Mais imprensa (30/08/2008)
MAIS IMPRENSA |
30/08/2008 5:28 pm |
Osias, Sempre penso em como a crítica de cinema tem sido mais bem servida do que a de música popular. Não quero desmerecer os críticos de música, mas em toda parte há maior seriedade cercando o crítico de cinema. Seriedade editorial, para começar. Embora o cinema seja arte novíssima - e tenha começado como mera atração de feira de novidades - , ele ganhou status de assunto respeitável. Suponho que isso aconteça porque o público de cinema é mais adulto, melhor de vida e mais letrado do que o público da canção. Mas acho gostoso esse desequilíbrio que veio com o upgrade britânico para o rock nos anos 60: os críticos de cinema mantêm seu ambiente tradicionalmente sério, mas os de música misturam ignorância com hiper-erudição e petulância nos julgamentos. Só não deixo passar o uso que se faz disso para manter o mito de que somos cronicamente inviáveis. Acho que se o professor da USP elogia o filme de Sergio Bianchi e desconhece o romance de Diogo Mainardi é só por demarcação de território entre “esquerda” e “direita”. Os dois livros de Mainardi que li (aconselhado por Paulo Francis que dizia, ainda na Folha, que Diogo era o cara) são muito melhor literatura do que “Cronicamente inviável” é bom cinema. O que não é dizer muito. É raro alguém escrever de modo inteligente e equilibrado sobre música popular. Mas a maluquice desproporcional da crítica de rock, feita de elogios extravagantes e desaforos, excita. É sinal de que samba (etc.) não é resguardado, não é coisa de classes dominantes. Me sinto bem nesse lugar. Vai aí abaixo uma leitura/piada do artigo do cara do Estadão. É só para divertimento. Eu mesmo, antes de reler o que escrevi, vi que tinha grafado “trexo” em vez de “trecho” numa das veses em que usei a palavra. Quando, por causa de um bate-boca ridículo sobre um outro show-tributo a Tom Jobim, mandei um texto pro JB chiando com o Xexéo e chamando-o de ignorante, a primeira frase da resposta dele era uma denúncia de que eu escrevera um “z” onde deveria ter escrito um “s”. Sou apaixonado pela língua portuguesa e por gramática (ao contrário de lingüistas e demagogos em geral, acho o sucesso público de figuras como o professor Pasquale um bom sintoma) mas sou muito desarmado em matéria de ortografia. O Jotabê e a Colombo só receberam tanta atenção (de quem não tem tempo para quase nada além da Obra em Progresso para preparar o novo CD) porque sou obsessivo com a afirmação das glórias nacionais (justo eu que escrevi aquele samba para Aracy - e a pedido dela!). Escrevi a “aula” abaixo porque Paulinha adora minhas gramatiquices e só a posto para você ler: Caetano, o Rei e o show de naftalina Mais preocupados em lustrar prestígio de Tom Jobim do que em ousar e suplantar-se, totens da MPB fazem noite tediosa Crítica Jotabê Medeiros Os melhores momentos do show de Roberto Carlos e Caetano Veloso em homenagem a Tom Jobim acontecem quando o próprio Tom Jobim, no telão, surge cantando suas canções e tocando-as ao piano. É um efeito sintomático: quando a homenagem, ao vivo, é menos vibrante do que a imagem vítrea, a memória, algo vai errado. Na segunda frase temos logo uma formulação torta: “é um efeito sintomático”. Mas isso é problema de estilo. Já as vírgulas que separam a expressão “ao vivo” são mais do que desnecessárias: constituem erro, uma vez que “ao vivo” tem o mesmo papel de adjetivar “homenagem” que “vítrea” tem de qualificar “imagem”. Trata-se de uma mania de usar vírgulas em excesso, coisa que tem prejudicado tantos textos jornalísticos (e mesmo literários) entre nós. Há também imprecisão (e mau gosto estilístico) em chamar “a memória” de “imagem vítrea” (por quê? porque se tratava de projeção de vídeo? será que alguém pensa que vídeo é vidro? ou apenas quer dizer que imagens na memória são de vidro?). Roberto e Caetano fizeram de tudo para Tom Jobim: bajularam-no, superlativaram-no, choraram-no. Como o autor justificaria o uso da preposição “para” com os verbos (seguidos de pronomes átonos) que vêm depois dos dois pontos? A platéia entendeu, compreendeu, participou, emocionou-se junto - talvez mais pela própria força das canções do que pela grandeza das versões. “Entendeu, compreendeu” e “participou, emocionou-se junto” formam um par de incômodas redundâncias. E o “talvez mais” diz que a “grandeza das versões” é imensa, já que a “força das canções” em pauta é reconhecidamente extraordinária (apreciação da qual o jornalista nem de longe discorda). Todo o texto (e seu título) gostariam de dizer exatamente o contrário disso. Mas tudo que Roberto & Caetano não conseguiram foi fazer com que a obra de Tom suplantasse a solenidade, a paródia, o gesto imitador. Afinal o tom criticado era de solenidade ou de paródia? E “gesto imitador” vem para ilustrar uma ou outra? O período resulta incompreensível. Aboleraram Tom Jobim, regrediram