Branquinha (Caetano Veloso)

Eu sou apenas um velho baiano
Um fulano, um caetano, um mano qualquer
Vou contra a via, canto contra a melodia,
Nado contra a maré
Que é que tu vê, que é que tu quer,
Tu que é tão rainha?
Branquinha
Carioca de luz própria, luz
Só minha
Quando todos os seus rosas nus
Todinha
Carnação da canção que compus
Quem conduz
Vem, seduz
Este mulato franzino, menino
Destino de nunca ser homem, não
Este macaco complexo
Este sexo equívoco
Este mico-leão
Namorando a lua e repetindo:
A lua é minha
Branquinha
Pororoquinha, guerreiro é
Rainha
De janeiro, do Rio, do onde é
Sozinha
Mão no leme, pé no furacão
Meu irmão
Neste mundo vão
Mão no leme, pé no carnaval
Meu igual
Neste mundo mau

© 1989 Ed. Gapa - Álbum Estrangeiro - Caetano Veloso.

Comentário do autor: "Fiz para Paulinha. É muito delicada e um pouco provençal. Tem algo dos poemas provençais que o Augusto de Campos traduziu, Arnault Daniel, não sei bem: "nado contra a maré". Gosto muito da sonoridade: "Este macaco complexo, este sexo equívoco, este mico-leão". E Pororoquinha era como o pessoal do Gantois chamava a Paulinha. A filha de mãe Cleusa, Mônica, chamava Paulinha assim: "Vem cá Pororoquinha!". Dizia que ela era uma Oxum da pororoca, "Você não é Oxum de um riachinho, de uma fonte, você é Oxum de uma pororoca". A canção também fala em "mão no leme", porque Paulinha é do Leme. Eu adoro chamá-la de "meu irmão nesse mundo vão" e "meu igual neste mundo mau". (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).

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