Bahia, Minha Preta (Caetano Veloso)

Bahia, minha preta
Como será
Se tua seta acerta o caminho e chega lá?
E a curva linha reta
Se ultrapassar esse negro azul que te mura
O mar, o mar?
Cozinha esse cântico
Comprar o equipamento e saber usar
Vender o talento e saber cobrar, lucrar
Insiste no que é lindo
E o mundo verá
Tu voltares rindo ao lugar que é teu no globo azul
Rainha do Atlântico Sul

Ê ô! Bahia, fonte mítica, encantada
Ê ô! Expande o teu axé, não esconde nada
Teu canto de alegria ecoa longe, tempo e espaço
Rainha do Atlântico

Te chamo de senhora
Opô Afonjá
Eros, Dona Lina, Agostinho e Edgar
Te chamo Menininha do Gantois
Candolina, Marta, Didi, Dodô e Osmar
Na linha romântico
Teu novo mundo
O mundo conhecerá
E o que está escondido no fundo emergirá
E a voz mediterrânica e florestal
Lança muito além a civilização ora em tom boreal
Rainha do Atlântico Austral

© 1993 Uns Produções - Álbum O Sorriso do Gato de Alice - Gal Costa.

Comentário do autor: "Fiz para Gal cantar. Não ficou muito conhecida, mas é uma canção muito bonita. Faz uma defesa direta da música de Carnaval da Bahia, da mais comercial, sobretudo mesmo da mais comercial, que ficou conhecida como axé music. Por isso há nela, também, uma briga com o meu querido Waly Salomão, que tinha falado numa entrevista contra a axé music, esculhambando com aquela “música vulgar” da Bahia. Ele dizia também que o termo usado para lhe dar nome era um desrespeito com a palavra “axé”, que significava, em iorubá, entre outras coisas , “segredo”. E eu, na letra, digo o contrário, e exorto a Bahia a expandir seu axé e "não esconder nada”, indo, portanto, contra o argumento de Waly. Depois que li a letra no livro, fiquei muito orgulhoso de como é bonita. Eu sabia que era, mas nunca tinha parado para pensar nisso, por causa da música. Lendo este final — “E a voz mediterrânica e florestal / lança muito além a civilização ora em tom boreal / rainha do Atlântico Austral” — ele me pareceu Euclides da Cunha! Parece com Os sertões! Eu adoro." (Caetano Veloso. Livro: Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). 

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