Lingüistas (02/09/2008)
LINGÜISTAS |
2/09/2008 1:51 am |
Peço perdão a C por interromper o que quer que seja que estávamos falando (o que era mesmo? sobre críticas e a imprensa? alguém pensou que era contra São Paulo? jamais: estou muito no Rio mas gosto muito mais de São Paulo sob vários pontos de vista - um dia volto a esse antigo tema): preciso dizer a Lucas Matos que eu nunca escrevi que lingüistas não amam a língua portuguesa - e que quando falei em demagogia eu me referia a determinados argumentos que vi publicados, não a todos os lingüistas. Não preciso ser especialista na disciplina para me manifestar. O que escrevi foi: “Sou apaixonado pela língua portuguesa e por gramática (ao contrário de lingüistas e demagogos em geral, acho o sucesso público de figuras como o professor Pasquale um bom sintoma).” Já li e ouvi de diversos demagogos (alguns eram lingüistas) reações enraivadas à presença pública de Pasquale e outros gramáticos que dão dicas em revistas ou na TV. Diferentemente deles, acho um bom sinal que tal fenômeno tenha surgido e crescido. Não há nenhum charme de falar sobre o que não sei aí. Sei muito bem de tudo isso. Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele, Lévi-Strauss (cujo “Tristes trópicos” me apaixonou em 1968) falava dele, todos falavam de Jacobson, que falava dele. Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais. Nunca vou esquecer sua observação de que o francês é a única língua ocidental que tem uma palavra cuja grafia não guarda nem um só dos valores fonéticos originais das letras que a compõem: “oiseaux”. Depois, entre muitas outras conversas, observações e leituras, fui nuançando essa visão. Para meu governo (tenho uma vida mental íntima, como todo o mundo, que não se desenvolve para publicar-se: aqui no blog naturalmente essa vida íntima se expõe mais, mas é só uma tênue película - como sói acontecer.). Há já um bom número de anos, fui fazer show em Campinas e um professor da Unicamp me entregou um presente: o livro de uma lingüista, com uma dedicatória bonita (”Para Caetano, com as palavras que me faltam”). O livro era sobre português europeu e português brasileiro. Talvez surjam aqui imprecisões, já que perdi o livro numa das mudanças que se seguiram à minha separação - e muitas vezes o confundo com um outro, de autoria coletiva, chamado “Português brasileiro” (título e expressão que adoro). O da professora era escrito num português excelente e tudo nele me interessava. Mas havia coisas que me ficaram como questões numa discussão que nunca se deu. Por exemplo: ela assumia de uma vez por todas que a segunda pessoa do singular não existe no Brasil. É “você” e acabou. A segunda do plural, então, já tinha morrido antes de o Império terminar. Considerava também como inexorável o desaparecimento futuro das conjugações reflexivas (os verbos pronominais). Ora, eu acho que os gaúchos dizem “tu” a torto e a direito (talvez mais a torto do que a direito); os cariocas conjugam, com muita ginga, verbos na segunda pessoa para enfatizar ironia ou agressividade (”tás me estranhando!”, “tás por fora”, “tens cara de veado” etc.) e usam o “tu” para mostrar informalidade (”tu é gay, tu é gay que eu sei”, o Maracanã grita para alguns jogadores; meu filho de 16 anos diz a seus amigos - e ouve deles - coisas como “tu vai lá e chega na mina.”); os pernambucanos perguntam sempre “viste?” - que muitas vezes eles suavizam para “visse?”; os paraenses conjugam o verbo na segunda pessoa, quando escolhem “tu” em vez de “você” - e muitos deles usam o possessivo na segunda do plural (a um casal ou grupo de amigos perguntam: “esses livros aqui são vossos?”). E, seja como for, todos os brasileiros, inclusive (talvez mesmo principalmente) as crianças entendem as letras das canções de Orestes Barbosa ou de Chico Buarque em que o cantor se dirige à amada na segunda do singular. Não se pode dizer que todas essas pessoas não possuam esses recursos da língua. Muito menos que as estará oprimindo quem lhes explicar como funcionam. Por outro lado, meus amigos baianos e cariocas (inclusive muitos semi-analfabetos) riem dos mineiros (e de alguns falantes do interior de São Paulo) quando eles omitem o pronome dos verbos reflexivos: “paixonei com ela” (em vez de “me apaixonei por ela”), “espera eu aprontar” (em vez de “espera eu me aprontar”), “assustou” (em vez de “se assustou”) etc. Lembro que, no livro, a professora indicava tratar-se de tendências. Mas, além de ela dar valor normativo a essas tendências, o argumento de que qualquer transmissão de conhecimento relativo à tecnologia da língua é opressão era recorrente. Essas eram questões que gostaria de discutir com ela. Mas meu tempo foi sempre escasso - e temi importuná-la e tomar seu tempo. Depois perdi o livro. Volto a pensar nessas coisas (e em outras que encontrei, nascidas das descobertas de Noam Chomsky) sempre que vejo reações públicas de lingüistas a qualquer exposição de paradigma culto. Finalmente, li uma entrevista na Caros Amigos, que me foi enviada por Tuzé de Abreu, de um lingüista que escreveu “A norma oculta”, defendendo o português de Lula contra os preconceitos da “elite”. Eu tenho idéias políticas a respeito. E não preciso me formar em ligüística na Sorbonne para expô-lo. Claro que são argumentos para se discutir. Mas são fortes. Na entrevista do autor de “Norma oculta” (não estou evitando escrever seu nome: simplesmente esqueci, mas faço questão de mencionar o nome do livro, que deve ser lido) há agressões a Pasquale (por parte dele e dos entrevistadores) e a toda idéia de correção ou enriquecimento da fala. E um quase silêncio mórbido sobre a língua escrita. Ora, eu acho que esses arroubos de populismo são em geral um superesnobismo mal disfarçado. Claro que sei que se escrevia “frecha” (até os poetas românticos ainda usavam essa forma) e que , portanto, dizer “TV Grobo” não é exatamente errado. Mas as pessoas que dizem “grobo” são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder. Os emergentes brasileiros que, saindo da pobreza para a crescente classe média, desejam aprender com os Pasquales da vida são os alvos finais da agressão desses lingüistas. Por mais bem intencionados que sejam, estes resultam demagógicos, pois proíbem a troca natural entre os níveis de informação (sendo assim mais contra o dsenvolvimento orgânico da língua do que os gramáticos) e ostentam estar de posse de teorias de ponta. Aliás, naquela longa entrevista de Lévi-Strauss a Didier Eribon, o grande antropólogo diz que começou influenciado pela lingüístca mas que nos últimos anos deixou de interessar-se pelos textos teóricos da disciplina por achá-los muito esnobes e preciosistas. Acho que se tivermos mais brasileiros letrados, melhores escolas, menos pobreza (isto já começa a se dar), o trato com a palavra escrita poderá mudar muitas “tendências”. E é gritante o desleixo pela palavra escrita nesse processo. Sim, me lembro de Saussure. Mas, por exemplo, há “tendências” misteriosas: por que leio hoje nos jornais e nos livros quase sempre “em um” ou “em uma”, em vez de “num” ou “numa”? Será que há uma regra que desconheço? Os falantes que ouço, todos, sempre disseram “o corpo foi encontrado num canto da praça Genral Osório”. Mas os jornais escrevem “em um canto da General Osório”. As moças da TV já dizem preferencialmente “em um”. E já começo a ouvir pessoas de carne e osso dizendo “em uma rua escura” em vez de “numa rua escura”. Será que é regional (como a professora que me mandou o livro toma uma inclinação mineira contra os verbos pronominais como universalmente brasileira, eu estarei tomando uma tendência baiana a fazer a contração da preposição “em” com o artigo indefinido como regra nacional?)? “Você e tu”, está na minha letra de “Língua”. Odeio ter lido um elogio à decisão do novo traditor de Proust (um Py, aliás bom) de “evitar o lusitanismo “raparigas’” e chamar o título do terceiro volume de “Em busca do tempo perdido” de “À sombra das moças em flor”. Mas quê que é isso? Trata-se de um livro do início do século 20, contando histórias que se passam no século 19, um livro culto, complexo - por que diabos deve-se sacrificar o ritmo e a sonoridade bonita que Mário Quintana encontrou para traduzir “À l’ombre des jeunes filles en fleur” (inclusive mantendo o mesmo número de sílabas e a acentuação no “i” do original)? Só para usar o termo “moça”, vulgar, pesado, e dar a impressão de que escreveu em português brasileiro “natural”, sem “lusitanismo”? Não! Para mim ficou foi sem a beleza de “À sombra das raparigas em flor”. O que isso tem a ver com os lingüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as “elites”? Tudo. |
Há quem se denomine o dono da língua. Mas a língua se faz a todos os dias com ou sem erudição. A democracia se fará mais plenamente quando a informação também for dividida. Quando o sistema de esgoto chegar a favela. Não devemos nivelar por baixo.
