagem falha.
Depois de ler sobre o funeral italiano me lembrei de um livro lindo do Câmara Cascudo (Deus o abençoe) chamado Anúbis e Outros Ensaios. Os rituais que cercam a morte são tão diversos, tendo o comum o fato de serem quase inúteis na hora de confortar a dor de quem carrega o caixão.
Lá em Cabo Frio tem um cemitério dentro do Convento Nossa Senhora dos Anjos - existe desde 1686. Enquanto os meus pais assistiam a missa eu me perdia entre os túmulos antigos; era lindo ver a chuva caindo sobre os anjos.
bjs.
Castello,
Labi,
Não chego a pensar que os comentários teriam que atingir no máximo 12 parágrafos, o que a propósito, me fez pocar de rir - esse povo é hilário; mas comentários muito longos me dá uma certa agonia, só que aí eu pulo e pronto, facim, facim…
Lalo, fico feliz em te saber assim tão encantado com o Caetano e tudo que vivenciou.
Por onde anda Helô? Sinto saudades dela.
Desde ontem o Obra não abria pra mim, dava erro e erro… que agonia.
Beijos moçada e lindo final-de-semana…
paloma, acredito que a personagem (Julia) repreendia seu filho por conta do receio que ele viesse a sofrer, além do preconceito racial, o preconceito linguistico (decorrente do estigma que recai sobre aqueles que “falam errado”). Não lembro se a série buscava problematizar isso de uma maneira crítica - ou seja, se buscava questionar as razões da estigmatização dos falantes e, portanto, do preconceito linguistico - certamente não. Esses são conceitos relativamente novos.
O interessante aí é perceber como o preconceito linguistico, é antigo e renintente. Aqui mesmo neste blog, os exemplos abundam.
nando, quem decide o que é certo e errado em se tratando dos usos que fazemos de nossa língua? Se a língua muda, se a língua é dinâmica, ou seja, se há variação e mudança (sim, nós já não falamos mais como se falava no medievo de Camões, não é verdade?). De onde vem então as normas? Quem decidirá, por nós, o que é certo e errado?
Glauber citou aqui Elomar e se perguntou se aquela forma de falar não seria um dialeto. O português “estropiado” dos matutos brasileiros já foram objeto de estudo de muitos linguistas e as conclusões a que chegam demonstra que os falantes das zonas rurais têm uma tendência a preservar maneiras antigas de se falar nossa língua. Ou seja, no final das contas, quem fala “pranta” está sendo mais conservador que você, sabia?
sim, você mesmo, nando, que passou a falar “planta” é que fala uma língua que sofreu mudanças ao longo do tempo. Ao contrário do matuto que preservou um modo “arcaico”, da perspectiva dele, quem “falha” é você.
ps. eu acho que já esgotei o meu estoque de argumentos e explicações. Em todo caso, estou em débito total com as leituras que fiz do Bagno e do Possenti.
É que, de todo, esta discussão tornou-se, inevitavelmente, política, uma vez que que o post sobre D. Edith ressignifica a idéia mais imediata do samba: “Sô/Sou empregado da Leste, Sô/Sou maquinista do trem…” Entender, portanto, o termo ambíguo como um substantivo ou a conjugação do verbo ser, está diretamente ligado à capacidade dos homens de pluralizar as coisas e marcar, de modo quase automático, o seu lugar de poder. Caí na besteira de falar pro meu Pai de Santo sobre a leitura do Caetano a respeito do samba e ele riu farto na minha cara: “Sou empregado da Leste/ Sou maquinista do trem” (reiterava,batendo no peito enquanto cantava). Dizem que no último Congresso de Línguagem da UNB, alguém teria perguntado ao Bagno sobre a filosofia linguística do Caetano e ele, de pronto, respondeu:”Trata-se do cantor de sobrenome santamarense? Fosse qualquer outro, eu acionaria a Polícia Federal.” Depois confessou baixinho: “Eu amo o Caetano. Nunca vi nada que chegasse perto da beleza e do erotismo psicodéilico de ‘Um Sonho’”. Mas é fato - dois amigos conversavam durante o intervalo deste mesmo congresso, quando um deles desabafou: “Fui parar num partido político por acidente de percurso. A consciência que tenho sobre a luta de classes se deu, inicialmente, pelo meu interesse e participação nos movimentos sociais. Primeiro, Movimento Estudantil, depois, Movimento Negro, depois, Movimento Agrário, depois… até chegar a conclusão de que era preciso institucionalizar minhas crenças através da ocupação estratégica dos espaços do Estado. Vieram a minha filiação ao PT e os 20 anos de engajamento em favor da luta socialista - tempo em que fundei o Partido em várias cidades, assumi sua Coordenação Executiva em muitas instâncias e deparei com o Lula (ex- ABCD paulista) questionando a greve dos funcionários públicos ao argumentar que estes últimos não tinham patrão e, consequentemente, seu pleito grevista se configuraria como ilegalidade, quem sofre a pressão da greve dos professores de escolas públicas? (corta o ponto dos servidores!), o mesmo LULA que legitimou a miséria brasileira e, o que é pior, vive dela, populariza-se através dela e faz dela seu câmbio para o bárbaro projeto de poder que planejou. Os líderes de esquerda apenas tomaram o poder nos países da América Latina para, finalmente, realizarem tudo aquilo que a pior da extrema direita não ousou fazer: Lula , no Brasil, Chavez, na Venezuela e o Marales, na Bolívia.”(acho que foi isso que ele disse, não deu pra gravar tudo). Por enquanto, tento aprender os passos do samba de roda - atividade, por demais, complexa.
Chato desperdiçar um comment com esclarecimentos.
Prefiro conversas sadias,como essas que venho sintonizando ultimamente com Luedy,Miriam,Rafael,Vellame e quem mais chegar.
Coloquei a frase no modo interrogativo :
- “camarada no singular depois do pronome que determina o plural,faz de Caymmi um iletrado,ou alguem que usou a lingua de maneira incorreta ? ”
Tentar colocar-me nesta situação constrangedora diante de Dorival Caymmi,depois de acompanhar, mesmo sem interesse,meus gostos e pensamentos,no blog,durante quase 4 meses,é de uma leviandade inexplicável.
O erro existe - mas o erro não é algo necessariamente ruim. Existe a forma certa, e existe a forma errada de se falar português. A forma errada é a forma que não segue a regra. A questão é se aceitar o erro como uma coisa que pode ser bela, e não supor que “erro” é sinônimo de “ruim”.
Agora, tem uma coisa que me enerva, que eu ouço muito sempre que vou a São Paulo: “Quer que eu passo um café?” “Talvez eu vou mais tarde.” Isso me faz trincar os dentes.
ufa! hermano, há algo que se possa fazer a respeito?
sobre preconceitos:
“Julia: sitcom semanal americano, um dos primeiros a apresentar uma mulher afro-americana em um papel não-estereotipado. Séries televisivas anteriores mostravam personagens negros, sempre, como serviçais. Estrelado pela atriz e cantora Diahann Carroll, teve 86 episódios na NBC entre 1968 e 1971.” (wikipedia)
(só para ilustrar: 2008/9, a novela ‘a favorita’ apresenta apenas 3 personagens negros, “porém” ricos e aculturados; os 3 falam corretamente mas, como são os únicos negros na trama, só podem se relacionar com brancos. “ain’t it misbehaving” (fats waller), né esquisito ? )
voltando à “julia”, luedy : um homem que fala errado x um negro = um negro que fala errado. preconceito ao quadrado. “julia” queria ensinar os “seus” a não falar como serviçais, para não parecerem como tais. pronto! já temos mais outro preconceito.
não permitir que meu filho use o dialeto de funk, ou “de morro”, não é preconceito: é um favor que eu faço a ele, aos outros, e, de maneira geral, ao brasil!
estropiado - estrupiado - estopriado - estupriado - estruprado … ignorância? dialeto local? dislexia? preguiça de falar direito? essas variações todas enriquecem ou estupram nossa formosa língua ?
abrs paloma
muito bom, muito bom mesmo esse último comment de caetano. como ele mesmo me disse aqui no blog, “é direto. é desabusado. é rock n’roll”. e extremamente claro.
…………………….
Sei não, sinto que esse blogue vai ferver ainda mais. Então, pra relaxar…
Julia,
Quando vier à Sampa de Caetano, passe em casa que eu passo um café pra você.
Caetano,
Falei desse seu blogue ao Serginho Gama. Ele é guitarrista do Língua de Trapo e um grande fã do seu trabalho. Toda sexta-feira defende seu pão tocando na padaria (!!!!!) perto de minha casa.
Saudações paulistanas a todos os hermanos do Brasil e de fora dele também.
Perdi comentários demais, não dá para acompanhar. Só posso, por enquanto, me aliar a quem se encantou com o post: esse canto de despedida - imaginado ou vivido - fica para sempre. Partir assim é sublime.
Caetano, o Sertão de Rosa me vem à mente com muita força nesse samba lindo, já que ele permeia de forma intensa minha vida interior. E me faz lembrar também, com muita emoção, a beleza do lamento de Gil:
Aos que se lembraram de mim, um beijo carinhoso.
E a todos os que por aqui passam e deixam seus comentários,parabéns..É realmente contagiante ver tantas pessoas talentosas em um mesmo local todos os dias.
Esta faltando só a clareza da Heloisa!
Castelíssimo querido
Escrevo aqui meio afoito, com a talvez equivocada (assim espero) sensação de que você dirigiu-se a mim ao digitar o seguinte:
“não posso ficar de braços cruzados,vendo minhas palavras serem desviadas por leitura desatenta,e depois usadas para me ridicularizarem,de forma tão grosseira e mal educada. E por uma pessoa ,à quem sempre dediquei o maior carinho e respeito.(continuarei dedicando,se permitir).”
Isso tudo pode ter sido um tremendo mal-entendido! Eu entendi perfeitamente o tom que você usou quando quando citou Caymmi. A lembrar:
“camarada no singular depois do pronome que determina o plural, faz de Caymmi um iletrado, ou alguem que usou a lingua de maneira incorreta ?”
Achei o exemplo perfeito! Pertinente. Na mosca. Inclusive me estimulou a encerrar a conversa, já que Caymmi pra mim está distante da atmosfera em que estávamos, a da discussão política e relativista. A tua idéia de questionar “certo X errado” em Caymmi (um dos maiores letristas do planeta) reduzia todo o papo da sócio-linguística a algo menor. Inclusive (inspirado em teu exemplo) andei escrevendo:
“Ele é a norma, dizendo a todo mundo o que ninguém diz.”
Quando Luedy (a quem também aproveito pra enviar faíscas de afeto e respeito) sequenciou o debate dizendo
“Caymmi não é nem iletrado e nem usou a língua de maneira incorreta. Ele apenas se valeu de uma modalidade bastante comum e que as gramáticas normativas insistem em desconsiderar.”
Achei que a resposta (embora corretíssima) ainda insistia no tom de conversa política, que me enfastiava. A tua citação a Caymmi havia me arremessado de volta pro meu lugar: o do mistério das palavras e dos versos na canção popular. Queria voltar a falar de letras e canções sem submetê-las mais ao crivo da discussão sócio-política que começava a andar em círculos.
Foi quando disse:
“O limite pra mim foi quando citaram Caymmi nessa discussão. Só louco!”
“Só louco” é uma das mais belas canções de Caymmi. “insensato coração” é algo maravilhoso!
Quando coloquei Caymmi como o limite agora vejo que me expressei mal. Deveria ter citado teu nome e qualificado a tua lembrança como algo bonito. Não o fiz. Supus equivocadamente que tinha sido claro. Pelo jeito, não fui. De qualquer forma, mesmo não sendo claro, não acho que tenha te “ridicularizado, de forma tão grosseira e mal educada.” Não tenho esse estilo e gosto muito de você. Não faria isso nem sob tortura.
