Sifu? (06/12/2008)
SIFU? |
6/12/2008 10:35 pm |
Não me incomoda muito que o presidente da república tenha usado a expressão “sifo” num discurso no Rio. Conheço pessoas que estavam lá e ficaram revoltadas. Dou-lhes razão. Mas não me abalei muito. Me aborrece mais que todos os jornais do país, ao contar a história, tenham grafado “sifu”. Não entendo a razão. Me parece que assim os jornais mostraram no mínimo tanta vulgaridade quanto Lula. “Sifu”, assim escrita, é uma palavra oxítona. O “u” final cria o problema. Ele entrou aí porque palavras relativas a sexo são vistas como sujas: não têm história. O verbo que está abreviado na segunda sílaba da palavra composta não contém a vogal “u”: é “foder”. Mas leio até em livros eruditos “culhão” no lugar de “colhão”, “buceta” no lugar de “boceta” e “fuder” no lugar de “foder”. “Sifo” é, assim escrita, a palavra paroxítona que o presidente pronunciou - e sua segunda sílaba é a primeira do verbo abreviado. Escrevê-la com um “u” é transformar a primeira página dos jornais brasileiros em parede de banheiro suja de parada de ônibus. Este sou eu: apesar das incertezas a respeito da origem do uso da palavra “veado” para designar “homossexual do sexo masculino”, me sinto mal quando vejo escrito “viado”. Millôr Fernandes escreveu que quem escreve “veado” está dando provas de que é um. Acho que adoro dar esse tipo de prova, pois só grafo “veado”. Primeiro porque sou adepto da tese de que se está dizendo o nome do animal e não algo derivado de “desviado”. Depois porque, na dúvida, preferiria manter a mesma atitude que exijo em relação a “boceta”, “colhão” e “foder”. Cariocas e baianos não escrevem “chuveu” nem pernambucanos, “cibola”. Não. “Sifu” é uma indecência oxítona que a imprensa consagrou. Implico com a mania - que começou nos anos 70 com a poesia marginal - de se ecrever “homi” (como em “os homi”) em lugar de “home”. Supostamente estão transcrevendo a fala de gente do povo, que não pronuncia o eme final. Leio isso em romances e poemas - até em ensaios. Alguns põem o circunflexo: “os hômi”. Esses ao menos evitam o oxítono fatal. Mas criam uma complicação desnecessária. Suponho que evitam “home” porque os (ainda poucos) brasileiros que lêem iriam pensar tratar-se da palavra inglesa que significa “lar”. Este blog e os shows em que fui mostrando as canções são a exposição do trabalho que sairá em disco no ano que vem. Só “Menina da Ria” (uma canção singela e gozada) não é conhecida de quem quer que freqüente estes chats aqui. Quando eu disse que o projeto pretende um aprofundamento da experiência de “Cê” não estava anunciando uma radicalização no sentido das aparências de indie-rock, mas um aprofundamento do trabalho que iniciei com Pedro, Ricardo e Marcelo. Com essa mesma formação, enfrentar desenhos rítmicos do samba tem sido, para nós quatro, uma aventura maior do que seria confirmar expectativas de definição roqueira mais “pura” no meu trabalho. Marcelo, Ricardo e Pedro não escreveram aqui até hoje porque não quiseram. Mas eu posso dizer que eles estiveram sempre entusiasmados com o que vimos fazendo. A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul. O sul é um mercado mais voltado para a cultura pop de língua inglesa do que o resto do Brasil. O centro-sudoeste compra sertaneja (mas também axé). Do Rio para cima, pelo litoral, axé (mas também sertaneja), pagode, rock brasileiro moderno, pop brasileiro moderno (odeio a denominação MPB). O cinema brasileiro também tem muito menor penetração no sul do que no resto. Então, para a moça que assina Joana: “zii e zie” não será ir mais fundo no que há no “Cê”, mas ir a lugares aonde o “Cê” não foi. Já comentei aqui que o crítico Ben Ratliff disse no NYT que as letras do “Cê” eram as minhas melhores em 20 anos, sei lá. Que mexi com ele, em Nova Iorque, dizendo que ele nem sabia português. Mas que agora penso que ele tinha razão, de certa forma. A concisão quase saxã do “Cê” não se encontra em meus textos de antes nem de depois desse disco. Mas é porque eu não quero. Fui ao Mistura Fina ver o show de Luie, Liminha e Dádi. O artista era o Luie. Mas o trio (que depois ainda trouxe, de quebra, Cesinha na bateria) também parecia constuir um gênio musical. Luie é um cara da geração do Dádi. Eu o conheço desde os anos 70. É um desses caras que se apaixonaram, talvez desde a infância, pelo repertório de estilos que ganhou o mundo sob a rubrica “rock”. Fiel a suas eleições, ele só cantou em inglês - e só clássicos do rock’n'roll, dos blues, do country e de todas as misturas desses três elementos. Eu, que desenvolvi meu gosto de modo totalmente diferente, fico maravilhado quando vejo alguém assim. Luie tem musicalidade e feeling genuínos, ele canta de dentro da verdade daquela cultura. Não se trata nem de perfeição na imitação (o sotaque, por exemplo, não é limpo de brasilidades) mas de identificação profunda com a sensibilidade e a poesia daquele mundo. Além disso, ouvir “Dead Flowers” ou “Wild Horses”, “Like a Rolling Stone” ou “Hey Joe” é reviver os anos iniciais de minha tardia descoberta da energia histórica do rock (sou joãogilbertiano antes de tudo). Liminha (que tocou comigo em 1968, quando ele tinha 17 anos!) é o que sempre me pareceu: um músico grandioso. Dádi (que tocou comigo nos anos 90 e é uma das pessoas que mais adoro neste Rio de Janeiro) é um contrabaixista deslumbrantemente culto de tudo aquilo que Luie representa: ele toca baixo como se fosse uma extensão das guitarras de Luie e Liminha, com toda a manha, todo o sentimento daquele tipo de música. O trio soava tão bem que parecia que o equipamento de som era o melhor já montado em Tóquio. Fiquei emocionado. Escrevi que postaria quando os comments chegassem a duzentos há dois posts atrás. E cumpri. Agora é esperar a liberação de “Incompatibilidade de gênios” por parte da editora de Bosco&Blanc. QUERO “PÓ PARÁ COM O PÓ” CANTADO POR IVETE, DANIELA, CHICLETE, ASA, JAMIL E QUEM MAIS Salem, você também lê meus pensamentos. A música de Nelson Cavaquinho que eu mais canto em casa é “Rugas”. E gosto mais de Nelson do que de Cartola, se é que se pode falar assim. Eu o conheci bastante e ele, com aquela cor de cerâmica e cabelos prateados, era o caboclo mais lindo. Penso o mesmo que Egberto. No mínimo. Nando lembrou certo: falei sobre o violão de Nelson para ilustrar aquele argumento. Já ouvi João Gilberto cantar “Rugas”. De lascar. Três beijos na sua testa. Adoro Radiohead. Thom Yorke canta muito e a banda é boníssima. Não creio que Milton se entusiasmasse com eles, mas há algo de Minas ali sim. Como sou baiano, muitas vezes prefiro até Arctic Monkeys, pela linhagem mais seca, que vem de Sex Pistols, Nirvana, Strokes - e o eterno disco dos Pixies na BBC. Radiohead é muito líquido. O som é muita água e o texto é muito obscuro, muito “não quero que você me entenda”. Mas é um grupo refinado e caprichado. Lindo de se ouvir. Acho que não vou ao show da Madonna, mas ao do Radiohead eu quero ir. |
Caetano, comparto tu indiganación respecto al la inapropiada expresión utilizada por el Presidente de la República; ojalà que o povo não se esqueça disto quando for votar para presidente em 2010….
Yo adoro la lectura, y el pirmer libro con el que aprendí a leer, es de Literatura hispana; hoy se admiten muchas expresiones que tergiversan el real significado de las palabras, y se les otorga otros sentidos ( muchas veces sentidos maleintencionados como el caso de la expresión usada en ese discurso al cual refieres). Detesto ( ODEIO), el mal uso de la lengua…ya sea hispana….ya sea inglesa….ya sea portuguesa…..etc.-
No soy muy afin de radiohead, pero sí me encanta escuchar Creep….
Un abrazo!!!!
PD: Alguna vez voy a recibir yo tambièn algún “beijo na testa”, algún “beijinho pequeno”, alguma coisa para esta entrerriana que espera tu regreso a la tierra del Mate, del Asado y del Dulce de Leche!!!!
En el mientras tanto, yo sí, te mando besos.-
Judith
Nem bem deixei meu único comentário (ainda em moderação) do post anterior, no que atualizo a página, já outro post. Desta vez não quero perder nada, nada…
Eu iria postar o link de “pó pára com pó” anteriormente (quando “descobri” o vídeo, antes do hype) mas achei que não fosse passar na moderação… Não costumo me interessar muito pelo axé (católico?), mas achei a música absolutamente sensacional. E, em tempos de Amy Winehouse e outros casos tupiniquins, o timing é admirável.
Rafael, “tomou o poder” talvez não seja o termo mais apropriado, não?
GERAL
Sobre a fala do presidente, não me importo tanto. As palavras podem ser infelizes mas a síntese do conteúdo é “inofensiva”. São apenas comparações explicativas naquilo que Lula acredita ser a “língua do povo”. O presidente já fez vários pronunciamentos infelizes anteriormente, muito mais problemáticos. Sendo assim, acho que fazer barulho em cima de um “sifu” ou “sifo” é uma bobagem.
Eu já ia escrever umas coisas aqui, voltei ao tópico, reli e me acalmei…
Essa galera que tomou o poder, esses que sofreram nos 60 e poucos, 70 e poucos (a maioria) está fazendo um governo mais do mesmo.. de marolinha a paciente doente fodido em estato terminal. Fico sem saber o que falar quando me sacaneiam, e “foi nesse cara que você votou?” Claro que muita coisa boa foi feita, mas os erros são pedras pesadas nos bolsos dos afogados.