“O que isso tem a ver com os ligüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as “elites”? Tudo,
é nóis não…..somos nós…ou melhor seriamos nós….aquilo que gostariamos de ser mas estamos muito longe
De acordo, e mais: defendamos o trema dos ataques covardes que ele há tempos vem sofrendo.
(posso estar enganado, mas pelo texto tive a impressão de ter encontrado um simpatizante da causa)
abraço
Bom dia, caro Caetano:
ia bem, até a frase final. Quer dizer que ainda há os que temem que para urbanizar - humanizar - favelas é preciso destruir os esgotos dos condomínios?
Ainda que eu tenha sugerido que você não lesse o Folhão - caramba! não encontrei ali meu comentário de ontem - lembro Clóvis Rossi: este é o país dos que não dormem, com medo dos que não comem.
Eu sou daquelas que sempre quis a divisão de morangos com chantilly. Jamais pensei em propor o extermínio dos morangos.
Abraços.
Tenho que começar o texto com essa frase sua, que acho lindíssima: “Minha pátria, minha língua!” Nessa frase, você diz tudo…nossa língua é, realmente, uma das coisas mais ricas e belas que temos, embora, quase sempre, esqueçamo-nos disso! É lamentável ver a língua escrita se definhando nas mãos das pessoas, ao longo das décadas! Sinto isso mais intensamente, agora, com essa geração msn/orkut que insiste em escrever: “vc quer tc hj?” Esses dias, ganhei um cartão de presente de uma priminha e estava todo escrito com abreviações e emoticons. Resultado, mil a zero para ela, não entendi nada! Adorei o texto LINGÜISTAS e engrosso o coro que se tivermos mais brasileiros letrados, melhores escolas, mais oportunidades, o trato com a palavra escrita poderá mudar muitas “tendências” e quem sabe, todo um país!
é injusto tudo se encaminhar para a culpa dos jornalistas pelos artigos publicados, e pior, para a análise da má qualidade do produto deles… todo mundo entendeu o que eles queriam dizer, desde a manchete. A questão é porque eles dizem aquilo, quem os legitima a dizer aquilo quando tanto poderia ser dito. A questão é o papel da midia na política cultural do país. Nem ao menos um artigo ao lado daqueles com o olhar diferente, nada. Desferiram um petardo no nosso prazer e na nossa glória. E isso poderia ter sido feito com o melhor português, da melhor forma. Foi feito do jeito que Caetano nos mostrou, mas …foi feito…e as subjetividades?
Caetano,
“Sou apaixonado pela língua portuguesa e por gramática (ao contrário de lingüistas e demagogos em geral, acho o sucesso público de figuras como o professor Pasquali um bom sintoma) mas sou muito desarmado em matéria de ortografia”
Em função disso, vários desentendimentos surgem… Acredito ter sido altamente pertinente essa “ruptura temática” no blog para esclarecer tais questões, sobretudo porque muitos lingüistas se posicionam de modo bem distinto tanto dos Pasqualis consultores de língua como dos seguidores das idéias de “A Norma Oculta’. A meu ver, um posicionamento adequado está longe da visão purista da língua e, também, dos arroubos de populismo.
Fora esse aspecto, as idéias em relação aos fenômenos lingüísticos mencionados me pareceram bastante razoáveis, principalmente considerando que não é especialista na área. Também acho que não é preciso ser lingüista para discuti-los. Afinal, em seu ofício, você também trabalha o tempo todo com a palavra.
Quanto às mudanças abordadas pela professora (imagino que seja no livro da Rosa Virgínia de Mattos e Silva, uma de nossas principais estudiosas em mudanças lingüísticas no português brasileiro, da UFBA), penso que se, como você mesmo lembrou, ela falou em “tendências’, não há porque desconsiderar o desaparecimento da segunda pessoa e das construções reflexivas em algumas formas verbais. Ora, o trabalho dos lingüistas é justamente esse: detectar as variações presentes na língua e considerá-las também em termos de ‘tendências” para as mudanças que estão a ocorrer em nosso sistema lingüístico. Talvez o posicionamento da autora tenha lhe parecido um tanto radical, por revelar mudanças ainda em curso, que podem ou não se concretizar. Mas será mesmo que ela dá “tratamento normativo” a essas tendências? Em se tratando de uma lingüista, acho estranho. A própria palavra “tendência” já se distância do termo “normativo”, que sugere algo já convencionado e cristalizado na língua.
No que se refere ao atual descaso com a língua escrita, esta é uma questão a ser discutida posteriormente, com mais calma… Penso no tratamento geral da língua há duas funções distintas: a análise científica dos fenômenos lingüísticos, isenta de juízos de valor como “certo” e “errado”, e a normatização do uso lingüístico, condicionada a todos os valores e papéis sociais que dele surgem. Cabe a nós, estudiosos e usuários da língua, achar o equilíbrio entre essas duas posições.
Um abraço,
Um beijão
Débora
Caetano, tem um erro aí que desagradaria bastante ao famoso apresentador/linguista da TV Cultura. Não é nenhum desvio de gramática, mas você escreveu errado o nome do Pasquale, com E.
Caetano,
Deduzir que todos têm vida mental, íntima ou não, é um ato de fé.
Discordo também do Nelson Motta quando ele diz que, quando todos assistirem ao show na TV, ficará claro que dois e dois são três. Aqui minha discordância é total: um show ao vivo, para quem assiste, é completamente diferente de um (dum??) show na TV. É preciso que o show aconteça ao vivo, em outras cidades brasileiras, para o Brasil dizer o que viu e ouviu. Para que existam mais raparigas em flor.
bjs,
Ângela aí em cima,interessante vc ter falado em Glauber Rocha.Apesar de não gostar dele,sempre esperei que Caetano falasse dele aqui no blog.Pegando o gancho da discussão sobre a crítica de cinema,sempre houve essa proximidade entre os dois,mas sempre achei que Caetano tinha bem mais a ver com a chamada “pornochanchada”,um estilo de cinema,que,ainda bem,vem sendo revisto.Estilo de cinema que captava a alma e o coração brasileiro e que acabou sendo estereotipado como “cinema de mulher pelada”.As questões sociais estavam ali,mas a “intelligentzia” não viu.Antes desse cinema levar milhões aos cinemas,Caetano já prenunciava esse movimento.É só olhar a capa de “Joia”.O que se confirmou quando ele fez a trilha de A Dama do Lotação
“Caetanear o que é bom”
Parabéns Caetano! Nunca gostei de você, porém a crítica do JB Medeiros foi equivocada. Aliás, acredito que esse texto será tema de “calorosas” discussões nos próximos 10 anos. O pior de tudo isso: nos últimos 20 textos do JB, publicados pelo Estadão (recortei e guardei), ele não pegou pesado com ninguém.
Muita saúde e paz!
