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2024 - Turnê Caetano & Bethânia

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Foto: Victor Roncally Caetano & Bethânia celebra o retorno da parceria dos irmãos Veloso nos palcos, quarenta e seis anos após a última turnê juntos, à época, realizada a fim de angariar fundos para a Igreja de Santo Amaro da Purificação. Dessa vez, os filhos de Dona Canô e de Seu Zeca percorrem o país cantando a história da sua família, de seu povo e dos seus amigos na música, demonstrando, em síntese, uma teimosa e incessante fé no Brasil. O novo espetáculo fala de história e saudade, mas retrata, essencialmente, a cumplicidade e a união entre dois dos maiores artistas da nossa música popular.  Ingressos aqui .  LISTA DE SHOWS 2024/2025 Rio de Janeiro - Farmasi Arena - 3, 4, 10 e 11 de Agosto Belo Horizonte - Estádio do Mineirão - 7 de Setembro Curitiba - Pedreira Paulo Leminski - 21 de Setembro Belém - Mangueirão - 28 de Setembro Porto Alegre - Arena do Grêmio - 12 de Outubro  (remarcado para 22 de março de 2025) Recife - Classic Hall - 25 e 26 de Outubro Brasília - Arena

Carta sobre Rock’n’Raul (2000)

Caro fulano de tal, Se você de fato admira e respeita Raul (eu o respeito e admiro), não faz sentido considerar minha canção “Rock’n’Raul” como uma agressão ou ofensa à sua memória. O que é que faz você pensar que ali eu demonstro desprezo pela música dele? Na verdade, falando na primeira pessoa do singular, eu concluo que “minha alegria, minha ironia é bem maior do que essa porcaria”, ou seja, que a força irônica e vital da música de Raul é maior do que os zés-manés e caetanos que comentam sua vontade de ser americano — e é maior do que a própria vontade de ser americano, um traço da personalidade de Raul que ele reiteradas vezes me revelou, como também a Rita Lee, e que, de resto, esteve sempre patente em sua obra. Um traço que é compartilhado com muitos outros brasileiros que, no entanto, não têm a coragem de dizê-lo assim com todas as letras. Além disso, a música diz: “e hoje olha os mano”, colocando o Raul e seu culto ao rock como precursor central do movimento do rap brasileiro,

MTG

Algumas amostras de MTG belo-horizontino me excitaram. Me lembrei de como o funk carioca me apaixonou ao surgir. Sou tropicalista: gosto de exaltar o que os pretensiosos desprezam, cantei 'Um tapinha não dói' (hoje dá ainda mais pra se entender a reação que isso causou) numa temporada de show no Canecão, gravei belas músicas tidas como brega. Assim, o MTG me pegou de jeito. São jovens do funk fazendo colagens até com 'clássicos' da MPB. Ouvir as vozes de Milton ou de Djavan, destacadas de suas bases originais de gravação, dialogarem com batidas agudas que guardam a essência do miami-maculelê do nosso funk - e com intervenções vocais dos jovens criadores - causa uma reação como a que tínhamos diante da pintura moderna. Não sei como reagiriam muitos dos meus colegas (sobretudo quando há obscenidades). Em mim produzem surpresa, interesse, admiração. Achei bacanérrima a versão de 'Você É Linda', do Davi Kneip. Essa é linda. Esses garotos fazendo, achei bacana. Em ge

Revisão muito incompleta do ano de 2018 (2018)

O ano que acaba foi difícil. Na sexta (21) à noite vi Roberto Carlos cantar "Como Dois e Dois" na TV. Fiquei surpreso e profundamente emocionado. Canção que escrevi no exílio e que agora soa tão violentamente atual. Senti Roberto com a mesma intensidade de quando ele lançou "Se Você Pensa", de quando ele cantou, em minha casa de Londres, "As Curvas da Estrada de Santos", de quando ele me mostrou "Debaixo dos Caracóis". A sintonia dele com nossa história profunda reafirma, volta e meia, o alerta que Bethânia me deu sobre a Jovem Guarda: "Eles têm vitalidade". Entrei na cozinha para pegar um biscoito de arroz e vi na TV o título "Muito Romântico": era o especial natalino de Roberto. Parei, me perguntando, será que ele vai cantar essa minha música? Não sei se ele a cantou: havia convidados na sala e eu só vi uns cinco números (!). "Eu Te Proponho", "Se Você Pensa", Michel Teló, Alejandro Sanz. Principalmente o

