Samba Transexual (06/09/2008)
SAMBA TRANSEXUAL |
6/09/2008 4:42 am |
Waldick Soriano morreu. “Eu não sou cachorro, não” é um clássico da cultura brasileira. Tenho orgulho desse grande baiano das nossas letras e músicas. Elite? Se há uma elite para mim, é a elite dos que têm ou tiveram grande intuição artística. Waldick era um desses. Que bom que nossa deslumbrante Patrícia Pillar fez um filme sobre ele a tempo. Uma amiga americana reclamou por eu não ter incluído “transexual” entre as palavras que citei ao escrever sobre “transamba”. Ela disse que o prefixo “trans”, nos Estados Unidos de hoje, lembram antes de tudo “transexual”. Pois bem, aqui está: hoje estávamos gravando “Base de Guantánamo” e, num tempo de espera para Moreno e Daniel acertarem alguma coisa na máquina, Pedro Sá começou a tocar “Outra vez”, de Jobim, eu, cá do meu canto, comecei a cantar e aí, numa reação imediata e miraculosa, Marcelo inventou uma levada circular na bateria que fazia o samba daquela canção ser mais samba e, ao mesmo tempo, o levava para outra dimensão. Era um samba transexual. Quer dizer: ia além do sexo (que, como todos sabem, é a instância máxima da realidade). Gravamos dez bases (nove além da base da “Base de Guantânamo” - e oscilo entre grafar assim, à portuguesa ou, como antes, à espanhola, respeitando a origem cubana do nome, como aliás, fazem os americanos - ou estadunidenses, como quer Exequiela, embora eu me recuse a escrever “estadounidense”, já que esse “ou”, em português, se impõe como um ditongo pesado, um incômodo a mais nessa palavra mal inventada). Quase tudo foi saindo de primeira. Muito rápido. Só as mais fáceis tomaram mais tempo. Mas nada está pronto ainda. Só as bases (quer dizer, baixo, bateria e guitarra - minha voz e meu violão servindo apenas de guia). É bonito. É igual ao que se ouve nos shows e não é igual ao que se ouve nos shows. Precisamos completar os arranjos e ouvir mais para saber um pouco melhor. Às vezes nos emocionamos. Em geral quando ouvimos algo gravado na véspera e que não nos pareceu suficientemente bom na hora. Além dessas 10 músicas, talvez eu faça uma outra (ou duas outras) que tenho no coração mas ainda não na cabeça. Talvez decidamos incluir coisas como “Incompatibilidade de gênios” e mesmo “Outra vez”, de Tom, ou algo de Carlos Lyra. Por enquanto o disco terá apenas canções minhas (sendo que “Sem cais” é em parceria com Pedrinho). Com esses transportes transexuais pode ser que o certo seja mesmo manter o repertório próprio, novo. Isso dará talvez mais nitidez ao projeto. Mas não esqueci os papos de lingüística etc. Adoraria responder com vagar a Lucas (que começou a conversa): adorei o post dele. A Ricardo Tabone: Pasquale nunca ensinou - muito menos impôs - a norma lusitana aos leitores brasileiros (eu adorei o lance sobre “deletar” - palavra que uso muito e a que pensei que “deletério” também se aparentava: olhei no dicionário e vi que não). A Rogério: obrigado pela lembrança do inteligentíssimo (e, como sempre, meio suspeito) texto de Adorno - como ele consegue encantar a esquerda pondo-se à direita da direita! Jaquleine Lé: obrigadíssimo por tudo. Sônia Benites: sei que “num” e “numa” são tão corretos quanto “em um” e “em uma”; mas você admite que há correto e incorreto? Maira: adorei o show de português “medieval”. A Edmilson: que saudade! E: sempre ouvi e ouço “num” e “numa”, mas “dum” e “duma” já estava antiquado desde a minha infância; será que “num” vai cair, puxado pelos jornais????? A Emanuel: a resposta racional é que se conjugo o verbo sempre na terceira perco o direito de prescindir do pronome sujeito; ouço com prazer os “tu é” dos cariocas e os “tu vai” dos gaúchos, mas sei que há um empobrecimento de possibilidades do uso da língua; de todo modo, não há porque não ensinar às pessoas como funcionam as conjugações, tendo em vista o pronome pessoal escolhido; invejo meus amigos de língua espanhola quando, escrevendo a eles em sua língua, me sinto muito mais à vontade para dizer “sua” sem que haja dúvida de que me refiro a uma terceira pessoa - além de o “L” do artigo definido feminino os livrar dos dilemas da crase: “a la” é o feminino de “al”, ninguém erra; em português “à” é o feminino de “ao”, nada mais, mas as pessoas se enrolam com a crase - e ainda há essa onda de escrever-se “à mão” (embora não digamos “ao lápis”), quando “à mão” quer dizer outra coisa: quer dizer que algo está ao alcance da mão. Aliás, amei ler no texto “medieval” de Maira “aa” em lugar de “à”. Isso porque há anos digo que seria legal se escrevêssemos “aa”, como feminino de “ao”: ficaria bonito e não teríamos esse rolo da crase (que adoro mas vejo que é um sofrimento para muitos). Na entrevista de Bagno (eu não lembrava que era esse seu nome - e olha que o Lucas o cita no primeiro texto), ele diz que deveríamos pôr acento grave na preposição “a” e pronto, deixar esse negócio de crase pra lá. Como no cartaz de rua (oficial): “túnel à 500 metros”. Isso é copiado do francês. Em francês é que a preposição tem sempre acento grave. Mas como faríamos quando fôssemos traduzir “a la”? Prefiro “aa”: é bonito, parece umas coisas que se lêem em holandês, adoro vogais repetidas. Somos brasileiros, somos livres para propor uma coisa assim. Essas coisas me interessam mais do que a reforma ortográfica que vem aí. Pelo que li a respeito, ela me pareceu idiota. Desculpem meu jeito. Mas é o que me pareceu. A JSR: admitir a norma culta e festejar a mutação! Eis aí uma boa fórmula. Enfim, a todos eu gostaria de dizer muito mais, me exlicar mais, dizer que sei muito bem que lingüistas estudam o fato “língua”, como apreendemos relações tão complexas aos 2 anos de idade, em que medida há uma gramática pre-existente em nós, como se dão as mudanças na história das línguas etc. - e que as convenções gramaticais são o que são: convenções, regras aceitas por coletividades organizadas (nações) - além de repetir que Pasquale não faz nada que desminta isso (e muito menos ergue a voz para chamar qualquer lingüista de “pseudo-lingüista”) - mas estou cansado, cheguei do estúdio, tenho as canções na cabeça, preciso dormir pra saber amanhã se faço música nova ou não, se meu filho Tom vai ao cinema ver “Linha de passe” comigo (o futebol é a alegria dele). A primeira cancão que gravamos foi “Lobão tem razão“. Depois, “Tarado ni você“, “Sem cais“, “Perdeu“, “Por quem“, “Lapa“, e seguimos nessa ordem. Mas no disco a ordem, é claro, será outra. Bem outra. Ainda não sabemos qual. Bom dia. |
C vai, C vem, C sempre nunca fiCa
Es lindo leer sobre el progreso del progreso.
