Liberdade de Imprensa (11/09/2008)
LIBERDADE DE IMPRENSA |
11/09/2008 6:06 am |
Meu único problema com as esquerdas é que percebi ser o credo liberal mais resistente historicamente do que o comunista. Assim, a liberdade de opinião - a de imprensa em particular - é (até que um Zizek desses me convença) sagrada. Agradeço a Renato por ter me mostrado o forte texto de Jotabê Medeiros. Lembro que Osias já tinha me dito, educadamente, que achara o texto de Medeiros mais próximo de uma verdadeira crítica musical do que o de Syvia. Não pense que não sei que seria mais calmo, mais seguro, mais nobre, não comentar os comentários negativos que fazem sobre meu trabalho. Dezenas de vezes já se passou coisa semelhante comigo. Sou escoladíssimo nesses assuntos de reagir à imprensa. Nos anos setenta isso fazia parte de minhas apresentações públicas: eu lia e comentava (inclusive o português) de vários críticos nos palcos dos shows. Achei esse trecho do Jotabê que Renato mandou excelente. O português está muito melhor e os argumentos são bonitos e corretos. Muitas vezes, ao longo dos anos, já ouvi e li jornalistas dizendo que eu estava pedindo suas cabeças. Quase tanto quanto ouvi de colegas que se sentiram prejudicados por matérias de jornal. Não acredito que tenha o poder de destruir carreiras jornalístcas. O jornalista com quem mais violentamente briguei é ainda, anos depois de ter morrido, o mais influente do país: Paulo Francis. Brigar com jornal é brigar para perder. Quem tem coragem não se incomoda com isso. Mencionei os editores, no caso do show com Roberto, porque sempre ouvi de jornalistas (e li impresso) que títulos, manchetes e destaques são decididos pela editoria. Muitas vezes ouvi isso em tom de justificativa ou de pedido de desculpas. E disse que algo semelhante significaria, nos Estados Unidos, a demissão do repórter porque esse é um argumento que venho repetindo há anos: se um cara quisesse escrever no New York Times que “o chato do Ray Charles está no Madison Square Garden outra vez” ou “ninguém agüenta mais Tony Bennet”, o editor perguntaria se ele sabia onde estava. Isso é simplesmente verdade, é uma observação antropológica: americanos não acham normal ver desrespeitados os medalhões que são o orgulho do país. No entanto, já li na Ilustrada, em crítica a que o editor deu meia página, isto: “não ouvi nem vou ouvir o novo disco de Chico Buarque; não preciso disso para saber que não vale nada, repete as mesmas rimas” etc. Informo aos leitores brasileiros que coisas assim só se lêem nos tablóides de rock’n'roll ingleses (porque, mesmo na Inglaterra, no Guardian ou no Times não sai). Agora você acha que estou seguro de que isso só é negativo? Não. Nem isso. Acho graça em o Brasil ser assim esculhambado. É um país punk rock, em que a grande imprensa tem sotaque de tablóide marginal. Sou um medalhão transviado, como já disse, e me sinto até bem com esse negócio. Mas em linhas gerais me esforço para levar o Brasil a aprender a se poupar mais. Talvez eu não faça a coisa do modo mais eficaz. Mas algo se aproveita. Fico feliz em ver Jotabê respondendo tão bem e encontrando espaço e liberdade para fazê-lo. É disso que eu gosto. Tenho tanto poder de impedi-lo de manter seu posto no Estadão quanto ele de convencer o Itaú a não me contratar. E menos vontade. |
Tenho acompanhado com certo interesse toda a celeuma que se deu em relação às apresentações de Caetano e Roberto. Meu interesse é, senão, o de um fã fervoroso dos dois. Ao ensejo, protesto!! – Por residir fora do Eixo, não fui contemplado com uma apresentação em minha cidade, Belo Horizonte. Um absurdo!!!. Pois bem, em razão de não ter assistido à apresentação conjunta, não posso emitir qualquer oponião sobre a qualidade do espetáculo. Entretanto, mesmo já me revelando fã de ambos, ouso tecer alguns comentários isentos sobre o tema atual, que não é mais o show, mas sim a Crítica brasileira. É inegável a necessidade que alguns críticos têm de acreditar que, para se alcançar prestígio e