João, o calígrafo chinês (2008)

João Gilberto é toda a bossa nova mas é algo distinto dela. Está para além de todas as conquistas que a ela são justamente creditadas, embora nenhuma dessas conquistas possa ser sequer imaginada sem ele. Tom Jobim é o maior compositor daquele período -e suponho que o maior compositor de canção popular da história do Brasil- e, como toda individualidade artística, também está para além de qualquer movimento. Mas, quando Tom se expande para além da bossa nova, ele cria peças orquestrais semi-eruditas, longas, não raro impregnadas de temas rurais. Ou seja, ele se espalha para territórios estranhos à bossa nova. Com João acontece coisa bem diferente. Tudo o que ele faz é um aprofundamento do gesto estético que fez com que, do estilo dele, a bossa nova nascesse. Cada abordagem nova de um velho samba de Herivelto ou de uma oitentista canção de Lobão nos leva a entender de novo a bossa nova, tudo o que ela fez e o que ela é -e tudo o que ela deixou de fazer e não pode ser. Estamos sempre mais

Recôncavo e Reconvexo - Maria Bethânia e Caetano Veloso

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Entrevista para a Revista ELLE (Março de 2024) Texto por Bruna Bittencourt / Fotos por Fernando Young Clique aqui para adquirir a revista. A lembrança mais antiga que Caetano Veloso tem de si próprio traz Maria Bethânia. Foi no dia do nascimento da irmã mais nova, 18 de junho de 1946, em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano. Aos 3 anos, ele escolheu o nome dela. Além dos óbvios vínculos familiares que unem irmãos, a trajetória dos dois se mistura em discos e nos palcos, como bem sabemos. Começou há exatos 60 anos, com o espetáculo Nós, por exemplo, em Salvador, que contava com os também novatos Tom Zé, Gal Costa e Gilberto Gil. Com Gal e Gil, os irmãos Veloso formaram os Doces Bárbaros para um show, transformado em disco em 1976. Dois anos depois, Caetano e Bethânia se reencontraram, por sugestão dela, em apresentação também consolidada em álbum, que leva o nome deles. Nos bastidores, Bethânia, como cantora, influenciou o irmão, como compositor. Caetano escreveu mais de 30 canções para ela

Vultos (Caetano Veloso)

Era Popó Quem de manhã Abria a rua No trole aberto Ele era rua Em tom maior Trazia o Sol Guardava a Lua Seu assovio Desenhava minha rua Num traço só Aprender a ler Para ensinar meus camaradas... © Trecho de uma das primeiras composições de Caetano, nunca gravada, feita em homenagem a Paulino Aluísio de Andrade, mais conhecido como Mestre Popó do Maculelê. Sem data. Comentário de Caetano : "Eu adorava quando, na festa de fevereiro, a gente ia pra frente do adro da Igreja da Purificação ver Popó e a turma dele. Ele, que era o líder do maculelê… os filhos dele e os discípulos dele lutando maculelê é lindo porque é como capoeira, meio dança, meio luta. Então, aqueles caras com aquelas duas madeiras na mão que batem... o som é muito bonito daquela batida de madeira. Eu adorava. É lindo. O refrão ("aprender a ler...") eu aprendi no Vale do Iguape, que fica entre Santo Amaro e Cachoeira, ou seja, no coração do recôncavo". (Depoimento para o documentário "Recôncavo na

Foi Só Porque Você Não Quis (Letra: Emicida; Música: Caetano Veloso)

Bandas marciais Cataventos Trompete no fato Um sonho feliz Meninas purpurinas Contratempo O vento a paz O aroma da estrela de anis  Quem sou eu Para tal atrevimento A flor vence o cimento E os sentimentos vis Se você não entrou no meu coração Foi só porque você não quis Pendão nos varais do aposento E verde amor eu tento Eterna aprendiz Pai grande sempre atento  Nas pequenas o algodão doce  É festa de tantos guris Esse som barulhento entre os corpos Corpos animados Sonho e fantasia E o acalento diz  Se você não entrou no meu coração Foi só porque você não quis Sem pé nem cabeça  O alento Sargento fanfarra Baquetas em xis Fogos lentos  Avião com faixa a vender Desatento aos gritos de bis O que se sabe de cór O complemento Tomar então no sampa que eu lhe fiz Se você não entrou no meu coração Foi só porque você não quis © 2024 Álbum E O Tempo Agora Quer Voar - Alaíde Costa.