Estúdio (10/09/2008)

ESTÚDIO
10/09/2008 3:33 am

Quero contar tudo sobre as gravações. Mas não entendo muito sobre a parte técnica. Houve aí quem peguntasse se fizemos muitos overdubs. Bem, isso eu posso responder. Não fizemos muitos overdubs. Quase não fizemos overdub nenhum. Pedro Sá gravou detalhes rítmicos de guitarra sobre uma das bases que fizemos para “A cor amarela” (fizemos duas). Gravamos doze bases (a última a ser gravada até agora foi a de “Ingenuidade”, samba que nem tinha pensado em gravar mas que a batida trans de Marcelo puxou para dentro do disco). Talvez hoje à noite (quarta) gravemos outra (uma canção nova, que nem acabei de fazer ainda, sobre Aveiro, cidade querida de Portugal).

Pedi a Moreno e Daniel que escrevessem sobre a parte técnica. Eles estão muito ocupados, todos os dias armando o set de gravação - além dos outros trabalhos que têm (Moreno me fez chorar com uma gravação que trouxe dele cantando, com arranjo de Jaquinho Morelenbaum, da canção americana “How Deep Is The Ocean”, em versão para o português brasileiro feita por Carlinhos Rennó, para um disco de obras-primas de compositores judeus americanos; ele e Daniel estavam acompanhando a mixagem do pocket-show do “A Foreign Sound” que fizemos no Baretto, no Fasano de São Paulo, para o DVD do filme “Coração Vagabundo”, de Fernando Andrade). No nosso disco, eles estão usando uma mesa EMI que era novidade na segunda metade dos anos 60 e hoje é tecnologia “vintage”. Contaram que “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” foi o primeiro disco gravado em uma dessas. Depois era numa igual que Jimi Hendrix trabalhava no Electric Ladyland. A daqui veio para o estúdio da Odeon, em Botafogo, depois ficou esquecida em algum lugar aonde fora para ser consertada. O dono do Estúdio AR, onde estamos gravando, a resgatou mas não a usou logo: precisava ainda de reparos. Ficou num depósito até não faz muito tempo. Parece que o grande produtor Mário Caldato fez nela o disco da adolescente paulista que ficou famosa pela internet (estou velho e os nomes próprios não vêm à memória com facilidade - sobretudo às quase 4 da manhã, depois de gravar e compor: com o nome do Bagno foi assim; não era desejo de mostrar desprezo). Bem, agora, depois de escrever esse parêntese todo, lembrei: Mallu Magalhães. A mesa parece feita de manches de avião. Tomara que Moreno esteja tirando fotos dela (vejo-o às vezes com uma camerinha digital na mão). Tudo está sendo gravado através dessa mesa, em fitas daquelas largas e de dorso preto que se usava antigamente (hoje em dia é quase sempre tudo no ProTools, tudo digital). A gravação (e a reprodução) analógica soam mais nuançadas e têm os graves profundos e os agudos macios. Moreno, Pedro e Daniel me disseram muitas coisas sobre a técnica de gravação que estamos usando. Mas vou esperar que eles escrevam para a gente postar aqui. Overdubs quem vai fazer sou eu: toda a voz e o violão serão gravados depois. Por enquanto só posso fazer guias de violão e voz. Não que a gente não quisesse gravar algumas coisas junto. Mas é que no estúdio, do modo como se pôde dispor as coisas, não dá para gravar essas coisas frágeis sem que haja vazamento. Mas o que temos sem mim é muito bonito (sinceramente acho que, na maior parte dos casos, ficaria mais bonito assim mesmo, sem mim, mas não sou insuspeito para opinar - nem posso dizer que abrimos mão do cantor cujo nome vai na capa do disco). Pedro Sá é o Pedro Sá. Mas noto que Ricardo Dias Gomes tem criado verdadeiras peças com o baixo: ele não apenas pontua e sustenta a harmonia: ele compõe estruturas riquíssimas, que a gente entende como arquitetadas mas percebe que foram espontâneas - é muito emocionante. E esse mote de “transamba” estimulou Marcelo a glosar de mil modos surpreendentes e intrigantes: seu som divino de roqueiro elegante vai aqui ao encontro da história do samba em sua vida.