Sei que provavelmente nunca venha te conhecer pessoalmente e hoje até que agradeço a isso tamanha vergonha diante da minha passionalidade quando falastes de São Paulo e rancorosamente fui um tanto indelicado, desculpe-me.Justamente você, com o seu talento nato me fez gostar de uma música intensamente.
hermano.
abraço e esperando o making of em primeira das gravações do novo cd….
abraços nelson
Caetano
Imagine se todo o nosso conhecimento pudesse ser representado por uma fruta: o abacate. Nessa medida, o jornalismo seria um dos integrantes da casca, que é superficial, mas, em determinadas situações, protege a polpa. Esta, que é a parte comestível, estaria representada pelas ciências (exatas, naturais e humanas). O caroço – semente nua e crua, que “eterniza” a vida – seria a filosofia, em cuja película protetora encontraríamos a arte, a poesia, a literatura, a oratória e, num certo aspecto, o esporte.
Esta minha visão sobre o conhecimento humano está no meu livro “Deus algema e atrasa o Direito”, que será lançado brevemente na Bahia. E só a revelo antecipadamente aqui porque, numa entrevista de longas oito horas em 1º de fevereiro de 1996, quando lhe prestei uma homenagem no jornal A TARDE (caderno Cultural),fiquei encantado com o seu talento de nos envolver falando por horas e mais horas… De fato, a arte, a poesia e a oratória estão na película do caroço do abacate -daí você transitar por elas com tamanha destreza.
Infelizmente, lendo agora quase diariamente seus textos “jornalísticos” neste “OBRA EM PROGRESSO”, aquele encantamento vem se deslustrando em mim. E, com certeza, isso se dá pela distância que você não consegue superar entre a película do caroço (arte) e a casca do abacate (jornalismo). Não obstante, parabenizo-lhe pela ousadia de se expor em textos que até o desmitificam… É uma nova fase, talvez crepuscular, do mais genial (aí sim) compositor brasileiro de todos os tempos!
Marconi de Souza - advogado e jornalista
Jorge Portugal
“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luis de Camões.”
E a lingua(gem) é tão viva e irrigada de sangue quanto o próprio músculo.
[Mesmo faltando tempo para concluir um trabalho pra Academia - ironicamente, sobre lingüística - me atenho ao seu blógue. E veja só, cá está o meu assunto, de forma tão mais agradável e menos pedante. E veja só, Caetano, assim, acessível, conversando comigo sobre os livros que ando lendo e com disponibilidade para ser comentado virtualmente. Veja só!]
Abraços, virtuais mas tão cheios de calor e de uma infantil adoração que bem poderiam ser reais.
Olá Caetano
Antes de mais, uma pequena introdução: sou 50% brasileiro 50% português. Vivi metade da minha vida lá outra cá, não importando onde é cá ou lá. Sou criatura híbrida, que ama duas pátrias, dois povos. Ao contrário do que é habitual ver neste mundo globalizante, gosto das diferenças, especialmente as diferenças linguísticas. Vejo-as como cimento de uma relação saudável que une Brasil, Portugal e demais países de língua portuguesa. Acredito na língua enquanto mecanismo facilitador da comunicação, e como tal deve obedecer um conjunto de regras, mas é a sua aplicação flexível, a assimilação das suas diferenças, que fertilizam o solo onde nasce a criatividade. Querer impor o absolutismo das regras é uma forma presumida de estagnação. Vejo, antes, países que se fortalecem e tiram proveito da sua dinâmica de expressão, viva como nunca do lado brasileiro, colorida e alegre do lado africano, racional e objectiva do lado português. O “tu” que o Brasil deixou cair, quer pela simplificação da língua, quer pela bandeira que alguns dizem ser “uma revolta contra as diferenças sociais”, jamais irá morrer porque há no outro lado desta balança países como Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, que prezam a amplitude da nossa língua. Cultivam-na, respeitam-na, o que por si é a segurança de saber que a língua está a ser preservada. Por outro lado, no Brasil, neologismos proliferam como cogumelos e enriquecem todos os dias a língua que já foi de Camões e que agora pertence ao mundo. Portanto, Caetano, o teu impecável texto está, como já nos habituaste, genial. Acrescento por minha conta: deixemos os acordos ortográficos para os especialistas e donos de editoras, mas não deixemos, nunca, de exortar as diferenças. Viva a diferença. Viva tu, viva você.
Um grande abraço luso-brasileiro deste teu fã.
Paulo Torck.
Você não precisa de perdão, menino! - do meu, tanto menos -, você é uma das pessoas mais naturalmente perdoadas que eu já vi.
Aliás, depois que li seu Verdade Tropical perdão era uma palavra recorrente nos comentários que eu fazia a respeito. Sempre tentei dizer a alguém o que me impressionou nesse livro, que foi a espontaneidade e ao mesmo tempo o extremo método com que você perdoa o que precisa ser perdoado. A música pré-bossa nova (sempre achei que é você quem faz o que você atribuiu a João Gilberto quando disse uma vez em algum lugar: o João Gilberto transforma uma canção nela mesma; ele revela o samba autêntico que existe naquilo que se não fosse por ele passaria apenas por uma balada - é o que você faz mesmo quando não faz bossa nova), as guitarras elétricas, a Coca-Cola, o próprio Terra em Transe, o axé. Depois percebi que perdão não era a palavra mais adequada porque trazia em si uma conotação qualquer de consentimento indiscriminado e ingênuo, de fazer vista grossa às faltas inegáveis, ou de coisa pior ainda que é esse quê de contrição e erro que antecede o perdão naquela atitude que muita gente chama de católica. Coisa que talvez muita gente também queira atribuir a você, sob o clichê difundido de “a Bahia é linda, tudo é lindo” etc.
Deixei de usar o termo, mas intimamente ele ainda me faz muito sentido. Porque eu não me referia a uma permissividade cega, e sim ao perdão mais fundamental de fazer revelar-se o samba escondido nas coisas como João, de tocar as coisas apagadas e acendê-las. Como se você só as destrancasse, e elas então se criam por si mesmas. Não aleatoriamente nem qualquer coisa: mas através do finíssimo critério que te é natural. O perdão de Clarice Lispector: “um pedido (…) de amém: porque aquilo que é ruim está desprotegido e precisa da anuência de Deus: eis a criação.” Ou: “As coisas sabem tanto as coisas que a isto… a isto chamarei de perdão (…). É o perdão em si. Perdão é um atributo da matéria viva.”
antes de tudo uma reflexão espiritual para dirigir a palavra ao universo caetano. Depois e agora sim, um comentário de quem não viu ou ouviu o show; de um brasileiro, carioca, administrador por profissão, atento a palavra escrita e falada: música é movimento, segue a vida desde os primórdios; letra canta com o som e se faz entender pelos altos e baixos dos tons e emoção de quem canta e quem houve, fazendo a conjunção dos sentidos com a matéria da boca, da cabeça, da habilidade instrumental. Podemos até pensar em criticar o som estático da música eletrônica, mas não o pulsar do verbo vivo presente nas letras que passeia na gramática, em evolução, criando, mudando, dizendo ou negando. Quanto aos críticos, vamos perdoar… eles tem que escrever sem inspiração. Na música? há na música só se canta ou escreve com inspiração, uma espécie de senha da alma.
Caetano,
PS:Caetano, de tanto recortar e colar você, escrevi os versos abaixo. E outra, se caso me concedesse um mínimo a mais da sua atenção, gostaria de lhe mostra umas letras e umas possíveis canções que sonho um dia serem cantadas por você. Agora, só sendo um pouco mais importuno, leia por favor, o que recortei superficialmente de você.
Recortando Caetano…
Felipe Magã
“Minha pátria, minha língua!”
Pronominais
Oswald de Andrade
Abraços
Caetano,
Que impasse! Como admitir a norma culta e festejar a mutação da língua ao mesmo tempo? A mutação é a quebra da norma, tornando-se norma em seguida, principalmente quando há difusão literária da “expressão”. Como bom conhecedor da língua, você sabe que a norma culta é um retrato de uma fase da língua e que ironia chamarmos qualquer fase das línguas neolatinas de norma culta quando são variações do Latim vulgar, não acha? Ou seja, esse absoluto formal é bem relativo na prática. Isso não quer dizer que a norma culta não tenha uma plástica belíssima(em alguns casos), mas perceber que o problema não se reduz a gramática. Não concordo com esnobismos lingüísticos ou demagogias lingüísticas. Sejamos dialéticos…
Mas uma coisa eu afirmo com vigor: Pasquali é um achado! Alguém usar de um meio de comunicação eletrônico de modo tão persuasivo para socializar a gramática e a norma culta, isso é genial! Ser contra isso é querer manter privado os recursos do “bem falar” a pequena elite que a detém. É temer que a cultura se democratize de fato. É querer perpetuar a divisão: povo inculto e elite culta.
