Eclipse Oculto (Caetano Veloso)
Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan
Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
Ó eclipse oculto
Na luz do verão
Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar
Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim
Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?
© 1983 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Uns - Caetano Veloso.
Comentário do autor: "É muito engraçada. Fala de uma trepada que não deu certo. É totalmente documental: "na hora da cama nada pintou direito", o disco do Djavan, tudo. Tanto que a outra pessoa se lembrou direitinho e disse: "Pô, você botou todos os detalhes!". Outro dia, ouvi o Djavan afirmando a mesma coisa que o Chico já disse várias vezes: "Minhas músicas não têm nada a ver com minha vida, não procurem semelhanças, elas não têm nada de autobiográfico". As minhas, bem ao contrário, são todas autobiográficas. Até as que não são, são." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003).