Me encanta esa combinación: Samba+Tran+Sexual o Samba+Trans+exual Sobre todo porque “sexual” (a secas) es una de las palabras que más me gustan/atraen…. y también me interesan todas las palabras que contienen “ex”.
PD: “…é a instância máxima da realidade” …e irrealidade… no?
Caetano,
Voce comenta brevemente a dinamica criativa da banda Cê, falando do arranjo espontâneo que surgiu para “Outra Vez”. Esse pequena fresta para ver o processo da banda muito me interessou.
Salvo engano, voce é o único artista da sua geração, que interagiu com com suas bandas de um jeito “rock”, ou seja , de maneira em que os músicos tem total liberdade para definir os arranjos de seus instrumentos.
Gil,Benjor,Tim Maia e muitos outros tiveram /têm grupos musicais notáveis, mas em todos eles me parece que o espaço de criação individual dos músicos é restrito por uma concepção de arranjo pré-determinada.
O que aparenta no seu caso, me corrija se eu estiver errado, é que a insegurança musical que voce proclama constantemente, resulta em uma contribuição mais efetiva dos membros da banda para a determinação da sonoridade da sua música.
Tô viajando? Ou faz algum sentido?
Não importa se é trans, se é pan, se é bi ou ultrasexual. Vale mesmo é a música boa!
Beijo na boca!
Show de João Gilberto em Salvador
Salvador, Bahia, 05 de Setembro do ano da graça de 2008. Teatro Castro Alves, dez e dez da noite.
O profeta entra no palco, é o começo do possível fim, o choro incontido é a constatação de viver a poucos metros a história acontecer para depois ser escrita.
Quem sabe a derradeira apresentação. A última chamada.
O nervoso é grande, respirar sem medo só lá para a terceira canção. O microfone, o vento, as tosses, os celulares, será que estamos a altura? O som é perfeito para Tokyo, aqui, só com tiranossauro do Chiclete para suplantar os alto falantes baianos.
“Alto falante é lindo” diz João. O volume aumenta.
Dó menor com a sexta aumentada, o profeta canta um mundo onde é o amor a utopia e a felicidade é possível.
O moderno foi inventado a 50 anos atrás. O que é eterno é novo, hoje, de novo, o que foi profético outrora é moderno, o único que não cheira a naftalina. O concerto não foi homenagem a nada, foi inventado agora.
O som que sai do Tarrega com a boca ovalada parece estar sendo tocado por algo etéreo, onde estão as unhas? O som é minimalista, qualquer coisa a mais, é poluição. Sobre os comentários que vieram do Rio sobre um tal de trastejamento se comprovaram pelo que eu já desconfiava: O som de João hoje é um som para poucos, para um futuro, de novo!
João é o núcleo de tudo que veio depois, a música brasileira está nos confins por que ele nasceu em Juazeiro, 77 anos antes e o efeito em cadeia se sucedeu.
Cerra-se os olhos durante o show e a alma passeia, do Elevado entre as pedras a caminho do Leblon, vira a esquina e se está numa de roda de samba no Taboão no tempo que Vergê via tudo de seu sotão e Jorge mandava para longe as notícias da Bahia.
“Só se tira esse som de um violão atacando muito de leve as cordas” me disse certa feita Galo Cego, esse som que toca direto o coração não precisa da mente como interlocutor. É puro sentir.
O lugar é a Bahia e a pessoa é Caymmi, o ponto alto é Acalanto, talvez nunca cantada antes, contudo nunca esquecida, dos pais, das mães, dos berços, quem dera dormir….
Ré com a sétima aumentada e baixo em Fá sustenido, Estate. Ao fim o violão com o murmurar leva ao mais profundo transe. Mas o profeta é generoso, ele repete para as mentes o que os corações já sabiam.
Temos o bis, apesar da certeza, ainda tínhamos medo. Oramos juntos Garota de Ipanema e João foge apressado para seu refúlgio autista de sí mesmo. Um mundo que ninguém conhece, onde crescem lentamente as dádivas, que abrimos os chacras para sorver as gotas.