Admiro a tua sensibilidade, mas estamos num blog. E os melindres podem nascer como um verdadeiro “bug” causado por conflitos da língua. Essa que nós dois amamos tanto.
beijo na testa
salem
esses dias têm acontecido momentos difíceis de navegação no O.P. o blog fica lento, que nem as caravelas de Cabral. e, é, somente na Obra Em Progresso. nos outros sítios, a navegação, fica uma beleza.
“não permitir que meu filho use o dialeto de funk, ou “de morro”, não é preconceito: é um favor que eu faço a ele, aos outros, e, de maneira geral, ao brasil!”
Paloma, me explica qu’eu não entendi?
Há cinco dias tento, em vão, fazer um comment. Quando clico em “Comentar”, meu texto some. Isso ocorre no computador de casa e no do trabalho. Se eu fosse paranóico, iria achar que estou sendo discriminado. O que está acontecendo?
é um furacão!!! que beleza o comentário do Caetano…
Oi, pessoal, Luedy em especial:
Foi muito bom todo esse debate aqui, pois é bom escutar as objeções de pessoas inteligentes ao uso dos avanços da linguística.
Possenti esclareceu bastante e dissecou a postagem sobre os linguistas, dando uma visão de dentro, de especialista. E realmente observou que o que nos divide aqui é em boa parte ideologia e isso não muda com argumentos, por melhores que sejam.
Não vi isso como agressão. Paulo Francis, sim, era agressivo, mas fácil de responder. Ele achava que perguntar a um músico qual sua posição na história da música era pergunta não-jornalística! Logo ele, que nem era jornalista formado, ficar provocando naquele tom professoral de quem sabe tudo. Deve-se evitar a repetição do erro e do destempero. Francis apanharia de berimbau num seminário de comunicação no interior da Bahia! Para quê xingá-lo?
O problema não é invadir a seara alheia, mas sim a de entrar em outra área com o tom de “eu sei tudo”, “sou melhor”, “sou the best”. Isso irrita e provoca os insultos e brigas, vide Cinema Falado X A Grande Arte, polêmica Ana Carolina, etc.
Se existe articulação da USP/PT/CUT, para Giba é, na linha de pensamento de Glauber, uma grande conspiração contra o nacional e o popular. Se existe essa articulação, é preciso aceitar o corolário: são todos entreguistas, antinacionais, estética janízara, narcisismo de bacana, etc. Segundo essa visão, o país não progride: vai de Porto Seguro a Porto Rico.
Aproveito os gramáticos para pedir que me enviem e-mails pois preciso de revisor para minha tese. É tal a coisa da vocação: de repente algum músico ou celebridade (não vou falar o nome para não promovê-los aqui. Se eu mencionar seu nome, é como se eu os agraciasse) descobre sua vocação de revisor? Por que gramático deve mesmo ter o emprego de colocar no português padrão texto escrito — e largar a chatice de querer corrigir nossa fala com normas estilo Eça de Queiroz século dezenove.
Luiz Castello, Hemman Hesse é um dos autores que amo com paixão e Sidarta é um dos raros livros que decorei de tanto ler, Demian seria um outro, tenho quase todas as obras dele, inclusive os livros digitais que estão a disposição pela web. Admiro como ele trata seus conflitos interiores, como ele é capaz de enxerga um mundo perfeito em tanta imperfeições que existe, como ele compreende o homem em seu intimo e sua intimidade com o amor. Um livro dele que gosto muito é Caminhada onde ele narra a sua ida para o exílio na Suíça, onde ira viver ate sua morte. Interessante nesse livro, do qual não me separo jamais porque tem um significado especial na minha vida, são as aquarelas que ele vai pintando pelo caminho. Muitas vezes acompanho o Franco quando ele vai para o trabalho dele e a cidade onde ele trabalha esta a uns 80 km de casa mas, a paisagem é estupenda e, não são raras as vezes que me deparo com as paisagens e cores narradas e pintadas por Hesse. O vales, as igrejinhas, as montanhas e tabernas; as arvores num tom dourado durante o outono é uma coisa singular, você não imagina como isso mexe dentro de mim. Gostei muito mesmo! Obrigada! Olha eu entendi a tua intenção com relação ao Caymmi, mais algumas vezes as pessoas aproveitam e fazem um gancho para dar continuidade ao assunto, nada de grave, pode acreditar.
Rafael adorei as fotos, todas, todas, as coloridas, as em branco e preto e as que parecem envelhecidas com o tempo. Aproveitei e foi ler também a respeito de Carlos Scliar, não conhecia a estória da vida dele e adorei,. Tenho a sensação que você acaba sempre acrescentando algum conhecimento interessante. Obrigada!
Para quem tiver curiosidade:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Scliar
Beijos
12 parágrafos e um segredo
Luedy não posso dizer que não achei graça na sua colocação de pranta e planta, e a conclusão então! Gostei do que escreveu a Julia nesse sentido, quem sabe nos tornaremos mais tolerantes no futuro.
Uma breve justificativa sobre meu comentário 193, não quero que alguém pense, nem por um minutinho que sou contra o Lula ou que não reconheça as realizações deste governo. Quando digo “medidas tomadas ate o momento” refiro-me a historia do ensino publico no Brasil e, isso ai vem de longe. Encontrar uma formula que resolva este problema de imediato penso que é mesmo difícil, mas vejo com bons olhos algumas medidas como a inclusão digital, família na escola, entre outras coisas, questiono um pouco o bolsa família, para mim é aquela coisa que o Glauber falou de “rápido e fácil”, me parece um pouco aquela coisa de dar um pirulito para acalmar as “criancinhas”. Não gosto por nada da política de que o aluno tem que passar de ano sem um aprendizado satisfatório, isso daí, que vem antes do governo Lula, é uma medida catastrófica, acabou com o aprendizado na escola. Da mesma forma, talvez por isso, não gosto muito como os professores vem sendo tratados ou encarados. Os professores do ensino publico estão deixando de cumprir o seu papel porque estão se transformando numa espécie de assistentes sociais e “bobo da corte”, conheço uma professora que certa vez me contou que o diretor da escola onde ela trabalha impôs que as sextas-feiras ela inventasse algo criativo para reter os alunos do noturno nas salas de aula, e eu perguntei: mais o que ela quer que você faça? Ela rindo respondeu: sei lá, que eu dance, cante ou tire um coelho da cartola. Isso daí para mim tem que mudar.
Beijos cheios de esperança
Que inveja de todos vocês que conseguem inserir comments aqui!
oi julia, tu qué comixplico pa tu? ou isso basta?
abrs paloma
“oi julia, tu qué comixplico pa tu? ou isso basta?
abrs paloma”
Demorô, Paloma, precisa não. Beijção pra tu, glamurosa.
Partiu pra Lapa,
J.
Enviei um comment e ele sumiu, não aparecendo com aquele “aguardando moderação”. Então o reenviei e vejam o recado malcriado que recebi de Dona Cibernética:
Detectada repetição de comentário (ou algo assim!)
Eu quero, eu quero, eu também quero brincar de comentar!
Meus comments nem chegam a aguardar moderação e quando os reenvio, surge esta resposta malcriada de Dona Cibernética:
Detectado comentário repetido; parece que você já disse isso!
Bjs.
Salve Dona Edith e salve o prato, amém.
Estonteantes Luedy e Castello,
Esqueci de dizer, mas meu penúltimo comment (210) foi dedicado a vocês, com carinho e com algum incômodo, mas não me perguntem por quê.
P.S.: Siddhartha não é Der Steppenwolf, mas é o bicho!
Alegria Alegria !
E o Caymmi com os meus camarada,foi citado,dentro da sua contextualização,eu sei,mas serviu pra lavar a alma.
_____x_____
Heloísa,
O sertão que vc se referiu de “lamento sertanejo” me parece muito mais sertão que eu conheço da região de Tucano, Jorro etc, do que o sertão de “viola meu bem”, que me soa muito mais Maragojipe, Cachoeira e Santo Amaro, ou seja recôncavo da Bahia….
Oi Rafael Rodriguez
Não compararia as tuas carinhosas “palavras de admiração” aos excitantes beliscões do Joaldo.
Com você é amor platônico. Gosto muitão dos teus escritos sempre sensíveis e redondos. E aqui devolvo todo meu afeto pela forma sempre carinhosa com que você se dirige a mim.
Agora, Joaldo é abusado. É um produtor de hormônios virtuais que beiram o contato físico. Seus beliscões são micro-massagens de alto teor afro-dionisíaco. Mas tem que ter moderação! Não aquela do Hermano. A moderação dos que abusam no abuso do êxtase.
salem
O último canto de Pound, o CXX, diz assim:
Rafael, que bonito e poético o que você escreveu sobre “a chuva caindo entre os anjos”. Quando eu era pequeno, meus pais me levavam à Catuçaba, distrito ruralíssimo da pequena São Luiz do Paraitinga (SP), onde meu pai nasceu. Na igreja de lá, tinha (ou ainda tem) uma urna de vidro com uma imagem do corpo de Cristo morto enrolado num lençol vermelho. Eu morria de medo daquela imagem, parecia que a qualquer momento o Cristo iria se mover.
Jary Cardoso não se desespere, tem alguns comentários meus que acontece a mesma coisa e ainda não entendi a razão para poder dar uma solução ao problema, veja este texto sobre o ensino publico e aprendizado esta totalmente fragmentado e tem uma parte dele que não entra nem rezando muito, outras partes tive que escrever novamente dentro de outro contexto. Sei que deve se tratar de uma regra para a inserção de texto que esta na elaboração da programação, mais ainda não tive tempo de estudar isso, se der tempo hoje vou dedicar algum tempo maior pensando a este respeito. Dica tenta fragmentar seu texto para tentar descobrir qual dos parágrafos esta impedindo que ele entre e, quando descobrir tente reeditar algumas passagens ou o texto todo, realmente se não aparecer (aguardando a moderação) você pode desistir mesmo se você tentar recolocar e aparecer a mensagem que o texto já foi enviado, é um problema estrutural de programação, não é culpa do Hermano se o texto não entra, acredito fielmente que ele nem vê estes textos, porque não vão para a moderação, são perdidos pelo caminho, pode acreditar. Gostaria de ter descoberto o que causa este problema, pensei nas aspas mais não é, pensei na repetição de alguns termos, não descartei esta hipótese ainda, acho ate a mais provável. Um verbo ou substantivo que se repita mais que um certo numero de vezes pode causar este tipo de problema, no meu caso usei escolas, escolar, estudar, enfim estou em fase de analise (risos). Espero ter te dado alguma luz e que você consiga colocar o teu texto ai pra gente.
Heloisa você anda muito “passeadora” ainda bem que voltou, sei que estávamos ansiosos aqui esperando este precioso momento de podermos ler o teu comentário.
“não permitir que meu filho use o dialeto de funk, ou “de morro” hum! Jamais interfiro na vida do meus filhos a este nível, o que pode acontecer algumas vezes é não resistir e dar umas risadinhas, achar engraçado, ou mesmo perguntar o que significa algum termo que desconheça, adoro aprender. Ah! E dou para ele a liberdade de rir também se eu usar algum termo “cafona”. Na verdade a gente se diverte muito com isso, penso ate que esse exercício, ou “brincadeira” é o que contribui, no meu relacionamento com eles, para uma aproximação ainda maior.
Beijos maternos
Sim, eu não acho também que foi a própria vida da língua que estruturou as regras (ou que estrutura as regras). No caso das gramáticas normativas, quem tem estruturado as regras são aqueles que, por certas razões, concedemos ou legitimamos autoridade para tal. Não há, da perspectiva epistemológica à qual me filio, aspectos intrísecos à língua que estejam sendo “capturados” e “normatizados” pelos gramáticos.