sua canção à idade da pré-bossa, ao barroquismo da fase Orlando Silva (nem ao menos um Mário Reis pintou ali). Mas afinal os cantores não conseguiram sair da solenidade ou “aboleraram Tom Jobim”? Sem querer entrar muito nas questões de conteúdo, não se pode deixar aqui de notar que foram cantadas muitas canções do Tom da fase pré-bossa nova, período em que o samba-canção era tido como “abolerado”, com o qual Orlando Silva nada tinha a ver. Orlando Silva, um estilista típico dos anos 30, é o cantor que mais influenciou João Gilberto (João não se cansa de dizer que Orlando era “o maior cantor do mundo”). Com todo o respeito por Mário Reis (e o reconhecimento das afinidades superficiais entre seu canto e o de João), sempre senti que João é mais Ciro Monteiro e Orlando Silva filtrados por Chet Baker do que Mário. Para piorar a confusão, o jornalista qualifica como “barroquismo” as características do canto de Orlando, que nada tem a ver com o sambolero pré-bossa nova, com o qual Tom, sim, tem tudo a ver. E o verbo “regredir” - é transitivo direto? Naftalínico, o concerto cedeu à nostalgia, à vontade de que o tempo fique congelado, que as coisas sejam imutáveis e polidas ad infinitum. Que miséria redacional! “Naftalínico”, esse horrendo neologismo (o adjetivo existente é “naftalênico”, referente ao naftaleno, de que “naftalina” é um nome comercial) abre o período, que é confuso em si mesmo e incongruente com o aparente argumento central do artigo. Além de o abandono da preposição “de” na última frase deixar o trecho capenga, surge a pergunta: cedeu-se à vontade de que “o tempo fique congelado” e as coisas sejam “imutáveis” ou que elas sejam polidas “ad infinitum”? Digamos que o jornalista creia que “imutáveis” e “polidas ad infinitum” sejam expressões sinônimas: como ele concilia isso com a afirmação de que se “abolerou” Jobim? O pianista Daniel Jobim, neto de Tom, usava o chapéu característico do avô, como que para reiterar a onipresença do compositor. Um gesto dispensável, já que o próprio repertório tinha essa função. Deus do céu! O repertório tinha a função de reiterar a onipresença do compositor? E o chapéu de Daniel (que é um dos elementos constantes na maneira poética e desconcertante de ele incorporar a persona do avô - traço de sua própria personalidade que se salva da estreiteza pelo modo espontâneo com que sua musicalidade abissal se expressa) foi usado “como que” para reiterar essa reiteração? Foi como num jogral escolar em homenagem ao Duque de Caxias ou coisa parecida, em que as qualidades do homenageado são discorridas de forma artificial, mal ensaiada. Um lustro tedioso num monolito de ouro. “Um lustro tedioso” faz pensar num qüinqüênio sem novidades. Mas será que o jornalista crê que essa imagem do monolito de ouro (supostamente a obra de Jobim, que, em outros lugares do texto, ele lamenta que se tenha deixado “congelada”) a que se dá um “lustro tedioso” é uma boa imagem literária? E as qualidades do homenageado “são discorridas”? O verbo “dicorrer” aí pode ser tomado como transitivo direto? E o Duque de Caxias, como pôde o autor colocá-lo tão perto desse monolito? É isso que se aprende nos manuais de redação? Jesus de Nazaré! Caetano (animado com suas sambadinhas à Rubens Barrichello) mostra que é mais eficiente nas versões de clássicos da chamada música brega brasileira (como fez em Moça, de Wando, ou Sozinho, de Peninha). Aí, ele consegue “emprestar” elegância e prestígio à canção e, em contrapartida, revestir-se de sua “sinceridade”. Mas, confrontado com a fineza de Jobim, parece diluir-se, perder lastro ou, então, é apenas reiterativo, com reverência exagerada. Nunca soube que Rubens Barrichello sambasse. Tenho horror a corridas de automóveis. Comento esse trecho pessoalmente, não como professor. Está mal escrito mas parece conter crítica justa a minhas limitações. Mas o fato é que para mim não há como exagerar a reverência a Tom Jobim. Há pouca ousadia no repertório: Garota de Ipanema, Samba do Avião, duas vezes Chega de Saudade. Um dos momentos é quando Caetano, em seu set solo, canta Caminho de Pedra. “Essa é uma canção não muito conhecida de Tom Jobim. No disco de Elizeth, que ouvi com Bethânia em Salvador, nos anos 60. Fico feliz em ter a chance de cantá-la aqui, com orquestra. Muito modestamente e muito inseguramente, mas com coração”, avisou, ao finalizar com um “peeeeedra” de doer os ouvidos. A gente se pergunta: a que exatamente se refere a frase “um dos momentos é quando…”. Aí voltamos e relemos lá em cima que “há pouca ousadia no repertório”. Ah!, um dos momentos em que há alguma ousadia é quando… Ter de fazer força para adivinhar o que um jornalista quer dizer (ou ter que, mentalmente, redigir por ele) - sobretudo sendo algo afinal tão simples - é de lascar. E a voz de Roberto é tamanha que às vezes ela precisa de controle. Sim, nós já sabemos da extensão de sua voz, ele