Julio Melo Vellame
Acho que tem um pouco a ver com esse papo de trans…
Tem um filme tailandês ótimo chamado “Beautiful Boxer”, é baseado na vida do transexual Parinya Charoephol (conhecido como Nong Toom) que lutou (boxe tailandês)desde os 12 nos para ganhar dinheiro para fazer sua operção de troca de sexo.
“Acreditando ser uma garota aprisionada em um corpo de menino desde a infância, Parinya é determinado a se tornar um mestre no esporte mais masculino e letal, o boxe tailandês, para atingir sua meta definitiva de feminilidade”
Caetano
Sou completamente analfa e anômega no que diz respeito à gramática. Meu aproveitamento, em função muito provavelmente de trânsitos astrais desfavoráveis na época, foi quase nulo no período escolar, e eu literalmente fugi da faculdade de Letras, mais tarde. Não faço a menor idéia do que seja, por exemplo, um pronome pessoal do caso oblíquo. Acho o uso da crase elegante porque a gente cresce ouvindo muito “vou na escola”, “vou no médico”, e por aí vai… melhor, vão-se. Todas as possibilidades de uma nação compreender como é enganada em outro idioma. Eu me assusto com a atual gíria paulistana. A dos manos. E não é questão de preconceito com os manos. Longe disso. Mas o sotaque paulistano (que eu nem sei qual é; não cheguei a tempo; e o ‘ôrra meu’ passou longe de mim) se transexuou. Transusbtanciou-se em outro. “Nóis vai”, desculpe, é triste. Até porque nós nunca vai. Nóis só fica. E aí vem o Rap, e você pensa, pronto, ali está uma ida. Mas não. Ele é, em sua esmagadora maioria, tão desprovido quanto o seu idioma.
Acho estranhíssima essa revisão ortográfica, a de aproximar mais o português do Brasil ao de Portugal. Quer dizer, o brasileiro nem fala o brasileirês direito… Que sentido faz a tal revisão? Mais proformidades para gerar mais despesa em favor das mesmas receitas, porque pensa bem, o que vai ter de livro de ensino médio jogado fora…
Os sotaques e gírias todos são sempre interessantes, mas me pergunto como esse povo vai entender o que acontece no andar de cima (que com licença anti-poética, aqui, não se trata do céu) (ou trata; de vários; se a gente aceitar uma analogia de beirada, um naco; bom que seja, já é algo), não é…? Como essa gente que parece gado dentro de ônibus vai saber que existe porta de saída? E que só falta saber que ela não está no ônibus, mas mesmo assim se tem direito à ela.
Enfim, deixa. É tudo tão velho quanto a necessedidade do novo. Acho que era hora de transumanizar, mas estão todos muito ocupados ajudando a construir a Grande Babel.
E isso da língua, norma culta, inculta, mas principalmente, a compreensão do sentido (stricto sensu) daquilo que se quer dizer, preocupa. Essa coisa do Brasil ser quase o último país a compreender o que lê, assusta. No final, grande coisa a crase… ou dela a falta. Vai todo mundo para o mesmo lugar (e ainda não se trata do céu). Poucos são os que vão a lugares diferentes.
Sobre o som, o que dizer? Seria muito pedir um trecho do making of das gravações?
Beijo
Talvez o Hermano não publique. Mas “making of das gravações” me congelou no momento em que reli o que escrevi. Ficou parecendo que eu quis dizer que a gravação, em si, possa pertencer tanto ao público quanto ao artista. É que ali, a arte também já acontece.
No final das contas, acho que a música é a instância mais alta da realidade.
Oi, adorei o que você escreveu aqui sobre o Waldick Soriano, ele foi realmente autêntico, um cara fora de série. Um beijo desde Madrid.
“Era um samba transexual. Quer dizer: ia além do sexo (que, como todos sabem, é a instância máxima da realidade)”.
caetano au to lá ou melhor dizer vc foi lá alto rsrsrsrsrsr….
ir alem do sexo?instancia maxima da realidade?
nem um nem outro (tá certo gramaticalmente?)são instancias da realidade…. e é isso justamente que nos deixa mais e mais a fim de fazer, anestesiados e transcendentes…..sexo e musica são formas de transcendencia…. muito longe da realidade….
abraços
Por sua vez, começo a ter a impressão de que o ego do Caetano está em êxtase (ecstasy) com isso tudo, como se o blog fosse uma espécie de seu altar.
Acho até meio rabugento o que escrevi acima, mas é que minha preocupação é com o seguinte: Como já disse por aqui antes, o projeto “obra em progresso” é genial e pioneiro no sentido de um artista de renome internacional se propor a discutir com qualquer pessoa que se dispuser a isso os rumos que deverá tomar sua mais recente obra. Isso é de uma humildade e democracia impressionantes, e por isso mesmo deve ser melhor aproveitado.
Discutir temas diversos e, PRINCIPALMENTE, ficar rasgando elogios e/ou divulgando escritos amadores só servem para ofuscar esse trabalho.
Voltando a falar do disco novo, na minha condição de leigo, tenho a dizer que, com exceção de “Tarado ni você”, tenho muita simpatia por todas as músicas que comporão o disco. Por sua vez, lamento que gravações sensacionais como “incompatibilidade de gênios”, “três travestis” e “feitiço da vila” corram o risco de se perderem.
