Caetano fala sobre "Incompatibilidade de Gênios" (3/07/2008)
Caetano fala sobre “Incompatibilidade de Gênios”
3/07/2008 1:11 pm
Caetano Veloso comenta o samba “Incompatibilidade de Gênios” de João Bosco e Aldir Blanc e o que esse samba tem a ver com a proposta da Obra em Progresso.
19 comentários » | Assuntos: Aldir Blanc, caetano veloso, João Bosco, ncompatibilidade de Gênios, obra em progresso, samba, transamba —
19 Comentários sobre o Post “Caetano fala sobre “Incompatibilidade de Gênios””
1. Cezar Guedes disse:
Julho 3rd, 2008 at 9:18 pm
Caro Caetano;
Acompanho sua obra há alguns anos, desde que descobri um vinil com uma linda foto sua de tanga, numa praia. Era o famoso e antológico Araça Azul que até hoje, considero uma das obras mais ousadas ( no sentido “bendito” da palavra - já que qualquer artista hoje em dia, se auto-intitula de ousado para algo que já vinha sendo feito desde antes da tropicália..) , mas enfim, ontem numa roda de amigos,colegas aqui da UFF, elogiávamos o seu novo show, entretanto, algo era de comum acordo na mesa : Qual a “missão”(se essa é uma palavra cabível nesse contexto) do show Obra em Progresso? Todos percebem a maravilhosa ousadia ( e ainda bem que isso você sempre soube fazer de maneira muito bonita ) de “elaborar” um show não elaborado, de ser algo espontâneo, recebendo seus ilustres convidados, resgatando Noel Rosa (aliás vocês tropicalistas amam sim, a velha guarda do samba brasileiro,independente de polêmicas, amam Lupicínio,amam Noel, amam Geraldo Pereira, amam Blanco - vê-se que até a Gal Costa, hoje nem tanto, mas que havia abandonado a vanguarda com o ar de musa pop dos anos 80/90, resolveu por agora, gravar e cantar Noel no seu penúltimo cd e show de 2004 - “Todas as coisas e Eu” ), enfim, você refaz canções do Transa, e as repete como fez em Cê (show magnífico), mas coloca uma banda pra cantar contigo a canção-clímax do Transa (You don´t know me), repete a cansativa Desde que o Samba é Samba, ao mesmo tempo que modifica a versão de Incompatibilidade de Gênios dos grandiosos Aldir e João Bosco; ,mas vem a pergunta que não quer calar : QUAL A MISSÃO, ou mudando a pergunta, QUAL A FINALIDADE DO SHOW Obra em Progresso ? Transgressão, progressão, rebeldia em ano eleitoral, nada por nada ?? Não faço esta pergunta como crítica destrutiva,muito pelo contrário,quero deixar muito claro ( pois além de ser um eterno admirador da sua obra,assisti a 3 dos seus shows no Vivo Rio e achei o máximo );que acho qualquer show seu primoroso,assim como os do João Gilberto, que pode ficar apenas no Pato e em Estate, e pago o preço que for para aplaudí-lo,pois ele é um gênio. Mas, muita gente, principalmente as que elogiam seu show,como eu, ainda não entendeu ( apesar de vermos neste blog as ZIL explicações suas, sobre as músicas cantadas, inéditas,etc e tal ) qual a finalidade do show. Porque não cantar somente as inéditas ? Seria um show pra rebater a mídia (seja aceitando a mídia ou repudiando?
Ex: caso “3 travestis” - a canção - e o discurso a favor do Ronaldo; ou mesmo o trecho de “Sugar Cane” pra falar por mais de 5 minutos do tal Obama…). Ao invés de falar sobre cada canção ou regravação (apesar disso ser o máximo), tente ao menos posicionar a função de “Obra em Progresso”.
Um beijo nesse coração leonino, seu sempre fã,
Cezinha. Rio,2008
2. tyrone medeiros disse:
Julho 4th, 2008 at 2:40 am
adorei a versão da canção do Joao Bosco. Ficou um som mais sujo para uma canção mais careta [?!]
mas sinceramente acho que a letra em si em nada tem a ver com Caetano… alias, o Chico Buarque chegou gravar essa música pro SongBook do Joao Bosco…
mas o arranjo feito com Caetano e Banda Cê eu gosto mais que todos.
