Diamante Verdadeiro (Caetano Veloso)

Nesse universo todo de brilhos e bolhas
Muitos beijinhos, muitas rolhas
Disparadas dos pescoços das Chandon
Não cabe um terço de meu berço de menino
Você se chama grã-fino e eu afino
Tanto quanto desafino do seu tom
Pois francamente meu amor
Meu ambiente é o que se instaura de repente
Onde quer que chegue, só por eu chegar
Como pessoa soberana nesse mundo
Eu vou fundo na existência
E para nossa convivência
Você também tem que saber se inventar
Pois todo toque do que você faz e diz
Só faz fazer de Nova Iorque algo assim como Paris
Enquanto eu invento e desinvento moda
Minha roupa, minha roda
Brinco entre o que deve e o que não deve ser
E pulo sobre as bolhas da champanhe que você bebe
E bailo pelo alto de sua montanha de neve
Eu sou primeiro, eu sou mais leve, eu sou mais eu
Do mesmo modo como é verdadeiro
O diamante que você me deu

© 1978 Ed. Gapa / Saturno - Álbum Álibi - Maria Bethânia. 

Comentário do autor: "Tem uma piada, é óbvio, com Falso Brilhante, que era o nome do show da Elis. Eu adorei aquele show, até escrevi um artigo. Mas a letra é contra um mundo anti-hippie, de brilho, cocaína, espelhos, estilo Hippopotamus [famosa discoteca carioca da segunda metade dos anos 70], que surgiu no meio dos anos 70, um mundo que eu detestava. E fiz a canção para a Bethânia cantar, porque ela cantava muito bem “doutor em anedotas e de champanhota”, [verso da canção “Café soçaite”, do carioca Miguel Gustavo (1922-72), grande sucesso na voz de Jorge Veiga (1910-79), em gravação de 1955. A letra é uma crônica sobre a “alta sociedade”, usando seus bordões e citando personagens emblemáticos como os colunistas Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes. Bethânia gravou a canção em Recital na Boite Barroco – ao vivo (1968)] e eu queria fazer um negócio nessa linha." (Caetano Veloso. Livro Sobre as letras. Companhia das Letras, 2003).

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