Caetano,
… Essa coisa da língua mater… Acabei de ler um comentário sobre o show, o último no Brasil, de João Gilberto, em Salvador. Ontem. E, infelizmente, tantas tosses, celulares e até um despertador em plena meia-noite! Um absurdo! Ainda teve um que pediu para “aumentar o som”! Ora, perfeito estúpido esse… Então ele foi lá ouvir o genial João Gilberto ou o quê? Não sabe que João é para ouvir baixinho, entre o esse mundo e o êxtase? Estúpido… Mas tem a ver com a língua… E todas aquelas regras que não respeitamos ou respeitamos pouco. Fazer o quê? Absurdo. Como quando se diz algo como uma vogal - simplesmente - diante do silêncio exigido pela majestade de João cantando Dorival… Poesia e gênio… Puro pleonasmo!
Linha de Passe é o que há…e há pouca língua ali, só falamos palavrão abessa…mas há muita vida, obra em progresso. Waltinho acertou em cheio, nunca vi nada tratando do futebol no cinema como Linha de Passe, a defesa do goleiro do Corinthians no chute do Rogério Ceni é das imagens mais lindas do cinema, o povão “tremendo” as mãos em transe também…transamba. A música é linda do gustavo mexicano. Música de filme. Os atores é o que há de melhor, magníficos. Waltinho acertou no gol, todo m undo tem que ir ver Linha de Passe e ouvir o disco da Miúcha com Tom João e Vinicius. Transamba.
Caetano,
Siempre el mismo y renovado, ésa parece ser “tu” fórmula. Estoy adorando acompañar éste blog, de sentirte tan “íntimo”, de todo ámbito al cual te cuestionan. Es tan placeroso y gratificante aprender con “você”,(meu mestre) esa “intimidad” que nos proporcionas aquí, es un privilegio absoluto.
Con la palabra “intimidad” me remito a esa región espiritual y a ese modo de “contacto” en los que nos damos a conocer, no exactamente lo que pensamos sino, más honda y ampliamente, lo que somos. Poder acompañar el proceso de tu “OBRA”, yo siendo ,una, apenas de tantos millones de admiradores que posees(doble vocal, el español también tiene, acho bonito como você diz) en todo el mundo, de modo que, cuando en la intimidad aflora, no necesariamente ha de ser lo que premeditadamente nos proponíamos brindar, sino lo ineludible, lo que no podemos soslayar sin que, al hacerlo, no estemos traicionando nuestra espontaneidad.
Y el alcanzar “esta intimidad” configuran sin llegar a constituir una síntesis acabada, se enhebran así com tuas palavras aquí estampadas dando forma a una huella discernible y reveladora del caminante que ERES.
Por cierto, recuerdo haber leído una entrevista de “você” faz tempo da época do Livro, donde declarabas que tu “misión con la música es la de cambiar la mentalidad de la gente para inclinarla por un mundo más justo”; y yo diría también más SABIO.( En mí lo has logrado, cosa que me hace muy feliz).
Hay una frase del ensayista Stevenson cuando asegura que “Viajar con esperanza es mejor que llegar”.(El viaje por la vida misma). Yo te veo en esa frase que es a todas luces, la frase de un hombre que ha viajado mucho en todos los sentidos. De un veterano(cariñosamente) de incontables partidas y arribos. De un aventurero que ha vuelto de innumerables sitios y largas travesías emprendidas y sostenidas en su transcurso con el fervor (leonino-como yo que también soy una leonina que te habla escribiendo) con la expectativa franca, del deseo de llegar adonde se lo había propuesto.
Mi deseo es que continues desenvolviéndote ininterruptamente “nesta marcha para a frente”, com o conjunto das mudanças havidas no curso deste CD, que eu nao tenho dúvida que será simplesmente GRANDIOSO. (Estou adorando todas as músicas novas).
Caetano, eu é que agradeço pela resposta. E a esquerda que fica à direita da direita é tradicionalíssima, não? Suponho que você conheça exemplares dela desde antes de 1968. Um abraço.
Oi Bruno
Sobre o que você escreveu:
“Discutir temas diversos e, PRINCIPALMENTE, ficar rasgando elogios e/ou divulgando escritos amadores só servem para ofuscar esse trabalho.”
Vê só… isso é um blog, não é um site. Coments são feitos por amadores mesmo. Dentre dezenas se pinça um que nos interessa. O seu coment por exemplo me interessou, embora não concorde respeitosamente com a sua visão.
Reitero aqui o que disse em outro comentário que fiz: quantidade na Internet interessa. Se bastasse apenas a discussão acadêmica, o papo-cabeça, ou a divulgação da “obra”, não seria blog. Bastava que Caetano publicasse VTs e news da sua bonita Obra em Progresso e que fizesse um debate para o público pagante.
Alertei o mestre Hermano para que atentasse para o fato de que os comentários aumentaram muito depois da aparição do Caetano no Jô e a publicação de seus posts sobre temas variados que extrapolam o projeto Obra em Progresso.
Caetano tem demonstrado claramente esse desejo de escrever sobre temas diferentes que estão no entorno do seu projeto. Isso mexeu com um número maior de pessoas. E parece ter provocado algumas iscas de ciúmes nos que ainda vêem a internet como um lugar pra entendidos, um boteco uspiano ou um debate de “alto nível”. É e não é. Aí, está a graça.
Blog tem vida própria e orgânica. Altos e baixos. Burrices e inteligentices. Eu pessoalmente gosto disso. Também me incomodam as rasgações de seda, mas quando percebo, pulo pra outro coment e pronto. Não precisa ler tudo como e avaliar como se fossemos críticos de nós mesmos. Esse é um vício que reproduzo aqui debatendo seu coment, mas não pude perder o mote. Isso porque desejo que esse blog sobreviva e pulse com liberdade.
