P.S.: (18/08/2008)
P.S.: |
18/08/2008 12:34 am |
Lembro da ameaça de derrubarem a balaustrada do Porto e fazerem o passeio avançar sobre a areia. Era no tempo de Imbassay. Nessa altura, falei diretamente com ele (não sem antes me associar aos protestos públicos) e ele me assegurou tratar-se um plano que ele próprio não aprovava e que não iria sair. E não saiu. Imbassay é civilizado e bom de diálogo. No caso atual, da remoção da calçada portuguesa, quando fui informado o estrago já estava feito. Mas, como eu disse, não creio em regressão agora. Soube que Ordep Serra (que escreveu um texto perfeito sobre o assunto) está organizando o que talvez venha a ser um seminário anual sobre preservação da beleza urbana de Salvador (luta contra sua destruição). Teremos uma comissão para acompanhar essas coisas. Tô dentro.
Caymmi escreveu o texto definitivo sobre sua própria morte (e que revela como era vivido por dentro o processo de fazer o que “não parece coisa feita por gente”): “Sargaço mar”. Trata-se de uma obra-prima tardia, em que aparecem as liberdades fulgurantes que ele tomava, sem fazer força, ao transitar entre harmonias impressionistas e crueza rude. Ouçam. De todo modo, aqui vai a letra:
Quando se for esse fim de som
Doida canção
Que não fui eu que fiz
Verde luz, verde cor de arrebentação
Sargaço mar, sargaço ar
Deusa do amor, deusa do mar
Vou me atirar, beber o mar
Alucinar, desesperar
Querer morrer para vier com Iemanjá.
Iemanjá, odoiá…
Caetano Veloso. |
Caetano,
Li sua entrevista no terra magazine e cliquei aqui para ler mais. Sou estudante de arquitetura , frequento e adoro Salvador e penso que é muito bom ter gente como você , que tem seu espaço e que pode falar para mais gente sobre a importância da preservação de nossa história. As pessoas vão fazendo as coisas, destruindo o que temos e depois chegam na Europa e acham tudo maravilhoso!! E depois não lembram que tínhamos tudo isto aqui e que simplesmente fomos práticos e não preservamos nada!
lamento as amendoeiras do porto - que sombra agora vai me acolher ali? lamento as pessoas sem pensar. lamento a partida de caymmi e a bahia um pouquinho menos. e, ai, a semana está só começando…
Caros Ceatano, Hermano e demais leitores deste espaço, sobretudo os soteropolitanos,
Parecer do antropólogo Ordep Serra sobre o projeto de reforma do calçadão do Porto da Barra:
http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/ceama/download/parecer_ordep_serra.pdf
“granitar” o porto da barra…era só o q me faltava. sofremos com o carlismo, com o anti-carlismo…infelizmente, a ignorância ainda eh um bom negocio.
dorival caymmi, sofisticação e simplicidade, pra sempre.
O Caymmi era belo e difícil de ouvir, de tão fácil que parecia ser. Entender Caymmi foi um passo importante parra meu processo de composição. Entender Caetano e Milton também. Chico foi outra lição. Mas Caymmi… Ah! Caymmi foi uma referência decisiva. Primeiro sua voz a lembrar o tom grave das grandes pretas da Bahia. Aquela voz cheia de um timbre surreal; e de uma preguiça positiva, poética, cheia de contas e marés. E me apaixonei. Lembro que a primeira música que treinei ao violão, do Caymmi, dada pelo meu grande professor Raime, foi “Maracangalha”. E fiquei, na época, a pensar… “Maracangalha”… Que raio quer dizer isso? Mas toquei e cantei. Até hoje não sei o que quer dizer e se o Caetano souber e puder dizer-me, agradeço. Mas sei que gosto da letra. Amo a melodia. E me rendo à melodia. Caymmi. Sim, Caetano, acho que ele previu o seu ocaso. Porém, sem medo nem ansiedade. Algo surreal. Como sua própria memória. Virou uma lenda. Um mito com o qual tive a honra de conviver no espaço-tempo deste planeta. Alguém que, de certa forma, me compôs enquanto compositor.
Bem, não sei se falar isso é político-partidarizar inadequadamente a conversa aqui, mas a verdade é que não creio muito na maior sensibilidade de um “tecnocrata” da escola carlista para questões como a preservação arquitetônica. Alguém pode falar do exemplo Pelourinho, mas o problema é justamente o que foi feito do Pelourinho, que virou um shopping, e um shopping deficitário; um ambiente um tanto sem vida, sem boa parte do charme que podia ter. Talvez após toda a grita que houve, na época de Imbassay ninguém quisesse assumir a intenção de levar adiante um projeto que era bem mais modificador do que o atual. Agora, numa segunda martelada, com a população já menos surpresa, e com um projeto de reforma menor, ficou mais fácil. Enfim, não sei até que ponto o mérito aqui é da sensibilidade e capacidade de diálogo do ex-prefeito hoje um dos candidatos.