Clara (Caetano Veloso)

Quando a manhã madrugava
Calma
Alta
Clara
Clara morria de amor

Faca de ponta
Flor e flor
Cambraia branca sob o sol
Cravina branca amor
Cravina amor
Cravina e sonha

A moça chamava Clara
Água
Alma
Lava
Alva cambraia no sol

Galo cantando
Cor e cor
Pássaro preto
Dor e dor
O marinheiro amor
Distante amor
Que a moça sonha só

O marinheiro sob o sol
Onde andará o meu amor
Onde andará o amor
No mar amor
No mar sonha

Se ainda lembra o meu nome
Longe
Longe
Onde
Onde estiver numa onda num bar
Numa onda que quer me levar
Para o mar de água clara
Clara
Clara
Clara
Ouço meu bem me chamar

Faca de ponta
Dor e dor
Cravo vermelho no lençol
Cravo vermelho amor
Vermelho amor
Cravina e galos
E a moça chamada Clara
Clara
Clara
Clara
Alma tranquila de dor

© 1968 Ed. Arlequim - Álbum Caetano Veloso - Caetano Veloso (faixa com participação de Gal Costa).

Comentário do autor: “Tem uma música estranha e usa muitas palavras em a. Lembro que Augusto de Campos gostava muito dessa canção. Eu não gosto de "marinheiro amor", que me soa um pouco como Lorca, embora não pareça exatamente, mas me lembro que quando fiz tinha a ver com as coisas dele." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).

"Clara é posterior a Paisagem Útil. Foi feita nessa época de inquietação em que eu estava tentando retomar aquele impulso da linha evolutiva. Eu procurava uma música diferente, um som que fosse realmente novo. Ela tem elementos concretistas. [….] Clara é uma tentativa de fazer alguma coisa como João Gilberto, de fazer uma coisa limpa. É o lado apolíneo dessa inquietação. [..] Está, para mim, muito ligada a uma revisão das coisas mais importantes do início da BN." (Caetano Veloso. Balanço da Bossa, 1974).

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