Não. Prefiro não ler essa idiotice da imprensa sobre o ocorrido e pensar por mim. Ou ler e levar na esportiva (creio que essa tenha sido a atitude da maioria dos brasileiros).
O problema não é o “sifu” é o se foi, estão dando descarga na merda que se tornou esse Brasil. Mas eu acredito na mudança, “onde cheira a merda, cheira a gente”. Onde tem gente tem palavra… com a palavra o diálogo… É necessário fazermos algo o quanto antes; não destronar os reis, mas sim mostrar que estamos aqui e não somos idiotas. Dizer ao rei que ele está nú.
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bjs.
mundando de assunto, sinceramente, não acho bom para o brasil ter reis. muito menos um que proibe livros de circularem (e mais ainda, que os manda queimar). mas sinto que meus argumentos para esta afirmação, que rema contra aquilo que você pensa e diz, podem se tornar muito grandes assim escritos. prefiria dizê-los de outro modo, como se numa mesa de bar entre cigarros e risos e não desse modo… entende? (ah, estou falando de algo que disse aqui meses atrás e que teve uma resposta sua - um tanto rabugenta).
e já que falamos dele: mas que capinha horrorosa aquela deste disco de dueto, hein?!?
Caetano, se contar pra você minha opinião, adorei as letras de “Cê”. Adorei tudo em “Cê”, mas uma das músicas sua que mais gosto está lá.
Engraçado esta estória do veado X viado. Nunca soube direito como era. Adoro “bichice”. Mas não gosto de palavrão, nem falado, nem escrito.
beijos da Lilu. (é um apelido, mas não é palavrão, apesar de oxítono!!rs)
oi Caetano: segundo uma pesquisa DataFolha-F/Nazca, a Região Sul também é predominantemente sertaneja: dá para baixar todos os resultados detalhados neste link: http://www.fnazca.com.br/_misc/o_que_se_ouve.zip
UAI, CAETANINO, POR DETRÁS DESSA CAIXA ALTA TODA AÍ - NÃO É QUE EU OUÇO O MEU LINDO E BALDEADO NOME SENDO PRONUNCIADO NESSE TIMBRE ÚNICO DE SUA VOZ ESPESSEGOSA?
Você tem uma força estranha, a minha emoção é tamanha, mas não vou dar aquele vexame de Gravataí - quando em outra postagem você berrou pela primeira vez o nome merengueiro dele - mé mé mé - e ele ficou loco por ti, e, o pior, mais derretido do que o meu poema liquefeito.
Zangue-se comigo não - né, Labô - meu nego, no fundo o que eu quero sempre dizer a você Marina de La Riva and Exequiela Goldini já o disseram para mim: “Meu bem, não faz assim comigo, não!”
Mas posta a emoção de lado, e como eu, seguindo o preceito de Kierkegaard (será?), não sou de entregar a minha alma cativa a ninguém (para não perder o senso de minha própria identidade), a não ser por alguns momentos lindos e de, preferência, tântricos (e tanto melhor se caído em outros braços, como os das infocaetanautas Goldini and Lomelino), eu gostaria que não acontecesse com essa Caixa Alta aí (queria escrever, Altino Caixeta, e em algum lugar inóspito do cosmos ele ficaria se rindo por uma eternidade de mim), que não acontecesse, pois, um incitamento a que nós fiquemos UNOS contigo, entoando em uníssono durante um interminável acorde perfeito maior um mesmo e único Cântico.
Por isso é que eu venho logo aqui contextualizar certas coisas e incitar a diversidade de sensibilidade and pensamento, promovendo os meios iniciais para um debate.
Em meu cmt. de n. 175 intitulado PERGUNTEM AO PÓ na página anterior, eu postei a canção-cruzada-axé católica que pede para parar com o pó aí. Brincando com a questão da finitude humana (e brincar é viver, não é desrespeitar a fé - genuína- de ninguém) - de alguma forma a questão da droga, por estar associada à questão do “sentido” da vida, afina-se com isso -, eu intuia que essa canção condensava coisas interessantes para a nossa reflexão, e pedi especial consideração a respeito não somente a você, como expressamente também ao Hermano. Não pincelei os tópicos, mas me referia diretamente à estética e, implicitamente, é claro, à adoção desse formato de canção para a veiculação de “outro” tipo de mensagem.
É bem possível que você tenha achado que eu tivesse uma opinão deformada sobre o asssunto. Mas eu sou uma metamorfose ambulante, sempre predisposto a mudar de opinião, quando não se tratar, como não é o caso, de alguma idéia das mais caras ou fixas minhas.
Como um silêncio espessegoso reinou sobre o assunto, e porque eu tenho uma natureza ruim (de boa!), eu tentei fustigar infocaetanautas fora daqui da OeP por outras Bandas virtuais. Mas uma idéia fixa ocupou-se de mim: resolvi me fixar em Gravataí. Indaguei o que ele pensava a respeito pelo Orkut e ele me disse que não tinha visto antes por aqui não, mas que ao ver sob a minha instigação reconheceu que já havia visto o vídeo há algum tempo, e concluiu: “excelente! solução axé-católica para o ratatatá colombiano”. Conclusão de quem não quer saber mais de papo não!
Aliás, a única pessoa que quis interação comigo (cmt. 212 da página anterior), a. c. (que eu pensei que significasse “antes de Cristo”, e pelo Orkut se confirmou, pois disse ser alguém de um mundo de múltiplos deuses), opinou que o ‘popararcompó’, uma campanha ‘drogas tô fora’, em forma de axé-católico, tem “potência de sucesso mundial”.
E como a minha natureza não me perdoa, exatamente porque mais ninguém até então voltou a se interessar pelo assunto, não tive outro meio senão o de eu mesmo voltar a bater na tecla, em meu cmt. de n. 278 na mesma página. Então eu perguntara - tentando deduzir o silêncio sobre tão instigante discussão: “Medo da Igreja Católica. E o tal do Estado laico, não vigora? Ninguém mais mora na filosofia? A axé-music ali não se acha ou se rechaça?”
As primeiras duas questões acima e devem ao fato de eu imaginar que não é difícil associar a apropriação da estética e do formato de um produto entronizado para transformar a sua finalidade em proveito de algo diverso, no caso, em mensagem politica e salutarmente correta, àquela discussão contida no tratado magistral de Salem sobre cafonice e cafonália. E voltei, ja no meu último cmt. na mesma página, a flertar nesse sentido.
Pois bem, oferecido esse contexto, e deparando-me agora, Caetanino, neste seu atual post, contigo pedindo para todo mundo cantar o “pó parar com o pó aí”, como suponho que já no próximo Carnaval o seu desejo majestoso será atendido aqui na Bahia, eu não resisto, eu não resisto - já fui lá na página de Gravataí no orkut-circuit atraí-lo para debate sobre isso, e tasquei ali algo que eu quero estender a todos que se interessarem aqui: “Como o nouveau richism encarará o próximo Carnaval baiano, de cara limpa?” (n.b.: queiram ir até o final da página hiperlinkada com o nome “nouveau richism”!)
Óbvio que eu sei que tem gente que fará a campanha sendo veraz…
Óbvio que eu sei que sem o nouveau richism o Carnaval baiano perde sérios dividendos…
Era isso, e estou aqui me preparando, peixe ensaboado que sou, para dar mil pulinhos e voltar a este delicioso assunto.
P.S. 1: Caetano and Hermano, eu poderia aproveitar, em algum momento desse debate, e trazer para cá algo que rola vez ou outra aqui em Salvador em nossas canhestras mentalidades: a história de mudar o carnaval-business ou o carnaval-franquia para o Centro Administrativo, e deixar a cidade para a gente, assim como para aquele turista que não venha já empacatado ou industrializado em busca da alegria engarrafada and standardizada?
P.S. 2: Caetanino, o que foi mesmo que você achou de meu lado miguilim ter dedicado aquela canção do Gil (Índigo Blue) para o Riobaldo, no sentido de assinalar que na história com Diadorim também a um “elogio” do amor heteroerótico? Retorno o link para o Blog Riobaldo e Diadorim, onde um dos textos extraídos (em postagem de 30.11.08) do Grande Sertão: Veredas segue magnificamente nessa direção.
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SALEM: por problemas técnicos, estou por alguns dias sem os meus negritos, itálicos and amulatálicos!
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GILLIATT: mande seu currículo urgente, só avaliaremos um prentendente: estaremos colocando a FM IMPERTINÁCIA no ar antes da Revista Eletrônica ser lançada, e você, por uma eleição democrática minha, foi eleito o curador de nossa Rádio Web! Venha para o meu Orkut que você me entenderá.
Tambem conheci um pouco, Nelson cavaquinho.Grande figura,sempre disponível,onde houvesse uma mesa com viola e birita.
Por ocasião da escolha do samba de enredo da escola aqui do bairro,a “Unidos do Cabral”, ele participou como jurado na final.O enredo era em sua homenagem.Participei tocando cavaco no samba vencedor da autoria do saudoso Baianinho do Cabral,outro grande talento,cujos sambas a memória dos amigos mantem vivos.
A humildade dos verdadeiros gênios é tamanha, que às vezes até irrita.
Abaixo a ORTOGRAFIA “correta”, por que não aderir a fonética se o povo está assim falando?
A maioria. Ou isso não faz diferença?
É bonito e culto conhecer a língua oficial e ter gostado de estudar português na juventude, contudo a defesa de disso me parece mesmo reserva de mercado.
É triste mesmo estudar uma coisa e ela acabar. Vamos estudar a coisa nova e não nos apegar ao defunto.
Um ponto a ser tocado é o populismo associado ao sifu (sic) e as intenções do improviso planejado.
De qualquer sorte, é linguagem chula e um Presidente da República deveria se portar com o respeito que tal cargo requer.