A questão da crítica do “falar errado” de Lula carrega sim traços preconceituosos e elitistas, como exigir gramática de quem na infância vendia balas no sinal para sobreviver. Se há demagogos eles são da estirpe do Paulo Maluf, esse sim. Mas se ser populista é ser popular, então a democracia é inviável para os que pensam assim.
Se tiver, Caetano, possibilidade de rever os debates de Lula com Alckimin da última eleição, verá que injustiça fazem contra Lula quando subestimam a sua inteligência. Para mim, a forma contundente de realizar essa crítica da norma culta enquanto gramática ou preconceito, seria abrir as vísceras de sua gênese social, sua “norma oculta” como você diz Caetano. Seu desvelamento superaria o impasse e mostraria o inverso.
Caetano, eu entendo sua preocupação, só descordo um pouco. Mas sua militância na cultura enquanto criador genial ou até mesmo como ação política direta de seu amigo Gilberto Gil são a melhor resposta. Sua arte já é a melhor definição do que eu quero afirmar: a busca de uma síntese entre o erudito e o popular, nacional e internacional, regional e global - e esse preciosismo transgressor você alcançou muitas vezes.
Parabéns pelo site, pela obra e pela sua contribuição a nossa cultura brasileira.
Mas Ceará possível que os jagunços do Coroné Caê vão deixar meu post passar ou mais uma vez falarei para as paredes?
De qualquer forma tem sido engraçado vir aqui todos os dias e deixar uma mensagem magoando o ego do nosso ilustre baiano.
Aliás, essa mensagem aqui não vai mudar o mundo nem reinventar a roda, eu só quero mesmo deixar meu protesto contra a censura que vigora nesse espaço.
Como diz o ditado gay: “Não sabe brincar, não desce pro playground”
Ps.: Não, não sou gay. Apenas me utilizo das expressões criativas e engraçadas que eles inventam.
Resolvi ler o post acima pra não dizerem que sou apenas um insensível a procura de atenção (o que confesso que sou!).
Bom Caê, confesso que nesse post acima você fez um excelente uso do blog como ferramenta de destruição em massa.
Aliás, esse seu post é o exemplo perfeito da opinião que tenho sobre a MPB e a tchurminha que a segue como a uma religião. A MPB sempre tem uma explicação ou uma citação famosa pra tudo. Ô povinho que gosta de dar pitaco, vou te contar!
Ps.: Sei que subserviência não se encaixa no fim do meu comentário, mas achei que soaria legal, afinal de contas se o Caê faz isso, também posso eu!
Ps2.: Tô me divertindo chamando o figurão de Caê… vocês não?
CONSEGUI!
Gostei, viajo bastante nesse tema. Um segredo pra ficar só entre nós, hein: minha irmã está sempre dizendo “corier” ao invés de “colher”, dou boas risadas. E as trocas são acompanhadas pela voz mais engraçada do mundo! O dia que eu colocar o “posso pôr a mão, Gustavo” no Youtube você vai ver.
Ah, quase escrevi “vc”, mas voltei e consertei. Esteticamente fica feio, “num” blog tão chique… rs
O que é a comunicação senão a própria expressão da alma. Neste sentido, não importa o grau de refinamento da expressão oral ou escrita de uma possoa, se não há alma no que se quer dizer.
Por isso, muitas vezes há mais emoção num simples errôneo “eu te amo” do que no refinado em “eu amo-te”.
Mais concretamente, há uma galáxia maior de sentimentos em “eu sei que vou te amar” do que em “Eu sei que vou amar-te”.
ENTÃO ME DIGA LÁ: COMO É QUE FOI QUE O LATIM VIROU “PÓ”?
E vamos um pouco mais devagar nessa história dos “mestres da língua”. Nem tudo é o que parece ser.
Cá entre nós: esse Pasquale é muito pedante e chato (quem já viu ele derramando suas lições cheio de tiques e malabarismos vocais deve entender o que estou falando). Ele é, tão somente, um mestre da “boa língua”. Ele ainda não chegou a 1922, embora use poemas de Oswald de Andrade como exemplos de suas aulas. A referência é vazia.
E viva a língua natural e neológica. VIVA A CONTRIBUIÇÃO MILIONÁRIA DE TODOS OS ERROS. Sem os quais o português não teria surgido.
CAETANO: “EST RES MAGNA TACERE”
PARABÉNS CAETANO!
Caetano, seu post me lembrou um pequeno texto do Adorno (que está no “Minima Moralia” e você deve conhecer). Não sei em que medida concordo -para dizer a verdade, há pontos bastante discutíveis-, mas é um exemplo de filósofo inequivocamente de esquerda que se contrapõe a boa parte dos lingüistas, eles também majoritariamente à esquerda. Se me permite, transcrevo aqui:
“É reacionário lançar mão dos dialetos dos operários contra a língua escrita. O ócio e até a soberba e a arrogância conferiram ao discurso das classes superiores uma certa independência e autodisciplina. Através disso ele é levado a opor-se à sua própria esfera social. Ele se volta contra os dominantes, que dele abusam para comandar, pretendendo comandá-los e recusando-se a continuar a serviço de seus interesses. Na linguagem dos oprimidos, porém, resta apenas a expressão da dominação, que também a privou daquela justiça que a palavra autônoma, não-mutilada, promete a todos aqueles que são livres o bastante para dizê-la sem rancor. A linguagem proletária é ditada pela fome. O pobre masca as palavras de modo a saciar-se nelas. Ele espera o espírito objetivo da linguagem, o alimento substancioso que a sociedade lhe recusa; ele, que nada tem para abocanhar, enche a boca com palavras. Vinga-se assim na linguagem. Ele desonra o corpo da linguagem, o que não lhe é permitido amar, repetindo com uma força impotente o ultraje que a ele próprio foi infligido. Até mesmo o que há de melhor em dialetos como o do norte de Berlim ou dos cockneys, a resposta pronta e a graça natural, sofre do defeito de que, para superar sem desespero situações desesperadoras, põe-se a zombar de si mesmo quando zomba do inimigo, e assim dá razão ao curso do mundo. Se a língua escrita codifica a alienação das classes, então esta última não pode ser revogada pela regressão à língua falada, mas apenas na coerência da mais rigorosa objetividade lingüística. Somente a fala que suprassume em si a escrita liberta o discurso humano da mentira de que ele já é humano.”
Permite uma pequena sugestão? Textos longos ficam graficamente pesados na tela do computador mas;
se
você
espacear (existe? não? achei bonito anyway)
um pouco entre os parágrafos eles ganham espaço para respirar e a gente vai longe lendo lendo sem cansar o olhar.
é uma estratégia para contornar a preguiça e o imediatismo que o meio eletrônico proporciona.
“todos os brasileiros, inclusive (talvez mesmo principalmente) as crianças entendem as letras das canções de Orestes Barbosa ou de Chico Buarque em que o cantor se dirige à amada na segunda do singular.”