3. Obra Em Progresso disse:
Julho 4th, 2008 at 5:44 am
Cezar:
o que há de “função” está escrito aqui: http://www.obraemprogresso.com.br/?page_id=84
ou dito aqui: http://www.obraemprogresso.com.br/?p=3
abraços
4. Fernando Salem disse: Julho 4th, 2008 at 12:00 pm
Caetano é um letrista menos linear de poesia mais fragmanetária. Ao contrário do Chico que tem uma vocação mais descritiva, da qual Aldir é herdeiro. Caetano também sabe ser descritivo e muito, mas é menos cronista do que alguns letristas que carregam essa tradição. No entanto, Caetano tem uma vocação incomparável como intérprete desse tipo de canção. Isso aparece maravilhosamente em A Rita, Pivete, Nega Maluca e outros tantos reality-sambas. Isso é raro em intérpretes. Nesse tipo de canção, é comum que a interpretação do autor seja soberana. Essas canções-crônicas são em geral muito mais saborosas na voz de seus autores. Caetano, assim como João Gilberto, é dos poucos que conseguem ir além. O mais estranho dessa interpretação de INCOMPATIBILIDADE DE GÊNIOS é que, a despeito da letra ter um tanto de humor, Caetano a canta seriamente. Isso é bem eficiente. Em nenhum momento ele sublinha uma piada com afetações e maneirismos vocais. Isso torna a canção mais imagética. Hermano e Caetano: Fiquei pensando nesse idéia de TRANSAMBA e o tanto de ousadia que há nela. Parece que esse tema está no campo magnético da nossa cultura. São muitas as tentativas de regroovar o samba. Aí vai uma palavra da qual não gosto: releitura. Caetano não está relendo. Nem lendo ele está. Caetano está cantando e falando. Aí a idéia de TRANS fica transparente. TRANSA. Cinema TRANSCENDENTAL. Não sei se está nascendo um disco de SAMBAS. Mas está nascendo uma transcendêcia do SAMBA. Aliás, cada vez mais esse termo se descola da idéia de gênero musical, de levada de estilo. Além de musicalmente abraçar múltiplos formatos rítmicos, a expressão “samba” generosamente vem, ao longo do tempo, aceitando novos sentidos. Definitivamente, o samba não é um gênero musical. Mas o que é o samba então? Responder a pergunta é instigante tarefa para Hermano. Para Caetano, a missão é abstrata. Cabe aos criadores de canções ampliar os sentidos do samba e subvertê-los. A aproximação HERMANO/CAETANO é histórica. É como se pensamento e poesia se mixassem a um só tempo. Na fronteira entre entre a lucidez e a a livre criação está o inedeitismo do projeto OBRA EM PROGRESSO. Por isso Feitiço da Vila nos convidou a vijar pelos dois lados da canção. Pensar em canções não é mais um tabu. Não é só para acadêmicos. Cantores, compositores e escutadores podem continuar se embriagando de música popular e pensá-las ao mesmo tempo. A quebra desse antagonismo é genial!
5. tyrone medeiros disse:
Julho 4th, 2008 at 3:07 pm
No show A Foreign Sound, Caetano no meio do show cantava a inédita “Diferentemente” - era um samba, que tem a letra no site oficial dele.
Ele podia aproveitar esse samba.
6. Antonio Braz Spolti disse:
Julho 4th, 2008 at 5:15 pm
Transamba é para mim o “velho” projeto de fazer samba com guitarras elétricas, simples assim; lembram da famosa citação de Caetano para a Revista Civilização brasileira?, não recordo bem do texto mas ele falava sobre possibilidades para o samba, que não aquelas fechadas “nas raízes”; o que me traz também o fenômeno que foi, é, para mim, “a voz do morto”; agora, quando o Caetano
falou no vídeo sobre “incompatibilidade de gênios”, aí sim, tive certeza que é mesmo o “velho” projeto, pensei, nossa! parece que o Caetano roubou meu pensamento, sempre, sempre, curti esta canção do Aldir Blanc e do Bosco, e Caetano cantando com acompanhamento da banda Cê, demais
o samba ainda não nasceu,
o samba ainda não chegou,
o samba não vai morrer, veja, o dia ainda não raiou; ai, ai, tudo de bom esse cara
7. ricardo moraes disse:
Julho 5th, 2008 at 12:13 pm
Caetano, bom dia. Essa sua discussão sobre o samba do Aldir e do João Bosco é muito interessante. Lembro-me que quando ele foi lançado havia na Usp uma infrutífera discussão se Milton Nascimento ou João Bosco representavam a verdadeira música mineira (só rindo mesmo). Pois é, o violão do João Bosco, não sei se você concorda, tem uma levada meio o baixo do Stanley Clarke , mas com menos agressividade , algo mais suave, você não acha? E na letra , o uso do Doutor, é algo tão brasileiro no início, e o jogo do bicho no final , completa o cenário que, concordo, é mais que samba carioca, é samba total.Parabéns pela versão. Abraços
8. Márcio disse:
Julho 5th, 2008 at 5:28 pm
Desde que ouvi pela primeira “O Quereres” comecei a associar a canção à “Incompatibilidade de Gênios”. Alguns anos depois Aldir Blanc ressurge mais uma vez, em parceria com Guinga, com a temática da incompatibilidade com “Catavento e Girassol”. Três obras clássicas do nosso cancioneiro.
