A Terceira Margem do Rio (Caetano Veloso, Milton Nascimento)
Oco de pau que diz:
Eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada puraÁgua da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai.
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai.
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio viu, vi
O que ninguém jamais olvida
Ouvi ouvi ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai.
Boa, dá vau, triztriz
Risca certeira
Meio a meio o rio ri
Silencioso sério
Nosso pai não diz, diz:
Risca terceira
Água da palavra
Água calada puraÁgua da palavra
Água de rosa dura
Proa da palavra
Duro silêncio, nosso pai.
Margem da palavra
Entre as escuras duas
Margens da palavra
Clareira, luz madura
Rosa da palavra
Puro silêncio, nosso pai.
Meio a meio o rio ri
Por entre as árvores da vida
O rio riu, ri
Por sob a risca da canoa
O rio viu, vi
O que ninguém jamais olvida
Ouvi ouvi ouvi
A voz das águas
Asa da palavra
Asa parada agora
Casa da palavra
Onde o silêncio mora
Brasa da palavra
A hora clara, nosso pai
Hora da palavra
Quando não se diz nada
Fora da palavra
Quando mais dentro aflora
Tora da palavra
Rio, pau enorme, nosso pai.
© 1990 Ed. Uns Produções / Três Pontas Ed. - Álbum Txai - Milton Nascimento.
Comentários:
Milton: "Fiz a música inspirado no conto de Guimarães Rosa e só via duas pessoas para escrever a letra: o próprio Rosa ou Caetano."
Caetano: "O conto é lindo. E fiz uma letra que é quase um comentário do conto."
(Caetano Veloso e Milton Nascimento para a Revista IstoÉ, 2005).
“Eu fiz a pedido do Milton Nascimento, que queria que se chamasse assim e que tratasse do conto de Guimarães Rosa. O resultado da letra me agradou muito.” (Caetano Veloso em depoimento para Marcia Cezimbra, 1991).