Errática (Caetano Veloso)

Nesta melodia em que me perco
Quem sabe, talvez um dia
Ainda te encontre minha musa
Confusa

Esta estrada me escorre no peito
E tão sem jeito
Se desenha entre as estrelas das galáxias
Em fúcsia

Bússolas não há na cor dos versos
Usam como senha tons perversos
Busco a trilha certa, matematicamente
Só sei brincar de cabra cega
Errática
Chega

Neste descaminho, meu carinho
Te percorre a ausência
Corpo, alma, tudo, nada, musa
Difusa

O sorriso do gato de Alice se se visse
Não seria menos ou mais intocável
Que o teu, véu
Pausa de fração de semifusa
Pode conter tão grande tristeza

Busco o estilo exato
A tática eficaz
Do rock ao jazz
Do lied ao samba
Ao brega
Errática
Chega

© 1993 Uns Produções - Álbum O Sorriso do Gato de Alice - Gal Costa (com participação de Paulinho da Viola).

Comentário do autor: "É uma grande canção, embora desconhecida, que diz para Gal gravar. É um pouco uma resposta a uma agressão do Décio Pignatari, que disse que os baianos tropicalistas eram erráticos, diferentemente de Torquato Neto, que era o verdadeiro intelectual do Tropicalismo. Remotamente, a canção ecoa isso." (Caetano Veloso. Livro Sobre as letras. Companhia das Letras, 2003).

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