9. tyrone medeiros disse:
Julho 6th, 2008 at 9:15 am
A Caixa Cultural do Rio de Janeiro, apresenta neste domingo, 06 de julho, gratuitamente, o filme “O Cinema Falado” [1986] - de Caetano Veloso. Às 8 da noite. //
- Caixa Cultural fica ao lado do metrô da Carioca.
10. Fernando Salem disse: Julho 6th, 2008 at 12:06 pm
Uau. Bem legal esse comentário do Márcio. Não havia pensado nessa simetria das canções. Incrível ele lembrar de “O Quereres” e associar de maneira tão inusitada e à “Incompatibilidade de Gênios”. Incluiria nessa coleção de canções feitas com a sucessão de “oposições”, o samba “O Funcionário e a Bailarina”, do Chico. Alguém se habilita a lembrar de mais canções assim? Isso daria uma coletânea e tanto.
11. tyrone medeiros disse: Julho 6th, 2008 at 11:50 pm
SOBRE A EXIBIÇÃO…
Adorei ter visto O CINEMA FALADO em telona!
eu tenho o dvd original, mas a experiencia de ver o filme na fita antiga e na telona é indiscritivel, pois além de ser de Caetano, é um filme muito importante para a minha vida pessoal, me deu muitas outras ideias.
um filme que passa por guimaraes rosa, thomas mann, tem canção de chico buarque cantada por nana caymmi, tem música interpretada por billie holiday, tem dona canô cantando em santo amaro, tem elza soares, tem a canção Língua, tem a canção Aguas de Março, fala do homoerotismo, fala do cinema porno, fala do cinema na televisao, fala da linguagem da televisao, fala do morro, tem regina case, tem antonio cicero, fala da pintura, criticas dentro do crepusculo de cubatão, tem dadi carvalho, tem mauricio mattar nu, tem tudo! e mais outros olhares que meu olhar não viu nessa exibição, mas virá em casa no dvd.
sucesso, sucesso, sucesso. O melhor é ver as pessoas rindo do final do filme, lance que em casa não terei. Viva o ‘polvo’, que em minha casa não tem, e de onde só aplaudo, com duas mãos.
12. Antonio Braz Spolti disse: Julho 11th, 2008 at 5:59 pm
Lembrei uma de “compatibilidade de gênios”, que adoraria ouvir pela voz do Caetano, trata-se de Ela e Eu.
13. diniz junior disse:
Agosto 26th, 2008 at 6:15 pm
essa dupla aldir e joão é única , uma canção” 100 anos de instituto anais ” é pouco conhecida e fala das moças como só Nelson Rodrigues fez , citando o instituto de educação ( escola de normalistas ) ou também o belo verso ” me falaste de um sinal adquirido num queda de patins em paquetá ” de Latin Lover .Gosto de incompatibilidade de gênios , mas ainda acho superior o Lado B da dupla ( nessa data , querido diário , violeta de belford roxo etc )
14. diniz junior disse:
Agosto 27th, 2008 at 2:56 pm
Aldir é mais herdeiro de Nelson Rodrigues do que do Chico buarque , ele não utiliza a persona feminina , é o olhar do garoto no buraco da fechadura
15. leny vicente disse:
Setembro 6th, 2008 at 1:08 am
Caetano, eu te adoro, acho que vc não tem rótulo eu acho que és o cara que descobriu desde que nasceu que todos somos um de um modo simples, sem choques vc é o real e o inatingível, o concavo e o convexo, o mal e o bem, o ying e o yang e é por isso que eu te amo, ainda mais agora que descobri que gosta da música violeta de belford roxo do joão bosco que também é maravilhoso!!!!!
