Madre Deus (Caetano Veloso)
Frente às estrelas
Costas contra a madeira
No ancoradouro
De Madre Deus
Meus olhos vão
Com elas
No vão
Meu corpo todo desmede-se
Despede-se de si
Descola-se do então
Do onde
Longe do longe
Some o limite
Entre o chão e o não
Frente ao infinito
Costas contra o planeta
Já sou a seta
Sem direção
Instintos e sentidos
Extintos
Mas sei-me indo
E as coisas findas
Muito mais que lindas
Essas ficarão
Dizia
A poesia
E agora nada
Não mais nada não
© 2005 Independente - Álbum Onqotô - Caetano Veloso e José Miguel Wisnik. Gravada também por Gal Costa no álbum Recanto (2011).
Comentário do autor: "Saiu a mais etérea das faixas [de Recanto]. Tem muito espaço. Eu tinha isso justamente no Ancoradouro de Madre Deus aqui na Baía de Todos Os Santos, quando eu deitava de noite com o céu todo estrelado, eu achava que meu corpo ia se soltar no espaço. Eu falei isso com Zé Miguel e ele me disse que eu devia botar isso no disco da Gal porque ela disse para ele que teve essa mesma experiência quando era menina. Uma vertigem absoluta." (Caetano Veloso em entrevista de lançamento do disco Recanto, 2011).