O que me remete à seguinte problematização: não obstante o fato de que as gramáticas normativas (e os gramáticos tradicionalistas) não questionem a noção de prestígio (e suas razões históricas e políticas) que fazem com que uma modalidade seja eleita como a “melhor”, elas e eles não têm levado em conta, por exemplo, que mesmo os chamados “falantes cultos” não conjugam mais aquela segunda pessoa do plural ["vós ireis?"], e nem que o pronome ele/ela já é usado como objeto direto ["eu vi ele"], pelo menos sem que isso seja considerado um “erro”. Ou seja, as gramáticas normativas insistem quase sempre em formas antiquadas, quase sempre ignorando que a língua é o que fazemos dela!
Aí vc diz: “Não faz mal nenhum poder contar com um repertório mais vasto de possibilidades de comunicação verbal” Claro! Concordo! Mas isso não precisa ser feito às custas da estigmatização de quem fala seguindo outros padrões, outras normas - por vezes aquelas que nós mesmos, os “falantes cultos”, usamos em nosso dia a dia.
Quando paloma revela seu incômodo para o “I ain’t” e diz que não quer que seu filho fale como um morador do morro, ela está rezando pela cartilha de muitos gramáticos que menosprezam os falares “populares”, como “língua de índio”, “português estropiado” etc [basta que vc leia o que escrevem a este respeito Dad Squarisi e Sacconi para ter uma idéia do que estou falando].
Por fim, pelo menos provisoriamente: leia, se puder, se tiver interesse, o capítulo “também quero uma gramática assim” do livrinho do Bagno (Norma Oculta), ele explica as coisas com propriedade, tece críticas a partir de fontes documentais, dialoga com outros teóricos e propõe ações concretas para um ensino mais interessante da gramática. E, o mais importante, em momento algum ele nega a importância de estudarmos gramática e de que as normas “cultas” sejam matéria de ensino. Bem, permita-me citar ele aqui:
“… se cabe à escola ensinar as formas linguisticas padronizadas, normatizadas, isso nao deve ser visto nem como a tarefa *única* do ensino, nem como um instrumento para a *adequação* ou *incorporação* do indivíduo oriundo de classes sociais desprestigiadas ao tipo de sociedade excludente que é a nossa. … é necessário empreender um ensino crítico da norma-padrão, escancarar sua origem “elitista e coercitiva”, e mostrar que a necessidade de dominá-la se prende à necessidade de que os alunos oriundos das camadas sociais desfavorecidas (ou seja, a imensa maioria da população brasileira) possam dispor dos mesmos instrumentos de luta dos alunos provindos das camadas privilegiadas” (Marcos Bagno, *A Norma Oculta: língua e poder na sociedade brasileira*, São Paulo: Parábola, 2003, pp.186-187).
_____x_____
Miriam Lucia – eta pessoa simpática e adorável! – deu as dicas e faço como Jack, o Estripador, vou por partes para driblar Dona Cibernética.
abrs paloma
Então vamos de Caymmi.
João Valentão é uma canção espetacular. Na verdade, duas canções em uma. Duas partes feitas, segundo reza a história, num longo intervalo de tempo.
A primeira, querido Castello, descreve um estado de humor alterado fundamental que ilustra bem os momentos de tensão deste blog. Sem briga e bofetão, não há ternura.
Mas tem seu momento na vida (A VIRADA)
A segunda-parte-canção revela a outra polaridade de João. A que as tensões dão lugar à subjetividade.
É nesse estado, pós-bofetão, que você, Castello, me lançou ao citar Caymmi. Senti que a discussão do preconceito sócio linguístico à luz de Caymmi me dava preguiça. Entendeu agora?
Não há como falar de palavras, versos, frases e mudanças de norma sem incluir a subjetividade e o afeto pela língua. Só a visão política de exclusão social miopiza. A inclusão e aceitação de novas palavras e conjugações (populares ou não) passa pelo acolhimento poético de seus significados no coração dos falantes. Rosa foi mestre nisso.
Quanto à linguagem dos “funkeiros” por exemplo, há muita coisa “entrando” com beleza na língua. Gosto de “caô”, “bonde”, “na moral”, “sinistro” etc. Aqui em SP não gosto (e penso que isso não vai pegar) das conjugações propositalmente “erradas” da primeira pessoa do plural… “Nóis vai…”, no entanto as que virara slogan como “é nóis”, eu adoro.
Por isso não coloco tudo no mesmo saco da política, pois essa seria uma forma genérica e frágil de inclusão.
O tempo faz isso com mais eficiência do que as teses.
E Caymmi trabalhou muito por isso ao longo de décadas.
Pedi desculpas ao Castello, por não ter sido compreendido. Mas não pediria por ter usado o verso-título “Só Louco”.
“por que de amor pra entender é preciso amar?”
questões da subjetividade. A gente “não precisa dormir pra sonhar”.
Caymmi pede um pouco de silêncio. Só isso.
beijo insensato
salem
Ah, Miriam Lucia, estou quase desistindo. Já fiz e refiz várias vezes a segunda partinha do meu comment, de duas a três linhas no máximo, tirando e trocando palavras, e nada até agora…
Pô, só queria enviar artigo lindo sobre o tema principal deste post e mais um pequeno comentário sobre programa de TV com o mesmo tema.
Concluo que uma das palavras rejeitadas por Dona Cibernética é justamente o nome da maravilhosa pessoa que nos deixou na semana passada e que é o tema principal deste post.
Passo então a chamá-la de Senhora do Prato e tento transmitir o artigo.
Mas antes quero falar do programa que a TV Educativa da Bahia exibiu quarta-feira sobre a Mestra do Prato e do Samba. Foi fantástico, emocionante. Apenas faltou uma explicação inicial de que o programa é dividido em duas partes. A primeira é a edição do show promovido em São Paulo pelo Itaú Cultural que a apresentou acompanhada pelo coral Vozes da Purificação, formado por maravilhosas senhoras de Santo Amaro, e participações de Jota Veloso e de Mariane de Castro. E depois de só meia hora de programa, acabou o show e entraram anúncios, dando a impressão de que o programa havia acabado, o que me deixou triste e frustrado.
Parece que outro nome rejeitado por Dona Cibernética é justamente o do autor do artigo. Passarei a chamá-lo de JP, o compositor de Santo Amaro, parceiro de Roberto Mendes, e educador que comanda o programa Aprovado! na TV Bahia.
Continuando com a terceira parte do meu comment a la Jack, o Estripador:
E quando eu ia desligar a TV, de repente reapareceu a imagem-vinheta da Mestra do Samba tocando prato, e começou a segunda parte do programa, que foi apresentada como um making off do show. Na verdade, além de bastidores do show, passou uma boa reportagem feita em Santo Amaro pela equipe do Itaú Cultural com todo o pessoal do show, mais Dona Canô, Nicinha e Caetano. Essa segunda parte mostrou o quanto pode ser profícua a ponte São Paulo-Salvador, como intercâmbio cultural e produtivo entre, de um lado, a força da grana e o profissionalismo de Sampa e, do outro, a criatividade, a invenção, a energia, o amor à vida que brota do Recôncavo baiano!
No segundo bloco do programa da TVE-BA sobre a Mestra do Samba, se esclareceu para mim uma referência de JP, em seu artigo, ao Sultão das Matas: trata-se de um dos orixás – o outro é Oxum –que eram incorporados pela Mestra do Samba no terreiro (em sua própria casa?) onde ela era filha-de-santo.
Sobre o artigo de JP, uma curiosidade: o parceiro de Roberto Mendes o escreveu antes de ler o post de Caetano e depois que o leu mandou corrigir o trecho em que cita a letra de “Viola meu bem” – ele também não sabia que “so”, no caso, é “seu” e havia escrito “sou maquinista da Leste”.
Vejam que paixão santamarense este artigo de JP que tentarei transmitir de uma vez só substituindo o nome da homenageada por Caetano neste post por Mestra do Samba, a começar do título:
Mestra do Samba
JP*
*JP– Educador, compositor, membro do Conselho Nacional de Política Cultural
enquanto elton john deliciava os mimados ( uuuulllllaaahhhh…mas nem tanto, a maré está tão baixa que tinha mais que mimados na festa…vamos ver música como os russos veem o futebol…quem diria….) doces cariocas e maria gadú engatinhavam no mistura fina. antes fiquei impressionado com a quantidade de shows estrangeiros em são paulo anunciados na folha de sp. e antes ainda a entrevista com um dos produtores do noviça rebelde que estréia em sp, ele se referia a ufanismo bobo naqueles que criticam a isenção fiscal para musical importado. no rádio ouvi matéria na cbn, a rádio que toca notícia, entrevistando pessoas do setor hoteleiro entusiasmadas com ocupação do setor nesse período e a justificando com a presença dos shows internacionais. o cenário e a irradiação estão coerentes e com a corda toda. e vem reidorédi aí pra alegria da garotada, em resumo, não há crise no consumo. somos os batedores de palmas, quem sabe nasça daí um stomp de palmadeiros brasileiros, o povo que sabe bater palma…e lata né?
Não conhecia D. Edith (obrigada, Caetano e Lucesar!)…
Mas mesmo nesse desconhecer, esse post tão delicado tocou seus muitos pratos em meu coração… centros e bordas…
Paloma, eu topo se for o “baile funk carioca” que comprei e já chegou e se Hermano liberar um tópico para isso. Não dá para discutir dentro dos posts de Caetano… vai ficar solto e perdido…
língua, linguagem, para viabilizar a comunicação.
as palavras e estruturas vão se transformando pelos contextos sócios-culturais-políticos e também pelas sonoridades. creio que muitas transformações da língua são comandadas pela necessidade de transformar sons, mudá-los, encaixá-los diferente. “assentar” em lugares mais cômodos.
qd me observo em relação a isso lembro que muuuuuuitas pessoas acham que sou paulista, porque de uma mistura de formas de falar, e de dar aulas, e se expressar, acabo sempre caindo mais no assento paulista das coisas. em minas falava com um guia mineiro e qd vi já tava pegando trejeitos. qd uma turca morou comigo descobri que conseguia m comunicar super bem em inglês, algo que nunca mais se repetiu…não gosto qd minhas filhas comem demais os esses finais (mania de gaúchos), mas não por ver isso como um problema linguístico, mas sim, um probrema de sonoridade.
os guetos e seus sons
gosto do “é nois”
Jary
continuemos assim, com bugs e poltergeists
ai Jary…
e lendo seus coments, e sua habilidade e criatividade em tentar driblar essa incógnita das postações, vejo o quanto eu acho lindo essa transformação para comunicar! eu fico te imaginando como se a cada coment vc fosse reajustando braços e pernas e movimentos no ar pra tentar dizer! sabe aquele jogo de ficar adivinhando nome de filmes através da mímica? parece que tou te vendo jogando e a gente tentando ver o que vc tá tentando comunicar.
gente, tá valendo: do morro, caipira, das minas, o que der pra usar pra se fazer “ouvir”!
Salenzinho,
Eu estava outro dia voltando da ilha de Itaparica com “João Valentão” tocando dentro da minha cabeça.
Estava com meus irmãos, meu pai e uns amigos. Um deles é a cara dessa música e como ele é a cara da Bahia creio que entendo o que Caymmi tinha em mente.
Por aqui rola uma galera que minha geração chama de os “browns” (não sei se Carlinhos Brown tem esse nome por isso…). Uma das muitas facetas dessa galera é brigar no carnaval, ou principalmente no carnaval. Pois esse meu amigo é dessa galera, já me contou várias estórias de brigas incríveis que vou confessar ouvi encantado apesar de serem casos muitas vezes de mera violência gratuita.
Seria o equivalente do malandro do Rio acho eu.
Caymmi humaniza os valentões lindamente, sem esteriótipos nem idealizações.
Só pessoas que podem se emocionar e emocionar….
PS: para as fãs de Joaldo: Ele acabou de sair daqui de casa, veio me visitar com sua irmã. Achei muito legal….
