Turnê Ofertório pela Europa
Na Europa com Moreno, Zeca e Tom: nem tive impaciência para voltar ao Brasil. Sempre tenho. Shows em Paris, Roma, Valência, Londres, Madri, San Sebastian e Catanzaro maravilhosos. Show em Lion impreciso. Show em Perugia angustiante: horário ingrato, o PA não funcionando na abertura, insegurança. Tom, desistente, nem fez o solo em "Um passo à frente", a maravilha de Moreno e Quito. Ao fim do espetáculo, Dudinha, nosso jovem amigo que estuda música em NY, disse que Yamandu Costa estava na plateia! Quando perguntei a Tom por que não solou, veio a resposta: "Porque adivinhei que Yamandu estava lá". Eu, que tinha visto no Arte1 concerto do gaúcho com uma orquestra alemã e tinha me rendido à excelência de sua arte, tive pena de ele ter visto momento tão descosido do que fazemos. Logo eu começaria a ler Guitarras Atlánticas, de Carlos Galilea, e voltaria a pensar mais em Yamandu. Cheguei a sonhar um post só sobre ele. Aí chega canção de Gilberto Gil homenageando-o. Meu sonhado post ficou supérfluo. Os shows em Portugal foram divinos. Dom Sebastião, Lula, Agostinho, Ciro Gomes, a geringonça (que deveria ter podido se fazer brasileira em torno de Ciro num tempo propício mas que foi ridicularizada até no nome por jornalista famoso), a canção "Quase", parceria minha com Tom que não entrou no show por razões políticas (embora tivesse sido ensaiada) rodaram na minha cabeça. O sucesso do show com parisienses e calabreses me surpreendia: sem as referências que os brasileiros têm, o que pode sustentar esse nosso concerto frágil? Porto e Lisboa têm a língua portuguesa. Quero escrever sobre o livro de Carlos Galilea, que leio com assombro desde a Espanha. Sobretudo quero poder escrever sobre "Caderno de memórias coloniais", essa jóia magoada de Isabela Figueiredo. Que relâmpago sobre o Brasil no texto "Meu corpo e o dele"!, depois de toda a dolorosa intimidade com a presença portuguesa na África. Um pequeno grandíssimo livro que ganhei em Portugal e que precisa ser (se nunca foi) editado aqui. O cinema espanhol estava perto, com Pedro Almodóvar em Madri e Fernando Trueba em San Sebastian. E o italiano com Enrica Antonioni em Roma. E o português pela maravilhosa Teresa Villaverde em Lisboa. De volta ao Brasil, Chico Buarque relembra fala elitista de FH sobre Lula em conversa que eu creio ter presenciado. Com meus filhos na homenagem a Luiz Melodia. De novo com eles ao lado de Djavan e os seus superdotados no Criança Esperança. Daqui a pouco mais Ofertório em BH, Recife, Rio de Janeiro e Sampa.
Caetano Veloso, 11/08/2018.