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Já cumprimentei pessoalmente alguns artistas como Mautner, Milton ou Serginho Dias, todos em situações agradáveis. Pensei que esse negócio de “falar com artista” (emocionalmente) fosse sopa. Aí fui ao camarim da Cor do Som num show quando eles voltaram depois de muitos anos sem tocar juntos. Fui logo falar com o Dadi: minha voz não saía (?!) e as pernas tremiam (?!?!). Só consegui resmungar: “Te admiro muito…”, enquanto o abraçava. Dadi é alto astral pra caramba: a beleza que sai do instrumento não vem da técnica, vem dele mesmo, foi a impressão que tive.
Isso tudo e ele tocando com Liminha (dois dos meus três baixistas favoritos aqui no Brasil; além deles, o Bi Ribeiro) e com Cesinha na batera e tocando rock’n roll: é demais pra mim. Mas miseravelmente não faço idéia de quem seja Lui.
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Adorei isso: “Radiohead é muito líquido. O som é muita água e o texto é muito obscuro, muito “não quero que você me entenda”.
Mas eles não são os únicos. Patti Smith, REM e Luiz Melodia são alguns artistas que acho que têm um pouco a ver com liquidez, obscuridade e alguns textos de difícil compreensão. Eu chamaria de um fluxo de consciência emocional(?!).
“Radiohead” vem do nome de uma canção dos Talking Heads. Cabeças falantes, rádio na cabeça, rádio falante, tudo isso mais água, liquidez, obscuridade, “não quero que você me entenda”, alguma exuberância instrumental, a ternura de uma criança desamparada. Lembro do Lennon dizendo: “Quando você está se afogando você não pensa em nada, você grita”. Talvez por isso a gente não deva entender nada, talvez Thom Yorke ainda seja emocionalmente uma criança gritando docemente.
Lembro-me de um show de Caetano, foi no Canecão nos anos 80, que para elogiar a música “Todo amor que houver nessa vida” de Cazuza, ele dispara muitos e sonoros palavrões (muitos mesmo). Mas aquela atitude ali, naquele momento, soava aos nossos ouvidos, jovens e rebeldes, carinhosa e doce. A intenção era nobre (chamar a atenção para um jovem de talento imenso). A crítica, sempre ela, ficou escandalizada com a atitude de Caetano, lia-se nos cadernos culturais algo como “desnecessário, vulgar, grosseiro, etc… mas ao mesmo tempo começaram, os meios, uma corrida para saber quem era esse tal Cazuza. Quanto ao nosso presidente, a intenção era… sei lá!!!
Nós somos o teu BANDO, NÃO ENCHE:
http://www.youtube.com/watch?v=cvhqKWJ1kp0
Eu me assustei quando vi isso no jornal.Bom você ter comentado.Que loucura tudo isso.Mais que discutir o quê o presidente disse é como esse foi reproduzido na imprensa. TENHO PENSADO MUITO SOBRE ELA,ALIÁS.Assisti o documentário e o filme 174 e é louco como a imprensa exerce poder e influencia (mesmo que sem querer) decisões da polícia, essa na qual não consigo mais confiar. Quando criança tinha medo quando via um policial,menos por ele, mais pelo motivo dele estar ali. mas 174 me deixou impressionadísima, o doc é mt melhor, mas fora as questões cinematográficas, rola o social, o pessoal. Chorei,tive pesadelo,embrulhei-me.ACho que é uma certa culpa.
Eu acho ótimos dois termos que um amigo meu usa quando em situações emergenciais: você está apertado querendo desesperadamente um banheiro, aí usa “Tô míuri” e “Tô mica”, para as respectivas necessidades fisiológicas
bem, qd fiz kung fu, no Rio, aprendi a chamar o mestre (o cara que ensina e coordena o grupo) de Sifu…
a respeito do homi: me interessa qd as palavras são escritas assim em um contexto lúdico, pra tentar reproduzir a fonética da linguagem, de acordo com o que os falantes tranformam aquilo. como o “leite quente, gente” aqui do sul. em Porto Alegre viram “leeitii queentii, geenti”, no interior, “leitê quentê, geñtê”
caets:
muito lindo isso que vc pontuou sobre a Obra, o zii e zie, a respeito de ir a lugares que não onde o Cê não foi. esse ir além me parece belíssimo. (não sou defensora a respeito de ir mais fundo do que há no cê, acho o cê apropriado ao momento, teve seu tempo, mas lembrava dessa motivação de ir além, através do cê, através de vcs mesmos) gosto de tentar encontrar as linhas no tempo…
o que significa “a verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul” ? ( não conheço a respeito da Bahia…até fiquei emocionada com seu risoto Joaldo, porque a mim seria uma ótima motivação pra ir à Bahia, mas também sequer faço idéia de onde fica essa praia que vc contou…)
Joaldo:
não esqueci do que te devo…mas tou sem muitos méritos de tempo pra abordar o que quero. pois eu iria tocar exatamente nesse ponto que encara a morte. e se vc observar em todos meus coment já tenho colocado um pouco disso…acho que vai maturar em mim junto com essa idéia do fim do blog…eu não vejo esses fins como de todo ruins, vejo como pontos de passagem, e de muito potencial…não me surpreende que a morte do amigo tenha alavancando os Ensaios…a força que estava aí condensada pode se expandir e concretizar algo significativo…imagina qt vc potencializou em todo o tempo que caminhou com seus amigo? depois, isso vai pra algum lugar.
eu ía comentar antes ainda: salem, bj na testa é um primor! parece que vejo a ação!
ops, pressa, erros
muito lindo isso que vc pontuou sobre a Obra, o zii e zie, a respeito de ir a lugares onde o Cê não foi.
esse ir além me parece belíssimo.
(não sou defensora a respeito de ir mais fundo no que há no cê, acho o cê apropriado ao momento, teve seu tempo, mas lembrava dessa motivação de ir além, através do cê, através de vcs mesmos) gosto de tentar encontrar as linhas no tempo…e é bom cutucar de vez em quando…pra saber o que está acontecendo.
Se os jornalistas transcrevessem a expressão “Sifu” ipsi literis, perderia toda a pungência semântica que ela denota, ficaria “Se fo…”, o que não valeria uma notícia de jornal.
Pra mim a questão central do sifu/sifo/sefu/sefo está no conteúdo e não na grafia. A imprensa chamou atenção para o uso do termo, mas pouco falou do assunto no qual ele estava contido: a saúde.
O presidente usou e ousou ao usar a expressão naquele contexto. Perguntava se os médicos se sentiriam à vontade pra dizer a tal expressão a um paciente sem saída. O resultado do seu atrevimento foi ambíguo: se por um lado, tocou na ferida da nossa saúde (doente), por outro, provocou risos sarcásticos num assunto sério. E involuntariamente, acabou chamando a atenção para a expressão e dispersou o foco de um tema seríssimo.
Lula ficou mestre nisso. Não sei se é consciente, mas quando faz suas metáforas futebolísticas ou solta as suas piadinhas, produz descontração em ambientes tradicionalmente contraídos, travados, formais. É bom e ruim. Se por um lado, relaxa os fóruns de gente apertada por gravatas e idéias arcaicas, por outro se torna um humorista no centro de um cenário que é dramático.
A gigantesca aprovação de Lula tem mérito: o renascimento do otimismo. Não falo de ufanismno, falo (tosca e caretamente) de esperança. Isso sim é bom. O Brasil, tão bipolar como os sambas de Nelson Cavaquinho, andava pendendo demais pra baixo. É preciso oscilar. Lula trouxe de volta essa possibilidade.
Mas Nelson Cavaquinho é o Brasil nessa oscilação entre a tristeza e a alegria. Quando Lula falou “sifu” falava da morte. Ninguém percebeu? Rimos da morte!
Nelson sorria pouco. Não era de piadas. Era de causos. Gosto mais da canção A Morte de Gil (gravada por Macalé) do que a recente Não tenho Medo da Morte, também maravilhosa.
Gil diz: A Morte é rainha que reina sozinha” “Não precisa do nosso chamado”.
Jamais Gil ou Nelson diriam a alguém associariam a morte à “se foder” (sifu).
Caetano
Nem sei o que dizer sobre minha leitura de pensamentos. Seria um atrevimento sugerir que você grave Rugas algum dia, mas tenho obrigação de fazê-lo.
O verso “Feliz daquele que sabe sofrer” é uma síntese de tudo o que disse acima sobre felicidade, tristeza, morte, Lula, Gil e Nelson.
Beijo na testa
salem
Ou seja: Lula
O “ou seja: Lula” do final é um ato falho de digitação e de copy and paste. Ficou gozado.
marília castello branco [que nome elegante] disse:
- Tenho certeza de que, no Carnaval, haverá muita gente por aí, cheiradaça, dançando e cantando o “poparacumpó” -
concordo, marília. aliás, adorei as coisas que você falou sobre o assunto. fugir da superficialidade, do politicamente correto, do controle-de-danos social, é um exercício de sensibilidade. e liberdade. para poucos, infelizmente.
a cultura da droga, do esporte, da superação, do herói [e consequentemente, a glamourização do anti-herói] fazem parte de uma mesma coisa.
se as pessoas pararem de cheirar ou fumar maconha pra não subvencionar o tráfico, terão que usar outras coisas. entorpecer-se é tão velho quanto a própria história das civilizações.
cocaína é droga, álcool é droga, coca-cola é droga, TV é droga, religião é droga, ignorância é droga. umas mais pesadas que outras, apenas.
deixo claro que acho o uso de cocaína uma burrice. ela só tira, não lhe dá nada em troca [explico: LSD, mesmo sendo tão perigosa quanto, pode lhe ajudar a construir uma nova percepção das coisas, aguçar-lhe os sentidos, isso não acontece com a cocaína].
vício é vício, minha gente. nenhum viciado ou dependente químico se diverte com isso.
olha que coisa: parei de beber faz uns dois anos. bebia muito, muito mesmo. desde os 15. só que fumo um maço por dia agora. antes não fumava. parando com o cigarro [e vou!], algo virá me socorrer na dança dos dias. não?