Parece que há por aqui uma certa vergonha do “outro”. Uma competição de inteligência, que acaba sendo burra. Na platéia de um show do Caetano há fãs de Araça Azul e adolescentes esperando que ele cante Sozinho. Isso é bacana. Percebi tal diversidade no show aqui em SP em que ele cantou a música do Peninha e leu trechos de Verdade Tropical. Me encantei vendo as mesmas meninihas que gritaram quando ele cantou Sozinho quietas escutando a leitura.
Olha… gostei muito do seu comentário porque com ele consegui desfraldar algo que vinha matutando por aqui e que me incomodava: de um lado fãs que se declaram sem grandes conteúdos; do outro, fãs que se declaram com raciocínios “elevados”. Todos fãs! Todos sintônicos e elogiosos ao ídolo.
Caetano deve (imagino) respeitar essas duas forças que seguem o seu trabalho, a um só tempo popular e letrado. Sinto até falta de mais provocação e discordância nesse blog. Não estamos compondo um jogral. Estamos fazendo um mural eletrônico. Nele, fixamos relexões profundas, recadinhos, declarações e o escambau. Deixemos que esse mosaico se componha com liberdade, anárquico, aberto e “em progresso”.
Aí sim, esse blog vai refletir a natureza da obra do Caetano: belamente desigual, ousada, rascunhada e disponível.
Na web, a diversidade, a oscilação, a variedade de estilos e até os poemas amadores são ouro puro.
Difícil mesmo aceitar que o suporte virtual seja tão democrático, mas pode ser divertido. De 100 coments, tiramos 1 ou 2 que nos tocam. O seu me tocou e (ainda bem) pela dissonância.
Valeu.
Este meu comentário é meio arrevesado. Nasce de um ponto em que o Bruno Melo [n.16], ao protestar quanto à desatenção de parte do público durante a apresentação de João Gilberto no Teatro Castro Alves aqui em Salvador, desabafa: “como quando se diz… uma vogal - simplesmente - diante do silêncio exigido para ouvir” aquela quintessência musical… Pois isso não me lembrou um fato protolingüístico que extrapola qualquer ‘norma gramatical’ culta, oculta ou inculta, e faz, ao invés de propagar algo parecido com a quietude exigida pelo canto jaogilbertiano, berrar a Língua?
O causo me foi contado por um outro João, um conhecido meu, João Carlos Firmo, que até a puberdade, já reiteradas vezes alfabetizado, ainda mantinha por apelido um ditongo: Iá.
Iá saíra para caçar, acho que nambus, um tipo de avezinha muito apreciada pelos nordestinos e preparada frita. Saíra por um taquinho do sertão dos Tocós, pelo fundinho de alguns matos de nosso município de Araci-Bahia onde nascemos.
Estava em companhia de um sobrinho naquela fase a todo tempo vassala e soberana em adquirimos os primeiros verbos e advérbios. Iá ia munido de espingarda e aió. Aió é uma bolsa feita de fibra de caroá - justamente por ele usada pra guardar os apetrechos de caça e as próprias caças após abatidas.
Antes de abater uma delas, Iá repousara o aió sobre algum arbusto próximo, mas instante seguinte o perdera de vista. Então perguntou ao companheirinho de caçada se via a bolsa em algum lugar. Ora, o aió estava tão rente a Iá, preso a um galho, roçando-o mesmo, que o menininho fazendo bico com sua boca não se fez de rogado em apontar e (com maestria vocal e poética) em ainda pronunciar este inesquecível - para Iá desde aquele exato momento, para mim desde todo o sempre quando me contou a façanha, e para o menininho somente muito depois de ‘realfabetizado’ pela escola - palíndromo:
Ô Iá, óia o aió aí ó!
p.s.: “as minhocas arejam a terra; os poetas a linguagem” (Manoel de Barros)
de tudo que disse e tem dito o caetano ultimamente, o de que mais gostei mesmo foi saber que não estou sozinha na maluquice: há mais alguém na face da terra tirando novesfora de números. no meu mundo, eu sou doida. pra meu alívio, você não é. ou é ?!
À Lingüística o que é da lingüística
Prezado Fernando Salem,
Tendo acompanhado o “obra em progresso” desde seu início, cumpre-me registrar que, na minha opinião, seus “Comments”, juntamente com os de Nelson e Tyrone são o que de melhor se produz aqui.
No meu comentário, disse que soaria rabugento o que escrevi, e o fiz porque, antes de dar continuidade, pensei exatamente isso que você falou: Puxa vida, porque isso está me incomodando, se tenho a opção de simplesmente não ler?
E o que me fez continuar foi o fato de que, ao contrário do que muitos crêem, este “blog” não é do Caetano, e acho importante que as pessoas tenham isso em mente. Sem dúvida, ele é a peça mais famosa de toda essa engrenagem, mas é só uma delas. Sem contar o hercúleo trabalho do Hermano, está em jogo aqui também o trabalho de Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, e me irrita que as pessoas esqueçam-se disso e que Caetano lhes dê trela.
No mais, devo dizer que este espaço aqui, que deveria continuar existindo – ainda que em outro sítio - mesmo após a conclusão deste projeto, foi responsável por grandes descobertas pessoais com relação ao queridíssimo Câe: Vi que não sou tão fã dele quanto achava que era (O Tyrone me mostrou que ainda há muito o que aprender….); Percebi que seu ego é muito maior do que eu supunha; achei curiosa a forma com que as críticas negativas são por ele recebidas, etc…., fatos que me foram muito úteis para, usando a expressão de Lobão com relação a João Gilberto citada por aqui, dessacralizar Caetano Veloso, o que me permitiu uma relação muito mais sadia com o mestre e sua obra (Basta dizer que meu filho que nasce em dezembro provavelmente não mais se chamará Caetano..). Tudo isso graças à democracia da internet, de quem sou o maior fã de todos.