Adoro ouvir meus filhos usando a gíria do funk carioca. “A gíria que o nosso mrro criou/ Bem cedo a cidade aceitou e usou”, dizia Noel já nos anos 30. Meus 3 filhos sabem usar essas gírias com graça e a norma culta com alguma precisão. Penso que quem fala “vidro” e ainda tem energia para entender por que alguns falam “vrido” está em muito melhor condição do que quem só fala “vrido” e nem ouve a outra forma. (Aliás, “vrido” aparece com muita graça numa canção bonita que Luiz Gonzaga cantava: “Tá cumeno vrido, peste?/Não, pai, eu tou chupano pedra d’água”.) E vamos deixar dessa mania de dizer que os gramáticos na imprensa querem nos fazer falar como os personagens de Eça de Queirós. Mentira. Pasquale e a gentil professora que escreve sobre dúvidas da gramática no jornal A Tarde aqui de Salvador são bem atualizados, flexíveis e receptivos ao que vai acontecendo na língua viva. Acho que o Luedy tem aquele espírito de revolucinário romântico. Sempre restam ecos de demagogia. Não desgosto de Bagno nem de Possenti (deste só li o comentário - errado e desatento - sobre meu texto do “sifo”). Mas acho essa ideia de considerar a norma predominante como opressão de classe um tanto rasa. E não gosto de Foucault nada. Meu analista (que o conheceu) diz que ele era brilhante. Li As Palavras e as Coisas em 1967. Achei bonito. Mas depois vi tanto trecho de livro enrolação que deletei o apoiador do Aiatolá Komeini. Amei as escolhas de Pound feitas por Teteco. Eu também não sou fã de Hesse. Só gostei do Jogo das Contas de Vidro. Mas sou mais Teteco: Pound. E Balke. Isso sim.
E também já tive comment que sumiu. Esse agora foi. Será que este vai?
Veio, Caetano.
Sempre gostei muito mais do T.S Eliot do que do Pound, que foi seu mentor.
Paloma, a cultura e o linguajar não são “do morro” ou do “funk”. São da juventude. Eu tenho 22 anos e pertenço a que foi, provavelmente, a primeira geração de jovens funqueiros da Zona Sul do Rio de Janeiro. Aquela cultura é a minha cultura, por eleição e afinidade. Como o rock and roll e a bossa nova gerarão um dialeto para uma geração, o funk gerou para outra. As pessoas de menos de 30 anos mesmo que não ouçam funk, frequentemente falam como funqueiros.
Quando eu era menina e sabia a letra inteira de Nosso Sonho, não entendia o funk como algo do morro. Era algo meu, que eu tomei para mim e escolhi para me representar. Arrisco (e o Hermano que me corrija) que o linguajar que você quer que o seu filho evite é o de uma geração, não o dos adeptos de um tipo de música (um dia foi, mas creio que tenha saido do gueto faz tempo).
oi Caetano, não tenho nada contra gírias. muito ao contrário. guardei na memória durante 39 anos, especialmente para este momento, uma cena de seriado de tv onde aprendi o que era uma gíria, em inglês. eu tinha 13 anos. estudava em um curso moderno e já falava bem a língua. quando levei a questão do filme para o professor, relacionei e traduzi todas as gírias disponíveis do português para o inglês. e vários palavrões. fiz apostila e tudo. não tinha disso em curso algum na época e talvez nem hj tenha. vanguardésima.
não é sobre gírias minha questão, Caetano, mas sobre o que você já tinha até resumido : “Quem sou eu para desautorizar quem definiu historicamente as regras?”, e eu achei isso o máximo.
regras são regras, tipo 10 mandamentos: cumpriu é cristão, descumpriu não é. jeitinho não rola. esquecer ou quebrar regras, uma vez ou outra, normal! experimentar, fundamental! desvirtuar, pode até ser mas, do céu, esqueça.
e não se quebram regras que se desconhece. assim não há erro no linguajar dos ignorantes (no bom sentido). em terra de ignorantes quem fala certo é rei, menos no brasil, onde segundo eu mesma antes, e o castello, depois, quem fala certo é gay … rs.
Jary, hilária sua performance. pena que o blog não é em cores. imagine cada parágrafo de uma cor …
abrs Paloma
Gente, quantos erros, desculpem, foi a fome.
P.S.: Se você tiver interesse, me diz o valor do curso.
Nas bancas de jornal, às vezes vejo à venda um livro chamado “Manual do Português Correto” que sempre me faz pensar num lusitano certinho, como na frase que a gente via antigamente em bares e padarias: “freguês educado não cospe no chão, não pede fiado, não diz palavrão”.
O que eu acho preocupante, trabalhando com adolescentes, alguns muito pobres, vários com história de deliquência, não é o falar “certo” ou “errado”, mas a impossibilidade de escolher e circular entre os diversos falares. Prescindir dos plural, paulistanamente, usar o tu com certo desleixo carioca, pode ser engraçado, apropriado ou até bonito, exppressivo, dependendo da situação. Mas a impossibilidade de escolher o falar adequado para a situação pode gerar exclusão, preconceito, e isso é muito triste.
Outro dia um sobrinho meu de 9 anos respondeu ao irmão que o ridicularizava por ter usado uma palavra que o outro achara pomposa demais: “Estou falando na norma culta, meu!” e eu achei a maior graça. Por outro lado, um garoto que nós acompanhávamos foi recusado num projeto de primeiro emprego (e era um projeto do estado, que deveria atender justamente aos mais necessitados, e ensinar-lhes!) por não conseguir se expressar da forma que os avaliadores achavam adequada, e as consequências para a auto-estima dele foram péssimas.
Ser poliglotas no nosso próprio idioma, esta é uma bela coisa a se ensinar.
PS:
http://www.zemoleza.com.br/noticia/1070951/pasquale_cipro_neto
Joaldo,
Esse passo seu ta qualquer coisa…
Sem bjs até que seu camelo traga o dromedário!
Julio Vellane, não entendo muito de sertão geográfico, e precisei pesquisar os lugares que você citou. Por isso, fiquei sem saber: o que indica o tipo de sertão na letra de Gil?
Outra coisa: o Fabiano de Vidas Secas não fala, a Biela de Autran Dourado (conterrâneo de nossa cara Rosana Tibúrcio)também não.Certo. Mas Riobaldo fala - e como fala - por ele e por seu misterioso interlocutor, que não pode ser um sertanejo. Ele para mim é o alter ego de Rosa, o doutor que anota tudo em um caderninho. Não é coincidência demais? Muita neblina…
putz, caetano falou neste último comment o que eu queria dizer.
“Penso que quem fala “vidro” e ainda tem energia para entender por que alguns falam “vrido” está em muito melhor condição do que quem só fala “vrido” e nem ouve a outra forma”
perfeito. é nóis na fita, mano!
O q seria de mim sem as aulas de Salem ?
Existe uma enorme diferença entre “língua” e “linguagem” .. a norma dita “culta” deve sempre se espelhar..referendar.. naquilo que de fato é falado pelo país…só tende a enriquecê-la. E sejamos mais flexíveis em relação às “transgressões” liguísticas espontâneas !! é isso q FORMA uma língua.
Aqui é sempre lugar de aprender, curtir boa música e não só do nosso baiano e conterrâneo, além de ler sugestões imprescindíveis. Parabés pra todos e obrigado Caetano!!!
Caetano
Em “Não Tem Tradução” de Noel também tem…
…versos que já anunciavam a idéia de uma língua original.
Cê disse:
“Penso que quem fala “vidro” e ainda tem energia para entender por que alguns falam “vrido” está em muito melhor condição do que quem só fala “vrido” e nem ouve a outra forma. ”
Pra mim esse pensamento sintetiza com profundidade algo que venho tentando formular por aqui. Há algo no inconsciente da língua que quando é trazido à consciência ganha concretude, beleza e aceitação. Isso é cultura, embora a palavra “culto” e “culta” nesse blog tenham aparecido com frequente depreciação.
Culto no sentido de cultivo. Língua cultivada.
A apropriação das gírias do funk pelos seus rebentos são também um exemplo feliz desse cultivo.
É assim que palavras se espalham e se espelham umas nas outras. Cabe à gramática correr atrás do lucro e do prejuizo.
É nóis.
tapinha na testa que um tapinha não dói
salem
Ah…
Dei boas risadas com a frase…
“E vamos deixar dessa mania de dizer que os gramáticos na imprensa querem nos fazer falar como os personagens de Eça de Queirós.”
Cacilds. Como isso é importante. Não conheço a professora que escreve n’A Tarde, mas leio o Pasquale e reconheço nos seus escritos um grande amor pelo acaso, o coloquial, o popular, os neologismos, as coincidências e a elasticidade da “nossa língua”.
Macalé cantando “Orora Anarfabeta” é espetacular. Você conhece esse samba?
beijo na testa
salem
Vellame amigo
Interessante essa história de João Valentão transportada pro carnaval do presente, onde a “violência gratuita” convive com a “festa paga” e pagã dos abadás e fantasias vendidos.
Vi na TV no carnaval de 2008 em Salvador cenas bem chocantes de violência. Em uma delas um sujeito alto e forte “brincava” de dar porrada em mulher e sair correndo. Não era um João Valentão. Era um João Covardão. Notei que a reportagem era da TV Record que expressava bandeirosamente o desejo de se opor às transmissões alegres da Band e da Globo. A imagem era feia, mas repetida insistentemente parecia uma propaganda do avesso.
Temos aí, uma discussão bem importante: o mito da malandragem. No samba “Homenagem ao Malandro”, Chico já falava do “desmito” do malandro. Ali, em oposição à malandragem chapa-branca de Brasília.
No entanto, há uma neo-malandragem não necessariamente apologista da “violência gratuita” que sobrevive nos guetos, nos morros, no funk. Não tão romântica. Mas com ginga suficiente pra sacudir nossa cultura. Fazem coisas que até Deus duvida.
beijo valente na testa
salem
Gente, o negócio tá preto. Escrevi um comment do cacete e acabo de ver que sumiu. A ver se este (de mero protesto) vai.
Sidharta é um livro que marcou uma geração de amigos meus.
O que eu achei mais engraçadamente estranho nessa história,foi verificar que,as palavras de Pound citadas,são a confirmação do pensamento de Hesse.
_____x_____
“Uma vez um professor do Mato Grosso me contou a história de um tropeiro que se queixava da vida, mas que tinha uma tropilha de mulas que o fazia dono de uma empresa de transporte quase gigante, considerado o contexto. E que assim explicava sua situação:
‘Pois é, doutor, a gente não pode pissuí, mas a gente pissói’. Fiquei com essas formas do verbo possuir na cabeça, até descobrir num dicionário etimológico que a forma arcaica do verbo era pessuir (Amadeu Amaral atesta a forma em uma quadra nordestina bem antiga): como o e pré-tônico facilmente é alçado para i, a forma estava explicada.
Moral da história: esse caboclo, em vez de estar corrompendo o português, estava usando uma forma antiga, que aprendeu em casa, e que manteve porque sua vida tinha se passado longe da escola e dos lugares nos quais se falava um português já muito mudado. Se ele tivesse prestígio, se poderia dizer que o português dos outros, o dos cultos ou escolados, é que é ‘decaído’…”
Trocando em miúdos, o ensino da gramática seria bem mais interessante se (1) pudéssemos contextualizar a noção de “erro” (que evidentemente deveria deixar de ter esse nome) em função do reconhecimento de que há normas distintas (o que, por sua vez, contribuiria para se combater preconceitos como os que informam as crenças de paloma); (2) passássemos a discutir a noção de “culto” e prestígio e suas implicações educacionais (o que nos remeteria à arbitrariedade e autoritarismo de certos [de todos?] processos seletivos institucionais).
Uma outra questão aí implicada nestas considerações: o português do matuto pode muito bem ser mais rico que o dos falantes letrados e urbanos (o perfil que temos de falante “culto”). Nem todo mundo que estuda é Caetano Veloso, não se esuqeçam disso! : - )
Little Salem,
É claro que o cara que vc viu na TV era um João Valentão!!