Caetano;
Tem sido um prazer estar aqui. Acompanhar as conversas e dar meus pitacos ocasionais tem me feito refletir sobre um mundo de coisas para além da música, tanto da cultura como pessoais. O Salem tinha sugerido que escrevessemos sobre nossos encontros com a sua música e eu o fiz, dias atrás – e percebi quanto você teve um papel decisivo na minha formação, mais ainda com relação ao comportamento e visão de mundo do que musicalmente. Mas não achei que, naquele momento, o texto fosse algo que coubesse publicar aqui.
Tenho quase 50 anos e o ouço e acompanho desde os nove. Você foi um herói da minha adolescência, representou um modelo de identificação e uma imagem do um masculino extremamente inovadora e não tradicionalista, de questionador dos modelos estabelecidos. Me marcou, e à minha visão de mundo, de uma maneira tamanha que não saberia dizer o quanto de minha personalidade traz a marca dessa “caetanice” – e por isso eu te apreciarei e serei grata, sempre.
Olhando hoje de outro ponto de vista, me intriga e perturba um pouco pensar em como deve ser para uma pessoa ocupar esse lugar do “herói” - ou o contrário disso, ou uma combinação perigosa de ambas as coisas - para milhares de pessoas. O peso que isso deve ter sobre um par de ombros humanos. Tantos têm sucumbido. Desta distãncia, me parece que você o vem carregando com muita dignidade e coerência.
Um dos aspectos dessa visão de mundo a que você me apresentou, nos meus anos cruciais de formação, tem a ver com a capacidade de dar um olhar renovado para coisas que eram encaradas como “lixo” pelo pensamento estabelecido e, através de seu toque refinado (gosto dessa palavra que tem a ver com a busca do essencial, e gosto de usá-la em oposição a “sofisticado”, que acho horrorosa), revelar a beleza oculta pelos preconceitos “dos intelectos que não usam o coração como expressão”, canção que o querido e cafona Salem já citou aqui.
Desde Coração Materno você vem fazendo aflorar essa beleza negada e ferida. Este talvez seja um dos aspectos mais marcantes da “caetanice” que levei para a vida, que me tocou profundamente a alma. Certamente foi uma influência importante na minha escolha de trabalhar com o que é mais rejeitado pela sociedade (minha mãe tinha a bandeira do Oiticica “seja marginal seja herói”, pendurada na sala). Hoje uso a arte e o teatro para entrar em contato com a beleza trágica intrínseca nas histórias daqueles que foram eleitos bodes expiatórios de tudo o que, enquanto cultura, temos de pior. Amar, respeitar e encontrar a doçura e delicadeza de sentimentos dos dependentes químicos.
Assim, não é que me surpreenda o seu grito chamando pra cantar o “poparacumpó”, que é uma canção que abomino não por questões musicais mas pelo que representa: o desprezo disfarçado de boas intenções para aqueles que sofrem com a perda da liberdade e a incapacidade de não usar uma substância. A idéia por trás da canção, para mim, representa a visão cristã pervertida e perversa de quem prega a “força de vontade”, que denuncia o argueiro no olho do vizinho sem entrar em contato com a trave no próprio, que “vê tanto espírito no feto e nenhum no marginal”, incapaz de enxergar a beleza nos travestis ou compreender a alusão ao “homem mijando sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”. A podridão por trás daquela capa da Veja com o Fábio Assunção, menino lindo e talentoso que certamente está sofrendo o diabo.
Pois é. Pela primeira vez você conseguiu me chocar. Eu que, como já disse aqui, “mamei Tropicalismo com Nescau” e achava tudo, vindo de você, natural e lindo, fosse o Araçá Azul, fosse a “melô do OB” (“foi crescendo, crescendo e me absorvendo”) ou a simplicidade de “Sozinho”.
Mas, finalmente, pensar nisso, encarar esse sentimento, me trouxe uma grande tranquilidade; afinal, esse homem aí, chamado Caetano, um cara famosão, que tem esse blog, faz umas músicas lindas, grava uns discos, escreve uns lances, etc. e tal, não é a mesma coisa que um caetanoveloso interno que eu possa ter inventado para mim. Felizmente o tempo me tornou capaz de ter nítida essa diferença, e ambos podem coexistir. Sou capaz de tocar os pés de barro do meu herói, e que bom que sejam de barro! Barro é a terra, a mãe, humus, ser humano. Caetano não é um símbolo, não me pertence. Há muito não preciso mais de heróis: pude construir o meu próprio, interno. Acho a canção uma merda e você me põe em contato com a merda em toda a sua riqueza simbólica. Acredito que seu talento é capaz de transformar em beleza essa merda, como eu luto para ajudar meus pacientes a fazer.
JOALDO: Finalmente localizei o comentário em que você colocou a canção que me incomoda. Desculpe a ignorância, mas ainda não saquei bem a questão que você está colocando através dela. De qualquer maneira, gostaria de fazâ-lo, e de tentar elaborar mais a respeito já que é um tema que me toca e instiga.
Há muitos anos Caetano deu uma entrevista para a revista Bondinho onde, se lembro direito, se classificava como “Caretano”. Foi importante para mim, que era menina, e estava prestes a fazer os primeiros contatos com esse universo das drogas. Foi protetor, de uma maneira que hoje a gente classifica como “redução de danos”. Era possível ser careta sem ser careta. Muito mais efetivo do que qualquer postura tipo “diga não às drogas”, que só serve para prevenir o abuso entre aqueles que jamais as experimentariam e instigar os que usam. Tenho certeza de que, no Carnaval, haverá muita gente por aí, cheiradaça, dançando e cantando o “poparacumpó”.
Caetano!!! Ha um problema com a primeira vogal, tambem! O ’se’ deveria ser grafado com ‘e’, nao? Por mais que, no dia a dia, todos o pronunciemos com o som de ‘i’ - mesmo paulistas, baianos, cariocas - exceto, talvez, os paranaenses, catarinenses e sulistas em geral.
Ja pensou? ‘Sefo’, com acento circunflexo - que nao tenho aqui em funcao do computador emprestado…
Acho que ficaria mais charmoso, talvez interferisse da mesma maneira na revolta da plateia, mas a imprensa acertaria a mao.
Beijo na tempora (ja que testa e coisa do Salem)
Marília Castello Branco, não estou podendo escrever à vontade porque estou aqui, neste domingo véspera de feriado em Salvador (amanhã, dia da Imaculada Conceição, é feriado municipal), sendo “escravizado” por duas sobrinhas pequenas. Acabo de ler a sua estupefação e fiquei encantado com isso de você ansiar por que Caetano extraia leite dessa pedra.
Sua visada inicial já é infinitamente mais rica do que a minha.
Eu me incomodo também com essas “verdades” do catolicismo, que é a minha origem cultural mais remota e familiar, vindo que sou de cidadezinha sertaneja, e o incômodo se agrava por vários motivos adicionais aos que você aponta, e que agora não é o caso de resumir.
Quando postei o vídeo na outra página - retornado acima na expressão “parar com o pó”, que é um hiperlink, basta clicar para revê-lo -, a princípio estava mais interessado em como Caetano e outros queridos companheiros desta OeP viam a canção se apropriando do formato entronizado do axé. Eis o meu ponto de partida.
Como não o pincelei inteiramente na página anterior, situei melhor as coisas no meu comment acima, dizendo que interessei-me também pelo aspecto “cafona” mediante o qual, enfatizo agora, a canção procura expressar uma “moral” ‘elevada’ e interessada na “solução” de uma mazela social, existêncial, espiritual etc.
Esse meu interessse por si só não signfica desvalorização do diapasão “cafona”, mas a compreensão de que ele não se ajusta a essa mensagem. Quando eu falei, também na página anterior, e bem de passagem, sem relação direta com o que estamos falando aqui, ser o ‘arrocha’ um “fenômeno cretino-musical”, eu vou por essa mesma trilha.
Quando vi neste post que Caetano propugna em CAIXA ALTA que a canção se torne hit de toda a tchurma que faz o Carnaval daqui da Bahia, vi nisso uma grande - e, até aqui penso, involuntária - ironia. Porque quem mais comparece com dindim para movimentar a “indústria” do Carnaval baiano é um público que, em boa medida, quem não sabe disso?, não faz a festa de “cara limpa”, não!
Embora eu não tenha dito isso acima, pois tudo pareceu-me já ser tão intuitivo, a “verdade” catolaica da canção se tornará bastante hilária nas avenidas e mais ainda nos camarotes: e não somente para o segmento do público proveniente do nouveau richism, que já é cotidianamente embalado por toda sorte absurda de consumismos and excitantes.
Você traz coisas que nos enriquecem o pensar. E eu não vim trazer verdades prontas. Eu vim trazer também o meu espanto com isso existir - e provocar Caetano e quem mais se interessar.
Quando eu revejo o vídeo, eu me corrôo de rir, o que não é nada politicamente correto de se dizer - mas me corrô ainda mais mesmo assim. Eu fico sem acreditar que isso exista. E que isso promova a efetiva conscientização que, penso que bem intencionada mas equivocadamente, foi buscada pela instituição religiosa que o respalda.
Até aqui, todos a quem eu mostrei o vídeo, acham-no hilário. Mesmo meus primos cristão praticantes acham graça como se não acreditassem que por ele se possa estar “transmitindo” uma ‘nobre’ “mensagem”.
Eu vou mostrá-lo agora para as minha sobrinhas pequenas e retorno outra hora pro debate.
Quanto prazer em te conhecer - e em saber desse seu interesse em elaborar uma questão tão cabeluda! Adoro questões assim. Elas nos provocam a ir até algum lugar e por isso acabam modificando ou aprofundando o nosso pensar!
O que fode minha paciência é o espaço e o tempo que a mídia gasta pra tentar queimar Lula por conta dessas metáforas de gosto duvidoso que ele solta aqui ou ali. Toda essa indignação me soa tão hipócrita… E depois vem o desespero qdo o Datafolha solta o resultado de mais uma pesquisa de opinião mostrando que o presidente vai bem EM TODAS AS FAIXAS e não só entre o povão.