O parêntesis (viram que escrevi essa palavra de duas maneiras?) do parágrafo acima contém afirmação que pode levar as pessoas a crerem que sou modesto (ou que quero parecer modesto). Não sou modesto. Desconfio sinceramente que o que ouvi hoje, sem minha voz e sem meu violão, vai ser um pouco estragado quando eu entrar. Mas talvez só para mim. Tem pessoas que me acham chato, atrasado, devagar, por fora, inautêntico, subdesenvolvido - no fundo concordo com essas pessoas. Não totalmente. Mas tem um lugar central em mim que vê tudo o que faço e sou como desagradável. Talvez seja um aspecto do narcisismo, uma dor vaidosa, a mesma coisa que fazia João Cabral lembrar sempre mais de quem falou mal dele. Na história de Bukowski que contaram aí, eu li pensado que o cara ia dizer que me achou parecido com Bukowski, não com a mulher que chiou por ele não gostar de Shakespeare (na verdade às vezes fico de saco cheio com a shakespearemania, tipo Harold Bloom, e adorei saber que Bukowski - escritor por quem não me interesso muito - disse que o detestava). Na verdade me identifiquei duplamente com ele nesse lance. Pelo dito sobre Shakespeare (embora eu acredite que Shakespeare seja mesmo genial) e pela obsessão por quem o reprovou por isso. Acho que Sylvia Colombo e Jotabê Medeiros sabem que minha reação foi política e nada pessoal (se é que é com esse caso que o comentarista está fazendo o paralelo). Eu próprio não mereceria um elogio especial por meu trabalho no show sobre Jobim. Mas Roberto cantando Jobim é, em si mesmo, um acontecimento tão importante que não pode ser desmerecido sem criar revolta. Minha presença lá também dava valor histórico ao lance: fomos Gilberto Gil e eu a chamar a atenção da crítica séria para a importância da Jovem Guarda. Filhos rebeldes da bossa nova, os tropicalistas fizemos o curto-circuito entre o fino e o brega - e dissemos que Roberto estava, desde sempre, acima de classificações. Seria preciso um show escandalosamente desastroso para justificar a má-vontade dos críticos de Sampa.

Gosto mais de São Paulo do que do Rio por mil razões. Até as que resultam em erros canhestros de perspectiva como o do caso acima. Ontem revi “Daunbailó” na TV e lembrei dos tempos heróicos da Ilustrada, com Matinas (de quem tenho tanta saudade - pessoal, não necessariamente profissional) e a abertura para um gosto internacional, uma reação saudável contra o ensimesmamento do Brasil. Mas as mil razões para amar Sampa ficam para ser desfiadas depois. Agora é dormir para gravar. Ah. Li todos os comments. Tive vontade de responder a vários trechos de vários. Mas agora não dá.



32 Comentários sobre o Post “ESTÚDIO”

  1. Sílvio Osias disse:
    Setembro 10th, 2008 at 7:08 am

    Caetano,
    O nome de Matinas me remeteu ao vídeo “Circuladô” (não era ele o seu entrevistador em off?). Aquele material tem algumas poucas imagens suas e de Gil em Salvador no período entre a prisão e o exílio, em 1969. Pois bem: Vladimir Carvalho me contou, certa vez, que as imagens foram feitas por Walter, o irmão dele, e que elas são muitas, um verdadeiro documento daquele período. Onde estão essas imagens? Elas ainda existem? A lembrança de Vladimir corresponde realmente ao que foi feito por Walter? A curiosidade tem a ver com minhas obsessões pela memória e talvez tenha sido reacendida, aqui, não só pelo nome de Matinas, mas também pela menção à mesa do “Pepper”. E tem a ver sobretudo com o fato de que, no Brasil, não se cuida bem da memória. O próprio Vladimir sabe disso, quando sai atrás de imagens para os seus documentários e não as encontra.

    Ainda Roberto Carlos. Neste texto “Estúdio”, estão, afinal, as suas impressões sobre a importância de Roberto cantar Tom e sobre o valor histórico da sua presença ali ao lado dele. Não tenho dúvidas de que os tropicalistas (neste caso, muito mais você do que Gil) são responsáveis pela inserção do Rei num terreno ao qual ele dificilmente teria acesso. E como seria injusto se esse acesso lhe tivesse sido negado!

    Abraços,
    Sílvio Osias

  2. Luiz carias disse:
    Setembro 10th, 2008 at 9:11 am

    Ola, lendo, relendo, não há como negar que Caetano tá sempre acima e a par de tudo.
    MAlu Magalhães é uma nova cantora, que me ncanta pelo su modo de cantar, compor e criar, ela mesmo tocando vários instrumntos com seu som “fox”, acho que assim que ela o denomina, é linda v^-la tocando violão e cantando.
    Já Moreno, é algo acima do normal também, revendo gravações em dueto com seu pai(Caetano), é algo que alegra, emociona e nos faz ver que o talento sempre fala pelo talento.
    Caetano e Moreno são crânios com QI acima de todos os músicos no mundo.
    E gostaria de ver ou ouvir no cd ou dvd, as canções novas que sairão no disco, e a gravação magnifica de Be kinds to you parents, qu não há palavras que exprimam a delicadeza e a beleza com que esta canção foi criada.
    Gostaria de saudar mais uma vez meu ídolo mór Caetano, ao qual sempre hidolatro onde quer qu eu vá, e como quer que eu lá chegue.
    Grande abraço do fã Luiz Carias.