não precisava exibir-se tanto. E ele ousa muito pouco também, porque não é do seu feitio -mas bem que podia ter algum ás na manga. Apenas um número poderia dizer-se que é surpreendente: Por Causa de Você. Roberto lembra da forma como foi composta - Jobim a deu a Dolores Duran, que a levou ao camarim e fez uma letra para ela escrevendo com “lápis de sobrancelha”. O número era surpreendente porque Roberto contou que Dolores usou o lápis de sobrancelha? É um tanto ridículo, mas tomara que seja isso que o jornalista quis dizer. De outro modo, o que há de surpreendente em Roberto cantar “Por causa de você”? A identificação dele com Dolores é antiga (e registrada). A história da letra dessa música é folclore conhecidíssimo. Consta que Vinicius já tinha escrito uma letra (ou que Tom já lhe havia entregue a música para que ele o fizesse) mas que, ao ouvi-la ao piano, Dolores escreveu imediatamente as palavras que ficaram coladas para sempre a ela. Teria sido tanta a urgência em fazê-lo que Dolores, sem uma caneta por perto, usou o lápis de maquiagem. Seja como for, Roberto não tem voz muito potente. Tem é musicalidade e naturalidade de emissão, relaxamento no ataque das notas. O “português ruim” do jornalista não dá conta da poesia contida no reinado e na modéstia do autor de Detalhes. O que me soou mais surpreendente na voz de Roberto (embora não necessariamente mais emocionante) foi o “Samba do avião”. As duas orquestras seguiam caminhos diametralmente opostos. Em Roberto Carlos, sob a regência de Eduardo Lages, a big band servia à música romântica de salão, marca do ?Rei? nas últimas décadas. Com Jaques Morelenbaum, sideman de Caetano, ela ia ao ponto extremo de sofisticação, mas as idas e vindas sugeriam alguma esquizofrenia aos ouvidos. “Sugeriam alguma esquizofrenia aos ouvidos”????? O que uma frase dessas nos sugere aos ouvidos então? Paranóia? Pânico? Claro, não seria honesto dizer que foi tudo um porre. Houve bons momentos, especialmente nos números menos solenes, como em Tereza da Praia, que Caetano e Roberto trataram como uma espécie de embolada. Embolada? Não! Será que ele estava pensando em “desafio” nordestino? Embolada? Muito difícil de entender. Não seria honesto usar a palavra “porre”, nesse sentido, nesse lugar. Mas “Tereza da praia”, da fase do sambolero, foi a única canção tratada de forma abolerada. A cenografia e a direção do show eram de bom-gosto, com intervenções precisas, procedentes, sem exageros rocambolescos. Puxa, Felipe Hirsch, Daniela Thomas e Monique Gardenberg adorariam poder dizer algo semelhante do texto do Jotabê, mas é duro ler “intervenções precisas, procedentes, sem exageros rocambolescos”. Rocambolescos? - perguntam-se os pobres Felipe, Daniela e Monique. E: intervenções? Houve dois concertos cruciais das homenagens à bossa nova nesses últimos dias, os dois do projeto Itaú Brasil: o de João Gilberto, mestre do estilo, e o de Caetano e Roberto, epígonos de João. Por que o de João é mais moderno, menos necrófilo? Talvez porque João é a criatura que se confunde com sua criação - ele parece ter sido engolido pela música, está em uma simbiose doida e sonha com o desaparecimento em pleno palco. Essa condição o salva da armadilha de ser cover de si mesmo. A bossa de Caetano e Roberto, ao menos nesse show, está doente e chamaram dois totens da MPB para fazer a necrópsia. Suponho que “necropsia” seja uma palavra paroxítona. O acento agudo no “o” que o jornalista pôs não procede. Mas, necrópsia ou necropsia, isso se faz em doentes. E o autor quis florar seu estilo com essa dupla jogada de passar da doença à morte e de separar “Caetano e Roberto” de “dois totens da MPB” numa mesma frase? Seria horrível, mas, dada a debilidade do resto do texto, nem isso parece ser o que está aí. Parece confusão mental e incapacidade redacional a serviço do velho hábito de não permitir que nada brasileiro se afirme. Nos Estados Unidos um texto semelhante poderia significar a perda do emprego por parte de seu autor. Na Inglaterra também - a menos que fosse no New Musical Express ou na revista Mojo (se bem que, do ponto de vista da língua, nem mesmo nessas publicações um artigo desse nível seria admissível). |
Lendo os comentários para o post “Imprensa” de Caetano, vi que muita gente concorda comigo: um dos mais graves problemas do atual jornalismo cultural brasileiro é um excesso de opinião gostei/não-gostei e uma ausência quase completa de análise estética (ou filosófica, ou política, ou social) da obra que deveria estar sendo criticada. Em resumo: sobram adjetivos e faltam boas idéias. Nem as frases agressivas (em busca desesperada de polêmicas, de réplicas e tréplicas) me parecem interessantes. Lembrei logo daquela que é para mim uma das piores resenhas de discos de todos os tempos, sobre o Banda Larga Cordel de Gilberto Gil, publicada no dia 20/06/2008, também na Folha de S. Paulo.