Nada contra a oposição da mídia, desde que ela se baseasse em críticas mais consistentes. Ainda bem que existem uns analistas independentes na net, pq os jornalões… Que lástima! Já sifu (ou sifo, como quer Caetano).
Como o titular deste blog, tb prefiro Nelson Cavaquinho a Cartola. Detesto essas escolhas excludentes, mas, já que a questão foi levantada - e que Cartola é muito mais incensado… É como aqueles dilemas que a mídia adora: Beatles ou Stones? Caetano ou Chico? Não quero ter de escolher. Mas, no fundo, no fundo, tenho minhas preferências, que se baseiam em critérios muito mais subjetivos do que técnicos. Ou seja: há sempre quem fale mais à minha pessoa, à minha subjetividade.
Em tempo: Stones e Caetano.
Boceta ou Buceta? Eis a questão!
Só o refrão que se salva: “popararcumpó, poparacumpó aê, poparacumpó” parece com uma outra gringa assim “pi papapa ropo, papapa ropo, pi papapa ropo…”
“Injetar na sua veia o sangue que correu na cruz”
Mas já é revolução essa Jack falar que o povo católico também tem axé.
De certa forma eu concordo com os comentários do Julio e do Edison. “Sifu” rende mais nos jornais que “sifo”, tem mais impacto. É isso que a imprensa quer; Impacto. Quanto a falta ou não de decoro de Lula e da imprensa, não sei dizer. Não me incomodo que Lula diga qualquer “nome feio” - estou utilizando uma expressão que minha querida vovó usava…”nome feio”…referindo-se aos palavrões e coisas relativas a sexo. Vovó queria que eu fosse um bom polido e comedido menino..nem sempre correspondi as expectativas dela. Cresci um “boca suja” e adoro, de fato, os nomes feios. Verlaine, Baudelaire, Bukowiski - meus escritores preferidos - são cheios de nomes feios. Que Lula ou Caetano ou qualquer Zé Mané como eu digamos “sifu, buceta ou boceta” e que a imprensa ressoe tudo isso pouco me importa. O problema maior do Brasil, como disse claramente o inigualável Oswald Andrade é ” super-produção de buceta e desemprego de pica”.
Marília,
Concordo com seus argumentos. Ainda assim, pondero o seguinte:
O fato de perceber ou não os próprios defeitos condiciona o desejo sincero de que as coisas dêem certo? O fato de Caetano não ser profundo conhecedor da complexidade que se refere a um dependente químico (algo que suponho) o priva do desejo de que a dependência seja superada ou evitada? Porque se só pudermos ser otimistas considerando nossa própria perfeição acho que está claro que nenhum de nós pode desejar nada de bom aos outros. Se só quem conhece o inferno da dependência química puder se manifestar contra o uso de drogas, estamos no vinagre.
Apesar de ter achado abominável tudo aquilo (do link), tanto que nem consegui acabar de ver, me pergunto se sendo a temática um “use camisinha” seus argumentos seriam os mesmos. Não sei como vive uma pessoa com o vírus nem o quanto luta um dependente químico, mas me sinto em pleno direito de lutar a favor da prevenção em ambos os casos.
Quanto aos cheiradaços do carnaval, eles têm compromisso com sua própria consciência, não podemos fazer isso por eles. E eles não têm o direito de decidir pelo que devemos lutar.
Por último: lá no link, a música, a “mensagem”, o “alicerce”, tudo péssimo. Creio que Caetano tenha pescado a intenção e fechado com ela, de acordo com seus próprios princípios. Afinal, se tanta gente o desconstrói internamente para poder se libertar, ele certamente tem o direito de se manter fiel a si mesmo, nem que seja apelando para o caps lock.
Beijo no supercílio (a testa é do Salem, copyright by Gravataí)
Nando
Acho que os jornais é que querem Lula “sefo” ou “sifu”, faz tempo. Mas preferiria que o presidente não usasse essa e algumas outras expressões dispensáveis. De todo jeito, é impressionante que ele tenha respaldo, com aprovação melhor mês a mês, com toda -ou quase toda- maré midíatica torcendo contra. Prova de que o Brasil é muito mais complexo do que pode parecer a primeiras impressões. Eu adoro isso!!
“A Flor e o espinho” é uma música linda de Nelson Cavaquinho.. Tive o privilégio de ouvi-la num show no CCBB de Brasília, em 2002, com Arnaldo Antunes dividindo o palco com Elza Soares. Dá para imaginar o quanto foi lindo? Eu fui em três dos quatro dias, tamanha a minha emoção (com o show inteiro). Arnaldo Antunes é poeta de doçura ímpar..
Ainda não vi o novo filme de Woody Allen, que adoro. Estou curiosa pra ver se vou sacar a crítica kantiana. Se não sacar, quero saber..
Muitíssimo obrigo et aquele abraço de Paris para você,
http://www.youtube.com/watch?v=Eer9UoqN_9E
Esse texto de Velô me lembrou uma professoa de português que tive. Um loira muito simpática, que adorava café e fumava a beça. O nome dela? Elvira Montenegro. Exatamente. A MÃE de Oswaldo Montenegro. Nas aulas ela adorava contar que fez o filho regravar a canção Condor. Tudo porque o Oswaldo, na primeira gravação, pronunciou o nome da ave de forma errada. O correto é Condôr e o errado é Côndor. Eu acho que é isso. Ou será que fiquei cafusa? Bem, o que importa é que eu adorava a Dona Elvira. Era EXCELENTE professora. Ela levava uma garrafa de café pra sala. Mas só ela tomava. Os alunos não. Ô Dona Elvira, eu espero que eu tenha aprendido alguma coisinha viu…A senhora sabe, eu era a aluna mais fraquinha né.
http://www.youtube.com/watch?v=4-Ve19tbxlQ
Ai que eu não consigo esquecer o argentino, minha gente. Ouvimos o som de Caetanho Velosso juntinhos. Foi tão bom…
http://www.youtube.com/watch?v=dtmi65rv7TM
http://www.youtube.com/watch?v=RZw_Hr4X3dE
E por falar em Milton, Velô, sabe o que o Artuzinho me mostrou? Um participação especial de Milton Nascimento em um disco do Duran Duran. O Simon Le Bon é tão lindo, né Velô? A música até que passa.
http://www.youtube.com/watch?v=yftOy8kz7aE
Mas Velô, vê lá o que tu anda colocando no título rapá. Coloca uma coisa mais doce home. Foi qualquer coisa dentro, doida, que mexeu, foi? Assim não dá. Por que assim, sem essa aranha, nem a sanha arranha o carro, nem o sarro arranha a Espanha. Meça, tamanha, Velô. Meça, tamanha. Esse papo seu já tá de manhã. Coloca Labi Barrô no título querido. Fica mais bonito. Parece coisa do Casseta e Planeta: MC FoDEU e MC Deu Mal!
http://www.youtube.com/watch?v=CmVwoiSc_k8
http://www.youtube.com/watch?v=Yd60nI4sa9A
http://www.youtube.com/watch?v=z-yrQ5vcga4
(Zeca Pagodinho.Composição: Barbeirinho do Jacarezinho / Marcos Diniz)
Aí galera do Rio, Labi e sua trupe está chegando. Vamos ver o show de Madonna! Quer ir junto com a gente Velô? Leva o Hermaninho. Vai ser muito dez!
Labi Barrô, sambando milhor di que a LUMA!
Nando, veja que você escreveu “míuri” e “mica”. O acento agudo da primeira palavra diz o que eu quero: sem ele ela se tornaria oxítona. Como é que você não vê por que “sifu” é, em português, um oxítono? Vi hoje no jornal as palavras escritas que Ziraldo inventou no Pasquim: “paca”, “tasquíupa”, “jaco” e “sifu”. Por que ele grafou “jaco” (de “já comi”) com “o” e “sifu” com “u”? O povo também diz “cumi”. Como diz “chuveu”. Mas só se desrespeitam as palavras relativas a sexo. É moralismo e cafajestada ao mesmo tempo.
Joaldo, sempre adorei que você chamasse atenção pro “Pó pará cum pó”. Vi o vídeo, adorei e postei em caixa alta.
Marília Castello Branco, não sei por que a música seria lesiva aos dependentes que tentam se livrar do vício. Eu conheço sim muito bem os sofrimentos dos viciados. Nunca usei cocaína mas vi muita gente próxima lutar contra seu domínio. E ainda vejo. Penso um tanto como o Rafael. Mas não sou católico nem penso naquela música como um meio sério de combater as drogas. Gostava da campanha “Drogas, tô fora”. Tive pena de ela sair do ar. Mas essa música parece mais uma grande piada que não fará ninguém cheirar nem deixar de cheirar. Vi Ivete com a moça no link que Rafael mandou e adorei. Instintivamente acho saudável que ela seja cantada nas ruas. Com alguns cheirando e muitos não, como sempre. Mas quase todos bebendo, o que é uma outra tragédia quando chega no nível da dependência.
Sim, no Sul deve-se ouvir muita música sertaneja. Mas em Curitiba e Porto Alegre há uma grande força do rock. “A verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul” queria dizer exatamente o que Jô pensou. Raul. Rock. Bahia. RG. Não gosto de MPB como sigla que indica um gênero. Não há tal gênero. Claro que MBP como simplesmente “música popular brasileira” é OK. Mas isso não é um gênero. Não se pode dizer: rock, reggae, blues, axé, pagode e MPB. Está errado. Na MPB FM ouve-se rock, reggae, blues, bolero, axé e guarânia - contanto que seja feito e interpretado por brasileiros, é Música Popular Brasileira.
Cacilds
Pó Pará Cum Pó tem CHEIRO de sucesso. Anti-cocaína em Amarelina. Vamo tirá o pó do chão! Nem Cheiro de Amor tem, na sua carreira tão brilhante, um hit tão bicudo. Pra mim, a música não cheira, nem fede. Mas cada um sabe onde botar o seus ouvidos e seu nariz. Achei graça da cantora no YouTube. As coreografias. O timbre de Claudia Leite. Do pó viemos e eis que ao pó voltamos.