credibilidade, devem, quase sempre, destoar do senso comum. A empresa que contratou os ícones da MPB para homenagear os 50 anos da Bossa Nova, o fez propositalmente para atingir a máxima notoriedade pretendida, ciente de que não apenas seus clientes/público se encarregariam da repercussão, mas também e principalmente, a Crítica, trataria de causar a “ressaca” do dia seguinte. Todos nós conhecemos esse hábito!! Adoro ler uma crítica sobre os assuntos de meu interesse, além das informações de praxe que me fornecessem, tais como set list, reação do público, surpresas na apresentação, etc., elas me fazem exercitar, como deve acontecer com todo mundo, meu próprio senso crítico, quer seja em relação ao tema, se for de meu domínio, quer seja em relação á própria crítica, quando analiso se o crítico age como tal ou quando ultrapassa seus limites e age como se fosse um professor ao corrigir a avaliação de seus alunos, aí eu me divirto muito mais!! Finalizando, deixo um trecho de uma música de mineiros, que intuitivamente me revelou um dia: “Nessa caverna o convite é sempre igual… meu coração é novo e eu nem li o jornal…”
Caetano, faço um desafio: depois de toda essa polêmica sobre a crítica, o idioma etc etc, você poderia gravar, ou pelo menos por favor cantar em algum próximo show, uma música do Lupicínio Rodrigues chamada “Torre de Babel”? Ela tangencia essa questão do desentendimento verbal, mas, no fim das contas, o protagonista diz que continua adorando a amada. É uma música maravilhosa, e acrescentaria um final feliz e doce a esse episódio. Abração!
Em um lugar onde jovens não conseguem fazer o básico que é uma interpretação de texto,acho que jornalistas deveriam estar melhor preparados, ao escrever sobre os alicerces da nossa cultura.Se mostram anti- patriotas em relação ao tio Sam, onde deveriam valorizar bem mais o que temos de melhor, me orgulho de saber que existe um caetano,e que posso ter o prazer de ver um show, ou ouvir um disco do mesmo , e dizer “esse esta entre os melhores”
ah, então os medalhões não podem ser “desrespeitados” por uma crítica? Se Tony Bennet ou Ray Charles não sofreram críticas decorrentes de shows ruins, é provavelmente porque a imprensa norte-americana não vale a isenção e imparcialidade que prega…
Si, puede ser… en EEUU hay mas respeto en todo sentido. No se puede negar pero… si (en cualquier parte del mundo) un icono musical no puede ser tocado porque tiene la etiqueta de leyenda entonces mal hecho!
Me pregunto: Si una obra artistica de un icono es mala a los ojos del critico y se la critica justamente y respetuosamente, esta bien o mal? Yo, que estoy muy lejos de ser un icono, preferiria una critica respetuosa y con buenos fundamentos que una sin fundamentos e irrespetuosa… por supuesto… Sin embargo al recibirla pensaria: vaffanculo!! (perdon por la groseria). Es decir: a todos nos lastiman las criticas. No hay mucha vuelta que darle.
Las criticas deberian ser como mucho una persuasion y no una sentencia… pero bueno, hay cosa mas graves en esta vida, ne?
ROBSON,
o que Caetano disse não é a mesma coisa que você está dizendo.
uma coisa é você ser profissional, e fazer uma resenha, e mesmo não gostando, colocar ali pontos que são negativos.
outra coisa é ir além da resenha, ir além do carater sério que a revista, site ou jornal seu propõem…
por exemplo: “a chata da M. fez um disco monocordico e sem brilho”. Você já induz o leitor a pensar que a cantora é sempre chata, como você pensa - independente do que ele-crítico achou.
como foi o caso do “rei da naftalina”… e muitas outras coisas que esses meios escrevem que são de mau gosto.
No mais, conheço muita gente aqui no Rio que deixa de ir em show porque a crítica do espetáculo no segundo caderno foi meia-boca.
…
mas agora, cá pra nós, Caetano já está vacinado de agressões nesse estilo. Brindemos.
Adorei Slavoj Zizek.
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de Paulo Tabatinga - Teresina
um beijo apertado,demorado e barulhento na tua buchecha!!