O texto foi assinado por José Flávio Júnior. Abaixo do seu nome está escrito, como crédito: “colaboração para a Folha”. Isso deve significar que não é jornalista contratado pelo jornal. Não sei quem é José Flávio Júnior. Não falo isso para desqualificar suas opiniões. É ignorância minha mesmo. Mas como leio bastante revistas e jornais, e acompanho o que se escreve sobre música no Brasil, acredito que meu desconhecimento seja compartilhado por mais gente. Se é assim, outros leitores da Folha (jornal que assino e leio todos os dias) devem, como eu, desconhecer a visão que este autor tem sobre música e artes em geral. Se fosse um autor familiar, talvez eu pudesse entender melhor o que suas opiniões queriam dizer, por comparação (”ele disse, em outros artigos, que tais e tais discos são bons, por tais e tais motivos, então ele acha o timbre da guitarra feio pois timbres bons devem ser assim ou assado”). Na falta dessa familiaridade, e do acompanhamento de sua trajetória anterior de crítica, todo o texto soa ainda mais vazio, pois nenhuma das afirmações e adjetivos é defendida com o mínimo de profundidade necessária para que a resenha faça sentido.
O texto está disponível online no seguinte link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2006200819.htm . Mas como a Folha segue esse péssimo costume do UOL de exigir senhas para a leitura de seu arquivo (nesse sentido o Estadão melhorou muito recentemente, mudando de um regime todo fechado para um novo bem aberto), então muita gente vai ter que acreditar no que estou falando, que estou citando tudo o que há para citar.
Já no terceiro parágrafo, depois de alfinetar Gil por demorar a sair do MinC (o texto foi publicado em época pré-renúncia), José Flávio Júnior afirma que a faixa “La Renaissance Africaine” é “uma das piores do disco”. Mas não dá nenhuma pista para que possamos compreender o que existe de ruim nesta canção. Ou há: o texto diz que é ruim pois Gil “terceirizou sua criatividade para as pessoas erradas”: a produção de Liminha seria “pesada” (não explica o que existe de peso na produção), o baixo de Arthur Maia é “antiquado” (ficamos sem saber o porquê dessa sentença, não aprendemos também o que seria um baixo não antiquado) e que os timbres da guitarra de Bem Gil são “feios” (repito: quais seriam os timbres bonitos?).
E assim seguimos: o disco é criticado por não ter unidade. Ao ler pensei: para um disco ser bom precisa haver unidade? Conheço discos excelentes totalmente colchas de retalho. Taí uma boa discussão. Mas o autor apenas emite mais uma sentença: discos sem unidade são ruins, ponto final. E o disco de Gil não tem unidade pois começa festeiro com vocais “bregas”, fica “denso e delicado”, e termina “eletrônico e pesado”. Isso poderia ser elogio. Mas aqui é condenação… O clima sentencioso continua até o final do artigo. Para ridicularizar a letra da faixa-título, José Flávio Júnior reclama que muita gente (sem citar quem) elogiou “Pela Internet” e Gil teria acreditado (o cara advinha o que anda na cabeça de Gil) “nesse tipo de letra”, o que seria “uma pena”. Nada mais: ao leitor restam todas as perguntas: por que uma pena? Por que esse tipo de letra é ruim?
Mesmo nos elogios, os juízos são pobres: “Olho Mágico” e “A Faca e o Queijo” são canções elogiadas por terem arranjos “singelos”. Simples assim: para que explicar o que existe de singelo nesses arranjos? “Outros Viram” é boa por ser tocada só com violão, e por falar da miscigenação às vésperas da eleição americana. O veredito sobre “Os Pais” é ainda mais curto e grosso: “uma ótima letra sobre as liberdades atuais se perde num arranjo canhestro”. Não há nenhuma outra afirmação para se perceber o que existe de canhestro no arranjo ou o que há de ótimo na letra. O leitor deve acreditar piamente na capacidade de julgamento do crítico, que ainda arremata seu texto sugerindo ao artista criticado o que fazer para melhorar sua obra no futuro: gravar com o Instituto ou dividir o palco com o Macaco Bong. Enfim: “uma guaribada geral”. Terminei a leitura estupefato: mas o que é isso? Como que a Folha publica isso? Para mostrar “independência”, para provar que não tem medo de atacar os “inatacáveis” (mas sempre atacados, com uma obviedade cada vez maior) da MPB? Quanta coragem, quanta ousadia? É realmente uma pena: o ataque parece mais uma estratégia apenas para vender jornal e não para estimular o debate de idéias, pois as idéias (boas ou ruins) estão longe desse tipo de texto, cada vez mais comum em nos cadernos culturais de nossos jornais, como a reação de alguns críticos para o show-homenagem a Tom Jobim evidencia. Perdemos mais uma vez a boa chance para uma reflexão profunda e interessante que pudesse mesmo abalar as estruturas da música popular feita no Brasil. Mas quem quer realmente abalar deve saber dizer algo além de que um show foi chato ou decepcionante. (Não quero elogios, podem meter o pau em tudo: mas por favor com boas idéias, antes de tudo.)
