Lapa (Caetano Veloso)

Samba canal 100
No meio dos 60
E nos 70
Era o Largo da Ordem
Tudo vinha
Desaguar na Lapa
Lapa, minha inspiração
Lapa, Guinga e Pedro Sá
Lição
Quem projetaria
Essa elegância solta
Essa alegria
Essa moça-vanguarda
Esse rapaz gostoso
Que é a Lapa
Lapa, Circo Voador
Lapa, choro
E rock'n'roll
Perdão
Cool e popular
Cool e popular
Cool e popular
A Lapa
Quem ia imaginar
Quem ia imaginar
Quem ia imaginar
Só eu
Eu sozinho
Só e solitário
Sob a chuva da Bahia
Pobre e requintado
E rico e requintado
E refinado
E ainda há conflito
Pelourinho vezes Rio
É Lapa
Lapa
Veio a salvação
Lapa
Falta o mundo ver
Assim
Água de Kassin
Lava a Nova Capela
Eu amo a PUC
E a gíria dos bandidos
Fundição Progresso
Eis a Lapa
Lapa
Lula e FH
Lapa
Amo nosso tempo
Em ti

© 2009 Uns Produções (Natasha) - Álbum Zii e Zie - Caetano Veloso.

Comentário do autor: "Logo os primeiros versos dão todo o histórico de como é esse negócio pra mim: "Samba Canal 100 no meio dos 60 / E nos 70 era o Largo da Ordem". Quando eu era menino, não existia Canal 100 [cinejornal sobre futebol]. Tocava fox quando passava futebol, resquício de que era um esporte britânico. Não havia vinculação entre futebol e samba. Eu pensava que, se colocassem samba no futebol, o Brasil iria se afirmar. Aí apareceu o Canal 100 com aquele samba "Que bonito é...", uma coisa maravilhosa. Isso é de uma importância enorme, era o Brasil vindo. Quando voltei de Londres, Curitiba se tornou minha cidade favorita. O Jaime Lerner tinha recuperado o largo da Ordem, que tinha a arquitetura mais tradicional da cidade. Mas Curitiba não tem relíquia arquitetônica. Zero, se comparar a Salvador, São Luís, Rio de Janeiro. Olhei para aquilo e disse: "Não posso nem sonhar, mas se isso fosse feito na Bahia ou em São Luís ou no Recife...". Uma década depois, Antônio Carlos Magalhães fez a recuperação do Pelourinho. Quando aconteceu, nem queria ouvir reclamação do pessoal de esquerda, que dizia "mas as pessoas foram removidas...". Conversa chata, demagógica. Aquela própria gente se beneficiaria tão ou mais de aquilo ter acontecido. Eu via aquilo como uma afirmação [do Brasil]. E era, e é. Depois, isso foi acontecendo na Lapa, de um jeito menos oficial que na Bahia. Fiquei muito emocionado. No Rio, esse efeito se multiplica, é muito maior. Levei uma amiga americana lá, e ela ficou impressionada com a Lapa era vital, elegante e popular." (Caetano Veloso para a Revista TPM, 2009).

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