No Brasil há uma confusão muito grande entre “liberdade de imprenssa” com “libertinagem de imprensa”. Nós somos um país que ainda engatinha na questão “Democracia”, como por exemplo, a decisão secreta de salvar Renan Calheiros da degola. Isto foi considerado por uns como uma reforço necessário á democracia. Não. Isso foi um ataque à democracia, pelo fato de impedir o conhecimento democrático do voto de cada político. Entrteanto, a liberdade com que a imprensa se refere a você, Caetano, ajudaram a mitificar você, Caetano. Tenho a certeza que muita coisa que sai na imprensa como crítica a você, não corresponde aquilo que seus autores realmente pensam. E os que verdadeiramente pensam o que escrevem de crítica a você, têm a certeza de que estão fora do senso comum e, por isso, se sentem intectuais.
Beijo…
Caetano:
Penso que a música “Infidelidade”, de Ataulfo Alves, cantada por você no documentário “Circuladô”, é mais do que nunca Trans-Samba. Fiz uns amigos meus, que têm uma banda de rock, cantarem a música citada. As estão adorando.
não entendi o que o jb quiz dizer com deslealdade. até aqui não detectei nenhum pusilânime. caetano e roberto fizeram o show. jb a crítica. caetano discordou da crítica. jb rebateu a crítica da crítica. e caetano replicou a crítica da crítica. com o retorno da democracia a imprensa vem mal usando de sua liberdade. mas ianda melhor um mal uso que um não uso. por isso, de vez em quando tem que rolar um enquadramento, uma dura, sim! mas não de cima pra baixo, como no velho esquema publicidade -> editor-> reporter; mas sim, por parte do publico que lê, vê e ouve. nessa caê tá certo, e não digo quanto ao mérito, mas o que o antecede: a liberdade de confronto. noutras palavras: da mesma forma que o artista se expõe à crítica, a crítica se expõe a quem a lê, seja o próprio artista ou não. é o jogo.
O tal do Robson, aí no comentário 3, escreveu desrespeitados entre aspas, como que considerando que se trata de crítica (meu querido, crítica não é isso!) chamar alguém de “o chato do fulano de tal vai cantar de novo no lugar tal” ou “Ninguém aguenta mais sicrano ou beltrano”. Nunca vi tamanha burrice. Ô desinfeliz, vai ler um pouco, vai estudar mais. Certamente que é permitido à imprensa fazer uma crítica séria e fundamentada de um show ruim de seja lá quem for, mas não cabe à imprensa desrespeitar (sem aspas) ninguém. Entendeu?
caetano escutei uma versão linda de uma contora chamada ana paula da silva no my space….
adoraria ter uma versão sua e da banda cê desta canção.
detalhe na interpretação de ana paula há uma contraposição jazz e samba….
seria interessante fazer uma contraposição ou melhor seria justaposição jazz-rock -samba a tal da proposta trans….
imaginei assim no espaço que ana coloca o sax colocariamos a guitarra de pedro sá.
Zizek é Maravilhoso. Só li um livro dele, conversas com Zizek (ele e o entrevistador), mas cada paragrafo, cada trecho, faz a gente pensar de forma diferente.
Caetano, quando você finalmente for falar de Rio e Sampa, fala também de Salvador. O que a gente tem de bom e o que a gente tem de péssimo? Já digo logo que agora tá melhor, tem muito restaurante e pizaria novos, lojinhas que só Rio e São Paulo tinham, que mais(?), metrô não dá pra contar, primeiro que ainda não tá pronto, segundo porque o trecho que vai atender é muito curto…a orla tá em obra, mas o trecho onde era o portugues agora está lindo. Daqui da janela onde estou na cidade baixa, vejo favelas. Ok, elas estão em toda parte.Bom, fala aí daqui também.
O que mais me irrita sobre toda essa questão entre imprensa e Caetano Veloso que há longas décadas acontecem através de conflitos saudáveis ou não, é uma parte de um público dito eleitor e intelectual que não acompanha a íntegra de suas declarações e tampouco seus mais recentes trabalhos ( cito o excelente cd não comercializado pelas massas Onqotô e o Ce ) e reproduzem opiniões de certos segmentos da mídia que só querem desrespeitar aqueles artistas já estabelecidos como o senhor Veloso e outros como Milton, Chico, Gil, etc…Enfim o que mais me irrita é falar mal do Caetano Veloso é “cool”, seja o que for envolvido ficou “cool”. Então sou anti “cool” ( risos ) .