Desculpe minha forma direta de argumentação, contudo acho que vc romantizou não só o João Valentão quanto o carnaval do passado quando fala da “violência gratuita” e da “festa paga” do presente.
O carnaval sempre foi pago e de graça tb e sempre teve violência que não era menos violência do que a de hoje.
“São os velhos homens humanos (….)” Odeio citar Caetano no próprio blog dele, mas não resistí.
Como seu covardão estava batendo numa mulher ficou fácil para mim argumentar:
Todo João Valentão bate em mulher, só não bate em todas por que é sabido que elas apaixonam (me retifico antes do massacre: do ponto de vista deles). Existe uma hierarquia nisso, eles só batem nas que dão uma certa importância: tanto para se livrar quanto para se apaixonar.
O meu amigo citado no comment anterior também bate em mulher com a mesma teia de argumentações expostas.
E eu adoro ele,
por que não?
Vc vai gostar menos de Caymmi se o João Valentão for de verdade? E ainda assim capaz de amar e ser amado?
Esse é o ponto onde eu quero chegar Selem, por que vc não consegue amar a canção sem idealizar?
Oi Palomíssima
Não entendi porque você disse que adora a expressão “demorô” e acha…
“perigosas algumas citadas aqui como “caô”, “bonde”, “na moral”, “sinistro”, principalmente quando usadas por flanelinhas de estacionamentos mal iluminados.”
O que “demorô” tem que “caô” não tem?
Que negócio é esse de “flanelinhas de estacionamentos mal iluminados”?
Vejo que essa história de contexto serve tanto pra “aceitação” paternalista dos sócio-gramáticos, quanto para a “desaceitação” maternalista da classe-média amedrontada pela violência.
Na língua, violência também gera violência.
A expressão “flanelinha” nasceu com o crescimento do sub-emprego urbano quando começaram a aparecer os caras que se ofereciam pra limpar os vidros dos nossos carros nos semáforos. Com o crescimento dos assaltos, “flanelinha” virou sinônimo de “criminoso”.
Um belo exemplo de como a língua pode andar pra trás. Um caso de “assalto à gramática”, paraversando Wally Salomão. Aliás, “paraversar” é verbo intransitivo que não existe na norma culta.
Ri pra cacete quando você brincou dizendo que deve ser uma “verdadeira Maysa”. Foi simpático. Você tem todo jeito de ser uma mãe maravilhosa. Aproveite a língua dos seus filhos. Eles vão crescer trazendo muitas novidades na garganta.
é nóis no blog
salem
Oi Heloísa, obrigado por responder,
Minha experiência com o sertão vem de janeiro de 2008 quando meu tio Aurélio Vellame morreu em Caldas do Jorro – Tucano (56km de Euclides da Cunha, 80 de Canudos. A coluna Prestes passou por lá tb). Meu tio era jornalista e escrevia o editorial do jornal A Tarde. Um cara revolucionário que uma vez me entregou o editorial da véspera do pleito de Lídice para escrever. Detalhe: eu tinha 14 anos.
Fomos lá enterrar ele. Literalmente.
As cidades são devastadas pelo sol e uma religiosidade marcante, ainda hoje. E para a minha surpresa: pelo silêncio.
Eu sou de Salvador, a cidade de Exu, do barulho e da confusão. Salvador tem uma região em volta, muitas vezes banhadas pela baia de todos os Santos que é o recôncavo. São cidades igualmente festeiras e barulhentas como Salvador. Como som entende-se também conversa, gritaria, brigas gritadas e etc.
Lamento Sertanejo é o sentimento autêntico desse sertão de Tucano, Euclides da Cunha que conhecí: “Eu quase não saio, eu quase não tenho amigos” aqui na cidade grande do barulho e da agitação.
Viola meu bem viola é para mim uma cantiga alegre, e não um lamento, que me soa muito mais com esse lugar que é o recôncavo de Salvador do que com o sertão que para mim foi melhor retratado inclusive por um Peruano… Vc sabe quem.
Eu não entendo nada mesmo de literatura e crítica especializada, falo pelo que eu sinto e associo ouvindo as duas músicas e vivendo um pouco dos dois lugares.
vivemos num ambiente marcado pela violência que também se revela no uso da língua. frequentemente vemos mensagens trocadas por criminosos codificadas com palavras que desconhecemos a princípio. são “traduzidas” para indicar a intenção da comunicação entre “eles”. nosso espírito transgressor absorve nesses dialetos novas formas e processamos a violência contra a língua. mas não são somente os criminosos que codificam, as diversas tribos também procuram se diferenciar corrompendo a língua, como os surfistas por exemplo e, porque não, os internautas ( que horror essa palavra…), e tem evidentemente a língua estrangeira se projetando. tudo isso poderia ser chamado de ignorância, como noutros tempos, no entanto no mundo das megacidades as minorias são imensas…é muita gente, muito criminoso, muito surfista, muito internauta, muito tudo…então a língua sofre, corrompe, se altera. projetar a confusão não é a solução pra nada, há que se educar, buscar a norma, dar valor a midia, proteger a língua é política de Estado, interesse do cidadão. é nós, mas é nós o cacete…somos nós. na boa…
Teteco jamais definiria Hesse como um “romancista esotérico”, desculpa mais não tem nada a ver, muito pelo contrario, ele tinha um lado humano muito claro, e sua base protestante sempre calou muito forte dentro dele, tinha Deus dentro de si e essa foi a sua maior profecia. Narrou os conflitos do seu tempo, em Debaixo das Rodas conta da sua infância no colégio interno, em Demian fala de sua adolescência, da paixão por outro rapaz da mesma idade, fala de sexualidade, transfere para a mãe de Demian toda paixão que sentia mas não deixa de ama-lo, tinha horror a guerras, viveu na guerra e foi para o exílio porque não comungava com o que estava acontecendo em seu pais, era um cara da paz, em momento algum ele segue Sidarta, apenas o admira, o compreende, e consegue através das suas experiências uma aproximação estreita com a natureza e com os homens, ali aprende uma das coisas que mais me liga a ele, se despojar das coisas sem nunca perder os sentido e a importância delas, a autocrítica. Em momento algum ele deseja ou se coloca como uma divindade, nunca, em nenhuma obra dele isso acontece, ou faz ou ínsita algum tipo de culto que não seja Deus. Em todos os seus livros ele demonstra sua busca do equilíbrio em o Deus-homem-natureza. Eu o compreendo mais como um espiritualista. Desculpa mais esta sua observação me leva a pensar que, se você leu Sidarta não entendeu patavina. Realmente ele seria a antítese de Pound que era fascista declarado, que se envolveu com o fascismo aqui na Itália ate o pescoço, literalmente, porque chegou a ser condenado a morte por isso, não quero com isso depreciar as obras de Pound, mais somente estou dizendo que são pessoas de caráter opostos, um ínsita e participa da guerra o outro a abomina. Acho que literatura é uma coisa muito pessoal, ninguém precisa gostar deste ou daquele mas, para se tecer uma opinião a respeito tem que ter um pouco mais de conhecimento a respeito. Da mesma forma que prefiro Fernando Pessoa como poeta, ou ainda Castro Alves, Mario de Andrade, Camões, ou mesmo Dante, enfim, gosto de pessoas que passam um sentimento, que buscam uma compreensão existencial de si próprio, mais respeito o seu não gostar de Hesse.
Beijos e paz
tudo em caymmi é bonito como o mar da bahia, a frase final de joao valentão sintetiza o ser baiano: “porque não há sonho mais lindo do que sua terra não há” assim como “jogue uma flor no colo de uma morena em itapuã.
Lá de Cabo Frio eu também cantava “Nosso Sonho”, meus primos chegavam no verão com vários funks novos.
Penso em um dia fazer um trabalho que misture o funk carioca com o cacuriá do maranhão; tanto em relação ao corpor quanto ao som e as letras.
Quando dou aulas em comunidades vejo o poder e admiração que o funk exerce, crianças versando na hora, na lata. Enquanto os outros dançam ou fazem a percussão. Vai tudo muito além das gírias.
bjs.
pessoal:
estou tentado saber o que está acontecendo com esse sumiço de comentários - assim que descobrir a causa passarei explicações para vocês - mas peço logo desculpas pelo transtorno (seria bom, neste meio tempo, que todo mundo escrevesse em outro programa, salvesse o arquivo e só depois copiasse seu conteúdo para cá - para evitar perder horas escrendo e perder tudo)
sobre a leitura coletiva: seria melhor que fosse um livro que tivesse a ver com a obra em progresso, não seria? afinal este blog é dela, não dele, não meu… rsrsrsrs
Também não gostei de Sidharta, não lembro exatamente por que, mas quando terminei de ler o livro, fiquei com a sensação de que o Hesse tinha criado um outro Buda e não o Gautama. Faz tempo que li, por isso, não saberia argumentar com mais precisão.
Quanto a Caetano, também adoraria saber no que ele acredita em relação à religião, não a formal, evidentemene. Se bem que adoro a sua maneira zen de falar das coisas: ” as casas tão verde - rosa que vão passando ao nos ver passar, o outro lado da janela…….
“Penso que quem fala “vidro” e ainda tem energia para entender por que alguns falam “vrido” está em muito melhor condição do que quem só fala “vrido” e nem ouve a outra forma.”
Quando falei de “vrido” lá atrás, também lembrei da canção de Gonzagão.
Acho que posso me reconhecer nesa pessoa com energia e em boa condição. Em mim, o comentário conseguiu o que eu não consegui: me situar melhor.
Eu, que já falei bem aqui de Bagno, não posso não concordar com Caetano.
A simpatia que nutro por Bagno foi pelo fato de tê-lo conhecido e reconhecido em sua pessoa uma figura atraente, interessante, sincera, boa. Talvez seja essa simpatia que sentem alguns aqui pelo Pasquale (e eu acabei criando uma imagem antipática dele por culpa do Bagno…).
O que importa é que Caetano disse uma verdade muito grande com essa frase que Glauber e Salem destacaram.
Estou dividido aqui em meus pensamentos. Gosto muito disso. Vou ler um pouco mais de Bagno, quero conhecer melhor o Pasquale. Ou então nada disso, vou ouvir funk carioca, Caymmi, ler Pound e Verdade Tropical e me manter nesse momento vacilante e prazeroso.
No mais: viva Gonzaga e Caymmi.
Abraços amigos em todos.
meu querido Caetano Veloso, sei que possso chamá-lo assim pois você é muito querido mesmo! Lembro-me da minha infância e adolêscência na nossa querida Santo Amaro e eu convivendo com vc e sobretudo com a minha “irmã” Berré, a amada Maria Bethania para estudar e brincar e agora com a minisérie Maysa o meu coração desabrochou nas lembranças mais intensas desta cantora, ouvindo as suas lindas canções que falam de um amor maravilhoso e agora com a lembrança também de Edith, saudades imensas, infinitas… Estive com vc no Coro nas novenas da Purificação,quando falou-me dos muitos anos que não nos víamos.”! Saudade, torrente de paixão, emoção diferente….” Gostaria agora de falar mais com você, sobre esse cantor e compositor que faz parte da minha história de vida. Com carinho de Cecilia Dorea.
O texto do Guido é muito bacana.Vem novamente me atentar para o fato de que dentre todas as invenções já criadas,a da existência de alguma esquerda no Brasil algum dia é a maior das ilusões.Uma pífia utopia.Essa foi uma grande sacação tropicalista na época.Incomodou tambem e principalmente quem precisava mais do conceito esquerdista e seus ‘desprazeres’:a Ditadura.Não adianta o Caetano vir com dramas tolatélicos tipo “coitadinhos dos malfalados,malditos e coisitinhas tais dos tropicalistas” porque eles eram abilolados espertos.Rafael,o maravilhoso,indecente e irresistível carnaval de rua em Arraial do Cabo continua totalmente funk?Se nunca foi e se ainda existe,não perca.É fundamental.Como é fundamental que Dori Caymmi estivesse trabalhando e morando aqui.
encontramos caymmi em caetano: “na terra em que o mar não bate , não bate meu coração”.