Um beijo
Olá, Caetano,
Que coincidência receber agora a notícia deste post: estava justamente conversando sobre isso em público, via blogs, com uma professora de lingüística (sou professora de francês e literatura). Em resposta a meus lamentos sobre algumas mudanças no português brasileiro que atentam contra a ossatura do idioma (ou seja, a sintaxe - como “é o carro que você precisa”), ela me acusava de elitismo. Ora, cito você -
“as pessoas que dizem “grobo” são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder”
- para afirmar que, se há no estudo do idioma a função descritiva e a normativa, não entendo por que os profissionais de Letras envolvidos na primeira função (os lingüistas) insistem em menosprezar a segunda, negando a necessidade de padrões para os idiomas e transformando a norma culta numa espécie de instrumento de opressão próprio das “classes dominantes” - um marxismo barato transposto para estudos lingüísticos. Além do mais, embora sejam duas funções igualmente importantes, há uma diferença significativa entre elas: a primeira é eminentemente acadêmica (descreve-se para compreender melhor o idioma e produzir teoria), enquanto a segunda gera resultados fora das portas da universidade, na medida em que, através do ensino para um maior domínio da modalidade culta, há um real aumento não só de possibilidades de ascensão social, mas de desenvolvimento pessoal. Quem domina o padrão culto não só angaria mais oportunidades profissionais, mas lê melhor, escreve melhor e, acredito, até pensa melhor. Assim, o resumo de meu argumento é: enquanto os lingüistas pretendem criar para essas pessoas de “menos poder” uma ilha de falso consolo, são os professores de português (os Pasquale da vida) que de fato lhes estendem a mão e as puxam para cima.
Que os lingüistas continuem portanto naquilo que é de sua especialidade - descrever o uso do idioma - enquanto os professores de português fazem o que é de sua competência: ensinar a variante culta da língua. Descrever e normatizar são duas funções diversas, mas ambas possuem relevância. Não é preciso que uma diminua para que a outra cresça.
Seu blog e esse post foram uma agradável surpresa. Parabéns!
Abraços,
Norma
P.S. Manuel Bandeira confessou achar bonitinho quando os cariocas dizem “para mim fazer”. Particularmente não gosto, mas tenho especial simpatia pelo fenômeno que você citou na linguagem oral de Minas Gerais: a ausência dos pronomes em determinados verbos (”Ele assustou!”). Ora, podemos de fato apreciar alguns desvios da norma culta (orais ou escritos) sem, com isso, adotar esse discurso populista de nivelamento. Aliás, saber apreciar desvios é uma das condições para a fruição da literatura. Senão, professores de português jamais leriam ou recomendariam Guimarães Rosa!
Erich
Nem todo ERRO contribui. A língua negocia com o tempo. A beleza dos ERROS que se incorporam à língua tem mistérios. Do contrário, estamos apenas glamurizando a ignorância.
Viva Adoniran Barbosa!
O livro que lestes chama-se “Ensaios sobre as gramáticas do português”, escrito pela lingüista franco-portuguesa Charlotte Galves. Eu que a lisonjeei ao pedir que o dedicasse a você…
E ao ler suas considerações (excelentes, pertinentes), me dá vontade de presenteá-lo mais.
Um grande abraço!
Jorge Portugal
Sobre a “política” de comentários deste blog ver o texto “antipático mas necessário” que acabo de publicar em http://www.obraemprogresso.com.br/caetano/
Caetano: se estudou Saussure, talvez tenha lido essa passagem: “de fato, toda gente dela [da língua] se ocupa, pouco ou muito; mas - conseqüência paradoxal do interesse que suscita - não há domínio onde tenha (sic) germinado idéias tão absurdas, preconceitos, miragens, ficções” (p. 14 da edição da Cultrix)
Caetano, como tocaste no assunto, vou pagar um mico medieval aqui e mostrar-te minha proposta linguística, sem tremas, para o milênio. Uma bobagem que escrevi há um tempinho. Te quero bem, abs.
Da ensinança de bem escrever
Em nome de nosso senhor Jesu Cristo, que he mandado que todallas cousas façamos, ajudando aquel dito que de fazer livros nom he fim, screvo algüas cousas per que seran ajudados pera a milhor percalçar os que leerem com boa voontade. Faço por ensynar os que tanto nom souberem, e trazer em renembrança aos que mais sabem as cousas que lhes bem parecerem. Per bem screver he necessario que ajom duas cousas principaaes: grande desposiçom e muyto saber. De cada hüa direi apartadamente o que me parece, per que me praz de poer esta scyencya em scripto ainda que tam aproposito nom venham por fazer a algüus proveito, posto que a outros pareça sobejo. (Bem sey quanto pera mym presta fazello ou leixallo de fazer.)
Grande desposiçom: O coraçom oucioso, de tam fraca desposiçom, nom averá poder de cometer, contradizer e soportar todallas cousas fortes e contrarias que perteecem aos estados e oficios de screver. Os desesperançados leixam d’aprender o que pera saber lhes he necessario, e ssom conhecidamente os mais enganados por esto. E ssentyndo esto o vailente emperador Jullyo Cesar, por muyto que ouvesse de fazer, sempre quando avya spaço seguya o estudo e algüas obras de novo screvya. Digo que he visto per speriencia que o coraçom dos que prezam screver he semelhante aa moo do moynho, a qual botada per força das auguas nunca cessa de seu andar, e tal farinha dá como a ssemente que mooe.
Muyto saber: Aos que dizem que screver sem livro se deprende, digo que nom he verdade. Papagayos bem aprendem porem nom leem pera saberem milhor. Aos que bem pratycam a converssaçom de mais cousas razoadamente devem saber, por que esta manha per ssy soo nom he soficiente pera fazer algüu muyto valer. Ssaybham nom tomar jnoramcia por boa voontade. Os que tiram grandes vantagëes do conhecymento em proveito de bem parecer e outras mostramças nom poderóm seer boons scryptores por que a contynuada husança de sua presunçom afastará muytas pessoas se os leerem, que logo se enfadaróm delles. Por regra geeral pessoas de boos coraçõoes desejam leer livros dalgüa scyencya ou enssynança, nom livros bestas mais sem proveito que ellas.
Screver nom he jogo de manqual. Screver bem he saber leer aalem da propria imagem em hum espelho de borracha. E por nom trautarse de avamjelho esto que aquy screvo, leixo de mais sobre ello screver, por muyto nom perlongar. Milhor ouvermos nosso caminho per doutro mar de lomgo.
da Jlha de Vera Cruz, 2008.
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Haverá alguma relação entre Tristes Trópicos de L. Strauss e Coração Vagabundo de Caetano?
Gostaria muito de ver descrito seu ponto de vista favorável a São Paulo. Estive nas duas cidades e também gostei mais de São Paulo, por isso fiquei curioso para ouvir-te a respeito.
Sou da área de turismo e assim seria interessantíssimo suas opiniões.
Parabéns pelo trabalho!!!
oi Fernando: não sou só eu na moderação - claro que o timing é um problema - vamos melhorando aos poucos (se o movimento por aqui exigir - como nos últimos dias com picos inesperados de visitas)- afinal a Obra nos bastidores do blog também está em progresso - abraços
PS: e desculpa colocar este comentário nada a ver com o post por aqui - mas era tanta gente reclamando por não ter tido comentários publicados que tive que colocar os links para os esclarecimentos…
Caro Caetano,
Inês
(Eu nunca entendi o “em um” e o “em uma” usados no Brasil, fiquei a pensar se os meus “num” e numa” estariam errados, e nunca descobri)
Corrijo aqui meus erros de digitação para garantir a publicação:
Caro Hermano
Li com atenção cada item da “política” de publicação deste blog. Confesso que fiquei meio dividido. Se por um lado, a moderação determina uma maior qualificação da conversa virtual; por outro, suas ponderações parecem meio frágeis. Estou a vontade pra falar isso por muitos motivos: 99% do que postei foi aceito, admiro muito o seu trabalho e acompanho o de Caetano há anos.
Como sou um velho blogueiro fiquei um tanto perplexo. Se não dá pra avaliar os todos os comentários 24hs, como garantir o timing de um papo virtual? E se os coments tem que ter a ver com o post, a situação piora. A demora na publicação dos posts e na moderação dos coments aumenta a chance de um comentário novo, sobre um novo tema, ter que ser enviado no espaço destinado a uma velha discussão já vencida.
Ora, com essa política tão focada e temática a moderação deveria ser mais ágil e “a tempo”. E mais: alguns coments não pertinenetes ao tema do post podem ser bacanas. O seu por exemplo sobre a “política” do blog não tem nada a ver com o post “Linguístas” do Caetano. Achei-o meio sem querer, fuçando no papo.