  3. carlos gomes disse:
    Setembro 10th, 2008 at 10:16 am

    Caetano, vi uma gravação da canção Por quem, feita em aveiro, só voz e violão, na verdade é um vídeo que está no youtube, neste vídeo você fala da vontade de fazer uma música sobre aveiro…
    Vi repetidas vezes este vídeo e mesmo gostando da banda cê, me emociono mais e encontrei a canção dentro de mim ouvindo só com sua voz e seu violão… parece pouco mas às vezes é só isso que basta pra emocionar-se infinito.

    ps. Estou escrevendo um livro (está em progresso) que se chama “Nome aos bois”, os poemas estão no site organizado por Hermano Vianna, todos os poemas são nomes de pessoas, acabei de fazer um que se chama Caetano Veloso.

    http://www.overmundo.com.br/banco/caetano-veloso

  4. Gilliatt disse:
    Setembro 10th, 2008 at 10:36 am

    “Ingenuidade”? Aquela que a Clementina gravou no disco em que ela também faz “Imcompatibilidade de Gênios?” Que maravilha! Será mais uma prova de que, ao contrário do que você teme, sua voz só engrandece as canções, Caetano - o que se constata com maior evidência quando grava canções já conhecidas.
    Mas por que não guardar também uma faixa instrumental pro CD? Poderia ser “o” transamba, com destaque pra todos os timbres e grooves desse “estilo” (será que podemos chamar assim?) cujo nome já tinha aparecido nos anos 70, mas só agora adquire sua identidade musical.

  5. Gilliatt disse:
    Setembro 10th, 2008 at 10:47 am

    PS: “Incompatibilidade” mesmo é a minha com o teclado. Perdoem o “m” antes do “c”.

  6. Kubitschek Pinheiro disse:
    Setembro 10th, 2008 at 11:03 am

    CAETANO a impressão que a gente tem e é verdade, seus comentários no blog tem lhe trazido para perto, cada vez mais das pessoas que gostam de sua obra e até daquelas chatas que acham Caetano um saco. Tomara que o disco chegue logo, o transqualquercoisa. Sou jornalista paraibano, amigo de Silvio Osias.

  7. Bruno Guimarães disse:
    Setembro 10th, 2008 at 12:09 pm

    agora eu gostei…………Viu, Fernando?!

  8. Fernando Salem disse:
    Setembro 10th, 2008 at 1:51 pm

    Corrigindo erros de digitação:

    Eu ando dizendo em meus coments que não tenho tanta curiosidade sobre os bastidores da gravação do novo CD, quanto pelos posts de Caetano a respeito de assuntos variados.

    Depois desse novo post ESTÚDIO tive que parar pra pensar na razão dessa preferência. E humildemente encontrei a resposta: ciúme.

    O ciúme lançou sua flecha preta na minha direção. Como músico, tenho uma confessável e saudável inveja do processo criativo desse CD. Não me basta o making-of virtual feito por aqui. Ele tem me deixado um tanto um tanto ansioso. Detona um desejo infantil de olhar de perto tudo que está rolando no estúdio.

    Me acostumei desde moleque a escutar discos e imaginar o que aconteceu pra que nascessem e ganhassem forma. Via Roberto Carlos chegando ao estúdio em um calhambeque pra colocar as vozes em ritmo de aventura. Gil sorrindo, olhando pro Lanny em Expresso 2222. Duprat distribuindo partituras para a orquestra e ensaiando Geléia Geral.

    O acesso às informações do antes-durante da gravação de um álbum não existia. Imaginar a gravação fazia parte do meu apoderamento afetivo e infantil. Sonhava fazer parte do time de músicos. Assim, sem nenhuma humildade, fui parceiro de Caetano centenas de vezes. Cantei com ele no estúdio Eldorado na gravação de Araça Azul e dei dicas de espanhol durante a colocação das vozes em Fina Estampa.

    Quando o vi de perto pela primeira vez, num show no Colégio Equipe, onde era um secundarista bilheteiro, fiquei envergonhado. Era como se ele tivesse flagrado a minha pirataria subjetiva.

    Mas ao ler o post ESTÚDIO estou diante de 2 convites: 1- abrir mão das minhas fantasias infantis e me deliciar com os relatos do Caetano. 2- não abrir mão da minha obsessão atávica e morrer de inveja.