Castello, é preciso estar atento e forte aqui: ‘Existe alguém em nós…que brilha mais do que milhões de sóis e que a escuridão conhece também…’são as belas palavras que Caetano escolheu para definir Tieta. O que meu caro poeta Teteco fez, esperto que é, foi ilustrar sua explicação sobre o mundo como periferia e o centro em nós mesmos, valendo-se de palavras que podem significar muito mais do que parece. Afinal, Caetano não é Caetano à toa. No mais, não li Sidharta, mas sei o que significou para nossa geração. E respeito.
Também respeito o ‘vrido’, a ‘abeia’ e a ‘talba’, Luedy. E sei, como você, por que essas palavras têm todo o direito de existir. Só que é engraçado: em música pode, é um ‘jeito bonito do sertanejo se expressar’. Mas de verdade não pode, é ‘errado’. Queria entrar nessa discussão, mas depois de perder a batalha do erre retroflexo com Caetano, fiquei sem forças para discutir. Anyway, já fui bélica demais aqui. Só quero que você saiba que concordo com quase tudo o que você defende. E não perca a esperança: a língua é mais sábia do que todos nós, os gramáticos e os linguistas juntos. É só uma questão de tempo. Inté!
E para mim, Marilia encerra o assunto: “… não é o falar “certo” ou “errado” (o problema do indivíduo), mas a impossibilidade de escolher e circular entre os diversos falares…”.
abrs Paloma
Salem,
Preciso de uma orientação: um amigo meu, que cursou até o 3º ano das séries iniciais por ter de trabalhar desde muito cedo e não poder continuar frequentando à escola, reclama sempre dos seus traumas e complexos por não saber falar “correto”. Eu tento consolá-lo, dizendo-lhe que a língua torna-se eficaz a partir do momento em que consegue cumprir com seu papel primordial que é o de estabelecer a comunicação entre os interlocutores da mensagem. Por exemplo: um lavrador (que como meu amigo não teve oportunidade de frequentar à escola, muito menos de concluir o ensino formal) ao fim de um dia exaustivo de trabalho, dirige-se à padaria e pede ao funcionário: “Me dá cinco pão!” e o funcionário prontamente lhe entrega os cinco pães. Tentei explicar para o meu amigo que se a língua tivesse mesmo posta nestes limites formais, o funcionário, em lugar de vender os cinco pães, pegaria uma Gramática normativa e lhe diria: “Infelizmente, o senhor não poderá levar os cinco pães, já que incorreu em dois erros gravíssimos de gramática, deixando de realizar a concordância nominal e a colocação pronominal adequada, conforme indicado nas páginas 89, 90 e 91, respectivamante.” Mas acho que isso não acontece, pelo menos não tenho conhecimento de nenhum caso desses. Entretanto, depois de todo este esforço argumentativo, meu amigo me diz que sou um hipócrita e que só digo estas coisas sobre a língua porque “sei falar bem”.
Como devo proceder nestes casos?
Obrigado,
Wesley
ESTOU REALIZADÍSSIMO, há muito espero saber o que Caetano pensava do autor da “História da Sexualidade” (que é bem legal. Adorei ter lido isto, imaginei o Caetano falando desse modo a uma multidão de “letrados”: “E não gosto de Foucault nada. Meu analista (que o conheceu) diz que ele era brilhante. Li As Palavras e as Coisas em 1967. Achei bonito. Mas depois vi tanto trecho de livro enrolação que deletei o apoiador do Aiatolá Komeini”. MUITO BOM!
Há muita enrolação mesmo! Mas há, também, os modos de “fazer filhor por trás” como Deleuze comenta naquele livro “conversações”.
Eis algumas deformações que fiz no modo de ver o tropicalimso a parti da leitura de Foucault:
Até que ponto os tropicalistas identificavam-se com pós-estruturalistas franceses como Derrida, Foucault, Deleuze e Guattari é nesse âmbito incerto. Certo é que Caetano é leitor de Nietzsche, Deleuze e Guattari. Interessamo-nos aqui justamente no sentido dito não político do Tropicalismo por concordarmos que o âmbito político dos tropicalistas lembra mesmo o conceito político teórico, o paradoxal conceito limite de uma destruição política do político a partir do qual torna-se compreensível também o seu conceito do político.
Os tropicalistas souberam como poucos dobrar a conceituação política, não necessariamente hostilizando filiações partidárias, mas tendo em si mesmos, aplicando a seus fazeres modos que evidenciassem outros maneiras menos heterônomas de um grupo pelo outro. Esta postura não abandonaria os trabalhos individuais de Caetano e Gil. Os tratamentos dados às composições enunciando sensibilidades religiosas e sexuais não visavam uma imposição de comportamentos mas uma reflexibilidade a respeito de estéticas diferenciadas de pensamento. Muito mais que representações uma verdadeira escola de pensamento era trazida pelas canções tropicalistas. O próprio fato da recusa pelos grupos de esquerda aos estilos tropicalistas evidencia uma opção pela recusa ao outro como uma inimizade pessoal e não como um diálogo vivo. Nisso, o diálogo dos tropicalistas com as outras vertentes culturais aproxima-se muito mais da amizade e da estética da existência, ao reformular constantemente as formas de pensamento.
Provavelmente, quando os tropicalistas tiveram a recusa de aceitação de seus diálogos com as vertentes “alienadas” da cultura, não fora opção destes o distanciamento, antes, mantiveram com os grupos e indivíduos desses meios não um domínio mas uma conversação. O tom supostamente “acrítico” das canções tropicalistas são exemplos do “jogo agonístico e estratégico no qual os indivíduos agiriam uns sobre os outros com “a mínima quantidade de domínio”.
A lista do livros lidos por Caetano começa a ficar bem interessante.
Luiz Castello adorei o seu depoimento, achei que você foi mais abrangente do que eu, algumas coisas que você colocou são muito certeiras: marcou uma geração, ruptura, abandono, o lado sombrio com o lado luminoso da alma. Na mesma época li algumas obras de Aldous Huxley que também era humanista, e idealizava um mundo diverso, não vejo nele a mesma espiritualidade de Hesse, talvez pelos seus conflitos internos constantes por causa da cegueira, também me marcou nessa época um livro de Jhon Steinbeck “A um Deus Desconhecido” e do mesmo autor “Ratos e Homens” uma brochurainha fácil e gostosa de ler, e somente para terminar por hoje Franz Kafka e sua “Metamorfose” embora o que mais goste dele seja “Um Artista da Fome”.
Jack Cardoso, ops… Jary Cardoso, isso que é vontade hein! Mais valeu teu esforço realmente muito lindo este texto, e demonstra sem modéstia a homenagem que Caetano fez naquele momento, muito bonito. E, esta ultima frase “com certeza, em algum outro lugar que não aqui, o samba deve estar muito mais animado”, me leva a uma reflexão alegre. Saiba que degustei de cada palavra para fazer compensar o teu sacrifício.
Tenho um grande amigo chamado Barbosa, musico de mão cheia, uma delicia de pessoa.
Beijos
Heloisa aproveita a dica do livro postado pela Paloma e da uma olhadinha, estou adorando, aproveito para agradecer pela disponibilidade do Baile Funk Carioca ao Hermano. Gosto muito como Caetano escreve, gostei muito de ler Verdade Tropical, fiz uma serie de anotações, aprendi tantas coisas ali que desconhecia por completo, talvez por não ter vivido este tempo, fui uma pessoa tardia em algumas coisas como política e sexo, meu amadurecimento foi lento mais intenso. Fiquei deslumbrada com a forma que ele deu a este post, ficou tudo tão lindo e equilibrado, de uma sensibilidade que toca lá no fundo.
Por falar em Vidas Secas minha irmã costumava dizer que não conseguia ler este livro sem pelo menos um litro de água do lado, isso para mim representava a autenticidade com que Graciliano narravas suas estórias, as dificuldades, aquela poeira toda que as vezes ficava entalada na nossa garganta a medida íamos lendo. Tenho predileção e admiração por muitos autores brasileiros, gosto do nosso Brasil e quando falo isso pra você ate os olhos se enchem de lagrimas de tão profundo e verdadeiro.
Caetano vi aqui na tv o grande show que esta acontecendo em Washington para a pré-posse do Obama? Fiquei emocionada com a festa, senti que existe uma grande parte da população que esta feliz com ele como presidente. Existe todo este fantasma de atentado que creio que o acompanhara em grande parte de seu governo, enfim, creio que voltaremos a falar dele, será?
Beijos e vamos ver se entra… hahaha
Wesley adorei o seu exemplo dos pães, lembra que a brincadeira em São Paulo é que paulista pede 1 chopes e 2 pastel? Pois é, como diria José Abelardo Barbosa de Medeiros, popularmente chamado de Chacrinha: “quem não se comunica se estrumbica”, creio bem nisso. A idéia principal é a comunicação mesmo, é interessante como vejo hoje pessoas que através da Internet se relacionam com outras pessoas de outros paises sem saber outro idioma. Usam o tradutor para auxiliar, símbolos, que são os gifs animados, e algumas expressões como que foram estabelecidas, não existe nenhuma diferença entre jajajaja… hahahaha… hehehehe… hihihihi, rs, acho isso maravilhoso, o mundo sem fronteiras, ou melhor, sem qualquer obstáculo. A criatividade que vejo no mundo virtual vai muito alem da língua com relação a comunicação. Tenho um amigo espanhol com quem converso algumas vezes pelo MSN e que certa me falou que eu era “única”, porque eu para faze-lo entender o que eu queria dizer quando me faltava a palavra em espanhol colocava a palavra em italiano e quando faltavam as 2 colocava logo em português mesmo e, ele ainda completava, o pior é que te entendo perfeitamente. Penso que é mesmo por ai, a comunicação não pode e não deve ter limites gramaticais, e, para desespero dos estudiosos não tem mesmo, a Internet, querendo ou não, se tornou o maior centro do “vale tudo” pela comunicação. Vamos ver o que rola por ai nos comentários.
Gil pode ser que esta bandeira tenha alguma coisa a ver com a posse de Obama, talves seja uma homenagem do cantor… pode ser… tudo pode ser!
Beijos emocionados
Tou achando que Caetano tá enrolando agente com essa coisa de “perdi meu comment”…
Deve tá na praia dos artistas ou no porto da barra…
Pamola e Joana
Meninas, precisamos aproveitar que Hermano deu o ar da graça, parece que topou a idéia da leitura coletiva e escolher um livro sintonizado!!
“Tou achando que Caetano tá enrolando agente com essa coisa de “perdi meu comment”…”
Deve tá na praia dos artistas ou no porto da barra…
hahahahaahahaha
esse comment de vellame me fez rir pacas!
hesse recria sidharta em seu livro, claro. acho que em menor ou maior medida, todo livro recria tudo que existe e está contido nele. é a visão de quem escreve. é o mundo passando por um filtro que é o olhar de quem escreve.
gosto de muitas idéias no hinduísmo, mas não faço parte de nenhuma religião ou doutrina. crença é cultura. fé é vontade. há bastante religião e doutrina no mundo. e pouca ética. deus existe? pra mim, não importa. compreendem?
Teteco desculpa acho que extrapolei, falei com paixão exagerada, obvio que cada um tem sua opinião pessoal a respeito das coisas, foi mal, mais já foi! Beijos com carinho, gosto muito de você.
“sem cais” e “por quem” me pegaram nesses últimos dias. discão, viu?! discão…
Espero que ainda seja em tempo Teteco desculpa creio que falei com paixão exagerada, obvio que cada um tem sua opinião pessoal a respeito das coisas, foi mal, mais já foi! Beijos com carinho, gosto muito de você.