A internet é anárquica. É claro que grosserias e rasgações de seda são inconvenientes, mas uma moderação feita por apenas um cara, com disponibilidade relativa e presença irregular, num blog relacionado a um projeto tão importante, pode ser um perigo.
Na internet, quantidade e qualidade se misturam e por mais que os critérios sejam (e são) compreensíveis, fica um sabor de critério editorial. Aí a sua palavra “política” ganha um novo sentido. Ou melhor, o “velho” sentido. Não confundo isso com censura, mas é no mínimo uma análise bem pessoal e vetorial.
Tenho um modesto blog e recebo coments muitas vezes fora do esquadro. Tremo só de pensar em deletá-los! Tenho arrepios de pensar que só os coments pertinentes ao post sejam por mim aceitos.
Você pode correr o risco de não entender um comentário, ou analisá-lo de forma pessoal, quando os outros aqui presentes nem se incomodariam, ou entenderiam algo que você não percebeu. Assim é o mundo. Assim é a web.
abraço de um admirador
Fernando Salem
C sem ponto (http://www.obraemprogresso.com.br/2008/09/02/linguistas/#comment-2469):
Não entendi bem o que você disse sobre perdão como omissão de algo, nem sobre uma injustiça. Mas quanto àquela história de interrupções, não foi uma crítica - não a Caetano, pelo menos, até porque eu não disse que ele interrompia, mas que era constantemente interrompido. E interrompido exatamente por críticas. E seria de todo modo uma pena que um espaço tão promissor quanto este virasse uma arena de críticas fáceis e que ainda por cima desviassem Caetano de outras coisas que ele poderia estar nos dando a oportunidade de ler, sem essa acidez constante de acusações e rebates (que em si já é uma queda na qualidade pela qual este blog zela). Eu não critico Caetano por responder, eu mesma estou te respondendo. Só lamentei o tempo que se perde com isso, porque eu tenho muita ansiedade em ler o que ele diz descompromissadamente. Muito do que ele faz e diz é relevante pra mim; ele é uma das peças centrais do meu trabalho que você sugere que eu mostre, e por isso adorei a idéia de um blog que fosse uma expressão cotidiana dele e de uma criação em andamento. (Até porque esse meu trabalho também é uma obra em progresso, é essencialmente “em andamento”, o que faz com que este blog me seja duplamente enriquecedor - não só por conter textos de Caetano como pela identificação com o método aberto de criação.)
Eu agradeço que você queira que eu “mostre a minha cara” e explique do que se trata o meu trabalho - sou leonina com ascendente em leão, Caetano deve saber o que isso significa diante de uma proposta dessa! -, mas este não é o espaço para isso. Como também não é o espaço para eu dizer o quanto gosto de Caetano sem ficar retida no filtro da tietagem desenfreada (porque eu certamente ficaria), mas acho que não vai contra a política do blog reforçar outra vez que não o critiquei em palavra nenhuma do que escrevi.
p.s.: O estado de alerta em que a gente fica quando sabe que a tensão de ataques e defesas está no ar me deu a impressão de que essa última frase pode ter soado irônica e que eu discordo da política do blog. Não, Hermano, eu a achei bem razoável por sinal.
Depois de ler esse post do Caetano, sinto-me compelido a parafrasear Sírio Possenti, já que também sou um (bastante jovem) estudante da língua portuguesa e da linguagem humana:
“Eu também não entendo nada de música”.
Só faltou falar do livro Macunaíma, todo escrito, magistralmente, na forma linguística e não gramatical, por nosso querido Mario de Andrade
ao Fernando Salem:
observe que em qualquer situação da vida, limites são necessários. em espaços reais e nos virtuais também. o fato da web se possibilitar uma grande velocidade na comunicação e sem qualquer enraizamento pra que isso aconteça, sem necessidade dos referenciais concretos pra isso (como olhares e movimentos corporais por ex) está gerando uma nova categoria de doenças da informação e comunicação. crianças em idade escolar sendo diagnosticadas muitas vezes erroneamente como hiperativos e receitados aos cuidados de drogas nada agradáveis como ritalina, enquanto grande parte de seus problemas se resolve rapidamente com um tempo determinado em receita médica tipo “duas horas de pátio ao voltar da escola”, “brincar com argila com a participação dos pais”. e isso não é piada não. é fato que quem está mais enganjado nesta área conhece a gravidade do problema. de ter orientador escolar receitando ritalina pra aluno ativo demais. pessoas se constituindo desprovidas de limites corporais e mentais, desprovidas de contato com a terra em todos os seus amplos sentidos. e o “perigo” de moderar comentários é exatamente o mesmo que as pessoas que se propõem a ter filhos assumem: possibilitar a expansão da mente, evoluindo, mas com limites claros. tarefa de pai e mãe. e muitas vezes se diz não demais e muitas de menos. acho que o hermano está agora em uma posição de maior “paternidade” da moderação desse blog. e de maior responsabilidade com andar desses próximos movimentos. e o risco de não entender algo nos faz lembrar que apesar da web e internet, somos humanos. não podemos separar completamente o pessoal. e isso também nos ajuda a lembrar que também existe um motivo pra que seja o hermano que está nesse papel. em parceria com caetano, e todas outras pessoas. apesar da sensação de grandes espaços virtuais que a web proporciona, lembremos que tudo é muito mais humano. obras são construídas assim. bem, escreveria muito a respeito disso, pq trabalho com as doenças das pessoas que vem muitas vezes desses esquecimentos, mas talvez isso já demostre minha pre ocupação a respeito de aceitarmos algo como “a web é assim”. ela não é assim, é o que fazemos dela, é um reflexo do que estamos fazendo dentro das nossas casas e trabalhos com as pessoas que nos cercam. abraço fernando, quis te colocar esse ponto de vista também. achei importante já que o assunto surgiu.
e desculpe minha gramatica. escrevo como penso, e as vezes faço muito rápido, e suprimo virgulas. e geralmente, em situações casuais e virtuais, não corrijo. exatamente pra me lembrar como está funcionando meu pensamento.
O equilíbrio, as tendências e a mistura me permitem conhecer a língua musical de Caetano, ler Camões, entender a língua dos meus amigos mal-escolarizados e estar habilitada a dar aula de gramática tradicional.
.equilíbrio.
um abraço,
vai rolar imagens de estúdio da gravação do disco???
O pesquisador e escritor entrevistado na Caros Amigos é Marcos Bagno e seu grande livro se chama “Preconceito Lingúistico”. Meu povo, cuidado em manter as coisas superficiais. O Bagno é um grande professor da Universidade de Brasília (onde fui seu aluno) e um tremendo defensor da língua portuguesa. É escritor e preza muito pela beleza, riqueza e complexidade de nossa língua. O que ele despreza e ataca é o preconceito, é a propagação da idéia de que quem não fala a norma culta (e norma culta mais se escreve, menos se fala) está por fora, é pobre, é burro, é incapaz. Língua é comunicação e qualquer “nóis vai” “tv grobo” e o que quer que seja comunica, assim como esse meu queísmo todo aí atrás. Em seus livros, Bagno não se furta a citar os grandes autores da língua portuguesa, aliás, muito de suas idéias podem ser apreendidas da querida Emília, do grande (e muitas vezes equivocado) Monteiro Lobato. Existe um jornalismo tosco que nos bombardeia e Pasquale faz parte disso sim. Decorar e propagar regras de gramática (gramática, não língua) não inclui nem ensina ninguém. Esses caras se alimentam e alimentam vestibulandos e concursandos, não a nossa grande população semi-letrada. Aliás, banho de língua sempre nos deram os grandes artistas da música brasileira, como o Caetano, Chico Buarque, Gil, Cartola, e, porque não, Adoniran Barbosa.
Caetano, o prof. Pasqualle sempre diz que em suas músicas, seus textos o português esta e é corretíssimo, você tem este dom.Sabe aonde, como, quando usar e aplicar a língua corretamente.
A critica brasileira feita no Brasil por críticos brasileiros - sobretudo - sempre foi para falar mal do Brasil de um modo geral.Sobretudo em relação á artistas que se destacam lá fora como você ou um amigo querido nosso - outro apaixonado pelo Brasil e a língua portuguesa: Zé Celso.Que tem um dos nomes mais lindos e poéticos que já vi: José Celso Martinez Corrêea. E a crítica, não importa o que ele faça, o quão se empenhe com seu grupo, não perdoa.