    Fiquei com as duas. Quem sabe no próximo overdub eu abra uma voz. Ou grave um violão.

    Fãs são assim mesmo. “Rasgam seda” como diriam alguns por aqui. Aliás não sei de onde vem a expressão “rasgar seda”. Também tenho inveja dos “poetas amadores” que fazem textos-homenagem ao ídolo. Não saberia fazê-los. Afinal, sou parceiro do Caetano há mais de 35 anos e não tenho tempo pra isso.

    Agora tenho que ir. O estúdio imaginário me espera e tenho que trocar as cordas do violão.

  9. Marcelo Noah disse:
    Setembro 10th, 2008 at 2:19 pm

    Acompanhei à época o programa de rádio que Bob Dylan conduzia - o Theme Time Radio Hour. Escutava com aquela agradável ilusão das coisas cotidianas e seriais. Muito gostoso era esperar pelo próximo programa a cada semana.

    Acontece o mesmo com as tiras do Laerte na Folha, todas as manhãs.

    Teu blog está fantástico, Caetano. E faz a gente voltar aqui com ganas do próximo post, que surgem de surpresa e iluminam sempre um pouco mais.

    [PS. - O Harold Bloom é mesmo um chato e esses cânones são uns verdadeiros desserviços que nos fazem publicados. Contudo, Pound parecia mais honesto em seu paideuma, e aquele ABC dele é puro roquenrou.]

  10. Tão disse:
    Setembro 10th, 2008 at 2:20 pm

    Realmente isto aqui te traz pra perto. Fica até parecendo que você existe de verdade como mortal. haha.

    E, sim, o parêntese e o parêntesis. O conteúdo intercalado e o sinal gráfico, certo? Mais ou menos por aí? Eu me divirto com essas coisas.

    Ah, não que você faça um orkut. Acho mesmo muito complicado pra você. Mas, pelo menos, dê uma olhada numa comunidade que recomendo. É das poucas que realmente têm discussão (a maioria das comunidades se perde em joguinhos idiotas e propagandas). O nome é “Caetano Veloso, o superbacana”. Reconheço muita gente boa de lá comentando aqui.

    Repito: pena que sou de Salvador.

    Beijo.

  11. glauber disse:
    Setembro 10th, 2008 at 3:22 pm

    joia mesmo este texto…quem teve o privilegio de participar [como musico. sim, prq existem outras funções] da gravação de um disco, sabe que momento magico o de ver o “frankenstein” se formando. estudio de gravação eh o melhor brinquedo do mundo. e com uma dessas belezinhas analogicas entao…putz!

  12. Mário Filho disse:
    Setembro 10th, 2008 at 3:45 pm

    Já sabe quando o dvd será lançado, em que data específica???

  13. rafael rodriguez disse:
    Setembro 10th, 2008 at 3:55 pm

    E a gente quer ouvir tudo sobre as gravações… podiam colocar umas fotos. Mas também é legal assim, sem fotos, deixando-nos a imaginar o como, lugar e coisas.

    Como o Gilliatt escreveu, podia ter uma faixa instrumental (bônus track - uma não, mais. risos…).

    A Malu Magalhães está no disco do Marcelo Camelo (Sou/nóS), fiquei impressionado com sua voz; e a obra do Camelo é maravilhosa!

    Quanto a Sampa… Fui a São Paulo pela primeira vez há dois anos. Assim que cheguei (sozinho) fui caminhar pelas ruas so centro, não sei precisamente os nomes, era aquele entorno todo da Praça da Sé, do Teatro Municipal, aqueles prédios enormes… As lágrimas começaram a descer, não precisava me preocupar, ninguém notaria (e não notaram). Voltei do estado de contemplação ao ser interrogado por uma menina se eu queria um cartão de determinado banco, olhei nos olhos dela (pensei, nossa! como são todas parecidas! Meninas e meninos que recolhem nomes para cartão são todos idênticas (os), mesma voz, mesmo sorriso…), eu disse: estou emocionado! Neguei o cartão, acenei um tchau e voltei ao meu caminho sem rumo. Foram dias emocionantes e renovadores, assisti “Os Sertões” do e no Oficina. Voltei para o Rio com o desejo de um dia morar em São Paulo. Essa vontade é latente, mas só em pensar em ficar sem a praia, sem a possibilidade de caminhar pela areia; beira do mar… Minha parte praieira me prende por aqui.

    bjs.