O livro de zizek eh “Arriscar o impossivel - (conversas com zizek)”. O entrevistador eh Glyn Daly)
Suavisando, mas nem tanto, notei uma coincidência no cometário n° 14 do Nobile José com um trecho de uma música de Gil e Chico, chamada Baticum, onde que:
(…)
(…)
Não sei se o Nobile lembrou da música ao escrever, mas taí o registro, a coincidência, lembrando que o JB da música é o Jornal do Brasil e não o crítico do Estadão.
Forte abraço!!
Bem, acho esses críticos muito oportunistas, pois ao invés de se preoculparem com o nível das músicas que vêm sendo veiculadas em nossas rádios e na péssima programação das horripilantes redes de televisão do país (que demonstra uma total falta de assunto), criticam uma homenagem lindíssima aos 50 anos de um estilo revolucinário de canções como é a bossa nova. Isso é um sinal da inversão de valores que estamos vivendo, na qual se critica apenas o que há de bom.
Além disso, acho também que nossos próprios ídolos não procuram ser mais populares. Se o povo tivesse mais oportunidade de ouvir coisas mais elaboradas (difetente das dos que pagam para tocar no rádio e aparecerem em todos os programas de televisão) nossa sociedade estaria bem melhor.
Caetano, fugindo totalmente do assunto, você se incomodaria em me dizer, total leigo, qual é a marca e o modelo desse violão vazado que você toca nos shows? Ou seria propaganda?
Obrigado!
Allan
Falar mal do Caetano é esporte nacional de boa parte da nossa crítica. Aliás, tem um crítico de rock (rock, vejam bem) na Folhateen que há anos não perde a oportunidade de malhar a música brasileira e - claro - o prato preferido é sempre Caetano. Eu adoro você, Caetano, mas tem hora que você parece provocar os críticos mesmo. Você disse uma vez que é melhor do que Chico, Gil e Milton, apesar de “não saber fazer música” (palavras suas). Tudo bem que a modéstia passou longe de você, mas esse comentário não foi meio deselegante para com seus colegas de profissão?
Caetano,
Esto de la libertade de imprensa me recordó un episodio familiar: mi sobrino de dos años, se puso a ensayar un día varios trazos sucesivos con un marcador de color verde. Sin ningún resultado, lo hacía ir y venir sobre el papel: la tínta no fluía. Desencantado, me lo extendió diciéndome: “Tomá, Tía. Esta lapicera(caneta) no sabe dibujar”.
Que el mal rara vez está en las cosas y sí, casi siempre, en las políticas que administran su empleo. Caetano, te han hecho víctima de su propia mutilación, porque no comparten nuestros mismos dioses pero sí el altar donde se los consagra y necesitan acortarles la FÉ que ejercen sobre nuestras vidas. Yo me quedo promoviendo, y apoyo tu esfuerzo para que Brasil aprenda a un grado de buena disposición, apertura e interdependencia en el parecer, y los gustos, del todo favorables a una vida personal más rica. No veo mejor manera de combatir la mediocridad.
Beijos no seu coraçâo; Vero.(Uruguay).
Caetano,
Robson
( adoro os comentarios desse blog…uma mistura de ego e adoraçao…e caetano na vertical dos desejos)
Só para corroborar. Há dois anos atrás, li no caderno informativo (veja só, informativo!) semanal de shows/filmes/bares etc do Estadão uma referência sobre um show do “famigerado grupo” MPB 4 em São Paulo, dia tal, horário tal, etc, etc. Ou seja, o cara trabalha informando shows e é isso aí, o MPB-4, independente dos mais de 30 anos de carreira, de um público estabelecido, etc e tal é simplesmente tratado de famigerado. Aqui inclusive não estou discutindo a qualidade, ou o momento do MPB 4. Poderia ser qualquer artista, peça, filme… É notável. Bom, é o Estadão.
Caetano é mesmo melhor que Chico, Gil e Milton. Fico imaginando se ele soubesse fazer música, como então seria? Provavelmente ele seria melhor que Cole Porter, que inclusive eu já acho.
O paradoxo de um paradoxo. O mais experimental. A maior pedra no sapato dos leigos e dos academicos. Tem que ter culhão pra entender.
“Eu sempre quis muito, mesmo que parecesse ser modesto. Juro que eu não presto!”