Não sou especialista em língua portuguesa, tenho apenas 28 anos. Mas como você e outros aqui, sou extremamente apaixonado pela nossa lingua mãe.
Curiosamente, a mesma crítica que muitas vezes massacra nossos artistas é a mesma que se encarrega de massacra nossa própria língua. Criando verbos e expressões em inglês, nada contra, ainda que não haja significado para certas palavras em inglês ou traduções literais ao pé da letra.
Como saudade. É algo que só temos no Brasil e em nenhum outro país. Claro, você pode ter traduções que até chegam perto de seu significado, mas: “saudade“, é algo que só nascido e criado uma vez no Brasil para saber seu real significado. Não á toa, quando os estrangeiros vem morar aqui, ficam loucos aos descobrirem o poder desta palavra.
E assim é nossa língua, riquíssima como nossos artistas. E a crítica permanecerá eternamente provinciana.
Há e voltando ao: `´você`´, não ainda não acabou. Devo discordar. Eu ainda uso muito o: “você“. Em São Paulo assim como aí no Rio também se usa muito o: “tú“ ou o: “tá“: - “tá ligado mano“?
E pelas ruas de Sampa ou SãPã ainda ouvimos muito o: “você“. É só parar pra prestar atenção nas conversas alheias.
A língua brasileira é uma eterna resistente assim como nossos artistas, além de muito rica e criativa, enquanto a crítica segue em sua província ou melhor dizendo: latifúndio!
E aproveitando que o tema é: “Você“, eu fico com o seu: “CÊ`´. É um disco pra lá de envolvente, estranho quando se ouve logo de cara, mas as músicas como: “Rocks“, “ Odeio“, entre outras, tem refrões grudentos, desses que ficam e não saem tão fácil assim das nossas cabeças.
Estou ansioso por este OBRA EM ABERTA. Já pensou na possibilidade um disco duplo? Repleto de novos clássicos? A maioria das músicas que ouvi aqui não merecem ficar de fora. Tem de ser duplo ou triplo.
Não importa a razão que o levou a ler Saussure; deve ter sido uma leitura bastante proveitosa. Você também teria gostado de ler Jakobson, teórico que trata das funções da linguagem, dentre as quais a poética, que você domina tão bem. Segundo ele, a mensagem com função poética é ambígua (daí sua multiplicidade de leituras) e auto-reflexiva, o que a leva a “dar seu recado” duas vezes: pelo que diz e pela forma como o diz.
Embora tenha lido Saussure há tanto tempo, você parece ter ficado muito bem impressionado com ele, pois guardou na memória suas observações sobre fala e escrita, e a não equivalência entre sons e letras. Se você ficou “maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes”, deve concordar que ela não é homogênea e que é impossível congelá-la no tempo ou no espaço. Pena você ter perdido o livro que lhe foi presenteado, com uma dedicatória inesquecível. Mas, parece que ele cumpriu o papel de inquietá-lo, o que não é pouca coisa. Graças a ele, você se interessou pelo assunto, leu outros livros e artigos sobre o tema. Enfim, o livro provocou em você excelentes reflexões.
Você tem razão: os gaúchos, a torcida no Maracanã e seu filho empregam a segunda pessoa, embora a mesclem com a terceira, num desvio de concordância verbal que foge à norma culta e, certamente, seria condenado pelo prof. Pasquali. Bem observado também o registro de ironia/agressividade presente no “tu” do falar carioca. As formas viste/visse empregadas pelos pernambucanos ocorrem também com os catarinenses (“Fosse na festa? Gostasse?”), não por uma questão de suavização, mas por um processo fonológico que torna um fonema igual ou semelhante a outro, devido à proximidade com ele. A omissão do pronome nos verbos reflexivos observada em mineiros e paulistas do interior é outro regionalismo e implica também uma alteração na regência de alguns desses verbos (apaixonar-se por/com). Evidentemente, o nível de escolaridade acaba por suplantar esses falares regionais.
Quanto à conjugação verbal dos paraenses, você está certo: eles utilizam mesmo a segunda pessoa. A opção pela terceira é uma tendência, não uma regra geral. Falado num continente imenso, o idioma só poderia variar mesmo, você não acha? E essas variações não são apenas fonéticas e lexicais. São também gramaticais, como nesse caso. E, evidentemente, nenhum lingüista discordaria de sua afirmação sobre as canções de Orestes Barbosa ou de Chico Buarque. Tais diferenças não nos impedem de apreciar os versos de Fernando Pessoa, nem aos portugueses de apreciar Drummond.
Você é justo ao afirmar que a autora que o presenteou falava em “tendências”, o que impede o “valor normativo” que você enxergou no texto. Penso que se tratou de um equívoco de leitura, que pode ser atribuído a sua falta de familiaridade com o assunto, até então. Tendências não têm valor normativo. Não sei se entendi bem sua afirmação de que era recorrente o argumento “de que qualquer transmissão de conhecimento relativo à tecnologia da língua é opressão”. Você quer dizer que a autora considerava opressivo o conhecimento gramatical? Desculpe, mas deve ser novo equívoco de leitura. Se você se debruçar um pouco mais sobre o assunto, vai verificar que os lingüistas afirmam que não existe língua sem gramática. Mais que isso, há diferentes gramáticas na língua, cada uma regendo uma Norma diferente (Norma, nesse jargão, é entendida como “como se fala”, não “como se deve falar”).
Penso que Chomsky não pode servir de apoio para suas convicções em relação à norma culta e sua defesa de Cipro Neto, uma vez que, como você deve saber, o lingüista americano trata da competência do falante-ouvinte ideal. Para esse autor, o objeto de estudo da lingüística é a explicação dessa competência (que é abstrata), e não o desempenho (sua concretização), onde ocorrem os fenômenos que você descreveu acima – sejam eles regionais, sócio-culturais ou situacionais. Você afirma que “se tivermos mais brasileiros letrados, melhores escolas, menos pobreza (isto já começa a se dar), o trato com a palavra escrita poderá mudar muitas ‘tendências’”. Você acha importante mudar tendências como as identificadas e jocosamente comentadas por você próprio? Elas não “enriquecem” a língua portuguesa, tornando-a viva e variada como seus falantes?
Caetano sou um estudante de jornalismo e como tal adorei a aula. Aula de português, de elegância e de paciência. É impressionante como algumas pessoas se sentem donas de uma verdade absoluta que não existe. Dos lingüistas aos críticos de música, todos se acham de alguma forma donos de uma verdade que é relativa por si só. Dias atrás eu estava ouvindo um disco tributo ao Renato Russo que possui entrevistas nas últimas faixas. Num dos trechos, ao falar sobre o pessoal dos cadernos culturais e suas perseguições descabidas aos artistas de sucesso, por volta do ano de 94, ele solta: “CAETANO TEM TODA RAZÃO…ESSAS BICHAS SÃO DANADINHAS…EDITORES AINDA POR CIMA…” Renato tinha razão, Lobão tem razão, Caetano tem razão, eu tenho razão. Todos temos. Mas não temos a verdade. Ainda…
Pra Joana
Joana. Esse não é um blog destinado a “crianças em idade escolar”, embora entenda que há adultos pirados na Internet. Quanto ao Hermano assumir um papel “paterno”, aí ‘cê forçou.
Seu coment me pareceu um tanto fóbico em ralação a web. A hiperatividade é doença nova apenas em relação ao seu diagnóstico. Não há nada que comprove a sua teoria de que ela seja uma patologia contemporânea, e muito menos ligada a web.
Não tinha ouvido falar dessa droga “ritalina”, mas tomo doses cavalares de Rita Leena”
Voce escreve de forma agradavel e, nao ha duvida, com tecnica, clareza, etc (estou sem acentos na maquina). Nem achei antipatico porque o tom eh legal. Mas duas coisas me incomodaram[1. o que vc considera obscuro, nao quer dizer que seja de fato e 2. claro que qualquer um pode publicar qq coisa em seu proprio blog, etc, mas eh evidente que trata-se de estar se falado de um espaco visitado, lido, onde as coisas tem repercurssao.