Atchim.
Cheiro na testa
Amaralina.
Opa,
por que o comment que postei à 2:30 a.m. de segunda saiu como se tivesse sido postado às 10:15 p.m. de domingo? - e passou logo pra cima (antes) do comment de salem (aliás espetacular)?
Acho bonito a forma pela qual Lula expressa o pensamento dele. Falou ma verdade e, nos tempos atuais, só as mimosas pudicas podem ficar chocadas com uma expressão tão comum em nosso cotidiano. Sifu, ou Sifo (sifu parece mas agradável). Isso em nada abalará a popularidade de um presidente que fala a mesma linguagem do povo, sem ser populista. Faustão diz tantas coisas, nossas músicas se valem de tantos “palavrôes” e até acho bom não haver censura. Como não sou censor de ninguém, não tenho porque ficar arrepiado ao saber do fato e, principalmente, pela forma como a gíria popular foi empregada. Vamos olhar pra dentro de nós mesmo antes de ficarmos “chocados” com uma coisa que, no meu entendimento, já não é um mais palavrão. Vamos e convenhamos e aceitemos o linguajar do povo, sem medo de sermos felizes. Achei lindo !
Caetano adora botar lenha na fogueira e depois vai ficar curtindo os comentarios deste inusitado post. Hoje sifo, ou sifu, não agride mais ninguém. Veado, ou viado, é elogio. Os machões que ainda se preocupam com os Ricardões, devem pensar nas Ricardinhas. O mundo tá mudado, tudo se transformou. Até as letras de centenas e centenas de músicas estão ai pra mostrar isso. Acho legal Lula não ser um mascarado e ser expontâneo. O cara é genuinamente brasileiro, com Gil, ou sem Gil. Eu tô rindo agora é dos machões que ficam antenados nos “ricardões”, enquanto as “ricardinhas” estão desenfreadas por ai. Viva o Brasil e o azul celeste deste país tropical e sem as caretices do passado.
Labi Barrô, você aceita o apelido aglutinador: Labô? Você nem reclamou? Achei tão bonito!
Enquanto não revejo Marília, e curiando um pouco o que Nando, a.c., Rafael Rodriguez, Glauber, Salem disseram ou fizeram…
Estava curtindo minha sobrinhas pequenas enquanto escrevia para Marília, e resolvi mostar a elas logo em seguida o vídeo da canção catolaica. Elas, pela criação “liberada” que vêm recebendo de meu irmão e sua esposa, são crianças eminentemente ‘midiáticas’. Eu penso que a educação e a cultura delas deveriam ser mais diversificadas…
Aprenderam o refrão instantaneamente, sem qualquer curiosidade quanto ao seu sentido. Dançaram divertidamente - e a menorzinha, de 6 anos, após eu perguntar a ambas o que acharam, exclamou, travessa, como se procurasse animar ainda mais a si: “ex-tra-va-sa!”.
Procurei saber de onde vinha o verbo, e ela pronunciou o nome: Cláudia Leite!
Realmente, pó pará com o pó aí tem tudo pra se tornar um prefixo deste verão. Uma canção-campanha em compasso de mascarada. Uma campanha des-mascarada. Para mim, enfim, besteirolizada. Gozação que nivela e embota os sentidos.
Mas eu possa estar vendo as coisas turvas.
Exemplificará, em vez disso, o eterno retorno do… do desreprimido? E não é justo isso - o Carnaval? Ai que conflito - sacrificarão em altar profano mais um sacro cabrito!
Se percebi bem, quanto aos sentimentos que a canção despertou: um certo asco para Nando, uma derrisão sem fim para Rafael, um ar de niilismo em Glauber, um tom de deslumbre e diversão em a.c., uma manifestação da graça para Salem. Podemos “fechar” aqui a discussão? Putz - não!
E continuo todo absorto pelo movimento do pensamento de Marília - que preciso aprofundar -, e além disso pelo conclame feito a Caetano para falar mais um cadinho sobre de onde vem essa vemência por colocar o bloco do popararcomopoaí na rua! Curiosidade quando não mata… nos enriquece de conhecimento, ou de alguma gaia ou ainda mais divertida e carnavesca ciência.
p.s: Adoraria que atentássemos mais para o vídeo de Ivete que o Rafael postou. Há algo ali. Vou tentar ver melhor com os olhos que a poesia me propicia, e volto feito peixinho - ensaboadinho - e pulante, quem sabe num texto voador.
Hoje escutei Lapa depois de alguns meses da primeira edição. Pareceu-me outra canção. Melhor. Com mais sentido. Com maior vigor.
Por um momento parei pra pensar no tempo de maturação das canções dentro da gente. Chamei a Fernanda, minha mulher, que também havia escutado a canção quando foi postada. O efeito do tempo não foi tão erosivo, quanto foi pra mim.
Fernanda já havia gostado muito da música, mas estranhou minha sensação de que era “outra” canção. Pra ela era a mesma. Desta vez um pouco mais “fácil” de escutar e gostar.
É verdade que com o tempo a gente aprende a gostar, desgostar, transformar ou se afeiçoar a canções. Até porque algumas acabam se relacionando subjetivamente com o que vivemos na época em que as escutamos.
Mas Lapa ainda era muito recente (em cronologia) pra que tivesse provocado alguma espécie de memória emotiva em mim.
Aí, pensei nesse blog que completa 6 meses. Fernanda não o frequenta. Vez ou outra mostro alguns posts do Caetano. Havia essa diferença. Reescutei Cais contaminado pelo tempo virtual vivido por aqui. Novos afetos, novas percepções.
Certamente Lapa não era mais a mesma canção. Escutei-a depois de imaginar a praia de Itararé de Joaldo, os papos sobre Paulinho da Viola com Nando e a revelação de que Caetano ouvira João Gilberto cantando Rugas.
Tudo isso fez de Lapa uma nova música. Fiquei comovido imaginando o que esse novo CD do Caetano pode significar, ao longo do tempo, pra todos nós por aqui.
Me chamou atenção o fato daqueles primeiros posts com as canções em video terem pouquíssimos coments. No máximo 20.
Sugiro a experiência a todos: é muito bacana, depois de tantos devaneios virtuais, voltar ao repertório motivador desse blog, antes do CD sair.
Lapa é uma canção muito sentida e com mais sentido do que nunca. Perdeu foi a segunda que mais se modificou no ranking dos meus ouvidos. A Cor Amarela parece ser a mesma.
Agora entendo porque não queria acompanhar os bastidores da gestação do CD. Odeio pré-natal e ultrassonografia. Precisava dessa distância.
Estive na Lapa há um mês atrás e me esforçava tentando lembrar da melodia da canção pra fazê-la de trilha sonora pro meu passeio a pé. Não consegui.
Agora, conseguria. Lapa já está no playlist da minha memória. E esse blog já faz parte da minha modesta história.
Bom isso.
beijo fraterno nas testas
salem
Joaldo
Quando postei o meu comentário, ainda não tinha lido o seu, que foi publicado enquanto eu escrevia, e daí li os seus dois depois da publicação do meu. Acho que vc coloca umas questões muito pertinentes, bacanas e que interessam a mim. Estou preparando um texto para continuar o diálogo contigo, mas não creio que o terei pronto antes de amanhã ou quarta, que hoje aqui não é feriado e nem só de internet vive a mulher.
O tema é mesmo cabeludo e espinhoso como certas plantas lá da sua terra. Por isso, e por compaixão para com el Hermano (me assusta só imaginar o tanto de tranqueira que ele deve precisar filtrar), vou procurar me ater ao que isso tem a ver com os assuntos discutidos aqui: cultura, arte, música, rock’n roll, consumismo, cafonice, etc. Tratando de uso, abuso e dependência de álcool e drogas, é fácil desviar por outros caminhos, questões que já foram discutidas exaustivamente em outros lugares e que, apesar de ainda merecerem muita discussão, não cabem neste espaço.
Para quem quiser pensar mais sobre o que não cabe aqui, e em especial para o Nando, sugiro o texto do Tom Taborda, “Sobre a Demanda Permanente das Drogas”:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/jd080820012.htm
Pessoalmente, compartilho a maior parte as opiniões dele. Tem também a discussão no blog da Cora Rónai, com as tão necessárias opiniões divergentes e convergentes nos comentários:
http://cora.blogspot.com/2004_05_01_cora_archive.html#108364640581654684
Como trilha sonora, a canção que considero absolutamente definitiva sobre o assunto, um bando de tantãs que sabe do que está falando, tocando o cerne da questão.
http://www.youtube.com/watch?v=N8VSI-0GN2E
E vocês? Têm sede do quê?
Caetano: a hora do blog e’ tem mesmo algum defeito: hoje está normal, mas ontem não estava… o pessoal da administração técnica ainda não descobriu qual o problema… tem também a ver, acho, com as horas dos nosso computadores, nem sempre sincronizados com a hora certa…
“enfrentar desenhos rítmicos do samba”
Lendo João Cabral vejo o enfrentamento dos desenhos de Mondrian. Na sua canção vejo o enfrentamento do desenho linguistico de Joao e consequentemente de Mondrian..
A sensação de desenhos rítmicos e outros eu tive ainda criança, anos 80/90 ouvindo vc, quando nao sabia de João nem Mondrian…
Ultimamente, isso, o CÊ, …, são um fluxo constante em mim.
Marilia, gostei de ler (no primeiro comentário) tua referência sobre “caretano” e redução de danos. Para mim, ainda, ela faz sentido muito mais ao falar da autonomia das pessoas que usam drogas, ao reconhecermos que elas sabem mais sobre drogas do que muitos especialistas, e que, por isto, é necessário um respeito mínimo, um diálogo sem pedestais. Aliás por isso mesmo acho a palavra “paciente” de muito mal gosto no trabalho em saúde, e não somente para quem usa drogas. Porém, com quem usa drogas ela infelizmente soa como quase um elogio, como se enxergássemos novamente algo de humano em meio à devassidão hedonista (que encontramos por exemplo na Veja falando do Fábio Assunção).