16. Claiton Pazzini Goulart disse: Setembro 6th, 2008 at 2:14 pm
Caro Caetano,
Comecei a traduzí-lo a partir de 1979 - depois desse momento foi uma paixão crescente (tornei-me seu fã). Foram muitos discos,alguns cds, algumas poesias falando de você e de suas músicas. Mas o encontro se deu em Slavador, no carnaval de 1996, antes de você subir no Tri-Elétrico do Grupo “Dida” (Tirei uma foto com vc e pedi um beijo). Beijo dado - entrei em transe total - só lembro que pulei, dancei atrás do tri-elétrico do Didá - loucura total)…só consegui me acalmar na chagada do hotel. Mas a partir de 2000 - houve uma distanciamento de sua obra, comecei a procurar traduzir outros compositores. E confesso que depois do “Estrangeiro” (considero um obra prima), comecei a achar algumas músicas suas - chatas e sem brilho. Mas nesse último mês de julho - quando estive em São Paulo, andando pela Av. Paulista, comecei cantarolar “Sampa” (a música sua que mais gosto, além de Genipabo Absoluto, entre tanta outras)…e ai parece que voltou a necessidade de reencontrar sua obra. Sua entrevista no Jô (na semana passada)só corrobou com essa
necessidade. Ontem, num Bar baiano (de uma baiana chamada Preta) aqui na cidade de Sinop/Mato Grosso (aonde sou professor universitário), aconteceu uma conversa sobre o vínculo cultural entre a Bahia e o Rio Grande do Sul (sou gaúcho)- Tema esse já comentado por você, anos atrás - e a Preta (a dona do bar) me falava que ficava feliz em saber que os preto gaúchos eram a própria resistência contra o racismo..ai eu lhe disse que eu era o “gaúcho mais baiano” do Brasil por causa de Caetano Veloso.
Pois é…depois de alguns anos de “separação de sua obra”…é bom redescobrir você Caetano (um dos maiores compositores e poetas da minha geração - tenho 43 anos. Aliás, aproveito esse nosso reencontro - para agredecer o beijo que você me permitiu dar no seu rosto - foi uma das experiências marcante na minha vida….agora mais do que nunca volto a ser teu fã - na espera do seu novo Cd.
Beijos
Claiton Pazzini
Ps: adoro o Joâo Bosco estou curioso para ouvir a sua versão para a música “incompatibilidade de gênios”
17. Mansur disse:
Janeiro 6th, 2009 at 3:38 am
“Reduto carioca de preservação de alguma coisa”…essa expressão é de um baiano que têm uma vontade…que vontade será essa? Que desejo oculta o baiano quando cunha essa expressão?
Quantos anos de análise serão necessários para compreender o que está oculto em expressão tão contundente? Uma vida será em vão…
18. Mansur disse:
Janeiro 7th, 2009 at 10:58 am
Ahhh…sim…acho que entendi…o “reduto carioca de preservação de alguma coisa” é aquele onde nasceram e se desenvolveram os “desprezíveis” Cartola e Nelson Cavaquinho…mas que inutilidade, não? O “reduto carioca de preservação de alguma coisa” também é frequentado pelo compositor dessa música Aldir Blanc…que coisa engraçada, né? O “reduto carioca de preservação de alguma coisa” deu origem à geração de sambistas que hoje em dia são a alegria do país…tendo como maior expressão o grande intérprete Zeca Pagodinho e sua seleta e vasta “carta” de compositores…que bobagem, né?
Realmente Caetano, como esses cariocas são caretas, né? Ficam numa mesmice de dar dó, né? Legal mesmo seria colocar um pouquinho de “móodernidade” nesse “pessoal da cerveja”, né não Caetano? Alô cariocas…vamos “móodernizar”…
19. Mansur disse:
Fevereiro 6th, 2009 at 12:57 am
Olha,
meu comentário aí em cima é agressivo, eu sei! Mas esse desprezo pelo samba carioca e suas “maneiras de existir” cunhado na expressão “reduto carioca de preservação de alguma coisa” interpretada com ironia e deboche é também extremamente agressivo. Sem necessidade. Parece alimentar uma richa infantil.
Caetano, do alto da sua contribuição à música popular brasileira, não consigo entender que você alimente isso dessa forma, por isso a minha revolta. Não há motivos para desprezar a cultura dos ex-escravos do cais do porto, da praça mauá, dos suburbanos de madureira…e exaltar o Psirico, Harmonia do samba e etc. Não há compreensão e bom senso que faça o cidadão compreender essa postura, a não ser um bairrismo infantil, próprio de torcedores de futebol e não de artistas.