Prefiro então reler “O Balanço da Bossa”, de Augusto de Campos, que neste 2008 completa 40 anos de publicação (quando sugeri para Monique Gardenberg a idéia de chamar Roberto Carlos para cantar Tom Jobim estava pensando mais nesse livro do que em “Chega de Saudade” - ou estava pensando nas lambretas do pessoal da Tijuca atrapalhando a vida de João Gilberto*), ainda atualíssimo e cheio de excelentes idéias, que vão direto ao ponto e não se perdem no fácil, facílimo gosto/não gosto.
A tentação que me vem é a de esperar um instantinho de menos barulho no meio desse bafafá e dizer: sim, mas voltando ao assunto…
Que assunto? Eu tenho sempre a impressão de que Caetano tava falando de algum outro assunto que me prendia quando precisou se interromper pra responder a alguém que chegou de fora falando de outra coisa. Caetano, eles sempre estão falando de outra coisa. Não se interrompa: continue o que você tava dizendo antes, continue fazendo - sendo. Você disse que só respondeu porque achou o texto muito mal escrito e devia alertá-los mas devia ser o contrário: crítica só se responde quando é bem escrita. Quando tenta sinceramente te entender e, por não chegar a lugar nenhum, descreve o desapontamento. Mas não essas que já te abordam querendo não gostar, porque essa é a profissão delas. Eu fico até constrangida de ver que escrevendo mal e dizendo coisas sem nexo nem importância alguém consiga um efeito tão invejável quanto conversar com você (ainda que por farpas e em canais de comunicação separados).
Antes que esse negócio aqui vire uma ágora, volte ao assunto - o assunto que você é e que a gente gosta tanto de ver, ouvir, estar perto sem ninguém desviando a conversa.
Essa crítica do Estadão realmente foi de lascar!
Mas no geral, crítico de música no Brasil é uma pessoa que se formou em jornalismo, escreve algo sobre música porque tem 3 ou 4 músicos ou bandas que aprecia.
Isso é muito comum.
Quero dizer, jornalista que escreve sobre música - que no geral não são músicos, estão mais no papel de glorificar aquilo que eles consideram música ‘boa’ [que é aquilo que eles ouvem], e os chamados ‘lixos’. Uma visão unilateral.
Jornalista que escreve música aqui no Brasil, saca muito do estilo que ele curte. Quando escreve sobre algum estilo que não domina - e sobretudo porque não é músico, cai nisso que temos visto.
Uma coisa é um ouvinte, um cara da plateia, um comprador, outra coisa, e você ser um profissional, que tem que fazer tal resenha musical, e esse texto não deve passar o olhar preconceituoso, da falta de informação.
caetano e hermano….
quer ver…. proponho um desafio:
garanto que os comentarios deste blog são muito mais valiosos para o artista do que pseudo jornalistas…..
sinceramente tb não compreendo sua admiração por mangabeira…..by the way ja que estamos em proposições filologicas eu te pergunto caetano:
que dialeto fala mangabeira?
por fim quero dizer que o publico é o verdadeiro destinatario da arte e que isso anda esquecido por artistas e por toda a cadeia cultural….
é ingresso vip, é lugar vip, é pessoa vip, é pseudo celebridade vip……
me da engulhos que uma “naomi da coves” tem ingresso vip, não paga , aparece e nem sabe quem é joão gilberto e o povo que aprecia tem que madrugar na fila e ficar de maõs abanando….
abraços e este blog tem que ousar hermano
Caetano tem razão. Alias sempre achei isso engraçado nele. Ele realmente fica chateado com as criticas, ou pelo menos elas o afetam o suficiente a ponto de comentá-las. Mas eu gosto disso. Há também um certo conformismo na classe artística de deixar a imprensar falar o que quer, acho que tem que responder sim. E responder dessa forma. Se ele é um “crítico” (olha as virgulas ai) de música, usa a palavra e a linguagem como instrumento de trabalho o Caetano fez certo em criticar o uso da língua. Antes de criticar os outros, ele deveria saber fazer bem o seu trabalho.
Sou advogado, perco muitas vezes a paciência com a imprensa quando ela começa a comentar sobre qualquer coisa que repercute no mundo jurídico. É impressionante a falta de preparo, e o desconhecimento, a quantidade de coisas erradas que eles falam ou escrevem. Não quero que eles sejam técnicos, mas deveriam ter uma responsabilidade social de passar uma informação correta, assim como fazem os jornalista que tratam sobre economia, bolsa de valores. Se eles divulgarem uma informação errada sabem que pode haver uma crise de mercado, por isso têm responsabilidade. Porque toda imprensa não pode ser assim.
Enfim, como jurista tenho que ressaltar sempre a liberdade de expressão e de imprensa, e é isso que vemos aqui. De um lado um crítico, do outro um artista respondendo a altura. Só tenho medo, que por conta desses jornalistas incompetentes, comecem a surgir movimentos, como já se houve falar no judiciário, para cercear a liberdade de imprensa, para coibir os abusos. É ai que os bons pagam pelos maus, e tempos negros ameaçam voltar.
Caetano, estive na palestra do lançamento do interessantíssimo livro do Ministro Mangabeira da qual você participou.
Assisti na primeira fila e no final da palestra, muito embora não tenha tido a aportunidade de conversar com você, pude observar uma série de situações que demonstram o nível dramático da imprensa atual.
