Gente (Caetano Veloso)

Gente olha pro céu
Gente quer saber o um
Gente é o lugar
De se perguntar o um
Das estrelas se perguntarem se tantas são
Cada, estrela se espanta à própria explosão
Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar
De se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu pra amar
Marina Bethânia Dolores Renata Leilinha Suzana Dedé
Gente viva brilhando estrelas na noite
Gente quer comer
Gente que ser feliz
Gente quer respirar ar pelo nariz
Não meu nego não traia nunca essa força não
Essa força que mora em seu coração
Gente lavando roupa amassando pão
Gente pobre arrancando a vida com a mão
No coração da mata gente quer prosseguir
Quer durar quer crescer gente quer luzir
Rodrigo Roberto Caetano Moreno Francisco Gilberto João
Gente é pra brilhar não pra morrer de fome
Gente deste planeta do céu de anil
Gente, não entendo gente nada nos viu
Gente espelho de estrelas reflexo do esplendor
Se as estrelas são tantas só mesmo o amor
Maurício Lucila Gildásio Ivonete Agripino Gracinha Zezé
Gente espelho da vida doce mistério

© 1977 Ed. Gapa / Warner Chappell - Álbum Bicho - Caetano Veloso. 

Comentário do autor: "É uma letra ingênua. Quando eu estava fazendo, achava uma loucura aquela música, que parecia coisa de Broadway, de musical de segunda. No show Transversal do tempo¹, Elis Regina cantava "Gente" como se estivesse debochando da canção, com o arranjo servindo ao deboche, e aparecia "Beba Gente" escrito atrás, como se fosse Coca-Cola. E ela fazia tudo como se fosse um show de travesti, como se fosse uma bicha. Depois, inclusive, ela pegou aquele hábito de fazer show feito bicha. Em Trem azul,² o último show dela, ela apresentava os músicos assim: "Os meus bofes, esse aqui...". Parecia um espetáculo da Rogéria,³ era muito bom. A Elis ficou muito melhor no final. Foi melhorando, melhorando, melhorando. Ela era boa musicalmente. Um pouco antes de morrer, ela me  escreveu uma carta dizendo que aquilo que ela tinha feito com a minha música em Transversal do tempo tinha sido ideia dos diretores do show, que ela não queria, que, por ela, não faria aquilo, e me pediu desculpas." (Caetano Veloso. Sobre as Letras. Companhia das Letras, 2003). Notas do organizador Eucanaã Ferraz: 1 - O show estreou em novembro de 1977, no Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, com roteiro e direção de Aldir Blanc e Maurício Tapajós. A estreia carioca aconteceu em março do ano seguinte, no Teatro Ginástico, onde ficou por três meses. O disco com segmentos do show gravado ao vivo saiu em junho de 1978; 2 - O show estreou em julho de 1981, em São Paulo, e circulou por diferentes casas de espetáculo na capital paulista e em outras capitais, permanecendo em cartaz até dezembro do mesmo ano; 3 - Nome adotado por Astolfo Barroso Pinto, a mais famosa travesti do Brasil, atriz e dançarina.

"Gente é uma música que eu fiz um pouco sobre o problema de justiça social. É uma letra louca, mal escrita, mas eu gosto, porque é sincera, porque tem uma coisa que eu sempre senti, que a gente sente, né? Eu estou sempre me questionando, vendo como é isso, procurando viver mais verdadeiramente em relação às minhas ideias." (Entrevista a Gilberto Galvão, s/d). 

"A primeira que pintou foi a que veio a se chamar Gente. Fiz primeiro a música, pensando em colocar sobre ela uma letra qualquer. Depois de pronta eu achei louca. Hoje acho que Gente é uma canção linda e emocionante e louca como os Doces Bárbaros e a considero uma homenagem à experiência que os Doces Bárbaros foram para mim." (Caetano Veloso para o Jornal do Brasil, 1977).

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