Quanto as “iscas de ciúme” e “competição de inteligência”, estas a mim não têm como se aplicar, até mesmo porque jamais me atrevi a desfilar erudições musicais por essas bandas, até mesmo porque não as tenho e tenho plena consciência disso e de que sou um simples técnico do Direito cuja única relação com a música se dá na qualidade de fã e ouvinte, da forma mais amadora possível.
Por fim, mando um grande abraço a todos.
Bruno
postado por “magno65″ no youtube:
Caetano e Roberto, Roberto e Caetano
http://www.youtube.com/watch?v=CZw24JL75as
Espero ansioso o cd de estúdio, contudo, tomara que a base de Por Quem? , uma linda canção de ninar erótica, fique parecida com a que conhecemos do show.
Caetano:
O prefixo Trans- quer dizer “Além de” ou “através de”.
O projeto “Obra em progresso” tem a pretensão de ir além do samba por meio de outros gêneros, ou chegar em algum lugar através do samba?
Talvez a essência do projeto, ou até mesmo de sua vida artísica, seja algo “transgênero” (Português Brasileiro) ou “transgénero” (Português europeu), ou seja, um projeto (ou o artista) que está em constante trânsito entre um gênero e outro.
De qualquer forma, isto contribui para o desenvolvimento cultural de um país que sofre com a falta de reveleção de grandes talentos (quando comparado à geração de 60/70, na minha simplória opinião).
Um beijo para você e para todos os participantes deste projeto.
Uma sugestão pra moçada tão interessada pela Linguística em um blog afinado com a canção popular: leiam a obra de Luiz Tatit.
O compositor e linguista paulista tem um trabalho científico e ousadíssimo em torno da semiótica e da canção popular. Vale a pena.
No mais, esse papo ‘tá ficando meio chato, não ‘tá?
Hummm… Intuição… É, pode ser.
Na verdade, agora eu tô escutando um rock e rindo sozinho. O rock deve ser seu, a voz é sua. O elenco é diferente, e por mais que o script seja o mesmo, acho que levou alguns ajustes. Um final sem tragédia dessa vez, né? rs
Naquela noite eu fiquei com o seu texto na cabeça, fiz a última revisão no meu livro com o seu texto na cabeça. Lógico que tava dando gargalhadas com a música da Bebel de fundo, diversão de gente doida… Fui reparando no tanto de “num” e “numa”… O meu texto era assim antes da convivência com editores… É assim, eles consertam, a gente acata e vai concordando e um dia tá escrevendo igual.
Tanto que passei o “numa” da sinopse para “em uma”, mas nesse caso foi correção de uma amiga que, há alguns meses, viu a primeira prova. Na capa fica assim, essa coisa “chique”, por dentro mantive (a esta altura nem se eu quisesse mudar).
Vou dar uma olhada em escritos mais recentes, acho que incorporei o “em uma”. É hábito, enxergá-lo me deu medo de ir me adaptando ao texto massudo (incorporar muita palavra difícil, inclusive).
Tenho dificuldade de me adaptar a tempos verbais, por exemplo. Minha próxima idéia requer que eu volte a narrar no passado, vai ser uma batalha.
Imagina se um dia a minha prima pega o meu livro e fala “não consegui passar da segunda página”? Acho que não vou gostar.
Texto grande, viu! Não gosto de ficar muito falante, acho que fico chato.
É isso.
(”É isso” pode ser disfarce, hein)
em tempos de flora assassina waldick morreu
Essa semana escutei o álbum de 77 do Roberto Carlos, me surpreendi com uma gravação emocionante de “Muito Romântico”. Jurava que era do Roberto, busquei informações na internet e constatei que não, claro que não! Pertence ao “Muito - dentro da estrela azulada”… Essa música é muito linda, letra e melodia que cabem na boca e molha os olhos. Seria interessante vê-la numa regravação ou cantada no show com a banda “CÊ”. Imagina o teclado do Ricardo, a guitarra transcendental do Pedro e a batera do Marcelo… Sinestesia pura. Fica aqui a sugestão.
Bj.
Boa, Bruno! É por aí mesmo. Quando usei as expressões “iscas de ciúm” e “competição de inteligência” não me referi aos seus coments. Fui um tanto genérico e até leviano relendo o que escrevi. Nunca tive essa questão de dessacralizar Caetano. Também, ao contrário da maioria, nunca o achei egocêntrico. Acho apenas que não tolera a ignorância. Em geral, ele tem sido generoso e humilde em toda a sua carreira quando se refere aos colegas e até aceita algumas críticas com humor elevado. Só não aguenta intolerância racial, homofobia (como no caso do New York Times) e “chutes” no assunto música popular, que domina com destreza. No mais, reitero: Caetano não está dando “trela”. São seus posts e o seu desejo de falar que motivam os coments. Quando o post é do Hermano, muitos coments são dirigidos à ele. Se Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado também postarem o papo com eles vai rolar naturalmente. Agora, é impossível negar a importância da entrada do Caetano no cyber-espaço. Considero uma oportunidade histórica que vai além da “Obra em Progresso”. Até porque o conceito de obra em permanente transformação permeia toda obra do Caetano. Não estou tão obcecado pelo novo CD, embora adore o que escutei até agora. E me identifico com o Tyrone que tem pego carona nesse momento maravilhoso e lúcido do Caetano para celebrar a sua obra como um todo. O que me fascina nesse evento tão sincrônico é que alguns pontos estão sendo ligados: Tom + Roberto + Caetano + Orlando + Mário Reis + Lobão + Noel + Chomsky + Pasquale + João Gilberto + Waldick + João Bosco + Ronaldo, Fenômeno + FOLHA, ESTADÃO & JB + Obra em Progresso + Hermano + Tom = Brasil na visão de Caetano. Esse mapeamento transtropicalista deu samba. Gente espelho da vida doce mistério.Valeu, Bruno.