Você mostrou claramente neste seu texto, que o antes era requisito básico para o jornalista que lida com escrita que é saber escrever, se tornou algo “supérfulo”.
Não sei a que se deve esta carência de tudo que observamos nos jornalistas, será a falta de estudo?, será o baixo nível das universidades?, será a “glamurização” da profissão?
Mas, voltando ao início, a palestra era para o lançamento do livro do Mangabeira, um Ministro de Estado, e um grande pensador.
Observei que encerrada a solenidade, os jornalistas presentes, simplesmente ignoraram a presença do autor do livro e passaram a te perseguir com perguntas do tipo: você está gostando um pouquinho do governo Lula?
Apenas quando o Ministro estava indo embora, um jornalista da CBN se dirigiu a ele e o questionou se ele aceitaria dar uma entrevista, e no mesmo momento ele disse que sim. Neste instante este jornalista da CBN se dirigiu a estas jornalistas que te cercavam e falou “o ministro vai me dar uma entrevista” e nisto as jornalistas que te cercavam falaram “é verdade, seria legal entrevistar o Mangabeira”.
Meu Deus do Céu, se o evento era o lançamento do livro do Mangabeira é mais do óbvio que o jornalista teria o dever de conversar com o autor do livro, e que deveria aproveitar esta oportunidade para obter informações sobre as idéias que o ministro pretende apresentar ao Governo, mas esta questão mais clara que o sol sequer passou pela cabeça das jornalistas.
É incrível observar nos dias de hoje, que grande parte de pessoas que se dizem jornalistas, utilizem de sua profissão para não pagar ingresso de shows e para participar de coquetéis, sem ao menos se dar ao trabalho de pesquisar sobre o entrevistado.
Parece-me que as jornalistas em questão, por não terem feito qualquer pesquisa sobre o ministro, preferiram te perseguir com perguntinhas tolas, e ignorar a presença do dono da festa.
Sinceramente, Caetano, o melhor é deixar de lado estas pessoas que só querem ganhar notoriedade valendo-se de sua visibilidade, conquistada através de seu talento, do seu trabalho e de sua dedicação incansável a musa música. Às favas com a imbecilidade.
Forte abraço
Cadu Sabbag
Sem religião.
muitas, inumeras gargalhadas !! :-))))
piso nesse blog, minha alma cheira à talco…
nao vai publicar o comentario, nem precisa…mas vc sabe que o leitor invisivel se amarra no seu vocabulo né santo !
No mais, estou ansioso para ouvir o CD que você começa a gravar.
Por falar em necropsia, a propósito da postagem de Belisa, o certo é assim mesmo. Se formos aos dicionários, está assim no Aurélio. E também no Houaiss, embora este assinale que necrópsia é o uso mais corrente. Diferente de autopsia/autópsia e biopsia/biópsia - as duas formas são consideradas corretas. Por coincidência, a propósito de uma notícia que li hoje num portal, havia consultado um estudioso da língua, e ele tirou qualquer dúvida que eu ainda pudesse ter.
Abraços, Sílvio Osias
Ufa…ao ler o comentário da colega acima, fiquei aliviado. Já estava achando que não sabia escrever “necrópsia”…
Ri demais com suas ‘intervenções’ didáticas !!
huahuahuaha
Caetano tem isso de bom: ele é transparente e diz o que pensa, ainda que passe recibo de quem se sentiu muito atingido pela crítica. Tá certo êle, afinal provavelmente deu o melhor de si para a ocasião e a maioria presente gostou. Ruim se tivesse feito pouco da platéia, fosse acometido de ataques de estrelismo, ou bancasse o antipático ( e nem poderia com o Roberto Carlos ao lado ). O crítico é que deve estar dando pulos de alegria, afinal muito se esforçou ao escalar até o rubinho barriquelo para estragar o show e ainda agendar uma necropsia musical; quanta imaginação (medonha )! Só esse papo de “crítica paulista ” é que ficou meio rancoroso e bairrista.
Acho que um defeito a se apontar em Caetano é a agressividade com que às vezes ele responde a quem sustenta opiniões divergentes das suas. Mas, claro, tem situações em que é perfeitamente legítimo ser, de logo, duro nas respostas e comentários, e esse caso das matérias sobre o show com Roberto Carlos penso ser um exemplo.
Parabéns pra voce Caetano…pela lapada em fatias que deu em nossos queridos jornalistas caceteiros de plantão.
Falar dos recalques da classe jornalística é perder tempo, todos já sabem…já foi falado demais.
Um abração Caetano, vamos em frente e fica com Deus…obrigado por tudo!
P.S.: Só para constar: Adoro Caetano!
Ps: O mais surpreendente realmente foi Samba do Avião com Roberto. No fundo era um sonho insconsciente meu que apareceu ali. A voz firme de Roberto, as nuances… Foi uma surpresa mesmo.
Depois do que o hermano Viana disse não precisa dizer mais nada.
mas sou teimoso.
Gosto do Caetano como pessoa por ver entrevistas dele, conhecendo melhor, como musico choro toda vez que ouço “sampa”.
Mas,fiquei muitissimo decepcionado quando ele cantou: “dói um tapinha não dói”
Acreditem DOEU!