  14. Vicente Conessa disse:
    Setembro 10th, 2008 at 4:22 pm

    Gravo muitas coisas em casa em um estudio digital portatil de oito canais todas noites antes de dormir. Sonho um dia (se tiver alguma canção que valha a pena) entrar em um estúdio profissional para gravar. Imagina se voce grava um disco em um estudio portatil desses? Como será que ficaria?

  15. Mangangá disse:
    Setembro 10th, 2008 at 4:47 pm

    Ainda bem que cada vez mais artistas aderem aos timbres “vintage” buscando uma saída para o alcance limitado das gravações digitais e seu código binário. Basta escutar o LP Transa (sugiro a canção “It s a long way”) para perceber que CD nenhum possui o mesmo alcance quase tântrico dos graves.
    Caetano, diga o nome completo da mesa de som para eu pesquisar sobre ela.
    Até nestante.

  16. nelson disse:
    Setembro 10th, 2008 at 5:26 pm

    bacana demais este post.
    obra em progresso total.
    detalhe:em um video do you tube em que cae canta com joão o pato, joão diz que caetano é o futuro….achei de uma pertinencia total….

    depois caetano vai desfilando a novidade novidadeira dos jovens….e fico pensando que a verdadeira novidade está em caetano e não exatamente na jovialidade dos jovens….

    não acho mallu magalhaes jovem…
    pedro sá é um presente….
    marcelo é o presente….
    ricardo dias gomes é o presente…

    mas caetano é sempre o futuro…apenas quero dizer que quando o futuro percebe a jovialidade do presente o novo se perfaz….

  17. Pedrão disse:
    Setembro 10th, 2008 at 7:03 pm

    Nossa,essas letrinhas são de arder os olhos!

  18. Renato disse:
    Setembro 10th, 2008 at 7:49 pm

    “Acho que Sylvia Colombo e Jotabê Medeiros sabem que minha reação foi política e nada pessoal (se é que é com esse caso que o comentarista está fazendo o paralelo)”.

    Sim, o paralelo foi justamente com esse caso e motivado por uma das “respostas” publicadas no blog do Jotabê Medeiros:

    “Mas não posso deixar de ler nas entrelinhas do teatro de Caetano. Ele não é tão inofensivo assim, não está apenas brincando de clown tropicalista. Seu jogo é um pouco mais pesado. Ele não se contenta somente em tentar desqualificar minhas rústicas ferramentas profissionais. Vai além: pede minha demissão duas vezes. Primeiro, sugeriu que meu editor tome providências a meu respeito, que não me deixe escrever com tanta liberdade. Depois, que os leitores do jornal no qual trabalho façam Justiça em seu nome (talvez pedindo minha cabeça?).
    “Nos Estados Unidos, um texto semelhante poderia provocar a perda do emprego”, diz o valente herói tropicalista na segunda parte. É uma deslealdade: eu não poderia sugerir o mesmo ao banco que o contratou para fazer um concerto de segunda classe, poderia?”.
    http://medeirosjotabe.blogspot.com/

    Em suma: a mim pouco importa quem tenha razão na rinha ideológica, eu tenho minhas próprias razões e motivações acerca das coisas: amo Caetano, Roberto Carlos, Tom Jobim (cada um em seu quadrado) e amo também muitas coisas que a crítica já publicou (err “positiva e negativamente”) com relação aos três. Só acho perigoso é que (paranóia do Jotabê Medeiros?) uma questão como “pedir minha demissão” seja posta em jogo. Aí, amigo, fica difícil de encarar, vez que envolve alguém que lutou em favor da liberdade de expressão e de muitas outras liberdades (como o Caetano) e que seguramente ajudou a educar muita gente aqui (me incluo).

  19. Lucas Jório disse:
    Setembro 10th, 2008 at 8:13 pm

    Caetano,
    Que legal o que você disse a respeito do baixo do Ricardo Dias Gomes! Apaixonei-me por ele no disco Cê (principalmente o que ele “arranjou” em “Porque?” - foi ele mesmo?). Aliás, diga a ele que aquele trabalho foi uma das coisas que me estimulou a pegar pela primeira vez em um baixo! Estou começando, depois de tocar violão por muito tempo, e fiquei impressionado com o baixo de Porque? ser tão bonito, tão fundamental na música e, ao mesmo tempo, tão simples (não queria usar essa palavra, mas não me vem outra).
    Por falar nisso, gostaria que uma hora você comentasse: por que o “porque?”, junto e com interrogação? E mais: sobre o papo de língua, por que quando a gente canta tende a aliviar o sotaque?
    Por fim, você leu o comentário 37 ao seu post Imprensa? É meu mesmo, tenho esperança de ter uma resposta sua e mostrar que é mesmo de coração.
    Aguardo ansioso o novo CD,
    Lucas Jório Vasconcelos