caê,
seu som é como um algoritmo cuja trans-formação rompe a tênue película 35mm do cinema transneanderthal like protons em rosa-choque a nos explicar os negros buracos dos sub tons alienígenas que nos confirmam: cê que sabe!
caetano, sempre sonhei com o momento em que o seu canto desbravador chegasse à genial obra de bosco/blanc, e enfim este momento chegou - é aqui e agora, e é o melhor lugar do mundo.
Música, sexo (y… chocolate)
Dicen que la música “es un medio para lidiar” con los períodos de tensión (igual que el sexo?). Cuando leí el post de Nelson, me quedé pensando si la música es sexo. Probablemente la música despierte el sentimiento más parecido al sexo… al menos en los que amamos la música descomunalmente. De hecho, la música (y el chocolate) estimulan las mismas regiones cerebrales que regulan los impulsos sexuales. Y es más, leí que las regiones del cerebro humano activadas durante el orgasmo son las mismas que tienen un rol fundamental en la elaboración de la música (pobres lo que sufren de amusia!). Lo que siempre me llama la atención al observar a los músicos (en vivo, fotos o videos) en el momento del “climax musical” es que las expresiones faciales son iguales o parecidas a las del momento del climax sexual. Esto lo noto sobre todo en los solos…(recientemente lo noté cuando vi el solo de Dave Holland de Good By Porkpie Hat). Hace muchos años vi en una librería un libro de fotos de caras de hombres en el momento del orgasmo (se ve que la fotógrafa no la pasó nada mal sacando esas fotos). Me gustaría encontrar las fotos en Internet y ponerlas en paralelo a las de algunas fotos de músicos aclimatados para ver si opinan lo mismo (seguramente encontraré alguna de Caetano)
De todas formas, en mi opinión, el sexo no es igual a la música (principalmente porque el estado eufórico del orgasmo es mucho más fugaz: ni siquiera se puede mantener bioquímicamente por mucho tiempo) pero qué bien que se acompañan… sobre todo si además hay un buen chocolate de por medio!
Caetano:
Gostaria de saber por que a letra de “Fora da Ordem” foi alterada em Cê, quando compara ao Circuladô.
Em Circuladô, você escreve “Meu canto esconde-se como um bando de Ianomamis na floresta”. Em Cê, este trecho é alterado fazendo referência a Curdos.
Tem a ver com o prefixo Trans-, essência do projeto “Obra em Progresso”?
Um beijo,
Te amo (para os linguistas: Amo-te).
Caetano,
Sem maiores assertivas sobre a língua, também é cabível argumentar que seja trans, não seja trans, livre somos no que quisermos ser, se por um trans-samba (seria sem hífen por conta do tratado novo entre os países de língua portuguesa), se por um new-trans-samba já que se sofre influência dos estrangeirismos desde 1950… se não antes disso, quando os portugueses resolveram colocar seus pezinhos aqui… terras tupiniquins e virar esta muvuca… TRANStornada, TRANSformada e por que não dizer, TRANSviada…
Uma semana metamórfica pra vocês,
Amanda
Gente, Caetano tá blogueiro que tá retado.
Estou tonto com tanta novidade. Gil, com o interesse dele por essas coisas do ano dois mil, deveria estar aqui comentando, postando.
Estou aqui pra manifestar minha inveja:
Sou de Salvador e não tenho nada. Quero ver Caetano cantar, quero queixar o segurança pra entrar no camarim, quero quartas seguidas com Caetano. É nisso que dá morar na periferia do país.
Esse pessoal do Rio que é feliz!
P.S.: Prometo que volto em outros posts com comentários relevantes.
Caetano, acabo de ler a letra de Falso Leblon. Li tb os seus comentários sobre a canção. O texto, como de costume, é lindo. Achei novo o universo. Aí me surgiu de te perguntar: vc gosta de Marilyn Manson? Pode soar estranho, mas a associação entre Falso Leblon e Great Big White World foi imediata. Boa sorte, Danilo.
Diz-se que certa vez o Charles Bukowsky declarou numa entrevista que detestava Shakespeare. Uma professora escreveu furiosa, achando inadmissível que um escritor, famoso, cometesse uma barbaridade daquelas, num veículo de grande circulação, influenciando negativamente tanta gente. Bukowsky disse que jamais se esqueceu daquela mulher e, pouco antes de morrer, deu uma entrevista contando o episódio; aproveitou aquela que seria talvez sua última oportunidade para mandar um recado à professora: “Se a senhora por acaso estiver me lendo agora, saiba que não a esqueci durante todos estes anos e gostaria de dizer uma coisa: também detesto Tolstói”.
Caetano às vezes lembra essa professora. Cuidado com o autoritarismo, rapaz. Chega de maldade.
Caetano,
Que agradável surpresa vivermos na era onde uma janela se abre sobre os ombros do artista, nesta acta diurna onde podemos assistí-lo lancetando com o cinzel certeiro, a pedra no meio do caminho.