A maioria das pessoas “drogadas”, ou seja, que se encontram sob efeito de uma droga, não são atendidas ou são mal atendidas nos serviços. É como uma punição moral: “vamos atender a vida dos que valem mais a pena”. E aí, colesterol alto também não pode né? Ninguém mandou comer, fique de castigo no corredor. Então, acho que é por aí o nosso caminho… não me parece o bastante falarmos da Redução de Danos somente para reconhecermos quem usa drogas como pessoa humana e de direitos. Mesmo porque nem todas as pessoas que usam drogas desenvolverão necessariamente relações viciadas. Tem também toda uma coisa a ser combatida, do “médico que tem que dar o exemplo de saúde perfeita”. Uma bobagem, hospital não é igreja, trabalhadores/as da saúde não são padres.
Eu uso drogas e trabalho e pesquiso com Redução de Danos, e quando li o Caetano frisar (em outro post aí) que “odeia maconha como quem odeia pepino”, me senti muito mais contemplado. É exatamente isso. Droga é subjetividade e cada pessoa é um universo de expectativas. Muita gente usa agenciando prazer e vida, outros usam e se dão mal; o importante é não generalizar. “Legalize porque é natural” não soa tão bem, mas o “drogas nem morto” é horrível. Como disse também a Rita Lee: “Diga não às drogas - mas seja educado: diga não, obrigado”. Ou então, na conversa entre a Sandy e o João Gordo, naquele programa divertidamente sacana que ele tinha na MTV:
Penso hoje que Redução de Danos não é só este “jeito legal de ser careta”. Ela já passou disso e hoje, felizmente e para o bem de todos nós, pode ir além e alcançar todo um modo de falarmos dos prazeres e do livre uso de corpo e mente, sem confundir “educação” com “imposição de moralidades cristãs”. Assim como com o sexo: não há coerência em manifestarmos repúdio às coisas que não nos dão tesão, ou querer que todos sintam tesão pelo “certo” e broxem diante do “errado”. Afinal, não é novo também o entendimento de que buscarmos “a saúde ideal” seja uma idéia rasa e potencialmente danosa, já que tanto “saúde” quanto “drogas”, hoje em dia, infelizmente estão na vida vivida sobretudo como mercadorias.
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Gaúchos e gaúchas ouvem muita “axé-music”, pagode, sertanejas e também as músicas gaúchas, que são como que sertanejas, só que “menos cowboys” - na minha cabeça, estão muito mais para o Mato Grosso do Sul do que para São Paulo. E de fato, têm entre jovens classe média ou alta uma cena indie forte, especialmente universitários (estudantes de publicidade e afins). Apesar de gostar do indie rock, vejo a cena de Porto Alegre como algo não muito atraente. Criei-me em Gravataí (cidade próxima à Porto Alegre), e estou em Salvador há seis meses. Não vi cena indie aqui, e talvez porque eu esteja frequentando os lugares certos (rs). Aqui em Salvador se aceita mais naturalmente o fato de existirem “músicas de festa”, para serem dançadas; vi que nos jornais aparecem até detalhes como por exemplo: “a música de trabalho de fulana para o carnaval 2009 é tal”. Em Porto Alegre, isso soaria quase como uma desmitificação do fazer artístico para o público indie, que ainda se importa muito com uma certa estética roqueira que desumaniza (ou faz endeusar) as pessoas que sobem no palco. A linguagem desse jornalismo seria muito mais indireta.
No carnaval de trio elétrico (coisa que não rola em Porto Alegre, pois no máximo temos os desfiles das escolas de samba), sinto uma empatia direta, palco e platéia compartilham da dança, da festa, do espetáculo, não há carnaval sem o público.
Aliás, nesse contexto todo de palco/platéia, acho bem interessante ver a atração que geram as bandas indie-funk nesse contexto, porque o funk tem uma referência muito mais explícita ao corpo na dança e a estética indie é bem “careta”.
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Agora mesclando os dois assuntos (drogas e indie-rock, ao menos em Porto Alegre), tenho certeza que faria mais sentido no carnaval de Porto Alegre “PÓ PARÁ COM A RITALINA” do que “COM O PÓ”, e não sei se digo: “infelizmente”, porque as pessoas levam isso mais a sério. Quero dizer, embora quimicamente sejam duas drogas quase idênticas, é muito diferente usar Ritalina porque “meu médico diz que eu preciso”, do que usar Cocaína porque “eu tô a fim de curtir”. A diferença nos dois tipos de uso está justamente naquele papo da “autonomia” ao fazer uso de nossos próprios corpos, e também naquilo que faz as pessoas agirem tal e qual como “pacientes”, quando falam de sua própria saúde (de suas próprias vidas). Ritalina tá dando dinheiro pra caralho, só não supera o Viagra (esse, literalmente faz jus à essa expressão, rs). Agora nos EUA já tá rolando uma pressão científica (“neutra” como toda boa ciência, é claro), para legitimar o uso de drogas farmacêuticas na otimização de corpos e mentes que são saudáveis. A indústria sacou o uso de cocaína pelos yuppies na década de 80, e “viu que era bom”. O papo é esse: pode-se usar drogas, desde que continuemos (nós, cientistas) ditando o que é bom e o que não é. Então entra em contradição quando sabemos que há todo um aprendizado no uso de drogas que se dá no corpo e na subjetividade – enquanto que a indústria farmacêutica só enxerga as pessoas pelo viés do varejo.
Só não vou falar se prefiro uma coisa ou outra, que é pra não contradizer aqueles princípios da Redução de Danos - respondo por mim (como quem diz que não gosta de pepino), que eu prefiro a neblina da ganja…
Abraços
bacana Lenartei, muito bacana
PERDÃO MAIS EU ERREI O POST. Este deveria vir para cá.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a “vulgarização” do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.
“Pra c******”, por exemplo.
Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “Pra c******”?
“Pra c******” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra c******, o Sol é quente pra c******, o universo é antigo pra c******, eu gosto de cerveja pra c******, entende?
No gênero do “Pra c******”, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem f****o!”.
O “Não, não e não!”, assim como o “Absolutamente Não” já soam sem nenhuma credibilidade.
O “Nem f****do” é irretorquível, e liquida o assunto.Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência.
Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM F****DO!”.
O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Caetano Veloso.
Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional.
Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.
Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um “p***-que-pariu!”, ou seu correlato p***-que-o-pariu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba. Diante de uma notícia irritante qualquer um “p***-que-o-pariu!”dito assim te coloca outra vez em seu eixo.
Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no c..!”? E sua maravilhosa e enforcadora derivação “vai tomar no olho do seu c…!”. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável , se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu c…!”.
Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
(Luís Fernando Verissimo)
O descontrole sobre a repercussão do que se diz é uma questão que vivenciei aqui no blog nos comentários do post anterior. Qualquer som reverbera, qualquer palavra escrita ou dita cintila. A clareza da concepção no instante em que se diz o que se quer dizer, nos caminhos entre o cérebro e a língua, ou a mão, desvanece nos descaminhos do espaço amplo e externo ao ser: a clareza da concepção não é a clareza da captação, muito menos da repercussão. O que se fala, o que se publica, é imprescritível e o entendimento do outro que escuta e repercurte é líquido como o som do Radiohead, em sua interessante propriedade de tomar a forma do invólucro definido para o compartimentar. O que Lula disse a quem o escutou de corpo presente no momento em que o som “sifo” saiu de sua boca, tomou determinada forma no interior de cada um que estava lá, tendo gostado ou não, de uma maneira que não é a mesma percebida por quem leu a expressão nas manchetes dos jornais. Por motivos ortográficos, por motivos ideológicos, por diferentes representações sociais sobre o que é um presidente e o que representa a figura de Lula, “sifu”, como foi escrito e posteriormente lido em letras grandes nas páginas dos jornais (e sites de notícia), deve ter causado uma tremenda repulsa em quem já não gosta de Lula. Em quem gosta, um riso a mais. Em quem não gosta nem desgosta, mil coisas, inclusive reflexões e apontamentos pertinentes sobre a moralidade imbecil e imbecilizante de nossos jornalistas até na forma de definir as letras para compor uma palavra. Lula não “sifu” ao dizer “sifo” como quiseram fazer parecer, nem precisa da pesquisa do datafolha, basta saber que o brasileiro nem sempre olha apenas para o que lhe apontam.
Caetano cantando Nelson Cavaquinho, pensaram que eu não tinha não é ??? Pode não ser “Rugas”, como desejaria Salém, é mais simples, no entanto, igualmente comovedora e linda, linda como “YOU’VE CHANGED” interpretada por Exequiela.
Caetano cantando A Mangueira me Chama:
http://www.youtube.com/watch?v=fTMwbHTFvZ8
Tá cada vez mais complicado acompanhar tudo por aqui. Ainda mais com trabalho…graças a Deus!
Abraços mui carinhosos a todos!
Hermano Vianna, não creio que seja a hora do computador, pois quando posta ele não copia a hora do meu….
Caetano levantou uns exemplos desconcertantes com relação ao uso da fonética das ruas. De fato me incomoda e deve incomodar a todos os defensores do sifu aqui no blog “cumi” “chuveu”.
Onde está o limite? na licensa poética vale tudo (ou quase tudo) e na prosa?