Vellame
É claro que eu idealizo e romantizo o João Valentão da canção! Canções não são documentários.
Faz um bom tempo que não vou ao carnaval da Bahia e adorei ouvir de você que a “violência que não era menos violência do que a de hoje”. Que bom. Não sou um cara especialista nem informado sobre esse negócio de violência no carnaval. Tomo o que você disse como uma informação.
Quanto à palavra “paga” brincando com a palavra “pagã” não me referia aos custos de produção do carnaval. Falava de quem paga pra brincá-lo. O que (sobre isso estou informado) tem crescido em detrimento da folia “digrátis” de quem quer rosetá.
Não gosto de quem bate em mulher. Sou preconceituoso?
Wesley
Você consola seu amigo dizendo…
“que a língua torna-se eficaz a partir do momento em que consegue cumprir com seu papel primordial que é o de estabelecer a comunicação entre os interlocutores da mensagem.”
Cacete! Isso não é consolo! Isso é um tratado!
Não entendo nada sobre consolar pessoas traumatizadas pelo preconceito da gramática. Não conheço ninguém que padeça verdadeiramente desse mal. E olha que tenho brodagem em botecos, becos, padocas e tenho amigos analfabetos.
Pô. Fro cara desencanar, você também tem que ser desencanado.
Mete a língua!
beijo na testa
salem
também acho que Caets está na praia, de “Rai Bã”, tomando uma Coca cola, de sunga amarela. e enrolando com essa história de comentários (essa foi pro Gil) que se evaporam na rede desse saiber (pro Gil também) mar.
gosto muito dos argumentos de todos por aqui, somando algumas coisas, subtraindo umas bolas fora e dividindo os lucros, essa obra esta se saindo com muitos andares.
El tema por acá me supera y me acordé de mi amiga Laurie Anderson y su “Language is a Virus”. Me encanta y ahora sigo con mi “mambo” ya que no puedo agregar nada coherente a lo que están discutiendo. Me siento sapo de otro pozo. A veces parece que muchos por acá sufrieran de “incontinencia” verbal”, esto dicho con cariño y también me incluyo yo con mi “diarrea bucal” digamos que semanal. Los admiro por la capacidad de hablar de todo que tienen. Imposible seguir las discusiones en portugués, me pierdo y no entiendo ni la mitad de lo que “hablan”. Exequiela y Vero, algo en español por favor.
Antes que nada, Exequiela, gracias por soñar por mi. Te cuento que el fin de semana siguiente a tu sueño y a mi muerte virtual me ocurrió algo gracioso. La madrugada de ese domingo me encontró en la casa de unos amigos en un balneario cerca de Montevideo, totalmente desvelada e incapaz de conciliar el sueño. Daba vueltas y vueltas en la cama sin poder dormirme, incapaz de soñar algún sueño mío hasta que en una me doy cuenta que estoy soñando despierta tu sueño. Dada la hora avanzada, me fue imposible pedirte permiso para hacer uso del mismo y menos contactarme con tu representante de los sueños para arreglar las condiciones y el pago de los derechos de autor correspondientes. Espero que no te molestes. ¡Juro que tus discos los compraré!. Se que Joaldo es tu representante artístico pero no se si maneja también el asunto de tus sueños.
En fin, me tomé el atrevimiento de realizar algunas modificaciones (dejé a Joaldo y a ti afuera y cambié Amaro Oh! por otro lugar) y me dediqué a soñar tu sueño un rato hasta que en una me debo de haber dormido, incapaz de recordar el momento exacto en que esto ocurrió como suele suceder. Pegado a la casa en la que intenté conciliar el sueño también dormían aparentemente en ese momento una pareja con 7 u 8 niños y adolescentes de entre 5 y 15 años que nunca habíamos visto y estaban alquilando esa casa. Habíamos estado el sábado preguntándonos si serían todos hijos de ellos y en caso de ser así la conclusión a la que arribamos es que o eran extraterrestres o del Opus Dei (con los debidos respetos).
El asunto es que alrededor de las 10 de la mañana del domingo me despierto con el sonido de una guitarra y un coro de niños que cantaban y agradecían al Señor. Lo primero que pensé es que me venían a buscar del más allá virtual y que dado que había sido buena, un coro de ángeles me acompañaba mientras hacía mi ingreso al paraíso virtual.
Luego de esta confusión inicial me di cuenta que el sonido venía de la casa de nuestros vecinos y me dije ¡Bingo!, creo que acertamos. ¡Juro que es verdad!. Me puse a vichar por la ventana, tapada por una cortina y vi a toda la familia sentada alrededor de una mesa mientras desayunaban y cantaban. Me quedé mirando toda la ceremonia y me encantó. Me recordó a cuando iba a la iglesia con mi abuela y como me gustaba cuando cantaban. A partir de la muerte de mi querida Abu he estado lejos de la práctica de cualquier culto religioso y aquí lo relaciono con mi dos “otros” y con algo que comentó Joaldo. El dice que en su viaje a Santo Amaro se encontró con un Caetano sencillo, etc. etc, y hace referencia a la idealización que de su persona tenemos algunas de las mujeres por estos lados. Yo digo que si, que lo tengo totalmente idealizado y que a veces pienso que es una de las maravillas del mundo. Me encanta pensar así, me divierte y me hace reírme de mi misma. Pienso que lo más cercano a la práctica de un culto religioso que he vivido es el seguimiento de las páginas de los dos “otros”. Pero bueno, es una fantasía obviamente y de ahí a pensar que sean Dioses, bueno, no se, estoy exagerando un poco.
Pero si, digamos que son mis “Dioses” aunque en el fondo se que no lo son y es mejor que así sea. Acepto que me encanta pensar así y sobre todo me divierto un montón con mis rituales muchas veces ridículos, con mis “plegarias” , mis “rezos” y mis enojos. A veces se complica un poco cuando me viene un fervor religioso demasiado intenso y mi conducta comienza a preocuparme. En estos casos opto por darme una ducha fría, salir a caminar o distraerme con lo que sea hasta el siguiente ataque de fanatismo. No me gustan los fanatismos religiosos, bueno, los fanatismo de ningún tipo y así la voy llevando. Digamos que estos comentarios son como una especie de “ofrenda” a mi “Dios”. Aunque me di cuenta que mi religión tiende a ser monoteísta. Eso de “adorar” a dos dioses al mismo tiempo me agotó realmente y ahora pienso que quizás por eso decidí morir virtualmente para uno. Si, soy mujer de un solo Dios. Aunque no tan así, es una mezcla “rara”. O sea “creo “ en los dos, me acompañan siempre al igual que otros Dioses menores pero sólo puedo realizar “ofrendas” a uno a la vez.
Si, ahora me di cuenta de esto y es por eso que no reviví por ahora. Aunque esto puede cambiar. ¿Cuándo esta OeP termine volveré a mi culto con el otro?. No se, por lo pronto espero que dure un buen tiempo más. Me encanta asistir a este templo. ¿ Y Verdad Tropical vendría a ser la biblia entonces?¿Y Hermano que vendría a ser?.
Supongo que un cura “confesor” de alguna manera. Todos “confesamos” algo por acá, comentamos cosas y él lee todo, “castiga” a veces y otras supongo que debe reírse y decir algo como “que la paz sea contigo”. ¡Hermano, vigílanos pero no nos castigues parafraseando a Foucault que ha sido nombrado por acá!. A veces también pienso que en lugar de un templo esta OeP es una especie de “carcel” que nos tiene a muchos atrapados y no nos deja salir. O un hospital donde a veces venimos a “curar” algunas heridas o una escuela donde venimos muchos a aprender y aprehender. En fin, supongo que es una mezcla de esto y muchas cosas más. Por lo pronto mi ofrenda del día de hoy termina por aquí.
Joaldo, espero leer algo más de tu viaje a Santo Amaro antes de irme de vacaciones. No nos dejes con la intriga por favor. Me encantó tu forma de referirte a Vero, adoré eso de Verinho. Muy dulce por cierto.
o sertão de gil é um retrato cantado para alem do sertão…é lamento é solidão é demonstração de força é identidade cultural pelo determinismo do espaço.
mas a gravação definitiva pra mim é de dominguinhos
bjs
ps:penso num belo horizonte…..rsrsrsrs.
sou como res desgarrada nesta multidão boiada caminhando á esmo……cacilds aí eu fico com os olhos cheios d agua….
http://www.youtube.com/watch?v=qVeml5Adnm4
Xi, pus um texto grandão do Tarso de Castro, engraçadíssimo, e ele foi pro vinagre…
não. não entendi.
2] quanto à bandeira americana no show do elton john, acho extremamente previsível sua opinião. e é extremamente compreensível pra mim que você não entenda. vou lhe dar uma dica: a música que o elton john faz [e que mudou sua vida], é americana. não inglesa.
4] e velhinho, na boa, seu jece valadão tá soando meio j. edgar hoover. oh well, whatever, nevermind…
Paloma e Joana (dois nomes massa)
Meninas, precisamos aproveitar a aparição de Hermano e escolher um livro!!!
Salem,
Obrigado. Muito obrigado mesmo. Você operou a catarse em mim. Brigado de novo.
Wesley
Hermano,
Que alívio! Pensei que minha lista de livros tinha sido censurada pela sua falta de relevância! Enfim, nada pessoal é coisa de bug virtual mesmo, ufa!
Joaldo, Joaldo, Joaldo… Essa demora está entre a perversidade e o egoísmo…
Bjs (menos pro Joaldo)
OBAMA É ORFEU!
Viva Barack OBAMA!
pôxa, eu também fiz um comment do cacete segundos atrás…
(dizendo pra Miriam que jamais peguei ou pegaria mal com ela, pelo fato dela defender Herman Hesse e detonar Pound e tentando explicar à ela que o apoio de Pound ao Mussolini foi tão somente um “desvio ideológico” mais na tática de Galileu…salvando a própria pele)
…mas o texto sumiu misteriosamente nesse mar eletrônico.
vai nessa OBAMA !!!
Teteco dos Anjos, deixe o poeta seguir sem explicar o poema, pô. Como você disse, ele já fez Peter Gast. Já falou do oculto que no entanto é óbvio. Entre outras. Quer mais que isso? Aí já é, como advertia Jobim, querer cheirar as chinelas de Stravinsky.
Caetano, um reparo histórico ao Verdade Tropical: Rogério nunca foi professor da Escola (Superior) de Desenho Industrial do Rio. Pior pra ela, diga-se. Foi meu mestre no MAM, em ‘65, num exaltado curso de tipografia. Na verdade esta era mero pretexto, Rogério nos dava conta do mundo e da teoria, como você bem pode imaginar. Mas nos passou também o assunto da matéria com um grau de entendimento e paixão que nenhum professor da dita escola, que frequentei depois, demonstrava. Recentemente ele postulou, num concurso, uma cadeira por lá. Perdeu. Os caras não têm a menor idéia…
: - )
prezado caetano veloso,
espero encontrá-lo e aos seus com toda saúde e disposição.
Beijo.
Talvez te sobre tempo<. “odeio”?
Hermano, sem problemas! Já aconteceu isso no meu blog, o programador deu um jeito, e até hoje honestamente nunca entendi o que acontecia.
Pra mim, é como se fosse um Triângulo das Bermudas ou algo do gênero. Faço de conta que acredito, mas não acredito para manter meu ceticismo de birra espanhola, de todo modo vi a coisa acontecer, com estes olhos que a terra não comerá, pois sou imortal
guto, tô indo pra outros lados mas já ouvi falar de sonora e j. mayall é tudo! aproveite tudo aí…se pudesse ia guto, vou sempre pra esses lados também, eu gosto até de miami e os melhores dias da minha vida passei em nova york, volto sempre. gosto dos americanos e dos ingleses, o amor da minha vida mora em londres, foi estudar, fez faculdade e hoje trabalha e vive por lá. vou sempre que posso. se parece no que digo alguma coisa diferente, ou releia de novo ou me expressei mal…ou o problema não é meu. gosto tanto deles que quero muito de lá aqui também. eu quero ser nacionalista como Barack Obama entende?