  20. max disse:
    Setembro 10th, 2008 at 9:23 pm

    o processo é lento mas o barato é louco:

    depois da nossa cama o melhor lugar para se estar no mundo é um estúdio de gravação. é claro que o palco também é ótimo mas todo o trabalho que dá para se ter aquela uma hora e meia de prazer no mais das vezes cansa. por isso é fundamental para a saúde, desse meio ambiente-estúdio e a nossa também, escolher as pessoas certas com quem vamos dividir essas “horas absurdas”, a nossa dor ( o preço da soma dessas horas costuma a custar caro nos bons estúdios) e nossa delícia ( se já é bom poder tocar um instrumento, imagina gravá-lo). uma pessoa “mala” e/ou “pentelha”, por mais competente que seja (um produtor, um músico, um técnico, uma musa…), pode desgraçar o belo mas árduo passeio que é trabalhar numa sessão de gravação. caetano está muito bem acompanhado:
    moreno além de ser muito talentoso e sensível é um sujeito bacana de quem eu gosto muito ( quando o conheci concluí que se ele é filho do caetano, ou seja, foi criado e educado por ele, caetano não pode ser um “cara estranho” pois como diz uma canção do rádio de um antigo compositor, somos e vivemos como nossos pais.)
    marcelo e ricardo além de jovens e bons músicos ( na música hoje tudo é possível e permitido e é justa toda forma de criação mas quando ela é executada por instrumentistas competentes dá uma alegria diferente) são a metade do grupo “do amor” que eu adoro que me lembra muito o grupo “mulheresquedizemsim” (que eu também adoro) do qual o pedro fazia parte.
    pedro aliás é o eterno garoto mas com aquela sabedoria de senhor, poderia ter ocupado esse cargo de “diretor musical” há muito mais tempo, foi comendo pela beirada, observando e contribuindo na medida que os anos foram passando. o caetano já trabalhou com outros vários bons músicos mas eu arriscaria dizer aqui que esta é melhor banda que ele já teve, incluindo, o quarto “cê”, moreno. agora nos resta esperar para ver o que vai dar.

    achei, pessoalmente, interessante o caetano no post ter citado, mesmo que bem “en passant”, a mallu magalhães. quase tudo que eu vi dela até agora ( estou esperando o lançamento do disco) não me tocou muito a não ser uma versão que ela faz apenas nos shows da canção “leãozinho” (www.youtube.com/watch?v=r9sU3obF_T8). a sacada dela de pinçar justamente essa canção, embora eu ache que seja menos sacação e muito mais uma ligação afetiva e intuitiva, faz dela uma espécie de “transnaraleão” que com os mesmos dezesseis anos comungava a hóstia da bossa com lobos, bobos e etc…
    curioso também foi que quem me falou sobre a existência, deste blog e de mallu pela primeira vez, foi a mesma pessoa, o jornalista paulista josé flavio jr.
    bom o que era para ser um comentário já está virando um post, eu fico por aqui.
    abusei do espaço, dos parenteses, das aspas, dos duplos sentidos e provalmente da paciencia.

    that’s all, folk (e não fox, luiz)

    um abraço “pra geral”

  21. antonio schultz disse:
    Setembro 10th, 2008 at 11:41 pm

    Achei interessante seu posicionamento politico com relacao as criticas recebidas por Sylvia Colombo e Jotabe Medeiros. Fiquei sem entender a critica canhestra com a sua relacao narcisistica,e dor vaidosa. Voce nao acha que isto seria uma contradicao?
    O foco da critica parte da dor vaidosa para chegar na politica?

  22. Nobile José disse:
    Setembro 11th, 2008 at 10:49 am

    caetano,

    o estúdio guarda um suspense. sempre tive interesse, desde pequeno, pela ficha técnica dos discos. ficava imaginando como que aquela música tinha sido feita - como que um elepê daquele podia guardar tanta gente, tanto som. como seria o estúdio “nas nuvens”. hehehehe. é como suspense que antecede uma peça de teatro: o que gurda aquelas cortinas fechadas??? achei bacana vcs usarem uma mesa analógica. para completar o clima retrô, vcs podiam tb mixar no sistema analógico e lançar, com edição exclusiva - claro!, alguns vinis, se não for difícil encontrar quem os fabrique - parece que só tem uma fábrica hoje em operação, que fica na baixada fluminense. seria certamente um souvenir disputadíssimo. me lembro do seu primeiro disco DDD, que é aquele voz e violão gravado em nova iorque na década de oitenta. tecnologias à parte, bom é poder acompanhar a feitura dessa obra, daqui de teresópolis, nesse vitù.