Este post criado me pareceu pouco feliz. Claro que aqui se fala de tudo. É um post tergivesável. Podemos falar sobre drogas, interminavelmente. Podemos falar do Latim arcaico, barbaro,medieval, tardio até chegarmos ao latim extinto. Podemos derivar sobre o português brasileiro e o portugues de Portugal, com, ou sem as nossas neuroses perfeccionistas. Podemos aprende acentuação das palavras e o que vem a ser uma silaba tônica e toda uma série de regras gramaticais que o nosso conservadorismo nos impõe exigir. Podemos falar em mudanças e continuarmos falando em cinema, ou nos antigos bacanais dos primordios dos tempos e de mil e uns sifus das nossas vidas. O fato de Lula ter dito que não se deve dizer a um paciente que ele tá fodido é uma realidade e ele quis dizer isso como quem abrevia a palavra porra, dizendo “pô”. Algo do tipo : “Um pouco mais de respeito pelos vivos, pô!” Todo mundo sabe que Pô não é pó e que é uma abreviação de PORRA, que Faustão diz tranqüilamente. Sacanagem sempre foi uma palavra liberta no Rio, mas na Bahia era palavrão. Sei não, achei este post um pouco diversionista para fugir daquele papo blue da Helô (perdão pela intimidadade), ou um tanto quanto chegado ao FHC, de triste recordação. O post também pode ensejar recordações sobre Collor de Melo que dizia ter a “binga roxa”, ou falarmos do Ciro que mandou alguém a puta que pariu, ou do político que deu colchão ao povão e disse que ninguém mais dormiria na “cama de pau duro”. Vamos falar do maculelê e segurar o lelê do sifu, numa boa. Ah, antes de terminar o meu blá, Monteiro Lobato tinha um personagem intrigante que fazia uso do pó de pirlimpinpim (era assim mesmo que se escrevia). O pó, pra os inocentes, era cocaina, que o Eric Clapton canta divinamente bem (Cocaine). Sou contra o uso de drogas, mas defendo a liberação das mesmas. Não acho que seja caso policial, mas um problema de saúde pública. Não uso… aliás… nós todos usamos tantas drogas cotidianamente que sequer sabemos. Cigarro e alcool são duas terriveis drogas liberadas. A maconha - que já fumei - eu achava que fazia menos mal, mas tem lá seus problemas. Mexe com a concentração e a memória, sim. Mas não nego que tem seus lances positivos. Tenho muito medo de sermos patrulhados pelo tráfico que se esparrama pelos podres poderes e se espraia por todos os cantos usando a linguagem da violência mais bestial de todas. A vaca está no brejo, dizia Tuzé de Abreu. E agora, filho de “seu” José. Hoje somos todos “Josés” e de algum modo Manés porque sempre esperamos que alguma coisa caia do céu, tipo Deus Dará. Por favor, corrijam este texto apressado, ponham os acentos, coloquem as virgulas e tudo mais que for aprazivel. Somos o Brasil que erra e o Brasil que conserta. O Brasil que diz e o Brasil que faz. E o nosso português não se tornou independente, continua sendo “português do Brasil”. Isso é hilário. Que deriva, deriva, mas poderiam falar BRASILEIRO. Eu falo brasileiro e fim de papo. Não tô com saco de corrigir nada, pô!
Cacilds!
Que coisa linda, Lucesar! Não sabia que Caetano tinha cantado A Mangueira Me Chama. Bonito mesmo.
Valeu
beijo na testa
salem
Escreve-se cada dia pior neste país.
Os jornalistas (novos e velhos) parece-me que adotaram outra língua, erram tudo toda hora.
Ficam todos dizendo que na “internet pode escrever errado”. Por quê???
A língua portuguesa é um código - lindo - mas um código. Do mesmo jeito que a nossa senha de banco (exemplo feio, mas funciona).
E, pura opinião, quem aprendeu a ler e escrever - parcela privilegiadíssima da população brasileira - tem o dever social e humanitário de contribuir com quem não teve acesso às salas de aula.
Sem patrulha, mas não podemos “axar” que pode tudo.
Caetano, você não prestou atenção, mas eu já havia falado deste estranho fenômeno da hora do comentário há alguns posts atrás. É um mistério…
Beijos para todos.
É difícil escutar Wave depois de João. Essa é a verdade SALÉM!
Estava justamente no carro escutando a versão de Caetano e Roberto e comentando sobre se alguém além de João tinha feito uma boa gravação dessa melodia espetacular.
- Ninguém lembrou de nenhuma gravação!
Parece que quando Caetano começa ou Roberto ou algum estrumento parecem dar o tom. É meio estranho…
Salem,
A música é a sua praia. E nela você desfila suas manobras com maestria, à la Kelly Slater ou Pepê. Por isso mesmo te invoquei, te convoquei, te provoquei.
O meu lance com a música é apenas instintiva. Sinto e me emociono. Bate.
Sempre achei Roberto e Caetano feras. O Rei praticamente a trilha da minha infância, redescoberta na juventude. Caetano, não. Esta trilha veio depois, depois que se aprende a ouvir música e letra e harmonia e melodia. Aprender como emoção, ok? Sem formação técnica.
Quando escrevi “não é fácil dropar essa onda, não”, não tinha intenção de um “não tem Roberto e Caetano certo”, conforme me ensinou o dicionário de baianês.
Mas queria registrar o que senti: um grande esforço da parte deles em levar uma onda que em João Gilberto parece tão natural – principalmente quando o tom vai lá pra baixo, o esforço é incrível (foi o que me pareceu, instintivamente).
Não fizeram feio. Jamais fariam com a qualidade e a experiência que têm.
Gostei da onda deles, também. Mas a de João é Pipeline quebrando 12 pés tubular.
Grande abraço!
Caetano, passei batido quanto à acentuação tônica. Você está corretíssimo.
Quanto a moralismo e cafajestada, não consegui sacar. Muita gente fala (principalmente no sudeste( “sácánáge”, mas sempre escreve corretamente: “sacanagem”; carioca diz algo como “aí é fuóda”, mas todo mundo escreve “foda”.
&
Lucesar, você existe mesmo? Puxa vida, muitíssimo obrigado por todas essas maravilhas.
Para encerrar, penso que o correto seria grafar como “Se fo…”, já que não existe o termo.
Oi Alemão
Eu embarquei na onda do Rei com Caetano.
Só achei a voz do Caetano meio afundada na mix em relação à do Roberto que está mais à frente. Na verdade a voz do Caetano está do jeito que eu gosto, mais misturada ao som da banda. Principalmente em se tratando de um disco ao vivo.
Wave é um standart. Está no Real Book. É tocada pelo mundo todo. É difícil mesmo escutá-la, depois da gravação do João Gilberto. É uma gravação antológica de um cantor-autor.
Roberto e Caetano gravaram Wave numa outra onda: como crooners. O que, convenhamos, não é pra qualquer paneleiro. É uma interpretação exata, respeitosa, enxuta e sem firulas.
Seria um tanto esquisito se ele impusessem um jeito autoral de cantar uma canção assim. Aliás, eles tiveram esse critério em quase todas as músicas do show. O que fez do show, na minha modesta opinião, um acontecimento histórico.
Na crista dessa onda as manobras radicais são o de menos. Não há acrobacias na arrebentação. Aí sim, cantar pode ser como surfar. E Caetano e Roberto surfaram em Wave.
Ouça de novo sem pensar numa “new” wave. Mas na velha onda da bossa nova.
Roberto é bom de onda desde o Broto do Jacaré. E Caetano compôs Salva-Vidas, pra segurar sua onda.
beijo na testa
salem
Sifu é um oxítono: vai sifu! O Lula disse: “meu, se fo…”, que estardalhada e equivocadamente os jornalistas transformaram em “sifu”, mas corretamente seria “sífu”, com acento no i, melhor que “sifo”. Sifo não tem a mínima cafajestada que tem sífu. O “o” átono final, de tão fraco, pronuncia-se como se fosse “u”. Naturalmente as palavras “sujas”, relativas a sexo, de tão surradas e desgastadas, perdem sua expressividade e se transformam naquilo que o povo faz delas: caracas, putz, fela da puta, paca. Não vejo moralismo nisso.
Tarado em você não tem a menor graça que tem ni você ou nucê.
Suely, Caetano gravou em 2006 “Cherche la rose”, no álbum Révérence, com Henry Salvador; mas não vale a pena ouvi-la apenas para conferir a evolução da voz ou definição de timbre, a interpretação é belíssima como a outra, cantada para Regina Casé, são dois registros distintos.
Suely,
A produção informa que é possível escutar Caetano fazendo biquinho também em “Cherche la rose” (canção originalmente composta para Marlene Dietrich, que com ela fez grande sucesso), belíssimo dueto com o também divino Henri Salvador no album “Révérence”.
Bem vou repetir: na humilde opinião, o titulo do novo cd não incorpora a propaganda deste blog e tampouco as musicas. prefiro Transamaba.
Mas a obra é sua, e com certeza irei consumi-la de qualquer maneira.
Espero não ter errado muito o meu português. rs
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“Drogas, tô fora” era ótimo, mas nunca representou nada a ninguém… gastava-se uma grana com a campanha, mas creio nunca ter tido algum tipo de retorno (negação da droga).
Não me contento também com a expressão usada por ele. Foi uma infelicidade, muito embora tenha eu, alguma compreensão da sua intenção, contudo, compreendo ainda mais, que o presidente, por mais presidente que seja, não pode se dar a este luxo. O Lula vacilou! Modos Sr, Presidente!
pois Salem…
tomei uma overdose de Lapa (o bairro). fui muito até lá, no circo, no estrela, muitas vezes, sempre me divertindo um pouco, mas tentando esclarecer uma situação muito desconfortável com uma pessoa, e, ao menos, fazer nascer um abraço sincero.
a última vez que estive lá, decidi que nem na cidade conseguiria ficar, porque de divertidinho foi passando a desgastante e por fim lacrimoso.
então, qd ouvi Lapa, juro que senti assim: sr Caetano, não me diga que vai de novo levar uma Obra até a Lapa, circo, fundição, arcos. nããããããooo!
essa foi tipo minha primeira impressão.
agora já não. entendi que por um abraço desse eu iria pra qualquer lugar, até a Lapa novamente. mas confesso que ainda penso: sr Caetano, outros lugares que o CÊ não foi, leva a Obra pra outro lugar…
minha esperança foi qd soube da Menina da Ria, Portugal geralmente me acrescenta em sorrisos (e pude fugi um pouco da minha lapa…)