Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso)

Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá

O sol é seu
O som é meu
Quero morrer
Quero morrer já

O som é seu
O sol é meu
Quero viver
Quero viver lá

Nem quero saber se o diabo
Nasceu, foi na Bahi...
Foi na Bahia
O trio elétrico
O sol rompeu
No meio-dia
No meio-dia

© 1969 Gapa/Saturno - Álbum Caetano Veloso - Caetano Veloso.

Comentário do autor“Eu esqueci Atrás do Trio Elétrico, em 1968. Fiz a música, a Dedé já estava dormindo, fui lá, acordei, cantei para ela e dormi. Quando acordei, no dia seguinte, não me lembrava mais, mas aí ela lembrou”. (Caetano Veloso para o Jornal O Globo, 1981).

"Quando eu era menino em Santo Amaro, um ou outro vinha de Salvador e, embora destoassem dos "ternos" tradicionais compostos de instrumentos de sopro e percussão (os Amantes da Moda e Amantes da Folia que, com suas roupas de cetim colorido e lantejoulas, executavam marchas cariocas) e das "batucadas" (blocos de samba exclusivamente de percussão que eram mais admirados do que seguidos), os trios elétricos nos encantavam. Pelo fim dos anos 60, as marchas (e mesmos os sambas) de Carnaval cariocas estavam desaparecendo, os bons compositores que surgiram com a (e depois da) bossa nova não encontrando o jeito de se adequar ao Carnaval.  Houve várias tentativas de ressuscitar o gênero, todas abortadas. Há uma foto, tirada em 66, em que Chico Buarque, Paulinho da Viola, Edu Lobo, Torquato Neto, Gil, Capinan, eu próprio e tantos outros de minha geração aparecemos ao lado de Tom Jobim, Braguinha (o grande compositor João de Barro, então setuagenário) e velhos cantores da Rádio Nacional, num encontro promovido por não sei quem para reerguer a canção carnavalesca. Mas dali não saiu nenhum samba ou marcha memorável. O meu "Atrás do trio elétrico" quebrou o tabu. Composto em 68, esse quase-frevo foi um sucesso nas ruas de Salvador no Carnaval de 69 - e ficou conhecido no Brasil inteiro. Eu, no entanto, não tive a alegria de presenciar esse milagre: estava na cadeia. E nos dois outros Carnavais subsequentes, no exílio, de onde mandei frevos novos que também tiveram êxito". (Caetano Veloso. Verdade Tropical. Companhia das Letras, 1997).

"Eu adoro axé music, essa música de Carnaval da Bahia. Acho das coisas mais interessantes que aconteceram no Brasil. A música de Carnaval do Rio de Janeiro, as grandes marchinhas e os sambas de Carnaval desapareceram. Há os sambas-enredo das escolas, um ou outro se destaca fora do desfile, mas é uma coisa específica daquele espetáculo. E a Bahia, justamente a partir dos anos 60, começou. Eu me sinto muito presente nesse acontecimento do qual me orgulho enormemente. Porque foi a canção Atrás do Trio Elétrico (1968) que deu coragem, força e animação para que isso se desenvolvesse e depois outras coisas com as quais eu estive direta ou indiretamente ligado. Fico lembrando que aquelas músicas - Ala-la-ôSe a Canoa Não Virar Jardineira -, todas as músicas de Carnaval do Rio de Janeiro, as marchinhas e os sambas, que eram uma coisa maravilhosa, têm hoje na Bahia uma renascimento com outras características." (Caetano Veloso para a Folha de S. Paulo, 1998). 

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