    amplexos!

    ps: ah! escrevi isso hoje de manhã, e é pra vc:

    o big bang no sul da frança
    uma trança em bagdá
    na lapa a gente dança, esperança
    de ver o dia raiar

    traz o chope, toca o samba
    deixa o povo se animar
    saia logo dessa jamba, anda
    vem aqui me beijar

    pra esquerda ou à direita
    depende donde se está
    me tire dessa malamba, exploda
    pra tudo recomeçar

    para quem vive na saudade
    daquela velha shangrilá
    agulha de diamante, adiante
    e deixa digitalizar

    como uma febre que derruba
    os muros de paquetá
    encerro minha glosa, prosa
    em ver o mundo rodar

  23. Exequiela @ Mar Dulce.... disse:
    Setembro 11th, 2008 at 11:08 am

    Pero Caetano todavia no me queda claro: sos modesto… no lo sos?, sos narcisista?, inseguro? (conozco muy bien estas personalidades hipertroficas). El parentesis es un chiste eh!.

    Por lo general las personalidades no son puras y algunas son mucho mas complejas que otras. Sobre la inseguridad: esta presente en todos*. Gracias a Deus (y lo dice una atea) que existe esa forca estranha!!!!!

    *Dijo Van Gogh en una de sus cartas a Theo: “By working hard, old man, I hope to make something good one day. I haven´t yet, but I am pursuing it and fighting for it…”

  24. Pedro disse:
    Setembro 11th, 2008 at 2:34 pm

    Caetano,
    essa canção sobre Aveiro vc disse que ia fazer, eu vi um video seu falando sobre a ria.
    Não sei o que é a “ria”, mas vc disse que a música ia se chamar “Menina da Ria”. Depois vc falava de Ary Barroso e cantava “Por quem”.

    Essa canção de Aveiro chama-se mesmo “Menina da Ria”?

  25. filipe disse:
    Setembro 11th, 2008 at 8:07 pm

    Caro Caetano,
    Daqui de Portugal e de uma janela sobre o tejo, tenho seguido, com muito interesse, o progresso deste site, da sua obra e das suas polémicas. Adoro todo o conceito envolvente à obra em progresso, que tento ler todos os dias. Mostra bem o quanto o seu espirito não está acomodado apesar de ser um artista pra lá de consagrado.
    Também a minha opinião em relação a esta fase da sua carreira está em “trans”-formação. Mas o saldo é positivo.
    Quanto á sua polémica com o jornalista em relação ao concerto com o rei (de que vi imagens no youtube) acho que de facto — e estou só julgando pelo que vi, que foi e soube a pouco — ficou um pouco clássico demais. Do que vi no youtube, não suou muito diferente de qualquer outra orquestra de bar de hotel (de antigamente, que hoje os hoteis já nem têm orquetra. Infelizmente) e voçês davam ideia que estavam só mesmo cumprindo contracto. Penso (e isto é só a opinião de um fã, seu e de roberto) que seria uma homenagem mais original e conseguida se tivessem arriscado sair desse registo orquestral e tocar, por exemplo, com a banda Cê, com novas sonoridades nas canções. Julgo até, e me corrija se estiver errado, que seria uma aproximação ao estilo roqueiro do inicio da carreira do rei. Mas tudo isso obrigaria, principalmente Roberto, a sair do conforto da orquestra que ele tão bem conhece e a aventurar-se por outros caminhos. Menos aveludados, mas porventura bem mais orgânicos arrojados. Isso sim seria mostrar que a velha bossa nova está viva e aberta também ela a transfigurações.

    um abraço.

  26. Hermano Vianna disse:
    Setembro 11th, 2008 at 9:44 pm

    para ninguém dizer que sempre concordo com Caetano: não tenho simpatia com esse culto nostálgico do analógico (e não suporto mais som de teclado vintage etc.) - gosto de tudo transdigital, pós-digital, pró-ProTools (e Live etc.) - e hoje a nova geração escuta música de outro jeito: meus sobrinhos, por exemplo, têm bom som, os CDs e os vinis em casa - mas baixam as mesmas músicas que têm em casa em CD e vinil e escutam tudo no som ruim do computador e do tocador de MP3 - estão atrás é de outra coisa (nem sei bem o que é, já que gostam também de música de game e animê) - bem diferente de minha formação (mas adoro quem gosta “diferentemente” de mim…) - esses graves profundos e agudos macios vão ser escutados por quem? para que insistir nisso? - espero ansioso as explicações de Moreno, Daniel e Pedro Sá

  27. Gilliatt disse:
    Setembro 12th, 2008 at 12:49 am

    Concordo com o que o Hermano falou no post 25. E também me pergunto como se concilia essa gravação analógica com os reprodutores digitais. No CD, no ipod e semelhantes, no PC, no MAC, enfim… será perceptível a diferença? As texturas, as nuances,todos os detalhes que diferenciam a gravação analógica da digital, não se perdem ao se transferir tudo pr’um suporte digital?