Acredito que a obra em progresso seja o sítio onde se cultiva mais que um disco e suas canções, mas também as expressões e reflexões de quem cria e consome arte – refinada e despretenciosa em medida exata - a partir do material linguístico, sociológico e artístico - dos que são felizes por decifrarem a língua ferina da cordial gente brasileira, língua amada por suas qualidades e limitações e guardada com os dentes aa mostra pelo senhor (ou podemos chamá-lo de você), nosso mesclador de letra e som preferido, com quem rimos orgulhosos pelas rimas, pelo que tem feito de belo, pelo que atingiu com o engenho e arte, por haver transitado esta língua portuguesa aa brasileira, esta arte menor (canção) ao estado da arte, este país provinciano aa qualidade de exportador de cultura, que adcionou outros temperos ao baiano sabor do ó aberto - o que reflete na expressão da justa forma sonora a idéia de seu peito aberto ao novo, transitando entre estilos e idéias de modo tão veloz (poderia ser veloso um adjetivo para veloz?) quando canta em letra e nota, seu córação, a exibir-se por outros mares – cuidando dessa língua com zelo de quem toca o andor (temos isso em comum - amamos a obra do Chico).
Cê é inacreditável, Caê. Nos inspira a cada vez que o ouvimos refletido no disco e agora nos escritos deste sítio.
O homem velho que não envilece e que já tem coragem de saber que é imortal, saiba também que sua obra estará em progresso, mesmo quando haveres ido.
Vida longa ao baiano zeloso.
Weider Weise, 31 anos, poeta, São Paulo
Quero me aliar à proposição de Weider Weise quando ele dá a sugestão d eum show com Chico Buarque. Não acho justo que apenas uma geração tenha a oportunidade de ver os dois maiores nomes da música brasileira juntos.
Estou em comunião, também, com a colocação de “Tão”, pois as pessoas que estão fora do eixo Rio-Sampa não têm a oportunidade de ter acesso a esses acontecimentos (Projeto Obra em progresso).
Um abraço a todos.
Caetano, boa noite ! Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pela entrevista no Jô, onde víamos um Caetano comum, um pai falando do filho, um homem com suas manias como qualquer outro, despojado, com a memória incrível de sempre, refazendo a música “Desde que o Samba é Samba”; de maneira maravilhosa e ( cada vez mais ) “perfeita”. Bem, nada haver o meu comentário aqui no topico do “transexual”, mas como disse você uma vez( em um programa da MTV,da Sabrina Parlatore,ao vivo), em 98 (época logo após o estrondo do Prenda Minha ) : “tudo faz sentido”. Sendo assim, aqui escrevo solicitando ( encarecidamente, risos ) que você colocasse aqui o video da música “LAPA” tocada no Rio agora no Obra em Progresso, por várias razões (já que tudo faz sentido). Primeiro , por ser um fã do João Gilberto. A primeira vez que ouvi Lapa foi na voz dele. Depois por ser um fã da Gal, e saber que essa foi a primeira canção que o próprio João, pediu ainda em Salvador , para a Gal cantar para ele ( assim como você a “sabatinou” muito bem com Stella by Starlight ) e o gênio aprovou o timbre e a bossa da baiana. Além de ser uma canção maleável à transamba, transpop ou até mesmo a “transexual” ( ha quem diga que a Lapa tornou-se um reduto PANSEXUAL, para completar os exageros do contra-senso..risos ) . Enfim, uma canção maravilhosa do nosso cancioneiro, onde você e seu violão, foram queridos e extraordinários , ao resgatá-la dos baús dos vinis( seria esse o plural de VINIL…andamos preocupado com a gramática ao escrever por aqui !!! risos) ao “trans”PORTÁ-LA para nossos dias em uma batida tão gostosa. Uma pena não encontrarmos aqui LAPA, quando temos a outra memorável Feitiço da Vila. Ah, e como “tudo faz sentido”, ” foi na lapa” que o Cê foi gravado (risos). Pronto, todo o contexto para que coloquem LAPA aqui no blog !!! (PS : Sou o cara de Salvador, do “Dicionario Amoroso da America Latina”,do Llosa, dado em Taubaté na turnê do Cê ano passado! ) Então Caê, pedindo perdão pelos “zil” erros gramaticais, disponha A LAPA , para nosso deleite. Aquele abraço soteropolitano!!! Bruno.
ouvir o brilhante Ministro da Cultura português José Antônio Pinto Ribeiro falar já é uma beleza, quando ele fala do acordo ortográfico então, isso passa a fazer mais sentido. Os espanhóis saíram no século XVI com seu Dicionário pelo mundo e os ingleses com a tradução da Bíblia e as sentenças jurídicas dos seus magistrados. Os portugueses saíram somente com a língua falada. D. João VI trouxe apenas a letra a do que seria o dicionário português. Não trouxe costumes gráficos. Durante o século XX foram feitas 5 revisões na ortografia e é por isso que ninguém mais escreve farmácia com ph, por exemplo. Esse acordo que vem aí tem pela frente alguns anos para sua implantação e vem sendo gestado desde 90. No filme do Waltinho a língua é pouco falada, lá embaixo parece que nem língua tem…nem vem que não tem, eu nesse embalo vou botar pra quebrar, sacundim, sacundá, sacundim cundim cundá…
Puxa, só se fala em gramática aqui ! Estou com medo de escrever errado, por isso , vou evitar escrever mais de 6 linhas para evitar ser criticada por alguém. Gente, vamos mudar o rumo do papo pra música. Salve Caetano e viva a bossa-sa-sa (está correto?)
música falada