Os 50 anos de BOssa NOva tem levantado muito minha atenção quanto a desatenção da crítica em matéria de música. Estava lendo outro texto falando mal do show, do Giron, que saiu na Época, quando me deparo com o seguinte trecho:
“Inegável é a qualidade e a genialidade de Antônio Carlos Jobim (1927-1994). Suas canções fazem parte do patrimônio nacional. Mas há outros gênios a ser redescobertos: Tito Madi, o verdadeiro pai musical de Roberto Carlos, está vivo; João Donato, será que nos esquecemos dele no cinqüentenário da bossa nova?”
Caetano, será que as pessoas se esqueceram de João Donato nos 50 anos de Bossa Nova? Ou melhor, será que esqueceram de Donato em algum momento?
Costumo visitar seu blog, mas não deixo comentários. Dessa vez não resisti. Além de parabenizá-lo por seu estilo ácido em escrever, acredito que os comentários referentes às críticas só fazem dar publicidade aos Jornalistas,já que eles publicam trechos dos seus textos (e não assinam!!). Eu mesmo nunca ouvi falar deles. Pra mim Jotabê é um jornal Carioca e Colombo uma tradicional confeitaria do Rio de Janeiro.
Nossos sonhos podem nos levar a paragens desconhecidas e por vezes indesejadas.
Fugir dos próprios pesadelos, a constrição de sentimentos inconscientes, transfigurações da inspiração de uma vida no que deveria ser uma só noite de sono… sonhar contra si mesmo resultou em temas para romances bons e ruins, explicações convincentes para eventos históricos, grandes temas recorrentes da aventura humana. Não bastasse isso, há quem queira sonhar por você, e ainda contra você.
Em cartas enviadas a amigos, a mãe do já falecido físico, astrônomo, escritor e apresentador de TV Carl Sagan contava que foi interpelada por quem lhe dissesse ouvir a voz do filho em sonhos, explicando-lhe segredos do universo.
E como somos indefesos frente aos sonhos dos outros!
Caetano Veloso habita o inconsciente coletivo brasileiro, se você acredita que tal coisa exista… o conceito de inconsciente coletivo, digo. Mas consideremo-lo como hipótese apenas para a continuação deste exercício.
Há uma imagem de Caetano Veloso preponderante na última versão da malignidade recalcitante do pensamento conservador brasileiro.
Caetano, sorrindo o Sorriso do Gato de Alice, a simbolizar a evolução do Brasil “de viés modernizante”, como diriam neologismos surgidos naquele tempo, suas opiniões inteligentes demonstrando o atraso do “populismo-caraminguá”.
Em “Resposta da Dora Kramer”, o primeiro texto da coletânea de Caetano “O mundo não é chato”, creio que o próprio autor reconhece o fenômeno.
E com esta apropriação da imagem inconsciente em curso, o que melhor a fazer, acho, é continuar a ser você mesmo e expressar-se diretamente, como em “O mundo não é chato” ou neste blog.
Depois de assistir aos bajuladores de ontem hoje vociferar, deve haver alguma satisfação em poder com tranqüilidade admirar a paisagem inútil. Obrigado.
Aqui estão os meus desejos de que Caetano continue o indefinível que é, em uma paródia irresponsável da ranhetice em cores primárias espalhadas pela imprensa neoconservadora brasileira:
http://supremacialiberal.blogspot.com
Eu não assisti ao show, portanto não posso dizer se o crítico do Estadão e a da Folha têm razão ou não.
Mas posso dizer que adoro Caetano e que adorei a crítica do Estadão. E que adorei a resposta didática do Caetano, e que acho muito bom que exista esse debate entre os dois, e não uma crítica baba-ovo que mais parece propaganda disfarçada.
Só acho que Caetano não deveria se ater ao português do crítico, e sim ao conteúdo do que ele escreveu. Se a crítica fosse positiva, Caetano Veloso faria uma irritada correção didática também?
Ah!Pelamordedeus Hermano Vianna.Cê querê “análise política,social,filosófica” dum veículu chamado jornal,quinum tá vendendo nada,num tá sirvindo nem pra limpá aquilo.Inda mais querê educação num país que os intelectuais estão perdidos em qual seria ou será a finalidade real da cultura.Defendes tanto o Funk das garras maldosas das elites e ao mesmo tempo exerces um papel preconceituoso ao cobrar e culpar apenas elas pela falta de educação e cultura gerais.
“Conhecimento musical limitado”
Há varios anos tenho observado que grande parte da crítica brasileira que se auto proclama “musicalmente entendida” não sabe ter o discernimento de compreender a diferença mínima entre o artista Caetano Veloso e a Tropicália, por exemplo. Óbvio? Nem tanto! Imagine se falarmos sobre estilos e conceitos musicais existentes no Brasil??? Imagina falar sobre a Bossa Nova?
Por esse motivo que eu fico totalmente à votade para criticar a imprensa nesse texto e apoiar a sua manifestação. E pior, vou mais longe. Para aumentar a situação deseperadora, tive colegas jornalistas que não sabiam claramente a diferença entre partidos de esquerda ou direita!!!! Sobre música? Só conheciam e só falavam em rock and roll. O que esperar desse modelo de jornalista?!