Seguem alguns comentários mais ou menos independentes.
1 - Algo interessante e sintomático pode ser observado nessa série de comentários, e em outros lugares em que essa discussão aparece: boa parte dos textículos que expressam concordância com as opiniões de Caetano e de outros gramatiqueiros são repletos de estruturas que a gramática tradicional consideraria erradas.
2 - Aos que tanto reclamam de como as pessoas escrevem mal: nunca pararam para pensar em como isso é possível em um país que tem a tradição gramatical que o Brasil tem?
Caetano, já que o assunto ainda é, de certa forma, a crítica da imprensa sobre o show seu e de Roberto Carlos, sugiro que você dê uma lida numa das reportagens que saíram hoje no jornal A Tarde sobre o show de João Gilberto amanhã no TCA (estou ansioso). Também foi uma pérola. Um dos argumentos era o de que a alegria de um jovem que se jogou no chão ao conseguir comprar os concorridos ingressos seria culpa da imprensa incapaz de derrubar mitos “criados” como João Gilberto. Mas na hora de fundamentar o que faz com que João Gilberto seja imerecedor de tal manifestação de felicidade, necas! Show de achismo e irritaçãozinha boba.
Caro Caetano,
Em tempo:
Língua culta: ao meu entender é um conjunto de normas gramaticais aceitas por uma sociedade como a forma “correta” de se expressar. Mas isso é muito mais importante na língua escrita, que é praticamente identica em todo território brasileiro.
Nós falamos português brasileiro!! Escrevemos com próclise e falamos sem ela. Em Portugal a ênclise é quase universal. Usamos gerúndios em vez de infinitivos nos tempos progressivos(”Estou fazendo” x “Estou a fazer”). A nossa norma culta não é a norma culta portuguesa. Tentar ensinar a norma deles no Brasil é uma tremenda loucura. Seria como ensinar um americano a falar como um britânico.
Antes de partir devemos lembrar. Todos os indíviduos aprendem a falar, mas nem todos aprendem a escrever.
Um amigo meu enviou-me este link, e recordei que há coisa de um ano e tal escrevi a respeito do mesmo — ou semelhante—, desde a perspectiva galega (da Galiza). Talvez tenham interesse em ler, e, claro, opinar:
http://ojs.gc.cuny.edu/index.php/lljournal/article/viewArticle/meirinho/229
(Desculpem que contenha alguns erros de transcrição…)
Interrumpo esta elevada discusión para preguntarle al profesor Caetano cómo están saliendo las grabaciones del nuevo CD. Tiene nombre el bebé? Será un nombre en italiano… un nombre con el prefijo Trans-?
Con respecto a la moderación, se entiende que estén en la obligación de censurar pero personalmente cuando me tomo el tiempo de escribir y luego borran el post… o desaparece en el ciberinfinito, me vienen a la lengua unas palabras no muy gratas. Además, las reglas no se siguen para todos los posts. Algunos moderadores son más “estrictos” que otros. El progreso es así…..
Vocês notaram como os coments aos POSTS do Caetano não relacionados a Transamba e Obra em Progresso se intensificam?
Sei que esse blog nasceu como parte orgânica do belo projeto. Mas é visível o quanto ele despertou em Caetano o desejo de falar e escrever sobre temas variados, claro que direta ou indiretamente relacionados ao seu trabalho. A web é perfeita para acolher a sua inquietação!
Os coments aos posts em VT com Caetano cantando são poucos e apenas elogiosos. Claro! Precisa mais?
A gente escuta e vê o cara. E basta. Já é maravilhoso. Mas quando lemos suas relexões paralelas ao trabalho estamos diante de um privilégio inédito. Pensar com ele.
Espero que esse blog ganhe vida própria mesmo depois do lançamento do disco.
fernando:
de forma alguma quis agredir suas ideias, mas como “minha crianças já viram muitas coisas vinculadas a seus trabalhos quis apenas te acrescentar alguns pontos de vista, que talvez com o tempo te interesse observar.
fobia sim com a idéia de aceitação de que “a web é assim”, com a possibilidade de aceitar que tudo seja possível nela, sem moderação, inclusive um espaço onde podemos exercer e destilar nossos venenos mentais, julgar, agredir, mentir, e omitir sem limites. paternidade no sentido de que: quando vc cria algo, se torna responsavel pela sua criação. qd esse blog foi criado, essa responsabilidade pelo que ele manifesta vem junto.
e por último e o mais importante, e que não é pra vc, não tem como eu te explicar: vc não tem noção do quanto esse blog é importante para as “minhas crianças”. outras pessoas estão entendendo a respeito disso, nesses meus comentários, do quanto. e isso já é muito mais que suficiente.
não veja meu comentário como uma afronta, nem se ocupe em discriminar minhas opiniões por causa disso. é apenas a colocação de novas idéias em pauta. pq exatamente vejo, assim como vc escreveu aí, que muitas pessoas desconhecem aspectos muito sutis das relações humanas. pq os homens não são apenas o que se vê concretamente, fisicamente palpável. existe todo um universo invisível que os permeia. e esse invisível é que determina o que será concreto ou não. um blog, um filho, um cd, um dvd. uma carta, um mail, um comentario, uma doença.
e se negamos esse invisível, negamos nossa responsabilidade pelo que concretizamos e disseminamos, nossa “paternidade” pelas coisas que fazemos: um filho, ou uma moderação.
apenas coloco outros pontos de vista…
desculpe, mas preciso me prolongar, pq precisei me questionar de fato que ligação há entre a saúde mental e a música, senão não faria sentido eu, que lido com a saúde de corpos e mentes, estar aqui, acompanhando este blog, e as tantas pessoas que estão batalhando por esta obra, e por esse projeto.
e eu também tou fora das drogas.
ritalina:
http://www.taps.org.br/Paginas/hiperartigo02.html
… pois proíbem a troca natural entre os níveis de informação …
São Paulo
Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário.
Caetaeno, sobre a crítica aos linguistas que achei muito interessante…… É importante frisar tambem que as culturas européias que vieram a falar linguas de origem latina (portugueses, espanhóis, franceses, italianos e franceses), carregaram consigo ñ somente a influencia linguistica de Roma, mas tambem a sua relação com a aristocracia e o poder.
Assim como em Roma, os povos latinos (inclui-se aí nós, latino-afro-indioamericanos!.. rs) herdaram a mania de usar a lingua como ferramenta de dominação (tanto a escrita quanto a falada).
Isto é: a lingua portuguesa no Brasil é do ponto de vista “linguistico” (se é q posso falar assim, pois carrega total juizo de valor) é mais portuguesa do que a de portugal. Essa é uma resposta que posso dar aqueles que falam que “só por que é portugues, eles estão com toda razão, afinal, a lingua é portuguesa, se originou lá, então Portugal esta certo, tem que ditar as regras!?…. Houvi algumas histórias de portugueses que falam q os mais velhos falam o portugues muito mais parecido com o do Brasil, do que as novas gerações (com idade entre 35 anos pra baixo), que sofreram as consequencias das reformas da lingua, e agora falam um portugues “lusitano”.
Finalmente, cabe lembrar que, como bem disse Bechara na mesma entrevista: ñ existe fundamento nenhum para tantas regras…. por exemplo: pra q 20 regras e sub regras de crase, como existe em Portugal, se o papel da crase hj eh completamente diferente do que era no inicio do séc. XX? Naquela época o numero de escolas era muito menor (tanto no Brasil qnto em Portugal), e as regras crasiais cumpriam seu papel de auxiliar na alfabetização….. Hj em dia é diferente, temos meios de comunicações muito mais dinâmicos (TV, internet, jornais, rádio, revistas, etc….), sendo esses por si só já auxiliarem no fonema da lingua falada. Não há necesidade de 20 regras, aliás, ñ há necessidade de nenhuma regra de crase! São desnecessárias!