  28. Ostrão disse:
    Setembro 12th, 2008 at 6:39 am

    Wittgenstein também não gostava de Shakespeare.

  29. Rosana Ishi disse:
    Setembro 12th, 2008 at 2:26 pm

    Nooossa Cae
    Fico tonta(mais?) com tudo que escreve.
    Tudo porque de música mal entendo, só sei avaliar aos meus moldes o resultado simplesmente por ouvir.
    Mas claro que acho linco você dar essas aulinhas pra gente como eu.
    Quanto aos elogios à Sampa, estarei esperando pois eu adoro Sampa e gostaria de saber o que você gosta também.
    Quantoa à ob ra em progresso, viva o progresso, está divinamente avaliada pelos fãs e con tra-fãs que vem aqui. Estou amando tudo isso.
    Quero um dia na minha vida poder olhar dentro dos seus olhos e dizer o quanto lhe admiro.
    Um beijo

  30. felix baigon disse:
    Setembro 12th, 2008 at 3:34 pm

    Oi Hermano! beleza?
    Gosto muito das facilidades de gravação e edição que as novas tecnologias trouxeram.
    Agora desconfio que a genética da galerinha vem mudando com o consumo de produtos cada vez mais industrializados, temo que isso tenha afetado também a engenharia auditiva.
    Ouça o Ouro Negro do Mestre Moacir Santos e acharás esse graves que o Caetano e sua equipe estão procurando. Só que os graves nesse caso estão pintando porque antes do engenheiro de som tem a caneta do Maestro que pós os graves no melhor lugar do mundo: o Arranjo bem feito.

    Abração

  31. Taveirinha (Porto, Portugal) disse:
    Setembro 13th, 2008 at 6:38 pm

    A propósito da Ria de Aveiro.
    Ria é um canal ou braço de mar que frequentemente se presta à navegação, como é o caso da ria de Aveiro.
    Há na costa da Galiza umas rias muito famosas de paisagem muito bela: as Rias Baixas. O “Mar” destas rias já foi cantado em cantigas de amigo na literatura medieval Galaico-Portuguesa:
    “Ondas do mar de vigo” de Martin Codax (CV 884/CBN 1278)
    Ondas do mar de vigo,
    se vistes meu amigo!
    E ai Deus, se verrá cedo!

    Ondas do mar levado,
    se vistes meu amado!
    E ai Deus, se verrá cedo!

    Se vistes meu amigo!
    e por que eu sospiro!
    E ai Deus, se verrá cedo!

    Se vistes meu amado!
    e por que el gran cuidado!
    e ai Deus, se verrá cedo!
    PS A quem possa interessar.
    Muito recentemente, a Universidade de Aveiro foi considerada das melhores da Europa ( principalmente o Departamento de Engenharia de Telecomunicações). Aveiro é uma cidade pequena mas muito interessante e com muita juventude. Tem Mar, tem ria, tem um porto importante. Come-se muito bom peixe e fica perto de duas cidades importantes portuguesas: Porto e Coimbra.

  32. teteco dos anjos disse:
    Setembro 23rd, 2008 at 7:34 am

    caetano diz que não se interessa muito por bukowiski. Ok. mas, e quanto aos beatnicks? quero dizer gregory corso, em especial. li uma crítica - creio que no estadão - de que alguns versos de corso, principalmente do opúsculo “gasoline” de 56 lembrariam versos de caetano na letra de “tropicália”, como aquela visão “os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis”. isso lembraria, enfim, as visões de corso como “o sol pode ser puxado por carruagens”.
    eu passei três meses na sardenha/itália no ano passado e escrevi uma coleção de poemas, a qual intitulei “poemas sardos” e remeti ao mário prata e ao pessoal da L&PM.
    o comentário geral - não do prata- foi de que meu verso
    “lá vai o armador de caravelas no deserto, onde os mares não golpeiam, nem pululam”
    teria influência de corso e que outro como
    “trastevere…inútil meu coração trepida no velório da tarde luciferina/ teu ‘presunto crudo’ é decididamente clitóris úmido de porca”…teria algo de bukowiski.
    na verdade, acho punk essa comparação excessiva. influências existem, claro, mas também, assim como a shakespearemania, existe um frenesi no circuíto musical e literário pra saber quem bebeu o que e de onde.

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