O desafio não é gerar polêmica ou revidar uma crítica mal feita. O desafio é justificar uma defesa diante da falta de conhecimento de pessoas de parte da imprensa que confundem tudo!
Caetano você agiu certo! Também precisamos nos defender de parte da imprensa de conhecimento limitado!!
Cédrik
Senti um grande (des)prazer certa vez que li críticas do longplayng Muito; aquele disco tinha para mim tudo de melhor, incluindo a canção “Muito Romântico”; sempre a vi como um grito em resposta às intenções da “pior esquerda” do Brasil e ao mesmo tempo uma declaração de amizade e, talvez, de defesa ao Roberto; não foi sem espanto que que vi, meu Deus, eu vi, o Flávio Cavalcante denegrindo a poesia concreta musicada de Gil e Caetano “Bat Macumba”; atualmente, embora a “aula” de Caetano me pareça desnecessária (mesmo tempo me deliciado com ela) adoro ler a crítica do caetano à crítica de tantos, não apenas a jornalistas, mas não mais me espanto com o que dizem; qualquer posição que venha desmerecer Caetano hoje em dia já é coisa obsoleta, já virou lugar comum, é aquela coisa de ter que falar mal do Caetano, ou então ter, obrigatoriamente dizer que ele é ótimo (ele é, eu sei, eu amo este cara) quando não precisa tanto confete, basta vê-lo, ouví-lo, sentí-lo expressar-se (não sei se escrevo bem depois do que o Caetano falou, dá até medo) para perceber o Caetano. Adorei, por exemplo, ele lendo o texto do Lobão, que delícia; quem dera os jornalistas tivessem esta “naturalidade” de falar o que de fato sentiram, sem ter que se mostrarem como os mais entendidos em canção popular brasileira, apenas com sensibilidade, um pouco menos desarmados…
…é um pouco menos armados…
Caro Caetano,
Realmente, sempre senti isso da crítica do cinema ter sido mais bem servida do que a de música popular e arrisco dizer também, que aquela têm sido mais consistente e séria! A maioria dos textos críticos que leio sobre concertos e shows de música popular e até mesmo, alguns de erudita, passam-me a impressão de que quem os escreveu - os críticos - não possuem um conhecimento satisfatório sobre música, ou sobre de quem está se falando. Já li textos, em jornais conceituados, que o crítico errava a autoria de alguma canção que foi executada no show, ou mesmo transmitia dados errados sobre a vida do artista! É claro que é impossível saberem tudo, mas é esse mínimo que faz toda a diferença! Uma informação errada e/ou uma crítica injusta, ainda mais, sobre música, que é, a alma artística desse país, é algo muito sério e quando erram a língua-pátria, então, ao escrevê-la, é vergonhoso! Era isso… Bjs de Minas da amiga cantante!
Querido Caetano,
Eu, como artista, compreendo seu bode por críticos.
Mas eu gostaria de, fundalmentalmente, dizer que essa obsessão por querer ensinar, sei lá, os editores do Estado ou da Folha a fazer jornal, é semelhante à deles de querer ensinar você a fazer show. Semelhante, se não for idêntica.
Quando eu vi que vc havia feito comentários pontuais sobre o texto fiquei curiosíssimo, até animado. Imaginei “o Caetano vai dar uma aula pros caras”. Mas logo que começei a ler, e vi que não era do ponto de vista artístico mas sobre técnica de redação, achei absolutamente desnecessário. Me parece alguém apenas querendo “ganhar” uma discussão.
Hermano, voce e contraditorio no seu comentario sobre a resenha do disco do Gilberto Gil.
Primeiro porque aos bons entendedores fica muito claro o que seja um “baixo antiquado”, p.ex., e a critica e, obviamente, uma visao pessoal, que esboca impressoes para que o leitor avalie segundo sua propria sensibilidade. Voce se faz de desentendido, ou seja, Araca Azul nao foi dedicado a pessoas feito voce…
Mas ate ai tudo bem, a contradicao de fato lies elsewhere: voce e um cara que passa a vida inteira dizendo que todas as formas de expressao cultural sao boas e validas etc etc, mas ataca quem discorda dessa premissa?
Se a expressao artistica e valida, a expressao critica tambem. Alem do mais, voce e muito suspeito para falar por conta de seu papel neste blog e de seu envolvimento com os artistas em questao (Caetano e Gil).
Por favor entendam que liberdade de imprensa nao e um exercicio de acomodacao, serve para causar desconforto tb, e resta ao grande artista a humildade para reconhecer que a obra nao varia necessariamente no sentido da progressao– ele pode ficar estagnada, pode ficar chata e pode ate mesmo regredir.
Voce nunca demonstrou em seus proprios livros grande conhecimento de teoria musical, e nao lhe cobro isso tampouco, mas nao vejo em voce alguem com os requisitos necessarios para julgar o disco do Gil sob o ponto de vista musical, voce e um agitador cultural, tudo bem, mas precisa entender que esse consenso pretensamente ecletico que voce tenta fabricar e artificial, nao resiste a um embate de ideias honesto, onde nao haja protecionismos nem amizades.