A BÍBLIA !
E já que a Bíblia caiu na minha cabeça … costumo dizer, sobre os comentários abduzidos ou quando qualquer outra coisa que espero não acontece, sem motivo aparente, simplesmente : ‘deus não quis!’
abrs Paloma
A bandeira norte-americana no show do Elton John provavelmente é um aceno para o Barrack, e o povo que o elegeu - ou melhor, um suspiro de alívio pelo fim da Era Bush. Essa é a forma que encontro para justificar o que muito provavelmente é justificável, já que o Sir Reginald não é nenhum idiota - muito pelo contrário.
Não me incomodam tanto as palavras inglesas que usamos no nosso dia-dia (como não me incomodam as francesas, ou as árabes) - me incomodam, sim, as traduções toscas de “formas de falar” americanas. Quando dizem “evidência” (evidence) ao invés de “prova” ou “pista”, quando usam a construção (tão popular entre os atendentes de telemarketing) “Estaremos enviando…” (que é igualmente irritante na sua forma original - “we’ll be sending…”) que chegou aqui por tradução. Sou a primeira a admitir que eu muitas vezes acabou inventado palavra traduzida, e quase morro de vergonha.
Eu cresci viciada em internet e videogames - se eu não soubesse falar inglês seria por uma completa e acachapante falta de vontade de prender!
Vejo agora o meu irmãozinho aprendendo sobre futebol (e quem aprende sobre futebol aprende sobre o mundo) jogando a versão bucaneira (comprada na Uruguaiana), made in Brasil de um jogo japonês para PlayStation 2 em que os genias piratas substituem tudo por referências brazucas - músicas do Tim Maia, narração do Galvão Bueno, comentários do Noronha, símbolo do SportTv no canto da tela, e todos os times do brasileirão, com os jogadores representados fielmente. Sempre que muitas novas contratações são feitas, sai uma versão nova do jogo com os jogadores novos em seus respectivos times.
Isso tudo é pra dizer que, no fim das contas, a gente consegue transformar o que vem de fora em alguma coisa nossa (mesmo que para o mal, como a versão Tropa de Elite do GTA). Põe o Galvão no Winning Eleven, põe atabaque no Miami Bass.
J.
Heloísa,
já assistiu “Viva São João!”, de Andrucha Waddington?
No final do filme Gilberto Gil carrega à décima potência a transmissão do que é para ele o sertão, através de sua poética milagrosa. É de arrepiar, de chorar de emoção, como em “Lamento Sertanejo”.
O que ele disse no fim do filme me trouxe viva a imagem do rosto áspero, forte, rude e de olhar doce de meu avô, nascido em Almino Afonso, no sertão do Rio Grande do Norte. Meu pai, potiguá de Patu, mais sertão que agreste, chorou igual menino quando assistimos o filme no Canal Brasil.
Um pouco da fala de Gil (com o perdão pelas falhas de minha memória):
“O sertão é como umbu, azêdu. Mas doce, muitcho doce quando é doce.”
Pessoal,
antes do conselho de Hermano, eu já vinha escrevendo meus comentários no bloco de notas, copiando-os para cá depois de salvos.
Nunca perdi um comentário. Acho que é uma boa forma de não perder “comentários do cacete” por aí…
A proposta herética e criativa contra a ortodoxia da esquerda do “o que a esquerda deve propor” é interessante, mas creio que não a obra afins com o “Obra em Progresso”. Minha sugestão seria mesmo o VERDADE TROPICAL (gosto muito), mas, nem isso, um livro-obra saído do blog mesmo, talvez…
Castello, Glauber e Carolina (e quem mais me chama por aqui)
Não tenho podido acompanhar o compasso da OeP nos últimos dias, muito envolvido em concertar todo o patrocínio inicial que permitirá pôr a nave da Impertinacia no ar - algo mais capital neste momento que a discussão do próprio pré-piloto: a rolar a qualquer instante dentro de um grupo dos mais ativos infocaetanautas e mais uma pessoa de fora.
Realmente, exatas 24 horas após minha ida para a inesquecível festa em Amaro-oh!, e num jato contínuo, escrevi um comment-dromedário sobre a bela noite que desfrutei na terra de Caetano. Mas, como já relatei a todos, após várias tentativas não consegui postar, pelas dificuldades técnicas que esta OeP passa, e das quais nem o Caetanino escapa, como pude conferir mais acima.
No último domingo, eu ia fazê-lo. Mas saibam que no Internet Explorer o site não parava de carregar. No Firefox, carregou, mas travou e o browser pedia pra ser reiniciado. No caso do IE, eu estava somente com a janela do OeP aberta. No caso do Ffox, eu estava com o Gmail aberto também.
Saibam que eu me senti muito feliz transmitindo todo o carinho de vocês ao Caetano, e fui recebido ternamente por ele e sua família - andei antecipando aqui! Acontece que refiz, sem alterar no essencial, o meu diário de bordo da viagem, que passa a ser uma obra em vários momentos praticamente coletiva com Gilliatt, Exequiela, Vero e Julio Vellame, com quem conversei tanto por outras bandas virtuais, e com o último pessoalmente, durante a semana. Será algo que contará com trilha sonora e visual!
Postarei antes de retornar a Santo Amaro pra ver o show de Caetano e Bethânia (creio que o show será com ela também) na noite da próxima sexta. Rodrigo Veloso me convidou para aparecer e aproveitarmos para desenvolver o papo sobre o ideário de implantar um circuito de Cineclube lá.
Vamos comigo Julio Vellame? Chama o nosso astrólogo Fernando!
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É com muita alegria e entusiasmo que comunico aos amigos a entrada para a empresa que ficará à frente da publicação da Impertinacia da miriamilucíssima: a Miriam Lucia! Estaremos nos encontrando em Sampa no mês que vem para formalizarmos a sociedade comercial. Ela vem se associar comigo, e atuar conjuntamente com minha parceira de orquideário desde a primeira hora: Exequiela!
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Mano Glauber, preciso de uma interação pessoal o quanto antes contigo. Eu te passei meus fones por e-mail. Saia da toca virtual, rapá! Lembra do papo da rádio web?
Adoro o “You is” de Porgy & Bess.
Também gosto muito de funk e acho o livro do Hermano um acontecimento. Mas queria que o funk acabasse e que, acabando, pudéssemos passar logo adiante, pra um capítulo parecido com aquele em que chegou a história do samba — que já conseguimos cantar livremente abstraídos das misérias e dos preconceitos que o fundaram e o perpetuaram.
Por fim, a despeito dos muitos trabalhadores mortos na sua construção, trocaria na boa a ponte Rio-Niterói por mais uns anos de vida pra Maysa — que eu me recuso a ver e ouvir como aquela mulher-mala total dessa minissérie que acabou de acabar.
Que medo é esse do certo e do errado? Será que tudo é mesmo relativo? Será que se os nossos filhos falarem “pobrema” nós vamos ver beleza nisso e não os corrigiremos? É certo ou errado corrigir? Será que as pessoas que não estudaram preferem não ter estudado? Será que esse blog existiria sem que seus participantes tivessem passado por escolas formais? Será que era melhor que esse e outros blogs não existissem? E se todos nós falássemos “nós vai” conseguríamos nos entender melhor?
Vellane, você até pode não entender de literatura e crítica, mas sua explicação sobre os sertões da Bahia foi belíssima. Obrigada.
Miriam, amo os livros desde sempre, de uma forma que o tempo só faz aumentar. Por isso, sua emoção ao falar de literatura brasileira acerta o alvo de uma forma que me enche os olhos também. Baci, linda!
Paulo Osório, eu já ia dar meu grito, mas você se adiantou: também viro fera ferida quando falam mal de Eça. E me irrita essa ideia de que é antiquado, ultrapassado. Tenho aqui, encadernada e ilustrada, uma monografia sobre ‘A cidade e as Serras’. A partir da narrativa de Eça, pesquisei a literatura de várias épocas e nacionalidades, até os jornais de hoje, abordando a polarização cidade/campo e os efeitos da tecnologia no cotidiano. Quando terminei minha apresentação, todos na sala choravam. Digo tudo isso só para destacar o frescor e a atualidade de uma obra escrita no século XIX. Viva Eça!
Nelson, você definiu o lamento de Gil e Dominguinhos da mesma forma que eu o sinto. Apesar de mal conhecer o sertão, sempre me emociono com a rês desgarrada. Porque é como me sinto, muitas vezes - coisa de quem mora na terceira margem do rio. O sertão é mesmo dentro da gente. Obrigada pelo carinho e pela música.
E viva Obama!
Teteco, meu poeta, isso é tão lindo que precisa ser repetido hoje, muitas vezes.
Seria Obama um pós-hippie?
Minha cara Heloisa,
Gil e Glauber: calma meus caros… Bom senso… Então???
glauber, eu mereço, vc tem toda razão, perdi, pronto…vou tratar dos modos pode crer…siga em frente, prometo melhorar os modos. abração
Rafael,passei dois anos seguidos o carnaval em Arraial do Cabo e nos dois passados não.E infelizmente,viu?Jamais imaginaria que naquele pedaço de paraíso do azul mais transparente marinho inspirador do “Barquinho” da turma da bossa nova acontecesse a magia de um carnaval funk translumbrante a luz do dia.Talvez por Arraial ser a mais pobresinha,abandonada,largada,decadente e esquecida das cidades da região,a moçada que vem das perifas do Rio tem ali condições econômicas de bricar o carnaval na praia.E muita gente linda,gostosa,educada e divertida.Mas para variar tinha os que queriam acabar com a festa.Por isso é que o “Garoto do Arraial do Cabo” e de toda região dos lagos deviam ficar mais atentos para o umbigão narcísico e irrestível que é a cidade do Rio de Janeiro e sua proximidade,capturando demais as atenções para si somente si mesma.Alías o Rio acaba por tambem sofrer com essa detenção de seu deslumbre.Incha!
Esse comentário da Lícia é maravilhoso, porque ela expõe as questões de modo direto. É quase como se ela fosse aquele lateral que levanta a bola na área pra gente cabecear. Espero que consiga fazer o gol.
Essa não é uma questão qualquer, Lícia, eu sei disso: a gente não quer que nossos filhos, que nossos amigos, que as pessoas sejam ridicularizadas. Mas tudo muda quando compreendemos que há uma razão de ser para isso, não?
Agora, se você me pergunta se eu corrigiria meus filhos, caso eles falassem “pranta”, eu te diria que tentaria fazer com que eles aprendessema lidar com as duas modalidades: a modalidade considerada de “prestígio” e a própria modalidade usual deles. Isso é uma vantagem? Sim, creio que sim. mas essa vantangem não me faz ridicularizar ninguém que fala uma modalidade distinta da minha. Pelo contrário, acho bonito perceber as diferenças.
“Será que esse blog existiria sem que seus participantes tivessem passado por escolas formais? Será que era melhor que esse e outros blogs não existissem? E se todos nós falássemos “nós vai” conseguríamos nos entender melhor?”
Se alguém me diz “nós vai” eu entendo o que se quer dizer, perfeitamente. O problema não é esse, portanto. Mas concordo contigo, buscar dominar o idioma através do estudo (que não se reduz a reificar uma única modalidade; e que nem é aquela que se encontra congelada nas gramáticas normativas tradicionais) é algo que deve acontecer na escola, preponderantemente, uma vez que é a ela que atribuímos papel socializador e democratizdor do conhecimento. Enfim, precisamos de uma norma padrão, mas não temos porque apagar as diferenças e nem ridicularizá-las,menosprezá-las.